Os primeiros “influencers”, dos anos 1960/1970, foram, sem dúvida,
os grandes responsáveis pelas mudanças no comportamento e preferências dos
consumidores e na transformação do vinho comum em um produto de elite.
Os vinhos já não eram ótimos por si só, era preciso ter uma
etiqueta renomada, premiada, pontuada e já não bastava ser apenas um Barolo, Barbaresco, Brunello di Montalcino, Amarone, etc. é
preciso ser um Dal Forno, Biondi Santi, Gaja, Conterno, Giacosa….
Nascem as grandes marcas e..... os grandes preços.
Nas adegas o prático e tradicional “cantiniere” (chefe da
adega) cede o comando ao diplomado enólogo que não reluta nem demora em implantar
novas e sofisticadas tecnologias para atender o “gosto” da nova leva de “papas”
vinícolas: The
Wine Advocate, Parker Suckling Wine
Spectator · Wine Enthusiast · Decanter · Jancis Robinson, Gambero Rosso etc.
O enólogo, em pouquíssimo tempo, se torna a figura indispensável
nas degustações, feiras, apresentações, palestra, é visto como um semideus das uvas,
alcança o sucesso e assume atitudes de uma estrela hollywoodiana.
Lembram quando a Miolo “contratou” o Michel Rolland, o maior “enólogo-cigano”
da história do vinho, o apresentou como o mágico das barriques e que poderia
transformar a Serra Gaúcha na nova Bordeaux?
O Rolando Lero era bom, mas não um mágico, assim, a Serra Gaúcha,
Miolo e outros predadores da região, continuam produzindo os mesmos vinhos
medíocres e irracionalmente caros.
Quando se noticiava a chegada de um enólogo europeu, às terras
Tupiniquins, era quase risível assisti ao frisson que tomava conta dos sommelier,
diretores da AB$ e dos enófilos em geral.
O Rolando Lero e outros, eram reverenciados, bajulados, endeusados, admirados como se super-homens fossem.
O vinho passou a ter um sucesso sem precedentes e, sempre “empurrado”
por Parker & Cia., aderiu, de uma vez por todas e sem limites, aos apelos e
preços da moda.
Madeira sem limites, quase marmeladas, grande concentração,
aromas inúmeros e incríveis (adicionados?), alta gradação, biológicos, biodinâmicos,
de garage, naturais, ânfora .... modas que fizeram sucesso e encheram os bolsos
dos grandes predadores do vinho.
No Brasil se alguém tivesse bebido algumas garrafas renomadas,
cursado uma das “trocentas” escolas de sommeliers, realizado uma ou duas viagens
pela Europa vinícola, conseguia o passaporte para escalar a hierarquia social e
ser admirado e secretamente, invejado.
Assistimos, quase incrédulos, a uma verdadeira explosão dos cursos
de sommelier, quase todos ridículos, mas que desovaram uma multidão de
“experts” que, com diplomas nas mãos, conseguiram, enfim, seus 15 minutos de notoriedade.
Nomes? Copello,
Arrebola, Russo, Assada, Beato etc.
O tempo lenta, mas inexoravelmente, se encarregou de sepultar
os enólogos-estrelas e os “sommerdiers” de vida (fácil?).
As múmias do vinho levaram para seus sarcófagos os vinhos parkerianos,
biodinâmicos, ânforas, naturais etc.
Os jovens pos-parker
consomem menos vinho, tem pouca grana, não dão mínima para pontos, estrelas,
bicchieri e todas as picaretagens inventadas pelo setor.
As novas gerações preferem
beber cerveja, spirtz, vinhos tintos leves, brancos frescos, espumantes (Prosecco em
1º), com baixo teor alcoólico e ….baratos.
Os vinhos parkerianos e caros, ainda fazem sucesso entre os
enófilos mais velhos e quase sempre provenientes de países com pouca tradição
vinícolas.
Os “eno-terceiro-mundistas”
(Brasil incluso) ainda cultivam uma enorme aberração: A
confraria.
No Brasil as confrarias foram totalmente desvirtuadas e se
transformaram em reuniões semanais, quinzenais ou mensais, nas quais os
confrades se reúnem e disputam para ver quem trouxe a garrafa melhor, mais
preciosa, mais famosa.
Nas confrarias, “Made in Brazil”, as libações atingem níveis
estratosféricos e frequentemente os confrades, no final dos eventos, não conseguem
distinguir um Châteauneuf-du-Pape de um insultuoso “Miolo Secreção”.
Viva a juventude que não dá a mínima para antigos e inúteis eno-profetas,
não sabe quem foram Parker e seus inúmeros filhotes, mas meus pêsames para as
novas gerações que seguem quase cegamente os novos e patéticos “influencers”
cujos conhecimentos vinícolas são parecidos com os da Anielle Franco quando a ministra
se aventura no “buraco negro”.
Continua.
Dionísio
PS. Na próxima matéria a crise do vinho tinto
Acho que a continuação resume-se no período “ As novas gerações..”
ResponderExcluirA nova geração não vai beber vinho caro pq simplesmente não tem salário para tal. Os vinhos superfaturados serão produtos para a velha geração ou herdeiros.
ResponderExcluirA própria moda da cerveja artesanal diminuiu muito e grande parte já voltou pro latão ou, no máximo, uma Heineken.
Verdade purinha
ExcluirComo qualquer ramo, profissão, produção de vinho é a mesma coisa, somente alguns cumprem o juramento ético de que produzem..
ResponderExcluirDefinitivamente não existe o procon do vinho, então vamos continuar garimpando produtores.. Quando decido tomar um Brunello ( 2, 3x ao ano), vou atrás de um Baricci e tomo feliz. Do resto, vou me virando com o período que Dionísio escreveu e reiterei na mensagem mesmo não sendo da nova geração
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