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quarta-feira, 22 de junho de 2022

OS FALSIFICADOS 2

 


O verdadeiro tsunami de garrafas, de Romanée-Conti, armazenadas nas adegas dos restaurantes e dos políticos, em Brasília, sempre aguçou minha desconfiança.

No falecido Piantella havia uma dúzia, ou mais, do renomado Pinot-Noir da Borgonha e nos estoques do “Dom Francisco” repousavam muitos mais.


 Somando todos os RC, presentes nos restaurantes brasilienses, era fácil calcular que, mais ou menos, uma centena de garrafas de Romanée-Conti moravam na penumbra das adegas candangas.

Bebi somente três garrafas de Romanée-Conti e todas vieram da mesma adega de um político local.


Tive acesso à adega e pude verificar que, entre outras preciosidades, havia numerosas ampolas de RC, de diversas safras, armazenadas à espera de uma nova e especial ocasião.

Impossível calcular quantas garrafas de RC se escondiam na penumbra dos subsolos brasilienses, mas juntando os Maluf da vida, que moravam, à época, no Planalto Central, não seria exagerado pensar em 500 ou mais.

 Conclusão: Se apenas em Brasília haveria aquela quantidade, mesmo aproximada, quantas mais “moravam” nas adegas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Bernardo do Campo, Atibaia etc.?

E as de New York, Los Angeles, Roma, Pequim, Londres, Frankfurt, Paris, Moscou, Tóquio, Dubai etc. etc. etc., quantas seriam?


A conta não fechava!

 Pelos meus cálculos nem 200.000 garrafas seriam suficientes para abastecer todas aquelas sedentas adegas......

Enquanto isso a Domaine de la Romanée-Conti continuava produzindo 4.500/5.000 por ano…. Muito estranho.



Um novo e moderno milagre da transformação da água em vinho?

Nada disso... o mágico tinha (e tem) um nome: Rudy Kurniawan mais conhecido pela alcunha de Dr. Conti.

A especialista em falsificação vinícola, Maureen Downey, calcula que ainda há, pelo valor atual, mais de 50 milhões de dólares de garrafas, falsificadas pelo Dr. Conti, vagando pelo planeta.

Downey declara, ainda, que pelo menos 20% de todo o vinho do mundo é, de uma forma ou outra, falsificado.


As 10 etiquetas mais falsificadas do planeta são todas francesas: Château Petrus, Domaine de la Romanée-Conti, Château-Lafite Rothschild, Château Mouton Rothschild, Château d’Yquem, Château Lafleur, Domaine Comtes George de Vogüé, Domaine Henri Jayer, Château Haut Brion e Château Cheval Blanc.

É sempre bom lembrar que Maureen Downey não é exatamente um dos críticos-patéticos-patetas-de-vinho que vagueiam pelas importadoras do Brasil mendigando uma graninha.

 Downey foi uma das testemunhas mais importantes no processo contra Rudy Kurniawan,atua como consultora nas maiores e mais renomadas casas de leilão do planeta e é conhecida como a “Sherlock Holmes” dos vinhos.

Sem meias palavras, Downey, afirma: “ …os casos de falsificação estão aumentando e até o crime organizado entrou fortemente no setor......infelizmente os compradores dos mercados emergentes não estão suficientemente preparados e são os alvos prediletos dos que criam e vendem garrafas falsificadas. Estima-se que 50% de todos os vinhos de luxo, na China, sejam falsificados...estamos assistindo, agora mesmo, a uma verdadeira invasão, jamais vista antes na Europa, de garrafas falsificadas produzidas na França, Bélgica e Suíça …”

Voltemos ao anúncio das “Americanas”….

Quem garante que o “Petrus”, anunciado, é original?

Marcelinho Coppelinho, Didu Bilu Teteia, Beato Salu, Diego Rebola, ou outro vivaldino, insignificante, qualquer?


Qual repertorio olfativo e gustativo possuem, os mencionados “experts”, para poder discernir, julgar e declarar qual o original e qual o falsificado?

Afirmei ter bebido, há alguns anos, algumas taças oriundas de três garrafas de Romanée-Conti e jamais poderia afirmar, com segurança, se seriam originais ou “vinificadas” ou pelo Dr. Conti.

Três taças desse, daquele, ou de outro mais, vinho, não são suficientes para criar repertórios, memória, seguranças olfativa e gustativa, em ninguém (sem $$$$, nem Parker consegue…).

O outro lado: Se um belo dia, em um restaurante qualquer, escolho um Barolo, mas o garçom me serve um Dolcetto, o mando imediatamente à merda.


Bebi centenas de Barolo, Dolcetto, Barbera, Grignolino, Freisa, Barbaresco, Lessona, Gattinara, Pelaverga, Gamba di Pernice, Carema, etc. e minhas memorias olfativas, gustativas, dos tintos piemonteses, estão mais do que consolidadas e me permitem distinguir, com segurança, qual vinho estou bebendo, mas o que dizer, por exemplo, do “Château Lafleur”, do qual nunca vi nem a garrafa?

 E do Petrus que nunca bebi?

Resumindo: A imensa maioria dos jogadores de futebol, políticos corruptos, influencers, novos ricos, velhos abonados e abobados, ostentadores compulsivos, fãs de Gusttttavo Limmmma, etc., muitas vezes e sem saber, gastam horrores e bebem “tremendas-bostas”.

Parabéns, são a alegria dos falsários, que agradecem....

Dionísio

 

 

7 comentários:

  1. Dessa mesma multiplicação a viticultura brasileira aplica nos preços.. com qualidade..

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  2. Dionísio, de curioso mesmo, as taças de RC foram marcantes? Por anos lendo o blog, quase uma década, nunca vi explanação desse momento, como foi? Adianto, somente curiosidade.

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    1. Sua pergunta poderia originar uma bela matéria, mas vamos à resposta mais rápida: As duas primeiras garrafas , tenho a absoluta certeza, eram falsificadas e o vinho nem poderia ser comparado a um 1er cru qualquer. A terceira garrafa , aberta em outra ocasião, era muito melhor mas nada que lembrasse o "paraíso"..... Ótimo Pinot Noir , mas não superior ao Chambertin Clos de Bèze de Gerard Raphet.

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    2. Caspita! A vinícola deveria manter o controle das vendas e dar a garantia ao consumidor final de que o pedaço de paraíso é verdadeiro

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    3. Como afirmei, na matéria, a RC garante aos tradicionais clientes a qualidade e originalidade de seus vinhos, mas os falsificadores picaretas sabem que há milhares de idiotas prontos a gastar os tubos para beber um Romanée-Conti mesmo que seja um vinho de bosta qualquer

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  3. Conheco uns vagabundos que vivem de vender rotulo falsificado para ''ricos''. Povo com labia igual a da Elizabeth Holmes... labia no sentido figurado, nao fisico. Como tem trouxa no mundo, como tem espertalhao vagabundo. Trabalhar e estudar, nem ferrando

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