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quarta-feira, 15 de junho de 2022

BARBARESCO CA' DEL BAIO

 

A recepção fria, apressada, mal-educada, protagonizada pela senhora Sobrero, na homônima vinícola de Castiglione Falletto, foi totalmente esquecida pelo simpático, caloroso e profissional atendimento na “Ca’ del Baio” de Treiso.


Federica, uma das três filhas do proprietário, Giulio Grasso, atendeu cordialmente, me guiou por um breve tour pelas instalações da vinícola, discorreu entusiasmada sobre a história da sua “Ca’del Bajo”, abriu as portas da incrível sala onde repousam milhares de garrafas, não vendáveis, de antigas safras e encerrou a visita me concedendo (milagre) um pequeno desconto na fatura.


Quando perguntada, sobre a recusa de vender as garrafas das antigas safras, Federica respondeu ter sido uma decisão da família que visava preservar a memória da vinícola e acrescentou:

“Meus bisavós e avós vinificavam e vendiam tudo o que produziam para poder sobreviver. Nenhuma lembrança, daqueles anos, nos restou. Decidimos, então, deixar, para as novas gerações, nossas memorias através destas garrafas de antigas safras”.


Comentei que havia, ali, “milhares de lembranças” e que centenas seriam mais que suficientes para testemunhar a história da Ca’ del Baio.

Federica sorriu e respondeu: “Nos próximos anos e a cada ano, colocaremos à venda 3% de “nossa história”. Se estiver por perto quem sabe você possa comprar algumas delas…”


Antes da despedida, Federica, cordialmente ofereceu uma degustação de seu Chardonnay “Luna di Agosto” e do Barbaresco “Vallegrande 2017” que eu acabara de comprar.


O Chardonnay foi incluído na degustação depois de uma alegre discussão onde eu confessei jamais ter entendido a razão pela qual a casta francesa era vinificada no Piemonte: “Vocês sabem que é quase impossível alcançar os ótimos resultados dos vizinhos franceses, mas, apesar das 495 variedades de uva existentes na Itália, teimam em vinificar a Chardonnay”.


A taça de “Luna di agosto”, degustada, confirmou, pela enésima vez, a minha certeza de que os Chardonnay italianos são bonzinhos e nada além de bonzinhos....

 A taça de “Barbaresco Vallegrande 2017” precisa ser comentada com mais detalhes.


O vinho Barbaresco tem história milenar e há documentos que comprovam a existência de vinhas, na região, desde a ocupação românica.

É fácil perceber, então, que o Barbaresco teve bastante tempo para se impor e consagrar como grande vinho que hoje entusiasma até os mais exigentes paladares.

O Barbaresco é o irmão “menor” do Barolo.


Quando digo “menor” estou me referindo apenas aos números: As vinhas do Barbaresco ocupam 662 hectares enquanto as do Barolo se expandem por 1886 hectares.

O Barolo é produzido em 11 aldeias da região: Barolo, La Morra, Monforte, Serralunga, Castiglione Falletto, Roddi, Cherasco, Grinzane Cavour, Verduno, Diano D’Alba, Novello.

 Os vinhedos de Nebbiolo da Barbaresco estão presente apenas em Barbaresco, Neive, Treiso e em San Rocco, pequeno distrito de Alba.

Pouco menos de 4 milhões são as garrafas produzidas na DOCG Barbaresco enquanto as da DOCG Barolo quase alcançam os 13 milhões de unidades.

O Barbaresco, apesar de seus números menores, nada deve, em qualidade, ao seu irmão maior e mais famoso.

“Vallegrande” é um dos 69 crus do Barbaresco.

Impossível recordar todos, mas o “Vallegrande”, ao lado do Asili, Rio Sordo, Rabajá, Montestefano, Pora, Starderi, Martinenga, Gallina di Neive, Marcarini, Ovello, Pajè, é um dos mais renomados.

O Barbaresco “Vallegrande” Ca’ del Baio 2017, se apresenta com a clássica cor tênue, quase transparente, característica dos jovens Nebbiolo.

Já no nariz o “Vallegrande” revela a fina elegância de seus aromas, onde a violeta e menta são facilmente perceptíveis.


Na boca não é musculoso ...lembram daqueles vinhos “marmelada”, pesados, mastigáveis? Pois é ...O Vallegrande é exatamente o contrário.

Elegante, severo, envolvente, o Vallegrande seduz o paladar com sua complexo equilíbrio e longuíssima permanência.

Quem nunca provou um Barbaresco não deveria começar a nova “eno-aventura“ com o Vallegrande Ca’ del Baio …corre o risco de se tornar muito exigente.

Bacco

PS. O Barbaresco Ca’ del Baio custou, na vinícola, R$ 148.

O “Singular Nebbiolo”, que é um insulto à nobre casta piemontesa, é vendido, na loja da predadora Lidio Carraro, por escandalosos R$ 690


A vida do enófilo brasileiro é uma merda.......

7 comentários:

  1. E qual foi o comentário dela em relação à sua incompreensão do plantio de Chardonnay chamando um francês de teimoso? Sua indagação foi antes ou depois dos euros terem caído na conta dela?

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    1. A reação é a de sempre e de todos : Uma série de argumentos que não convencem e o pior.....eles sabem disso.

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  2. Quando ainda era um jovem esperançoso e ingênuo, comprei um Nebbiolo na loja da Lídio Carraro. Caríssimo, e eu esperava que pelo menos tivesse nível de qualidade próximo de um Langhe. Que nada. Bem fraquinho. Retornando à loja num outro dia, reclamei. Me disseram que o vinho é caro porque a casta é de difícil vinificação, pouco adaptada fora do Piemonte. Ainda me pergunto porque o fazem, porque o vendem e quem o compra, sendo inadequado e tão caro. Curiosidade masoquista justifica apenas a primeira compra…

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    1. "casta é de difícil vinificação": pior truque usado pela predadoria geral da republica desde 1855. Desculpa ridicula que cola quando estamos no maternal do vinho.

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  3. Ótimo artigo, como sempre. O Cá del Baio Autinbej também é bom?

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    1. Autinbej, Pora, Asili, todos válidos. O Dolcetto , também, merece destaque.

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