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segunda-feira, 16 de março de 2020

BIODINÂMICO?



Que o mundo do vinho é suscetível às modas, é notório.
 

É notória, também, a facilidade com a qual as modas são esquecidas e até demonizadas, quando uma nova tendência marqueteira mais rentável é imposta.

 Muitas modas inúteis já foram soterradas, mas algumas, mesmo ridículas, insistem em permanecer, sobreviver.

Exemplo: Vinho natural.

Não é segredo que o bom vinho nasce nas vinhas e todos sabem que quanto menos intervenções e manipulações, na adega, melhor o resultado.

A moda do “vinho natural”, protegida pela sempre poderosa bandeira “green”, inundou o mercado com um tsunami de inomináveis porcarias.

Na onda do “Vinho Natural” não somos, todavia, obrigados a beber qualquer porcaria sob a égide do “natural” ou da "tipicidade".

 O bom marketing forneceu e continua fornecendo , argumentos para os eno-asnos que adoram garrafas com insuportáveis  “aromas-sabor-cocheiras” e de nauseantes Brettanomyces.

Em 2015, na série
"Vinhos Naturais = Vin de Merde", Bacco tratou do tema e dos  absurdos praticados em nome do “natural”.

Bacco revelou , também,  o caminho mais fácil  do oportunismo, preguiça e sujeira  que  inúmeros produtores encontraram e percorreram , mas esqueceram que para  realizar vinhos de qualidade é preciso mais enologia e menos fantasia.

http://baccoebocca-us.blogspot.com/2015/04/vinhos-naturais.html
http://baccoebocca-us.blogspot.com/2015/05/vinhos-naturaisvin-de-merde-final.html


No último post da série, foi citado um estudo, de 2005, do professor John Reganold, da Universidade do Estado de Washington (EUA);

O acadêmico concluiu que a análise de vinhas de Merlot, com tratamento biodinâmico, entre 1996 e 2003, não apresentou nenhuma mudança no vinho ali produzido.

Na ocasião metade das vinhas de um vinhedo na Califórnia  recebeu os preparados  biodinâmicos e a outra metade foi cultivada de forma convencional.

Quinze anos depois, a história se repete.

No início desse mês, o ótimo blog francês
"Les 5 du Vin" , publicou  as conclusões de um experimento, conduzido por dois produtores no sul do Rhône, sob a supervisão da Câmara de Agricultura de Vaucluse, sobre o cultivo biodinâmico das vinhas.

 Os dois produtores dividiram as vinhas ao meio e aplicaram a produção biodinâmica a uma das metades, enquanto a outra foi cultivada de forma convencional.

Trata-se de um estudo que, embora não seja uma verdade absoluta, tem diversos fatores que lhe dão confiabilidade:
- foi realizado em Châteauneuf-du-Pape, denominação das mais prestigiosas não apenas da França, mas do mundo;

- foi realizado ao longo de TRÊS ANOS, para que fosse afastada
qualquer acusação de que as características de um determinado ano poderiam invalidar os resultados;


- foi conduzido por dois produtores;


- um dos vinhedos, de propriedade do
Domaine L'Or de Line, foi
visitado por David Cobbold, do
Les 5 du Vin, que constatou que a área era homogênea em termos geológicos, de altitude e das castas cultivadas.

Foram três comparativos:

- 1º: efeito dos preparados biodinâmicos, sobre a vinha e o solo, para medir os resultados dessas misturas
(chifrestrume, 500, e chifre-sílica, 501) sobre o estado do solo, da saúde da vinha e de seus comportamentos agronômicos, em comparação a um cultivo biológico "clássico".

- 2º: efeito dos preparados biodinâmicos sobre a qualidade dos compostos (adubo, por exemplo), para estimar a contribuição dos biodinâmicos destinados à compostagem (502 a 507) sobre a qualidade final.


- 3º: avaliação técnico-econômica e organizacional das práticas biodinâmicas, tratando das implicações financeiras e metodológicas da implantação do biodinâmico.

O resultado?

Segundo o relatório de síntese do estudo:
"Globalmente, não foi possível, nas condições das provas realizadas, concluir sobre efeitos [específicos] dos preparados biodinâmicos sobre
o solo, a vinha ou a qualidade dos compostos".

Em seguida, os responsáveis pelo estudo, provavelmente defensores das bruxarias de Rudolf Steiner, invocam um monte de variáveis – há  problemas em tudo, menos na macumba biodinâmica.

David Cobbold, do
“Les 5 du Vin”, resume a situação: "Continuo a pensar que o biodinâmico, tornado um marketing bastante
eficaz e utilizado, ainda precisa provar sua eficácia agronômica em comparação a outras práticas que respeitem as plantas e os solos. Os 'pós de pirlimpimpim' e o jargão que envolve a prática me lembram algum tipo de obscurantismo, e seus adeptos se recusam a aceitar qualquer abordagem que analise ou critique seus métodos ou, sobretudo, seus resultados".




Para quem quiser gastar o francês, a matéria está em

Em suma:
o biodinâmico não deu em nada com o Merlot na Califórnia e não deu em nada com as uvas, do Châteauneuf-du-Pape, no Rhône.

Onde ele vai funcionar? No Brasil?


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