Até os anos 1970, quando o vinho era apenas vinho, não moda,
símbolo de status e que para apreciá-lo ninguém frequentava cursos picaretas, pretensiosos
e imbecilizantes, era muito comum adicionar um pouco de água ao vinho.
Durante as refeições, nos campos, fábricas, “trattorie”,
restaurantes, ou em casa, muitos italianos costumavam adicionar um pouco de
água ao vinho.
Ninguém criticava, torcia o nariz ou se escandalizava com o
fato.
Ainda hoje, nas “trattorie”, é normal encontrar trabalhadores
que, sem cerimônia, ou receio do insuportável “politicamente correto”, adicionam
água ao vinho.
No Brasil, dos milhares de “sommerdiers”, experts, enófilos,
formadores de opinião etc., esta prática é considerada uma verdadeira heresia.
E tome vinho de insanos 14º - 15º - 16º graus sem torcer o
nariz.
Gradação perfeita para se beber em um
país tropical, abençoado por Deus e pelo calor.
Tenho certeza que se eu adicionasse um pouco de água ao vinho,
em um dos restaurantes da moda de Brasília, me transformaria imediatamente na
Geni das cristalinas taças e em poucos segundos seria insultado, alvo de risos e
chacotas no Instagram.
Pois bem, somente a título de informação e para o horror de
nossos “puristas” do vinho, comunico que muitas vezes, especialmente quando a
safra doa álcool em excesso, é pratica comum adicionar água ao mosto em
fermentação.
Os “puristas”, que acreditam na pureza ou candor no (sub)
mundo do vinho, precisam acordar: O que há de picaretagem no reino de Baco não está no gibi.
Agora que “derrubei” mais um mito voltemos ao assunto que
motivou esta matéria.
Nunca acreditei, nem por um segundo, que sommeliers,
degustadores, juízes, críticos, formadores de opinião, enófilos etc. etc. etc.
fossem capazes, depois de degustar uma dúzia de vinhos, distinguir um Nebbiolo
de um Nero d’Avola, um Freisa de um Bonarda, um Syrah de um Grenache ..... E
por aí vai.
Aliás, há muitos degustadores-enganadores que não conseguem
distinguir um Champagne de um Franciacorta.
Há dias, li matéria, em um site italiano (há alguns ótimos),
que despertou minha curiosidade.
O responsável do blog, cansado de vinhos muito alcoólicos, excessivamente
amadeirados e já sem paciência para ouvir lorotas dos amigos degustadores, resolveu
testar os conhecimentos de dois experimentados sommeliers.
Para a experiência retirou, com cuidado, a cápsula e a rolha
de um bom Ciliegiolo Toscano, derramou 1/5 de vinho em uma taça e completou novamente,
a garrafa, com água mineral.
A escolha da água mineral visava evitar que o cloro, presente
na água da torneira, pudesse “contaminar” o vinho
Garrafa envolta em papel alumínio, temperatura correta, taças
de cristal e ........ os comentários.
“ Interessante. Lembra um Pinot Noir, mas
não de uma “appellation” importante..... talvez um Givry”
“Eu acho que é um Pinot Noir italiano”
Nenhum dos dois sommeliers percebeu, nem remotamente, a adição
e a presença da água e muito menos acertou a uva originaria.
A interessante experiência aguçou minha curiosidade e resolvi
repeti-la no final de semana que passou.
O resultado?
Aguarde a próxima matéria.
Bacco
Essa eu não sabia.... Achava que misturar água ao vinho era somente um hábito das famílias francesas e italianas de outrora quando serviam um pouco de vinho às crianças. Hoje, nesse ambiente "politicamente correto", seria ainda assim um crime, passível de processos dessas "Delegacias de Proteção a Crianças e Adolescentes". Como está chato o mundo hoje!
ResponderExcluirA minha "iniciação" foi com neve e um pouco de timto
ResponderExcluirMatéria legal, Bacco. Uma vez, na Argentina, estranhei quando o garçom trouxe um pequeno balde com gelo e recomendou que eu adicionasse à taça, para refrescar e dar uma diluída no vinho, tornando-o mais palatável. Obviamente, não discordei e deixei que ele fizesse como de costume. Não morri por isso. Ai se fosse aqui no Brasil.
ResponderExcluirSalu2,
Jean
Peste, agua somente se adiciona a gasolina e chopp no bananal.....
ResponderExcluirAuguri