Esse artigo convite tem como o objetivo abrir um diálogo
defendendo a tese (que pode ser contestada à vontade) que não há problema em
usar certas tecnologias na produção de vinho, desde que se respeitem as leis da
região e que não sejam exagerados os fatos de como foi feito o vinho.
Devemos de desconfiar de tudo e todos que se dizem puros e
honestos.
Eu sou puro e honesto.
No ritmo de exploração de recursos naturais em que se encontra
o planeta pouco sobrará para as próximas gerações, se houver alguma.
Vinícolas, em boa parte do planeta, usam uma saraivada de
recursos naturais, mas já é um alívio saber que em boa parte da Europa, ao
menos, irrigação não é permitida.
Temos tecnologia suficiente hoje para chegarmos a um vinho que
aparenta (e bem) ter passado por vários anos em barrica, barrica do tipo que o
sujeito quiser.
Francesa, croata,
inglesa, americana, russa... etc. Temos como adicionar aroma e gosto e textura
a qualquer vinho na forma de vários compostos químicos, fenólicos e fermentos.
Praticamente qualquer característica de um vinho pode ser
adicionada ou subtraída do produto.
Tudo tem um custo, seja
na qualidade ou mesmo no bolso, geralmente os dois.
Defendo que para muitos vinhos (aqueles até U$/EUR 15.00 -20.00
ou R$ 120.00 no Brasil mais ou menos)
o uso e comércio de barricas (que oh, vêm de florestas!) são desnecessários e
em muitos casos só incentivam o trambique na divulgação de informação da ficha
técnica do vinho.
Lembro-me de marketing e propagandas que exaltam vinhos que passaram
14/18/24 meses em barricas francesas.
Todo mundo se empolga para comprar o vinho.
Claro, mas só não contam que somente
10%do volume total passou por barrica francesa com 30 anos de uso cuja madeira
veio da ponte do Rio Kwai (a ponte original, não a das filmagens).
O que é bom é divulgado, o que não interessa a gente esconde.
Ecos do passado e futuro.
No filme Mondovino vários produtores da Borgonha metem o pau
no Michel Rolland.
Eles podem e devem
fazê-lo quando/se algum querido flying winemaker alterar alguma coisa numa obra
de arte da região e ou esconder o fato, mas fora de lugares sagrados do mundo
do vinho (basta ver que há uma cruz super antiga em Borgonha que é para ser
trepada) eu apoio se essas técnicas (incluindo micro oxigenação) forem usadas,
por exemplo, no Chile, Argentina, Uruguai, Austrália.... Usa.
Teríamos vinhos mais honestos, menos agressivos à saúde (e dá
aldeído no povão), com até potencial para serem mais baratos (um ou outro
tentaria manter os preços e aumentar margens, mas no coletivo o mercado
trabalharia com preço menor (afinal não temos oligopólio no vinho) e ainda
menos agressivos ao ambiente.
Os grandes vinhos do mundo (em geral Borgonha, Piemonte, Champagne,
e basta) são quase um resultado puro
da natureza, quase intocados.
Vinhos, assim como os humanos, não podem ser puros imaculados.
Isso não existe, é utopia.
Se alguém afirmar que o
seu vinho é 100% honesto, já é um indício de picaretagem.
Bonzo
100% só a morte.
ResponderExcluirbem-vindo, Bonzo. que a sua chegada, além dos bons textos, como esse, sirva para motivar Bacco e Dionísio a escreverem.
ResponderExcluirsobre o texto em si: concordo com a sua tese, e deve ser por isso que gosto (gostamos?) dos portugueses: a picaretagem não me parece endêmica na terrinha, ao menos não no nível em que o é em lugares 100% honestos, como Brasília, Bento Gonçalves, Mendoza, a maioria dos vales chilenos e qualquer garrafa australiana. e o preço dos lusos, com menos picaretagem, ainda é convidativo.
Eles têm que escrever mais, mesmo.
ExcluirAcho que o Bozo tem razão. O molusco também fala que é o homem mais honesto do Brasil.
ResponderExcluirParabéns, Bonzo, pela estreia 100%! (rs)
ResponderExcluirMeus cumprimentos a Bacco e Dionisio pela custosa contratação.
Espero que o Bonzo, além de contribuir aqui, continue mandando suas alfinetadas lá na origem também.
Sdd.
bem-vindo, BONZO
ResponderExcluirAbs
FURFO