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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

BLANC DE MORGEX ET DE LA SALLE III


 


Perdidas as esperanças, de encontrar a "Nus Malvoisie", do pároco Don Pramatton, resolvi seguir viagem e dormir em Courmayeur.

Apesar da neve e do frio intenso, os 70 km, que separavam Nus de Courmayeur não arrefeceram meu ânimo e decidi jantar no "La Maison De Filippo" no distrito de Entreves.

A autoestrada era a opção mais rápida, segura, mas dezenas de túneis não me permitiriam admirar a bela paisagem alpina.
 

Tempo de sobra, pouco movimento....... Resolvi seguir viagem pela via marginal, mais lenta e mais bonita.
 

Quando se passa pelas aldeias de Morgex e La Salle a visão das vinhas, que doam o bom branco local, é impressionante.

É difícil acreditar que naquela altitude (1.000 metros) e clima hostil, as vinhas possam sobreviver e as uvas amadurecer.

Parei inúmeras vezes para admirar o incrível trabalho dos viticultores da região que, com tenacidade e uma boa dose de loucura, cultivam as vinhas em pequenos lenços de terra que a montanha rochosa "esqueceu" de devorar.
 

É impressionante a visão dos muros de pedra que servem de arrimo para os terraceamentos onde são plantadas as vinhas de Prié Blanc, casta que origina o "Blanc de Morgex et De La Salle".

As vinhas de Prié Blanc "escalam" as montanhas até alcançarem impensáveis 1.250 metros, assim, é fácil concluir que as videiras de Morgex e La Salle, as duas aldeias que doam o nome à DOC, estão entre as mais altas da Europa.
 

Mas como podem as vinhas sobreviver e frutificar em um ambiente tão hostil?

Vamos conhecer um pouco mais a Prié Blanc e suas origens.

A casta

A "Prié Blanc" poderia ser classificada como um milagre, mas prefiro entendê-la como um fenômeno.

A casta, única autóctone branca da Val D'Aosta, está presente na região desde tempos imemoráveis e aos poucos conseguiu se adaptar, perfeitamente, às rigorosas condições climáticas dos Alpes.
 

São poucas as variedades que poderiam suportar o frio e o gelo que imperam nos 1.000 metros de altitude de Morgex e La Salle e não surpreende, então, o fato da "Prié Blanc" ser a única cultivada nas aldeias e a única, também, que conseguiu se adaptar ao rigor do clima.

É preciso lembrar que as das aldeias estão a poucos quilômetros do Monte Branco e o clima é de alta montanha....

Para ter uma idéia da adaptação da "Prié Blanc" é preciso lembrar que nestes vales alpinos o inverno é longo, rigoroso e o verão muito curto.
 

A variedade desenvolveu, ao longo dos séculos, um ciclo vegetativo bastante breve, que é caracterizado por uma brota muito retardada e uma precoce maturação dos cachos.

Outra rara característica: A "Prié Blanc" é a única variedade branca, da Val D'Aosta, plantada sem enxerto (pé franco).

As condições climáticas, rigorosas, protegeram a "Prié Blanc" dos ataques da filoxera.
 

Para "se aquecer", com o calor armazenado pelo solo, o cultivo escolhido pelos viticultores é o da "latada baixa".

 "Latada baixa" significa: a pérgula, para receber um pouco de calor do solo, não pode ultrapassar um metro de altura.

 O pouco espaço, entre o solo e as ramas, dificulta sobremaneira o trabalho do viticultor que é obrigado a trabalhar sempre curvado.

O sacrifício é compensado pela pouca umidade e boa ventilação.

A pouca umidade e boa ventilação defendem, naturalmente, as plantas dos ataques dos fungos que quase inexistem na região.

O Vinho

 

O "Blanc de Morgex et de La Salle" é um vinho que raramente ultrapassa os 12°, deve ser consumido em sua juventude, quando exprime todos seus delicados aromas e características.

O "Blanc de Morgex et de La Salle 2015" de Ermes Pavese é um vinho límpido, agradabilíssimo, um irresistível convite para sempre mais um copo.

Rico de tons floreais e minerais, o vinho do Pavese, é uma pequena jóia enológica que custa, pasmem, 8/10 Euros.
 

Para perceber como nós, consumidores brasileiros, somos otários, bastaria lembrar que a "Miolo/Bueno Vinhos de Carregação" vende o "Chardonnay Couvée Giuseppe" (Giuseppe, foi o patriarca da Miolo que descobriu o Lote 43) por insultuosos R$ 110 (30 Euros).
 

Bacco

6 comentários:

  1. Bacco,

    sou suspeito para falar, já que sou tiete de B&B, mas que post fantástico: de uma só tacada, soube da brevidade do ciclo da prié blanc, da "latada baixa" (da qual nunca tinha ouvido falar) e de como ela é importante, e da integração a um terroir que, a princípio, não daria uva nenhuma - e tão hostil que nem a filoxera se atreveu a dar as caras. nota dez.

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    1. Vale a pena conhecer os vinhedos de Morgex, aliás todas as vinhas de Carema até La Salle são de tirar o fólego

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  2. Nem tentarei encontrar um Blanc de Morgex et de La Salle no Brasil sera uma perda de tempo,nao consigo encontrar nem um misero sangiovese da Romagna, o que dira de um Blanc de Morgex et de La Salle ....
    Alias alguem sabe onde encontro um honesto Sangiovese di Emilia-Roamagna por aqui ?
    abs

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  3. Ciao, Praga.

    Esses relatos sao uma boa amostra que ha coisas lindas, interessantes, baratas e instrutivas na vida que vao alem de uma m de viagem para comprar panela, camisa da lacoste e tenis em miami. Ou assistir ao infeliz do fantasma da opera em NYC so para contar para os parentes e amigos via facebook.

    Um baita brinde ao bom gosto e a nossa ultima defesa contra a insanidade e a cultura da safadeza pseudo-vinifera: A Natureza.

    Auguri, BSTD.

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