Perdidas as esperanças, de encontrar a "Nus
Malvoisie", do pároco Don Pramatton, resolvi seguir viagem e dormir em
Courmayeur.
Apesar da neve e do frio intenso, os 70 km, que separavam Nus
de Courmayeur não arrefeceram meu ânimo e decidi jantar no "La Maison De Filippo"
no distrito de Entreves.
A autoestrada era a opção mais rápida, segura, mas dezenas de
túneis não me permitiriam admirar a bela paisagem alpina.
Tempo de sobra, pouco movimento....... Resolvi seguir viagem
pela via marginal, mais lenta e mais bonita.
Quando se passa pelas aldeias de Morgex e La Salle a visão
das vinhas, que doam o bom branco local, é impressionante.
É difícil acreditar que naquela altitude (1.000 metros) e
clima hostil, as vinhas possam sobreviver e as uvas amadurecer.
Parei inúmeras vezes para admirar o incrível trabalho dos
viticultores da região que, com tenacidade e uma boa dose de loucura, cultivam
as vinhas em pequenos lenços de terra que a montanha rochosa "esqueceu"
de devorar.
É impressionante a visão dos muros de pedra que servem de
arrimo para os terraceamentos onde são plantadas as vinhas de Prié Blanc, casta que origina o "Blanc de Morgex et De La Salle".
As vinhas de Prié Blanc
"escalam" as montanhas até alcançarem impensáveis 1.250 metros,
assim, é fácil concluir que as videiras de Morgex e La Salle, as duas aldeias
que doam o nome à DOC, estão entre as mais altas da Europa.
Mas como podem as vinhas sobreviver e frutificar em um
ambiente tão hostil?
Vamos conhecer um pouco mais a Prié
Blanc e suas origens.
A casta
A "Prié
Blanc" poderia ser classificada como um milagre, mas prefiro entendê-la
como um fenômeno.
A casta, única autóctone branca da Val D'Aosta, está presente
na região desde tempos imemoráveis e aos poucos conseguiu se adaptar,
perfeitamente, às rigorosas condições climáticas dos Alpes.
São poucas as variedades que poderiam suportar o frio e o gelo
que imperam nos 1.000 metros de altitude de Morgex e La Salle e não surpreende,
então, o fato da "Prié Blanc" ser
a única cultivada nas aldeias e a única, também, que conseguiu se adaptar ao
rigor do clima.
É preciso lembrar que as das aldeias estão a poucos
quilômetros do Monte Branco e o clima é de alta montanha....
Para ter uma idéia da adaptação da "Prié
Blanc" é preciso lembrar que nestes vales alpinos o inverno é
longo, rigoroso e o verão muito curto.
A variedade desenvolveu, ao longo dos séculos, um ciclo
vegetativo bastante breve, que é caracterizado por uma brota muito retardada e
uma precoce maturação dos cachos.
Outra rara característica: A "Prié
Blanc" é a única variedade branca, da Val D'Aosta, plantada sem
enxerto (pé franco).
As condições climáticas, rigorosas, protegeram a "Prié Blanc" dos ataques da filoxera.
Para "se aquecer", com o calor armazenado pelo solo,
o cultivo escolhido pelos viticultores é o da "latada baixa".
"Latada
baixa" significa: a pérgula, para receber um pouco de calor do solo, não
pode ultrapassar um metro de altura.
O pouco espaço, entre o
solo e as ramas, dificulta sobremaneira o trabalho do viticultor que é obrigado
a trabalhar sempre curvado.
O sacrifício é compensado pela pouca umidade e boa ventilação.
A pouca umidade e boa ventilação defendem, naturalmente, as
plantas dos ataques dos fungos que quase inexistem na região.
O Vinho
O "Blanc de Morgex et de La Salle" é um vinho que
raramente ultrapassa os 12°, deve ser consumido em sua juventude, quando
exprime todos seus delicados aromas e características.
O "Blanc de Morgex et de La Salle 2015"
de Ermes
Pavese é um vinho límpido, agradabilíssimo, um irresistível convite para
sempre mais um copo.
Rico de tons floreais e minerais, o vinho do Pavese,
é uma pequena jóia enológica que custa, pasmem, 8/10 Euros.
Para perceber como nós, consumidores brasileiros, somos otários,
bastaria lembrar que a "Miolo/Bueno Vinhos de Carregação" vende o "Chardonnay
Couvée Giuseppe" (Giuseppe, foi o patriarca da Miolo que descobriu o Lote
43) por insultuosos R$ 110 (30 Euros).
Bacco
Vou tentar achar
ResponderExcluirBacco,
ResponderExcluirsou suspeito para falar, já que sou tiete de B&B, mas que post fantástico: de uma só tacada, soube da brevidade do ciclo da prié blanc, da "latada baixa" (da qual nunca tinha ouvido falar) e de como ela é importante, e da integração a um terroir que, a princípio, não daria uva nenhuma - e tão hostil que nem a filoxera se atreveu a dar as caras. nota dez.
Vale a pena conhecer os vinhedos de Morgex, aliás todas as vinhas de Carema até La Salle são de tirar o fólego
ExcluirNem tentarei encontrar um Blanc de Morgex et de La Salle no Brasil sera uma perda de tempo,nao consigo encontrar nem um misero sangiovese da Romagna, o que dira de um Blanc de Morgex et de La Salle ....
ResponderExcluirAlias alguem sabe onde encontro um honesto Sangiovese di Emilia-Roamagna por aqui ?
abs
Olá Bacco!
ResponderExcluirCiao, Praga.
ResponderExcluirEsses relatos sao uma boa amostra que ha coisas lindas, interessantes, baratas e instrutivas na vida que vao alem de uma m de viagem para comprar panela, camisa da lacoste e tenis em miami. Ou assistir ao infeliz do fantasma da opera em NYC so para contar para os parentes e amigos via facebook.
Um baita brinde ao bom gosto e a nossa ultima defesa contra a insanidade e a cultura da safadeza pseudo-vinifera: A Natureza.
Auguri, BSTD.