Há algumas décadas, mais exatamente nos anos 1980, muitos produtores
do Piemonte resolveram sacrificar a tradição, para atender o
"mercado", partiram decididos e "internacionalizaram" seus
vinhos.
Era preciso buscar a super concentração nos vinhos, a cor "berinjela",
mastigáveis, impenetráveis, alcoólicos, cansativos e previsíveis.
Nascem, naqueles anos, os Barolo "modernos", as
Barbera barricadas e até o simples e belo Dolcetto é desfigurado na
imbecilizante tentativa de torná-lo "importante", potente,
internacional.
Era a moda!
Nasce o conceito de
colheita das uvas super maduras, do desbaste excessivo, do concentrador etc..
Quando o produtor não conseguia, colhendo uvas super maduras e
desbaste radical (um ou dois cachos por pé), um vinho quase mastigável e mais
parecido com uma geléia, o concentrador entrava em cena.
Grosso modo o concentrador funcionava com a lógica do vácuo:
concentrava, sem misericórdia, não somente os açucares, mas tudo o que havia no
mosto, obrigando o produtor a intervir tentando corrigir o vinho com outras
operações invasivas.
O resultado: vinhos que podiam ser cortados com uma faca, mas
que agravam Parker, seus sequazes, ao mercado americano e a um monte de
eno-tontos.
Hoje, infelizmente, ainda há mercado para os vinhos
"marmelada", mas o declínio do consumo é evidente e os produtores já
perceberam , faz tempo, que ocorreram grandes mudanças na preferência dos
consumidores.
Com a mesma velocidade, que tiveram ao adotá-lo, aposentaram o
concentrador que hoje é peça de museu.
Mauro, que de bobo não tem nada, confessa: "Nos ano 80
e especialmente 90, nos produzíamos para agradar guias, jornalistas, pontos,
bicchieri etc. Eram os anos do concentrador. Quem não tivesse um concentrador
na adega era considerado jurássico, desatualizado, quase um retardado. Vinhos
densos, impenetráveis estavam na moda e para obtê-los foram cometidos erros e
mais erros. Eu percebi a bobagem e abandonei o concentrador há muitos anos"
Poucos viticultores teriam a coragem de confessar o uso daquela
maquina de fazer compotas em suas adegas..... Mauro fez o "mea
culpa", daí sua honestidade.
Enquanto o papo corria solto e os alemães, na mesa ao lado,
não largavam o copo, eu degustava a ótima Barbera Valdevani.
Mauro Sebaste tem bom faro, conhece seu território e não teve
dúvidas em investir em Vinchio
comprando, naquela localidade, algumas vinhas de Barbera.
Para quem não sabe, as belas colinas de Vinchio
e Vaglio Serra são consideradas entre as melhores para a produção da
Barbera.
As terras de Vinchio e
Vaglio Serra não produzem uvas comuns, banais e sem valor, doam uvas
Barbera de se tirar o chapéu.
Não vou citar nomes, mas alguns (vários) produtores, de
etiquetas premiadas, caras e badaladas, compram Barbera de pequenos produtores de
Vinchio e Vaglio Serra, por 2 Euros o
litro, engarrafam o vinho em suas adegas e o revendem, por 20/30 Euros a
unidade, para a alegria dos eno-tontos, adoradores de etiquetas,
"bicchieri" e pontos.
Mauro sabe o que as terras de Vinchio são capazes de doar às Barbera
e sua "Valdevani
Barbera D'Asti" 2015 representa, com muita personalidade, aquele
território.
A "Valdevani Barbera D'Asti 2015", que
provei na adega de Sebaste, é vinificadas com uvas de vinhas com mais de 60
anos, apresenta uma cor rubi brilhante, nariz característico, vinoso e na boca............
Bem , na boca é uma festa.
Barbera clássica, equilibrada, sem predominância do álcool, fácil
de beber e que, imediatamente, lembra as antigas e ótimas Barbera que
esquentavam e alegravam as tardes e noites de nossos avôs.
A "Barbera Valdevani": um triunfo da
tradição e do bom beber.
Mauro Sebaste, inteligente viticultor, percebeu que os
modismos e os Parker passam, mas a Barbera clássica, a Barbera símbolo do bem
beber e do Piemonte não morrerá jamais.
"Valdevani Barbera D'Asti 2015": vale cada um dos 12 Euros que custa.
Bacco
Tem no Brasil ?
ResponderExcluira pedido do Dionísio, testando os comentários. e, Dionísio, o Taurasi que consegui foi o Pago dei Fusi, da vinícola Terredora. conhece esse?
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