.
.....em janeiro.
Aproveitado um convite, para passar um final de semana em
Chamonix, resolvi esticar a viagem até Puligny Montrachet, uma das minhas
aldeias bases na Côte D'Or.
A desculpa, menos
esfarrapada, que encontrei para justificar minha enésima visita à região
francesa: Comprar algumas garrafas de meus já tradicionais "fornecedores":
Jean Claude Bachelet, Thomas Morey, Paul Pernot, Ramonet etc.
Frio intenso, neve na estrada, anoitecer antes das 18, nenhum
planejamento ou agendamento; nada conseguiu arrefecer meu entusiasmo e determinação.
Com as sombras, já
dominando a gélida paisagem (-6º), entrei no quintal do B&B da minha amiga
Maria Adão.
Alegria e gentileza de sempre, um copo de Chardonnay, das uvas
do próprio quintal, um bom papo, algumas indicações.... estava em casa.
Após um breve descanso resolvi procurar um local para beber
uma taça de vinho antes de jantar.
Neste exato momento começou o ”drama
da Borgonha em janeiro".
Os dois bares de Puligny,
Caveau de Puligny e L'Estaminert,
fechados.
"Sem
problemas..... Vou beber no Le Pelugney".
Le Pelugney, meu restaurante preferido na cidade, fechado, também.
Chateado, cansado e por falta de opção, rumei, sem nenhum
entusiasmo, para o cara arapuca "La Table
d'Olivier Leflaive".
A arapuca, também, fechada.
Última e única opção da noite: O estrelado "Le Montrachet Estuprador de Cartões de Crédito".
"Le
Montrachet", que tinha, perdeu e reconquistou a estrela Michelin, não
é exatamente um local para se visitar quando o apetite faz o estômago roncar.
A "nouvelle cuisine", de anoréxicas porções, apesar
de morta e enterrada nos quatro continentes, continua dominando, impávida, as
panelas do "Le Montrachet".
Sem ânimo, até para ligar o carro para alcançar Meursault,
preparei, para o pior, o meu cartão de crédito e caminhei para o bar do "Le Montrachet".
Qualquer taça de vinho Puligny, Chassagne,
ou Saint Aubin, custa, no esquálido bar do
restaurante estrelado, nada razoáveis 13 Euros que representam, no "Brasil Dilma II o abismo", assustadores R$ 62.
As taças servidas no bar não estão entre as mais abundantes da
França e calculei que, para acalmar minha "sede", seriam necessárias
pelo menos três.
Em um rápido exercício matemático conclui que o melhor seria
abandonar as taças e gastar 52 Euros por uma garrafa de Saint Aubin "Les Murgers
des Dents de Chien"
Um copo antes, mais dois durante o jantar e o restante ficaria
para a sede do dia seguinte.
O produtor? Domaine Vincent Girardin.
Quando levei a taça ao nariz pensei estar sonhando.
Poucas vezes percebi tantos aromas em uma taça de vinho.
Ótima escolha!
Nariz envolvente onde o mineral, o floral e o cítrico se
alternavam, constantemente, quase competindo entre si.
Boca harmoniosa, envolvente e com um belo, refrescante e longo
final.
A satisfação foi tão grande que nem me lembrei do
"faquiriano" jantar de 50 Euros: Um minúsculo
paté de foie gras de canard (no máximo 10 gramas), três coxinhas de rã, não
maiores do que 3 azeitonas, que tentavam enfeitar, sem sucesso, uma posta de
salmão de cinco centímetros.
Porções liliputianas +
cozinha pouco inventiva + preços exagerados = "Le
Montrachet? Adeus".
A noite valeu pela "descoberta" de mais um belo
vinho.
No dia seguinte, o café da manhã, no B&B da Maria,
compensou as perdas de energia do dia anterior e me deu ânimo para visitar as vinícolas
da região.
Sem delongas procurei a Domaine Vincent Girardin e a encontrei nos
arredores de Meursault.
Grande vinícola, fachada moderna e imponente.
"Toque a
campainha antes de entrar".
O aviso, claro e didático, foi seguido fielmente.
Toquei a campainha, abri a porta e entrei no saguão, mal
iluminado, da "Domaine".
Da escada, em caracol, bem no meio do local, desceu uma mulher
alta, elegante, "iceberguiana"
A rainha de gelo parou
alguns degraus acima do solo e, do alto de seu pedestal e com a cordialidade de
uma hiena irada, perguntou o porquê de minha visita.
"Gostaria de comprar algumas garrafas"
Com a mesma cordialidade anterior, mas denotando, também, desprezo
e superioridade, a madame informou que não vendia para particulares e que
poderia encontrar, se assim quisesse, suas garrafas na "Le Caveau
Municipal de Chassagne Montrachet".
Agradeci e, antes de mais uma rosnada, saí correndo , entrei
no carro e...... Até nunca mais.
Na "Caveau" encontrei o Saint Aubin "Les
Murgers de Dents de Chien", da Girardin, por 25 Euros
Lembrei da qualidade do
vinho e conclui que o preço era razoável, assim, 6 garrafas da Domaine Vincent
Girardin foram para o porta malas do carro.
Grande vinho, boa compra.
Na próxima matéria "Borgonha
Nunca Mais" abordarei a dificuldade para comprar vinhos em
janeiro.
Bacco
Ciao, pragas.
ResponderExcluirDificil ter tudo na vida. Ao menos no rio grande somos bem recebidos pelos produtores e podemos comprar tudo direto da vinicola.
O criola dificil, tcham.