Eu, que nunca acreditei na “macumba biodinâmica” de cultivo das vinhas, estou começando a me convencer que o “vinho biológico” é, com muito mais frequência do que se possa acreditar, uma tremenda picaretagem.
Antes
de ser eliminado, com um AK-47, leiam, com calma, a matéria até o
fim.
Quando
visito a Borgonha (3 ou 4 vezes por ano) me hospedo em
Puligny-Montrachet ou Bouze-les-Beaune.
As
duas aldeias são, há anos, meus endereços prediletos.
Em
Bouze-les-Beaune nem sempre, mas em Puligny faça sol, chuva ou
neve, todas as manhãs, caminho pelas estradinhas que saem da
aldeia serpenteando pelos crus.
Se
o tempo é bom a caminhada se alonga por vários quilômetros, se há
chuva, neve ou frio, o passeio é mais curto e mais rápido.
As
longas caminhadas me ajudaram a conhecer as vinhas, a exposição
solar, o tipo de solo, de poda, cultivo e, consequentemente, o
porquê da qualidade dos vinhos.
Em
minha última viagem, numa bela, luminosa e ensolarada manhã de
julho, retornava do passeio matinal caminhando pela estradinha que
margeia a vinha, dos pouco mais de 7 hectares, do Bâtard-Montrachet.
Um
enorme cavalo, conduzido habilmente por um lavrador, puxava o arado
que ia revolvendo o terreno por entre os filares.
Feliz
por ter presenciado uma belíssima cena de amor às tradições
vinícolas da Borgonha, voltei para o B&B em Puligny.
Durante
o café comentei o fato com Antônio.
Antônio,
marido da proprietária do local, português, radicado há décadas
na região, trabalha em uma vinícola em Meursault.
Antônio
opera diretamente nas vinhas da vinícola e cuida, pessoalmente,
desde a poda invernal até a vindima, de todas as operações nas
parreiras.
Antônio
é o responsável técnico, então, de um vinhedo.
O
meu amigo luso sabe tudo e mais um pouco de Borgonha….
Entre
uma garfada e outra o viticultor disparou:
“Era
de se esperar….
Hoje
é sábado, o tempo está bom, há muitos turistas passeando pelas
vinhas e os produtores aproveitam para fazer um pouco de marketing”
“De
que marketing está falando, Antônio?”
“Os
turistas são trazidos pelas operadoras nos dias e horas marcados, se
impressionam com os cavalos arando, acreditam na volta e na
felicidade do passado, na agricultura” natural”, batem um monte
de fotografia e saem saltitando contentes por terem presenciado um
momento mágico, raro e quase lúdico. O que os bobos não sabem é
que tudo é falso: O cavalo, o arado, o lavrador, o trailer pertencem
às empresas espacializadas e são alugados, exatamente, para estas
ocasiões”.
Antônio
falava e eu, a cada palavra, me sentia mais e mais pateta.
Onde
teria perdido, afinal, meu espírito crítico, minha desconfiança,
a recusa em aceitar aparências?
Estava
me transformando em mais um eno-tonto na versão “Borgonha” ?
De
repente, como um raio, em minha mente uma lembrança: A foto de outro
marqueteiro, desta feita italiano, que arava as vinhas com a ajuda de
um cavalo.
Giorgio
Rivetti, que naqueles anos, já proprietário de 100 hectares de
vinhas, veiculou, nas revistas especializadas, uma
foto
patética: O empresário em manga de camisa empurrava um arado por
entre os filares.
É
bom salientar que os Rivetti são proprietários da vinhas, não
somente no Piemonte, mas, também, na Toscana e sempre produziram
vinhos “parkerianos” que exalam mais adega que vinhedos.
A
singela “naturalidade” equina, era imediatamente trocada, após a
foto, pela tropa de centenas de cavalos do SUV de propriedade do
Rivetti.
A
picaretagem vinícola, então,
não
é uma exclusividade francesa, italiana, portuguesa, espanhola etc.
A
picaretagem está presente em todos os rincões (Rio Grande do Sul e
Santa Catarina, exclusos) e pronta para nos fazer de palhaços.
Antônio,
embalado, me contou outras “sacanagens” vinícolas que revelarei,
aos poucos, em outras matérias.
Por
enquanto não banque o entusiasta, o tonto.
Quando
vir alguém arando nas vinhas, com a ajuda de um cavalo, lembre-se:
Você está sendo, apenas, mais uma vítima de apelação
marqueteira.
De
marqueteiros, creio,
já
estamos de saco cheio.
O que me deixa mordida é que muitas vezes mesmo tu indo até lá ver com teus olhos e sentir com tuas próprias impressões em visita ao local... esta vendo aí? ainda não será o suficiente.
ResponderExcluirUma tentativa de ``venda`` é colocada em teus olhos, no seu exemplo contado, acho que tens que ter conhecimento muito amplo do teu paladar, o único que pode intervir na informação, e sem se deixar levar pela emoção que o marketing joga no teu colo... O marketing faz parte de todas as coisas desde que o mundo é mundo, segue quem quer.... Mas, e quando tu visitas um produtor e ele e mais um elemento ` jogam` com as palavras no teu ouvido aquilo que eles julgam enganação dos seus outros `coleguinhas`? e mostram os barris na garagem como prova de quem são `` os bandidos ``da situação?
Nunca há verdades verdadeiras. Há em busca pelo esclarecimento ainda sim um ``discurso clichê`` como desculpa do ``porquê um queima o outro``... e a história que tu viveu? fica por isso mesmo? FICA.
Ainda sim, eu que não acredito em 90% do que ouço, meto a dizer que pairam dúvidas mesmo que o discurso clichê da desculpa fosse bom... Nunca qualquer produto que tu compras na gôndola do mercado diz total verdade no rótulo, nunca houve essa clareza, então imagine um bom marketing o que não interfere nesse surrealismo?
Eu penso assim, na vida não adianta ficarmos tentando consertar os mesmos de sempre, eles vão se reproduzir... faz parte! O melhor que se tem a fazer é fazer uma espécie de conto com sua experiência e deixar aí como registro para quem quiser pensar. O que nos resta? é ESCOLHER bem o que lhe agrada antes de consumir, DUVIDAR sempre e se AFASTAR do que não lhe cheira bem ou daquilo que não vai de acordo com teus interesses, porque nessa vida né? todos temos e agimos por interesses, então fica bem difícil não suspeitar de ninguém...
Quanto a esse negócio de viajar com operadora ou guia escolhido por aí que não seja por ti, é simplesmente a escolha de pessoas que preferiram esse caminho ``confortável`` e ` acomodado `de sentir as suas vidas!
Sim, talvez, isso seja como chupar bala com papel para mim, né?
mas eu respeito sinceramente, afinal todos nós temos ``limitações`` nãoooooooo é verdade? E temos que respeitar, rs... ( in deboche)
PS: Por isso há cada dia que passa, eu tento só fazer fotografia, de preferência capturando tudo que for possível...o `cavalo no arado` ou os `tanques industriais`, tudo, o máximo possível, assim, ninguém precisa questionar minhas opiniões e nem tentar fazer com que saia da minha boca o que eu penso, esta tudo cada vez mais do que informado em uma imagem, e uma imagem vale mais do que mil palavras já diz o ditado...
e, como diz o lenhador: a palavra? essa distrai!
abraço...
Essa eu não sabia! Cavalos e arados alugados para iludir turistas? É demais. A que ponto chegaram para vender seus vinhos. E os blogueiros brazucas ficam babando, em busca de uns fundinhos de taça na faixa.
ResponderExcluirSalu2,
Jean
Ah, e Giorgio Rivetti? vish... detesto foto plantada.Na verdade é mais do que patético...
ResponderExcluirO maior problema com o marketing surge quando ele é totalmente falso e dirigido apenas para lhe enganar. No caso específico do cavalo alugado, a picaretagem é evidente. Tudo é falso e aí se explora, sem pudor, a boa fé dos turista. Mas não adianta : há bobos demais no mundo do vinho. Há ate que considere o Bettu um gênio das uvas...
Excluirum dos melhores episodios dos Simpsons se chama "the crepes of wrath". Bart vai a França e la trabalha como escravo numa vinheria que adiciona anti-congelante ao vinho. Grande episodio para todas as idades. Legal que ali ainda ha muita referencia a ex-cortina de ferro. La se foram 25 anos.... Se na França existe enganação explicita, eu nao tenho imaginacao para ver o que vem da Italia.
ExcluirVoltaram bem....pestes.
É só dar uns fundinhos de taças para os cidadãos que eles falam bem até de Toro Loco.
ExcluirOlha, conversando aqui com ``a galera`` que te lê (também), cobram que tu dê ``nomes aos bois``, porque sendo assim não passa de um texto bobinho com acusações genéricas,...
ResponderExcluirHá os que tem cavalos, porque não são pobres... há os que tem altos tratores porque não tem grana para cavalos, e que nem por isso escondem isso...Ou seja, tem os que tem e os que não tem, e fica difícil falar a respeito quando não se sabe mesmo de quem tu falas e que estas fazendo tal ``marketing enganoso``e eu estou de pombo correio aqui, só porque o pessoal em cima do muro morre de medo de se queimar por comentar aqui, enfim... eu já me preocuparia com o tempo gasto mesmo, mas e aí a pergunta que NAO quer CALAR, tu vais dar os nomes dos bois para entendermos o caso?
Tire-me essa dúvida que não é só minha agora, por favor!? hehehe...
Aguardo... porque segundo tu tem continuidade dessa `fita`.
Texto confuso , muito confuso. O pessoal do muro de Berlim deve ter perdido os poucos neurônios ainda ativos e não percebeu que mencionei um dos bois, o Rivetti, várias vezes. Meu texto é bobinho,mas o seu é um primor....
ResponderExcluirSerá que é efeito de vinho encantado produzido pelo Mago???
ExcluirMatou a charada!!! É a química destruindo neurônios
Excluir;) ok.
ExcluirMata mesmo...
ResponderExcluirRIVETTI NA ITALIA, mas falando da picaretagem ``francesa``...
Neurônios são neurônios, mas o assunto foi desviado do que perguntei... então ``falando em neurônios``, né?
"A formiga é um animal. Logo, uma formiga grande é um animal grande"
Nádia.
Se vc viajar pela Borgonha notará , com bastante frequência ,especialmente nos finais de semana, cavalos arando as vinhas . Não perguntei que era o proprietário daqueles filares de Bâtard-Montrachet , até porque não considerei importante a informação. Importante ,naquele momento e para mim , era informar a picaretagem e não o picareta. Se o pessoal do muro de Berlim puder esperar, em minha próxima viagem identificarei o picareta francês . Um , que faz constantemente uso do cavalo, já posso antecipar "Romanèe-Conti.
ResponderExcluirNão dá para entender porque ela posta as vezes com seu nome próprio e outras com o perfil do Photografer ??
ResponderExcluirRealmente uma preocupação que todos temos. Por que? Eu fico dias a pensar os motivos desse mistério que assola a blogsfera.
ExcluirCada dia mais difícil ser feliz com tanta tormentas. Falando em tormentas