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terça-feira, 25 de agosto de 2015

O BAROLO



Muitos falam, comentam, exaltam, mas quantos enófilos conhecem, realmente, o Barolo?




Se suas informações, sobre o vinho piemontês, provém de cursos picaretas e caça niqueis,(qualquer semelhança com AB$, $BAV ou outras similares não é mera coincidência) seu conhecimento limitar-se-á a 0,1, em uma escala de 0-10.

É sempre bom lembrar que, em um passado não tao remoto, a AB$ de São Paulo, através do seu quase eterno presidente, afirmava que o Piemonte confinava, ao sul, com o mar Tirreno.


Na ignorância, os despreparados diretores da AB$, apagam, do mapa geográfico italiano, grande parte da Ligúria.

Com tal (des)conhecimento territorial é fácil imaginar a total ignorância enológica daqueles que pretendem e se julgam capacitados a preparar profissionais do ramo.


Deixemos, então, nos porões da estultice vinícola, os cursos picaretas e façamos, juntos, uma viagem através do fantástico território vinícola piemontês para conhecer, um pouco mais, a história do Barolo um dos melhores vinhos do planeta.

Se alguém questionar minha afirmação e achar que o Barolo não é um dos melhores vinhos da terra, reafirmo colocando minha cara a tapa: O Barolo é, na minha opinião, o melhor vinho tinto do mundo.


Gosto muitíssimo de outras denominações e posso até citar algumas: Gevrey-Chambertin, Chambolle-Musigny, Vougeot, Hermitage, Chateauneuf du Pape, Brunello, Taurasi, Gattinara etc. mas a minha preferência, quando me é dado escolher, sempre é o Barolo.

Para diminuir a quantidade de pedras, que serão lançadas sobre minha cabeça, revelo que meus brancos favoritos não são italianos.
Para mim, nenhum branco supera os Chardonnay da Borgonha e os Riesling alsacianos e alemães.

Confissão feita, continuemos…..


O Barolo é um vinho relativamente jovem.

O Barolo “moderno” nasceu no século XIX pelas mãos e cabeças, pasmem, de um italiano e dois franceses: Juliette Victorite de Colbert-Maulévrier, Camillo Benso di Cavour e Louis Claude Oudart.



Juliette Colbert, nobre francesa, conheceu, na corte de Napoleão, Carlo Tancredi Falletti, Marquês de Barolo e com ele se casou em 1806.

Juliette, após o casamento, foi morar em Torino onde, durante toda sua vida, se dedicou à caridade e assistência dos mais pobre.

Colbert, todavia, era uma grande apreciadora de vinhos e percebeu que a uva Nebbiolo, proveniente de suas vinhas nas “Langhe”, possuía um potencial imenso e que, se bem vinificada, poderia doar resultados excepcionais.


É bom lembrar que até meados do século XIX o “Nebiolum” (assim se chamava então o “pai” do Barolo) era um vinho doce, frisante, quase rosé e que devia ser consumido jovem.

É aqui, que Camilo Benso di Cavour, grande fã dos vinhos de Bordeaux e da Borgonha, entra na história

No Piemonte, de então, a influência francesa era muito forte.

Para que se tenha uma ideia, Cavour, mesmo sendo o primeiro-ministro da Itália, falava muito bem o francês e não gostava de se expressar em italiano, aliás o italiano era sua terceira língua: O francês e piemontês vinham antes….


Em 1843 Cavour convida o francês, originário da Champagne, Jean Claude Oudart, um bem-sucedido comerciante de vinhos e enólogo, como consultor e o encarrega de vinificar, em suas adegas de Grinzane, o Pinot Noir.

Oudart não gosta dos resultados conseguidos e não se entusiasma em continuar tentando.

Juliette Colbert, amiga de Cavour, pede “emprestado” Oudart ao conde e o assume em suas propriedades em Barolo.

Oudart não era um grande enólogo, mas um refinado e competente vinificador.

Louis percebeu, imediatamente, o enorme potencial do Nebbiolo e detectou os problemas da vinificação: O frio e as técnicas erradas inibiam o “trabalho” das leveduras bloqueando o processo de vinificação.
Com o bloqueio muito açúcares, não transformados em álcool, doavam o sabor adocicado ao vinho.


É preciso lembrar que o Nebbiolo é uma uva que emadurece muito tarde (final de outubro) e no território, nesta estação, o frio é intenso, daí o problema.

Resolvido o inconveniente, com a baixa temperatura, a marquesa Falletti decidiu acatar os conselhos de Oudart: Revolucionou todo o sistema de produção de seus vinhos, adotou técnicas francesas de vinificação e transformou, para sempre o Barolo que deixava, no passado, sua veia adocicada.


Nascia o Barolo o soberbo vinho seco que, hoje, conhecemos.


Continua



10 comentários:

  1. Muito bom! Aguardo a continuação.
    Salu2
    Jean

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  2. Ciao, peste do piemont.

    Eu ja acreditei em muita bobagem na vida, e acredito mais em voce sobre vinhos do que na utilidade do instituto lula. Disso isso, pergunto a vossa insolência se o Barolo é o vinho melhor que conhece (acredito nisso sem problemas), como que ha vinhos que custam muito mais que um BOM barolo? Veja os exemplos que existem na Franca: Bordeaux e Borgonha tem vinhos que custam mais que um bom carro. Faltou marketing ou picaretagem por parte dos grandes produtores de Barolo? Faltou cavalo puxando arado na frente de enoturistas trouxas? Oferta e procura simples conduzem os precos de mercado? Por que nao ha casas de leilao em Londres oferecendo Barolos imperdiveis que sao produzidos as vezes em conta gotas e as mesmas casa oferecem bordeauxs que sao ate bons, mas produzidos aos milhares e custam tambem alguns milhares de $$$$$?

    Auguri.

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    Respostas
    1. J.Rato, você já calculou a quantidade de idiotas abonados que há no mundo ? É difícil né...... Pois é , enquanto houver idiotas que pagam por uma garrafa de vinho o preço de um carro haverá viticultor que morrerá de rir mesmo tendo um ataque de hemorroidas
      Dionísio

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    2. Di, voce respondeu parte da historia. Sim, ha milhoes de trouxas pelo mundo que gastam muito em coisas que valem bem menos ou ate nada. Entao vou te dar outro exemplo para ver se um de voces cavam a minhoca que quero:

      Perto do Piemont ha a querida Toscana. Terra de vinhos bons, mas tambem daquelas pragas chamadas supertoscanos que em alguns casos custam 3x mais que um barolo fantastico. Ate gente que pilotava F-1 e morava na Italia adora mostrar esses vinhos em churrascos no Brasil. Nomes nao serao dados e podem ser apenas frutos da minha imaginacao. Que massa tudo isso.

      Agora, por que milhares de trouxas pagam 300 EUR por um superstocano de gosto duvidoso e nao fazem fila por um mega barolo de EUR 60.00 (preco varejo)?? Repare que agora nao comparo milhares de euros (bordeaux borgonha) versus piemonte.

      O que os picaretas de toscana fizeram melhor para vender vinhos meramente "OK" por uma fortuna e nao fazem os piemonteses?

      Ischpertos x jecas? Pilantras x puros?

      Se soubesse a resposta nao estaria fazendo pergunta, vai por mim.

      JR out.

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    3. Os toscanos sempre souberam se vender melhor que os piemonteses em tudo. Território, vinho, história, arte. Em parte tem razão ,mas na enogastronomia levam pau. Na Toscana há ,basicamente, o Sangiovese e no entanto os toscanos Brunello são muito mais conhecidos e endeusados que os Barolo, Barbaresco, Gattinara, Barbera, Dolcetto, Grignolino, Freisa, etc. Os toscanos conseguiram transformar uma terra , que somente produzia pernilongo e batata, em um "terroir" de vinhos badalados. Como? Como sempre: comprado as canetas certas.
      Dionísio

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    4. Di,

      amigos meus de outras regioes da Italia vivem dizendo que toscana roubou muita coisa pelo pais, inclusive objetos de ARTE ou reputacao da arte. Ja reparou que nos avioes (principalmente american airlines e afins) ha em toda revista (eca) de bordo o famoso "Visit Tuscany"?

      Nunca vi "Visit Liguria", "Visit Sicily", "Visit Apuglia", etc.

      Em seriados, filmes e sitcoms ter uma casa na "Tuscany" he o maior sonho dos personagens. Algo como provence. Hello Bragelina.

      Bom, marketing he isso. Sorte e merito de quem soube fazer melhor a tal licao de casa (eca de cliche).

      Vamo nessa.

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  3. uma bela história, muito bem contada por aqui.

    Bacco, Dionísio, já estão fazendo os alongamentos para não ter cãibras na Mangialonga domingo?

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  4. A pessoa vai para o inferno se preferir um barbaresco a um barolo? No aguardo da segunda parte.

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  5. Vai para o inferno quem não bebe Barolo e Barbaresco. O Barbaresco é outro extraordinário vinho da mesma região e será uma das minhas próximas matérias.

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    Respostas
    1. hahaha... Boa resposta! Adoro Barbaresco também. Mas assim como o Barolo, tem muita coisa ruim no mercado. E outros, caríssimos. Gaja eu nem olho. Gosto dos La Spinetta, mas também são caros, pelo menos aqui no Brasil. Bem, estou aguardando sua matéria sobre estas preciosidades.
      Salu2,
      Jean

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