Volta e
meia uma preguiça quase letal me ataca, perco toda a inspiração e reduz a zero
minhas postagens.
Iniciei
“Compras na Borgonha III” e abandonei.
Comecei uma matéria comentando um belíssimo
restaurante que conheci na região de Alba e deixei pela metade.
Escrevi
algumas linhas sobre aqueles que considero os maiores eno-imbecis do planeta e, por
enquanto, coloquei em banho-maria.
Um completo
marasmo intelectual.
Um
comentário me despertou da letargia.
Grande Bacco! Uma vez mais parabéns pelo texto!
E aproveitando o ensejo e dentro desse tema dos "vinhos raros" (como denominou o outro EDUARDO), estou lendo "Reflections of a wine merchant" do Neal I. Rosenthal e em um dos capítulos iniciais ele trata com tanto entusiasmo e saudosismo de um vinho italiano que resolvi perguntar se vocês conhecem. É o Chambave Rouge, da uva gros viens que, segundo o autor, é um vinho das regiões mais altas do Vale D'Aosta e que ele sequer sabe se ainda é produzido. Diz que no início da década de 80 teria tomado as safras 61, 71, 74 e 78 do produtor Ezio Voyat. Ainda segundo o autor, tal produtor não conseguiu repetir a qualidade de tais safras, mas o vinho nunca saiu de sua memória e até hoje ele (o autor), teria uma garrafa do 61.
Vocês conhecem essa denominação? Chegaram a experimentar algum vinho do Ezio? Atualmente, existe algum produtor que consiga bons resultados para esse vinho ou para a cepa gros viens nos arredores do Mont Blanc?
Desde já agradeço.
Eduardo (aquele do Freisa da Vajra)
E aproveitando o ensejo e dentro desse tema dos "vinhos raros" (como denominou o outro EDUARDO), estou lendo "Reflections of a wine merchant" do Neal I. Rosenthal e em um dos capítulos iniciais ele trata com tanto entusiasmo e saudosismo de um vinho italiano que resolvi perguntar se vocês conhecem. É o Chambave Rouge, da uva gros viens que, segundo o autor, é um vinho das regiões mais altas do Vale D'Aosta e que ele sequer sabe se ainda é produzido. Diz que no início da década de 80 teria tomado as safras 61, 71, 74 e 78 do produtor Ezio Voyat. Ainda segundo o autor, tal produtor não conseguiu repetir a qualidade de tais safras, mas o vinho nunca saiu de sua memória e até hoje ele (o autor), teria uma garrafa do 61.
Vocês conhecem essa denominação? Chegaram a experimentar algum vinho do Ezio? Atualmente, existe algum produtor que consiga bons resultados para esse vinho ou para a cepa gros viens nos arredores do Mont Blanc?
Desde já agradeço.
Eduardo (aquele do Freisa da Vajra)
O Eduardo, que já me fizera
escrever uma matéria sobre a Freisa, vinho que estimo muito, mexeu com as
minhas mais remotas lembranças ao perguntar se eu conhecia o “Chambave Rouge”.
1972!
Batendo um papo, com meu tio Beppe,
que servira o exército na Val D’Aosta, perguntei se conhecia a “Malvasia de
Nus”.
“Conheço muito bem. Quem a produzia
era o pároco da cidade que tinha uma pequena vinha no fundo da igreja. Acho que
ainda tenho algumas garrafas na adega”.
Beppe desceu as escadas, demorou
um bom tempo e retornou com duas garrafas empoeiradas, etiquetas rasgadas e ilegíveis.
“Encontrei duas garrafas de “Malvasia
di Nus”, mas não lembro de que safra são”.
É bom salientar que meu tio havia
dado baixa em meados dos anos 50 e aquelas garrafas, então, carregavam, no
mínimo, 20 anos de rolha.
Com muito cuidado meu tio abriu
uma garrafa e derramou um pouco de vinho em duas taças.
Dois vinhos italianos de
“dessert”, naqueles anos, que me emocionaram: O Picolit e a Malvasia di Nus.
Coloquei aspas no dessert porque
considero o Picolit e a Malvasia di Nus vinhos que
devem ser degustados em total solidão, ouvindo jazz e admirando um pôr-do-sol.
Se me acusarem de “frescura”, rebato: “Você,
que nunca bebeu um verdadeiro Picolit ou uma verdadeira Malvasia di Nus, não
pode acusar”.
Não bebeu nem beberá!
A Malvasia de Nus “moderna” não é
nem a sobra daquela vinificada pelo pároco e o Picolit “moderno” é quase uma
piada.
Sobre o Picolit vou me aprofundar
em outra ocasião, mas hoje vou dedicar algumas palavras à Malvasia di Nus e ao Chambave.
Perguntará, o Eduardo: “O que a
Malvasia di Nus e o Chambave tem em comum?”
Nada, a não ser a Val D’Aosta,
região em que os dois vinhos são produzidos.
Depois de provar a Malvasia di
Nus do meu tio uma quase obsessão tomou conta de mim, obsessão que não arrefeceu
até o dia em que resolvi fazer uma viagem em busca do precioso vinho.
Em Nus, pequena aldeia valdostana, conheci a igreja, soube que o
pároco viticultor havia morrido e que as vinhas já não existiam.
Passei três dias visitando
vinícolas de Nus e cidades vizinhas em busca da “Malvasia Perdida” que
continuou perdida.
Provei inúmeras Malvasia, mas nunca
mais bebi uma Malvasia di Nus que me emocionasse, aliás.....bem, deixa pra lá!
Nos três dias em que percorri as
ruas de Carema, Pont San Martin, Donnas, Saint Vincent, Chatillon, Nus etc.
bebi todos os vinhos da região e, naturalmente, o Chambave Rouge, mas nunca provei
aquele produzido por Ezio Voyat.
Ezio morreu no início dos anos
2000 e seus filhos continuam vinificando, além do “Rosso Le Muraglie” o “Passito Le Muraglie”.
Os Voyat não denominam seu tinto:
“Chambave Rouge” pois seu vinho não é DOC.
Os Voyat seguem suas próprias normas
e regras sem dar a mínima atenção ao disciplinar
O Chambave Rouge é produzido, em Chambave, Verrayes, Saint Denis, Châtillon, com uvas
Petit Rouge (60/75%) e os restantes ((40/25%) com Gamay, Pinot Noir, Dolcetto,
Freisa e outras uvas tintas da região.
O Chambave é um vinho fresco
agradável ,mas não posso, infelizmente,
compartilhar a opinião nem o entusiasmo do Rosenthal.
O Chambave Rouge não está no
mesmo patamar de um Barolo, Brunello ou mesmo de seu vizinho Carema.
O Chambave Rouge é um vinho que agrada muito
mais aos americanos do que aos
italianos.
Se e quando encontrar o
“Rosso Le Muraglie”, talvez mude de opinião ,mas o Chambave, produzido em escala
quase industrial pela “Crotta di Vegneron”, não me entusiasma .
Tomara que o “Rosso le
Muraglie”, dos Voyat, tenha escapado do
melancólico final destinado à Malvasia
do pároco de Nus.
Grande Bacco!! Fico lisonjeado por ter ajudado de alguma forma a tirá-lo da letargia. Eu e seus demais leitores agradecemos por mais um belo texto e por todas as dicas e informações.
ResponderExcluirAgora vou ter que dar um jeito de experimentar o "Rosso le Muraglie" dos Voyat, não obstante o próprio Rosenthal já tenha dado indicações de que eles teriam 'perdido a mão'. De qualquer forma, vou arriscar. No mesmo livro, ele também fala bem dos vinhos de Caremma e despertou minha curiosidade. E como ele segue por essa linha de evitar os vinhos comerciais e admite o preconceito com vinhos novo mundistas, acho que é um bom referencial.
Novamente obrigado.
Abraço
Eduardo
Não tem relação com o post, mas acho que você vai se divertir com esse artigo.
ResponderExcluirAbraços,
Fabiano
Ops, esqueci o link:
ResponderExcluirhttp://www.dailymail.co.uk/news/article-2648522/Made-actual-blue-nuns-sea-caves-Joker-replaces-supermarket-wine-descriptions-funny-versions-acts-vin-dalism.html