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segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

A ILHA DA FANTASIA

 


Lendo os comentários, na matéria “Penne com Cerveja”, finalmente entendi, em toda sua plenitude, o jargão de Bonzo: “Percamos as Esperanças…”

O enófilo brasileiro, infelizmente, nasce torto e morre torto na ilha da fantasia vinícola tupiniquim.  



Não todos, é verdade, mas muitos, infelizmente, não conseguem se libertar das meias verdades (“grandes picaretagens” seriam o termo mais exato) que lhes são impostas, desde sempre, por produtore$, importadore$, crítico$, divulgadore$, sommelier$ e mais recentemente a praga dos “influencers”, que não entendem bosta nenhuma de vinhos, mas sabem que, no mundo da superficialidade absoluta, seus seguidores, também, conhecem pouco ou quase nada do assunto.



É a vitória dos Pérgola, Pabllo Vittar, Singular Nebbiolo, Choro da Videira, Anielle “buraco negro”, Miolo Seleção, “Segundo Melhor Espumante do Mundo”, Dilma “mulher sapiens”, Vinhos Góes…mediocridade total.

 Um verdadeiro exército iludindo eno-palermas que acreditam no Brasil dos melhores vinhos, queijos, azeites etc. do planeta

É o famoso “complexo de vira-lata”, de Nelson Rodrigues, ao contrário....



Um comentário, na matéria “Penne com Cerveja”, é prova clara, concreta, irrefutável, que não há vida inteligente na maior parte dos enófilos brasileiros.

Anônimo30 de novembro de 2023 às 13:29

Impressionante como durante minha vida linda e longa eu vi nitidamente o declínio da europa e da italia ainda mais. Isso em termos economicos. O tanto que ficaram para tras, mais que historico. 30 anos atras os PIBs dos EEUU e da EU eram ate similares, mas depois de um tempo, good-bye. Vinho decente a 5.50 a garrafa? Produtor deve vender almoço para pagar o jantar assim.

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O anônimo “vida linda e longa” vomita uma Iguaçu de imbecilidades ao comentar o declínio da Europa e da Itália, em especial.

O anônimo, todavia, nunca conseguiu, em sua “...vida linda e longa”, perceber o mesmo declínio no Maranhão, Rio de Janeiro, Paraíba, Bahia, Piauí etc.



Tudo bem ...é típico caso de visão patriótica-seletiva.

O mais interessante, porém, não é “declínio italiano”; o “vida linda e longa” não consegue “digerir” o preço do “Minaia”

Leia:

 Vinho decente a 5.50 a garrafa? Produtor deve vender almoço para pagar o jantar assim”



Nosso São Tomé vinícola não consegue acreditar que os Bergaglio consigam viver decentemente vendendo garrafa de bom vinho por 5,5 Euros.

Nosso incrédulo enófilo ficaria mais estupefato, ainda, se soubesse que os Bergaglio vendem seu Gavi “base” por 4,5 Euros e, mesmo assim, tomam café, almoçam, jantam e vivem, muitíssimo bem, em uma bela propriedade rural.



Mas deixemos o “vida linda e longa” em seu Maranhão mental e vamos aos dados da denominação “Gavi”.

Os Bergaglio, desde 1946, vinificam Gavi em seus 17 hectares de vinhedos e a produção, de 140.000 garrafas (média anual), é vendida no mercado mundial (Itália, USA, Rússia, Reino Unido, Alemanha etc.)

Se nosso “vida linda e longa” tiver conhecimento mínimo de matemática poderá entender, sem muito esforço, os números que apresento.

Garrafas 140.000 X 5 Euros = 700.000 Euros X 5,4 = R$ 3.780.000 (receito bruta anual)

É sempre bom lembrar que um quilo de uva Cortese custa 1,4/1,6 Euros, mas para os Bergaglio o custo é zero (não compram uva).

Mas adicionemos à mão de obra, vidro, etiqueta, rolha, embalagem etc., também os 1,5 Euros da uva.

Resultado: O custo final, de uma garrafa de vinho, para os Bergaglio, não ultrapassa 2,8/3 Euros.

 “linda e longa vida”, faça as contas finais (se desejar, eu ajudo) e nos diga se dá para comer no almoço e jantar.

O PORQUÊ DO PREÇO BAIXO

A denominação “Gavi” se estende por 1.600 hectares e nela operam 64 vinícolas-engarrafadoras que venderam, em 2022, algo próximo de 15 milhões de garrafas.

O preço de uma garrafa de Gavi, nas enotecas e supermercados, oscila entre 6 e 12 Euros.

Gavi DOCG SAN SILVESTRO

Codice Prodotto 4205

€ 9,80 
o 3 rate da 3,27 € senza interessi. 



 Deu para perceber o tamanho da concorrência e o porquê dos 5,5 Euros?

Não basta?

Há, somente no Piemonte, muitas uvas brancas que disputam o mercado com o Gavi (uva Cortese)

As mais importantes e conhecidas: Arneis, Favorita, Erbaluce, Timorasso, Nascetta, Chardonnay, Carica l’Asino, Moscato.


Roero Arneis 2021
Roero DOCG

9,90 € (Tasse incluse)



Todos os vinhos, produzidos com as castas mencionadas, podem ser encontrados nas prateleiras das enotecas e supermercados por 6/12 Euros e não há notícia de nenhum produtor com características de faquir...

Não vou prolongar o assunto comentando dúzias e dúzias de vinhos produzidos de norte a sul, de leste a oeste, da Bota, mas termino afirmando que a enorme concorrência não permite aos Bergaglio e a outros milhares de viticultores, praticarem preços “Brasil”

Caro “vida linda e longa”, você precisa deixar de comparar o paraíso maranhense com a decadente Europa.



É difícil, eu sei, mas seja clemente, magnânimo..... Tente.

Para terminar, uma sugestão: Encha um contêiner com vinhos nacionais da Carraro, Valduga, Pizzato, Miolo, Aurora, Guaspari, Argenta etc. vá para a Europa e os ofereça pelos preços praticados na “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá’.



Comece por Lisboa e tente convencer o dono do “Bar Nicola” a comprar o Viognier da Guaspari “Vista do Bosque” por “míseros” 52 Euros.

Caso sobreviva ao apedrejamento, voe até a bela Chassagne-Montrachet e ofereça, ao pessoal da “Caveau de Chassagne”, o “Luiz Argenta Cave Chardonnay 2012” por razoáveis 72 Euros.




Se a guilhotina emperrar e você, disfarçado de monge beneditino, conseguir alcançar o bar “100 Vini”, em Alba, ofereça, ao proprietário, o “Singular Nebbiolo” por 137 Euros.



Recomendo, antes da negociação, uma rápida passada na “Farmacia Via Maestra” para reforçar o estoque de KY.

Bacco

 

 

sábado, 2 de dezembro de 2023

CARANGOS E MOTOCAS

 


Quem se lembra do desenho animado, veiculado na TV em meados da década de 70, “Carangos e Motocas”?

 No final do desenho, Willie (o herói) sempre se dava bem e a motoquinha menor ficava buzinando para chefe mau: “eu te disse, eu te disse, eu te disse’’...

Faz trilhões de anos que este blog alerta (ainda de maneira menos fofa do que poucos outros) para a tontice da idolatria aos eno-ébrio-blogueiros, jornalistas (que ofensa a quem realmente estudou jornalismo...), influencers, youtobas, podcasters e outras pragas que sei lá quais são as intenções, mas acabam conseguindo mais exposição que realmente deveriam ter – e não deveriam ter quase nenhuma.

Geralmente, nossa única linha de defesa, contra essa gente, se chama tempo.



Cedo ou tarde, críticos mais famosos, ou menos famosos, cairão na vala do tempo e serão devorados, sem pena, pelos fantasmas da insignificância e do esquecimento.



De Parker ao Bilu Teteia, serão (somos?) consumidos pela diabetes tipo 2, por insuficiência hepática, renal e, quem sabe, vascular.

Duvida?

Pense em quem era leitura “obrigatória” quando você começou se interessar pelo mundo do vinho e onde essa figura se encontra hoje.



Recentemente visitei uma vinícola que tem à frente, no winemaking (toma essa), uma pessoa extremamente séria, que trabalha muito, premiada, bem reconhecida em sua DOC, na Europa e que, depois de algum tempo sofrendo na estrada, agora começa a aparecer em várias publicações famosas de nosso âmbito.

 As visitas de Masters of Wines (gente que, ao contrário dos quase todos aqui, conhecem muito de vinho) estão começando a ficar frequentes.

Perguntei ao dono e enólogo (ou enóloga? Mistério...) se as publicações e elogios, nas Decanters e Wine Enthusiasts da vida, refletiam em mais vendas.

A resposta? “Quase nada. O que levanta e sustenta venda é um conjunto de muitos fatores. E por falar nisso, nunca paguei e nunca pagaria para ter crítico degustando e falando dos meus vinhos”.



Diante dessa, um hater pode perguntar: “nossa, uma opinião vale como amostragem estatística perfeita para o inteiro universo dos vinhos? ’’.

Claro que não, mas as várias décadas percorridas na rota do vinho, conversando com fulano e beltrano, lendo e pesquisando, confirmam o que já foi falado/escrito em B&B há mais de uma década: só trouxa paga para ter vinho divulgado por eno-ébrio-blogueiro ou jornalista e/ou crítico.



Salvo os grandes esquemas das corporations (aí sim falamos de quem sabe gastar para se promover), a idolatria pelos influencers pode ser uma das maiores cretinices que acomete o bebedor de vinho.

Como dizia a motoquinha (e Bacco, e Dionísio):              “eu te disse, eu te disse, eu te disse...”

Bonzo

terça-feira, 28 de novembro de 2023

PENNE COM CERVEJA


 



Terça feira, fria, chuvosa…desânimo total.

Prevendo um longo dia chovediço resolvi consultar minha esquálida adega para tentar encontrar uma garrafa consoladora.

Um choque!

Meu estoque de Gavi “Minaia”, da vinícola Nicola Bergaglio, meu branco predileto do dia a dia (melhor custo qualidade da Itália) sumira, evaporara.



Ótima desculpa para tirar o carro da garagem e enfrentar os 90 km que separam Santa Margherita de Rovereto, pequeno distrito de Gavi, sede da Nicola Bergaglio.

Pouco depois das 11 horas, Diego, filho de Pierluigi Bergaglio, me abriu as portas da vinícola.



Um papo cordial, algumas informações acerca da safra 2023(boa) e Diego, como de costume, me ofereceu uma degustação de seus “Minaia”.

As garrafas escolhidas foram da safra 2021, 2020 e, pasmem, 2015.

Se não soubesse qual vinho havia na taça poderia jurar que a de 2020 era de um ótimo Chablis

Resultado: seis garrafas de 2021, mais seis de 2020 e três de 2015 foram parar no porta-malas do meu carro.

Total? 15 X 5,5 = 82,5 Euros (R$ 437)



Você, que comprou 13 garrafas de “Sauvignon Blanc Vista do Café” da Guaspari e pagou R$ 3.744 (706 Euros), vá até o espelho mais próximo e conheça um belíssimo trouxa.  



Se alguém, pago pela predadora de Serra da Mantiqueira, defender a “alta qualidade” do vinho da Guaspari, para justificar seu preço absurdo, este alguém, por nunca ter bebido uma gota sequer do “Minaia”, é um falsário.

By the way...eu já tive o azar de tomar uma taça do arghhhh, Vista do Café.



Terminada a degustação e compra, me despedi de Diego e rumei até a vizinha Gavi onde resolvi almoçar.

Terça feira de um chuvoso e cinzento novembro e você procurando restaurantes abertos em Gavi?

 Está sonhando?

Quando o sonho já estava se transformando em um famélico pesadelo.... “Ristorante La Canonica”

 Sem olhar, cardápio e preços, entrei.

Ambiente simples, poucos clientes e uma enorme, quase ameaçadora garçonete, de loiros cabelos e ares teutônicos..... “Pode sentar onde preferir”.



Obedeci sem delongas, me acomodei na primeira mesa que encontrei e consultei a carta de vinhos.

Quando a colossal loira me dirigiu novamente o olhar, pedi uma garrafa do ótimo Gavi, de Michele Chiarlo (15 Euros) e bebericando, consultei o menu.

Surpresa, surpresa....”Penne alla Birra” (Penne ao Molho de Cerveja”.



A curiosidade venceu a desconfiança e …. Ótimo prato que me impressionou e que agora "revelo" a receita

A RECEITA (4 pessoas)

Os ingredientes são poucos, o gasto menor ainda e a execução bastante simples (errei duas vezes, mas na terceira até superei o prato do “La Canonica”)

Ingredientes



1 pacote de penne ou similar

1 latinha de cerveja clara



3 colheres de manteiga

2 copos de creme de leite



Queijo Parmigiano, Grana, ou similar, mas de boa qualidade.

Sal, pimenta do reino.

Preparo

Coloque a água para ferver em uma panela e junte um punhado de sal.

Quando alcançar a ebulição jogue o macarrão na água e tampe a panela.

Enquanto as "penne" cozinham (tempo normal 8/10 minutos) derrame a cerveja em uma frigideira de bordas altas e, em fogo baixo, leve quase à fervura.



Quando a cerveja começar a borbulhar junte a manteiga e deixe derreter.

Em seguida junte o creme de leite e mexa até incorporar o todo.



Quando o molho estiver bem quente, adicione, aos poucos, o queijo ralado e sempre mexendo deixe engrossar.

Quase ao mesmo tempo, do preparo do molho, a massa deverá estar “al dente”.



 Coe as “penne”, jogue na frigideira, misture bem e sirva.

Buon appetito.

Bacco

   

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

CHAMPAGNE X ESPUMANTE 3

 


 A “mania das bolhas”, que tomou conta do planeta, é responsável pelo considerável aumento dos preços dos espumantes.

 Em conversa, Mauro Pietronave, proprietário do incrível “Gran Caffè Defilla”, de Chiavari (mais de 1.000 etiquetas na enoteca), deixou escapar que, além dos preços terem aumentado (10% em média), encontrava dificuldade em reabastecer sua adega para as festividades de fim de ano.



 Mauro, comentou que as marcas de Champagne e de espumantes, mais conhecidas e badaladas, estavam sumindo do mercado com impressionante rapidez: “Encomendei 24 garrafas de Krug e me entregaram apenas 6, Cristal e Salon recebi 3 de cada e  Giulio Ferrari, 6”.

O aumento dos preços não inibiu o consumo e as bolhas continuam quebrando recordes de produção e venda.



Há espumantes para todos os gastos, gostos e desgostos.

Para desgosto: Quase todos os Prosecco, pavorosos espumantes “Charmat” abaixo de 5/6 Euros e inúmeros “Método-Quase-Clássico” abaixo de 10 Euros.

Para gostos: Não pense que abaixo de 15 Euros encontrará algo sensacional, mas entre 18/28 há inúmeras e interessantes opções.

Algumas que recomendo abaixo de 30 Euros:



Enrico Gatti – Franciacorta Brut

Mattia Vezzola Brut Costaripa

Mattia Vezzola Rosè Costaripa

Ferrari Brut – Trento



Ferrari Maximum Blanc de Blancs – Trento

Ferrari Perlè – Trento Doc – Trento

Monte Rossa Blanc de Blancs – Franciacorta

Monte Rossa Brut Nature – Franciacorta



Monte Rossa Flamingo Brut Rosè – Franciacorta

Uberti Francesco I Brut – Franciacorta

Letrari Brut – Trento DOC



Barone Pizzini Animante Dosaggio Zero – Franciacorta

Cusumano 700 Brut – Sicilia

Murgo Brut Rosè – Etna Sicilia

Há muitos outros espumantes que merecem ser levados para casa, mas creio que a minha relação seja já bastante expressiva e representativa dos vinhos da Franciacorta, Trento DOC e Sicília.

Uma particular atenção: Todas as vinícolas mencionadas produzem, também, garrafas com preços “brasileiros” e que devem ser rigorosamente esquecidas.

Exemplo: “Ferrari Riserva del Fondatore”- 160 Euros



               “Monte Rossa Cabochon Fuoriserie” – 70 Euros

           “Letrari Riserva del Fondatore” – 120 Euros

Também esqueçam as marcas famosas que produzem espumantes nada excepcionais, questionáveis e por preços de fazer inveja aos predadores Valduga e Geisse: Berlucchi, Bellavista, Ca’ del Bosco, Antinori, Coppo etc.

Acima de 35 e no máximo 100 Euros não há conversa.....Champagne é a única e inteligente opção.

Algumas sugestões:

Billecart-Salmon - Brut Réserve



Berêche & Fils - Brut Réserve

Bruno Paillard – Extra Brut Première Cuvèe

Paul Bara – Brut Réserve Grand Cru

Ayala – Brut Nature

Michel Furdyna – Prestige Brut



Sadi Malot – Brut Nature

Jean Vesselle – Oeil de Perdix



Vazart Coquart - Grand Cru Blanc de Blancs Brut Rèserve.

Resumindo: Abaixo de 30 Euros vá de bons espumantes espanhóis, italianos, portugueses

Acima de 35 é Champagne e..... estamos conversados.

Bacco

P.S É sempre bom lembrar que espumante nacional custando mais de R$ 65/70 é roubo