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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

CHATEAU MUSAR X GLOBENGO

 



Sabe aquela pergunta meio idiota .....: “Se você pudesse levar apenas 10 coisas, para uma ilha deserta, quais seriam? ”

Eu, para uma ilha deserta, nada levaria, pois, jamais iria, mas mandaria, com muito prazer, todos os meus inimigos.

 Se a pergunta fosse um pouco mais inteligente e indagasse quais meus vinhos prediletos, sem titubear, incluiria, na lista, o fantástico “Chateau Musar Blanc”.

Meus vinhos brancos prediletos sempre foram e continuam sendo, os de Chassagne-Montrachet / Puligny-Montrachet, dois italianos, um libanês e um espanhol.

Os italianos?



“Etna Bianco Vigne Niche Superiore” da Tenuta delle Terre Nere e o incrível “Pensiero Metodo Classico” produzido pela Tenuta dei Fiori de Valter Bosticardo.

Na minha lista exclusiva, entram, sem dúvida, o libanês “Chateau Musar Blanc” e o espanhol “Viña Tondonia Reserva”.



O Líbano, uma das mais antigas “pátrias” do vinho (as vinhas já presentes em seu território há mais e 6.000 anos), possui apenas 2.000 mil hectares de vinhedos, sua produção anual mal alcança os 8 milhões de garrafas, mas o “Chateau Musar Blanc” pode ser considerado um dos melhores vinhos do planeta no quesito “custo-qualidade”.



As uvas Obaideh e Merwah, utilizadas na vinificação do “Chateau Musar Blanc”, são provenientes de vinhas, com mais de 70 anos, cultivadas nas encostas do Monte Líbano a 1.300 metros de altitude.

 O rendimento é muito baixo e as vetustas vinhas doam apenas 2 toneladas uva por hectare.

O “Chateau Musar Blanc”, após a vinificação em inox, tem passagem de 6 meses em barriques e afina durante 48 meses na garrafa.



“Vou à sua casa assistir ao jogo do Flamengo e Al Hilal ....Estou levando uma garrafa”.

O mais jovem dos meus filhos “se convidava” para ver a partida do mundial de clubes e, quem sabe, comemorar a derrota do “Globengo” (globo-flamengo) com um belo vinho.

 


O belo vinho?

Nada menos do que um “Chateau Musar Blanc 2016”.

O resultado, do jogo, todos sabem, mas poucos já beberam um vinho tão excepcional como aquele libanês que nos degustamos aquela tarde

O “Chateau Musar Blanc” 2016, com sua cor amarelo-dourado, penetrantes aromas, onde prevalecem os cítricos, sua marcante personalidade, incrível frescor e grande equilíbrio, é um vinho imperdível e que deve ser degustado em momento especiais.



O nosso momento especial foi a derrota do Globengo.....

O “Chateau Musar Blanc” custa na Europa 45/50 Euros

Dionísio

  

sábado, 4 de fevereiro de 2023

CERASUOLO DI VITTORIA 2

 


No outono e até o início do inverno, os cogumelos “invadem” os bosques dos Apeninos lígures.

Comestíveis, ou venenosos, há uma enorme variedade deles.

Os mais apreciados e mais difíceis de serem encontrados, são os da família dos “Boletus”, mais conhecidos, na Itália, como “Porcini”.



Todos os anos me aventuro nos bosques à procura de “porcini”, “famigliole”, “finferli”, “galletti” etc.

 Depois de algumas horas e não poucos quilômetros, subindo e descendo montes, quase sempre acabo por encontrar os cogumelos no restaurante mais próximo.....



Em Santa Margherita, mais precisamente no distrito de San Lorenzo della Costa, a “Trattoria degli Amici”, durante todo o outono e princípio do inverno, realiza verdadeiros festivais gastronômicos onde as principais estrelas são os cogumelos.

Crus, refogados, fritos, à milanesa, ao forno, com massa ou risotto.... Infinita variedade para todos os gostos.



O inverno, de 2022, foi quase morno, na Ligúria e o festival de cogumelos, da “Trattoria degli Amici”, continuou sendo oferecido até meados de dezembro.

Cansado de percorrer os bosques e somente encontrar cogumelos venenosos, resolvi poupar coxas e panturrilhas, reservei uma mesa na “Trattoria degli Amici” e finalmente fiz um verdadeiro “massacre” de “porcini” e “finferli”.



Para acompanhar os pratos, à base de cogumelos, pensei em um tinto pouco encorpado, estrutura mediana e não muito alcoólico.

Na carta, uma surpresa: “Cerasuolo di Vittoria”, 2017, Planeta.



Há anos não bebia o “Cerasuolo di Vittoria”, pois o ótimo vinho siciliano, que nunca esteve da “moda”, perdera seu já limitado espaço e foi quase banido, soterrado por um tsunami de medíocres e pavorosos Nero D’Avola.

O meu preferido? 

Sempre foi o produzido pela vinícola cos COS que, infelizmente, é difícil de encontrar até mesmo nas enotecas, supermercados e cartas de vinho dos restaurantes.



A lembrança do horroroso Chardonnay, que tentara beber em Cefalù, voltou imediatamente à minha mente e por um instante pensei em continuar “sabotando” os vinhos da vinícola Planeta e ignorar seu “Cerasuolo di Vittoria”

“Já se passaram quase 25 anos..... O Cerasuolo di Vittoria é vinificado com uvas autóctones, custa apenas 18 Euros, então......”

O então e a curiosidade venceram a desconfiança e.... ordenei o vinho da Planeta.

Boa escolha!



O “Cerasuolo di Vittoria”, que ostenta a DOCG desde 2005, é um blend de Nero d’Avola e Frappato.

A Nero d’Avola doa robustez, taninos, austeridade.

 A Frappato agrega elegância e aromas.

 O “Cerasuolo di Vittoria”, da Planeta, se apresenta com bela cor rubi, o nariz é de grande profundidade aromática e o paladar revela caráter, bom corpo, taninos finos e já integrados.



O “casamento” da Nero d’Avola e Frappato, castas utilizadas no “Cerasuolo di Vittoria”, gera um vinho harmônico, muito interessante e que em nada lembra os abomináveis “afrancesados” que a vinícola produzia nos anos 1990 e começo de 2000.

A Planeta parece ter renunciado ao modismo das castas “internacionais” e seu retorno às uvas autóctones é uma interessante e grata surpresa para todos os enófilos que apreciam os grandes vinhos sicilianos.

Recomendo, com entusiasmo, o “Cerasuolo di Vittoria” da Planeta que, pasmem, pode ser encontrado nas prateleiras dos supermercados e enotecas por 9/12 Euros.

Você, que acabou de comprar um “Vale da Pedra” da Guaspari por R$ 178,00, deve estar pensando: B&B tem razão…a vida do enófilo brasileiro e uma merda”



Bacco

 

 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

CERASUOLO DI VITTORIA

 

A matéria de Bonzo despertou interesses e paixões.

A Sicília apaixona os turistas por sua geografia, história, cultura, gastronomia e …. vinhos.

Vou aproveitar a deixa e comentar uma DOCG da famosa ilha mediterrânea: “Cerasuolo di Vittoria”



Minha primeira viagem, naquele incrível museu a céu aberto, foi nos distantes anos 1990 e resultou em amor à primeira, segunda, terceira, etc. vista.

 Taormina, Giardini-Naxos, Acireale, Piazza Armerina, Agrigento, Sciacca, Siculiana Marina (onde comi um dos melhores peixes de minha vida), Ragusa, Troina, Nicosia, Cammarata, Cefalù…. Em Cefalù começa esta narrativa.



Naqueles anos uma tênue e trémula chama ainda iluminava minha crença na honestidade, isenção e confiabilidade dos críticos, revistas, pontos, “bicchieri”, sommeliers, divulgadores etc.

Acreditava que tudo o que escreviam, diziam, pregavam, era uma verdadeira eno- bíblia e que deveria ser dogmaticamente seguida.



Descobri, a tempo e ainda bem, que não era bem assim: a maior parte dos julgamentos era descaradamente orientada para resguardar os interesses de produtores, repleta de grosseiras picaretagens e que visavam apenas enganar os consumidores.

Já havia enviado, em anos anteriores, uma bela parcela de famosos produtores do Centro-Norte da Itália à merda e me percebia propenso em repetir a dose de impropérios e relegar ao mais remoto ostracismo, também, os vinhos do sul.

A gota d’agua aconteceu na praiana e belíssima Cefalù

Passeando pelas medievais ruelas da cidade, encontrei, quase escondida, uma pequena enoteca especializa em vinhos regionais.

Sem titubear entrei na pequena loja e depois de rápida indecisão decidi comprar uma garrafa do então super-badalado “Chardonnay Planeta”.



A “Planeta” era, naqueles anos, uma das mais incensadas vinícolas da Sicília e seu “olímpico” Chardonnay havia ganho o prêmio da crítica de então: “Parker”, “Gambero Rosso”, “La Civiltà del Bere”, “Bibenda” “AIS”, “Decanter”, “James Suckling” e outras alugáveis canetas de vida fácil….

Triunfante, alegre, mas tentando esquecer a cifra gasta na compra da garrafa (preço de um ótimo Barolo...), voltei ao hotel, deixei o Chardonnay no frigobar, para refrescar e fui dar um mergulho nas águas límpidas do mediterrâneo.

Depois banho de mar calculei que o “Planeta Chardonnay” já deveria estar “no ponto”.



Voltei ao meu quarto, tomei uma bela ducha, escolhi uma taça, fui até à sacada, sentei na poltrona para admirar o pôr do sol e abri, com todo cuidado, a garrafa de “Planeta Chardonnay” e......tive uma das maiores “eno-brochadas” da minha vida.

Um tsunami de manteiga, uma floresta de carvalho, uma usina de álcool e baunilha saído pelo ladrão, invadiram sem piedade meu nariz paladar e.….carteira.



Cadê a sutil elegância, a proverbial fineza, o soberbo equilíbrio, o longo final e a incomparável acidez dos grandes Chardonnay?

A Planeta e seus enólogos, que descaradamente apostaram nos vinhos “parkerianos”, para conquistar o mercado internacional, haviam errado tudo e seu deplorável Chardonnay lembrava os primos da Côte-D’Or apenas no preço.

A primeira e abundante taça, já fora suficiente para me convencer que aquele vinho da “Planeta” nunca mais seduziria meu cartão.

 O pôr do sol, o clima mediterrâneo, a magia de Cefalù, me seduziram e tentei beber mais um copo.




Foi mais um erro: Até os 14,5º de álcool, declarados na etiqueta, eram falsos e quando levantei percebi meus joelhos levemente trêmulos, mas minha decisão, de nunca mais comprar uma garrafa da Planeta, foi rígida, firme e  somente quebrada depois de 20 longos anos.

Continua.....

Bacco

 

 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

SICILIA....AMORE MIO

 

Sem ideia do que fazer ou para onde ir, nas minhas férias de 12 semanas, consultei um amigo italiano que conhece, como ninguém, a Itália e as boas coisas da vida; sem titubear ele me convenceu a partir para a ilha onde a HBO filmou “White Lotus 2”.



 Se você ainda não assistiu, assista.

Cultura, história, gastronomia, vinhos, azeites de oliva, frutas, queijos, chocolate, natureza, cerâmica, clima... a melhor combinação que jamais havia visto no planeta.



Antes da ida consultei B&B para dicas de vinhos e vinícolas.

A lista de B&B, que sugere vinhos sicilianos foi impecável (pesquei algumas dicas com Bacco e outras usei o Search da página).

Entre algumas vinícolas maiores (caso de Marsala) e outras bem pequenas, nenhum dos meus companheiros se arrependeu das visitas.

Em uma minúscula e desconhecida vinícola, aos pés do Etna, o proprietário quase que inconformado me perguntou o que fazíamos ali.

Foi um diálogo engraçado (que na Itália sempre tem um gosto melhor).



A “caponata” e os vinhos foram espetaculares e inesquecíveis.



Na Sicília é possível beber todo tipo de vinho, desde os espumantes até os doces.

Jovens, de guarda, evoluídos... .Em sua grande maioria são muito frescos, leves, agradáveis e vem com preços para estudantes.



O solo vulcânico, perto do Etna, cria um terroir maravilhoso.

 A água, que vem do degelo, penetra no sub-solo e garante vida próspera às vinhas durante o ano todo.

O vivente tem que ser um guerreiro para encontrar comida ou vinhos ruins em qualquer lugar Sicilia.

Apesar das notícias, de que predadores estão se mudando para a ilha e que os preços dos vinhos deverão subir, eu continuo no time que acredita que há uma elasticidade que pode ser imposta aos vinhos (principalmente ETNA DOC) da ilha.



 Estamos seguros por ora.

O número de “enocornos-mansos” pode nos surpreender, mas eles serão enganados, ainda e bem antes, pelos Bordeauxs (bônus: já vem com o X de gênero neutro!!), piemonteses predadores, prioratos parkerianos, etc. etc. até chegar a vez e hora dos vinhos Sicilianos.

Por isso e mais, continuo a pensar que sempre teremos vinhos para substituir aqueles cujas regiões ou estilos caíram nas garras das vinícolas corporativas.

Sempre haverá substitutos.

Sicília tem que ser sentida, ouvida, admirada em silêncio, comida e bebida.



 Conversas com os locais é mais que uma necessidade, é uma delícia.

Abuse dos lugares caros.

São bem mais baratos que as caras bombas de nossa pátria amada.

Sempre que possível contrate um guia local para saber mais sobre os monumentos locais.

Se mostrar apenas um pouco de interesse, eles têm a maior boa vontade em falar sobre muitos outros assuntos.

Vale os míseros euros que esses lutadores, orgulhosos de sua terra, faturam.



Sicília: Trocentos sítios da UNESCO, patrimônios da humanidade.

Imperdível. Nada se equipara a ela no planeta.

Enquanto isso alguns cretinos com cérebro de vaca louca passam faca em obras do Di Cavalcanti e jogam relógio de 1700 e bolinhas no chão na capital do bananal.



Percamos as esperanças.

Bonzo