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sexta-feira, 12 de agosto de 2022

CEPPARELLO PARLE FRANÇAIS

 

O piemontês, Paolo De Marchi, cansou de ganhar dinheiro na Toscana e concordou em vender a “Isole e Olena” para a francesa “EPI”.


Nem todos sabem que, em 2017, o grupo familiar “EPI”, administrado por Chistofer Descours, já havia se aventurado nas terras de Dante adquirindo a Biondi Santi, um dos maiores ícones da viticultura italiana.

Se Chistofer Descours continuar “invadindo” as colinas toscanas e alcançar a Maremma, brevemente, poderemos beber vinhos bordaleses, produzidos na Itália por enólogos franceses.


É a globalização chegando às vinhas......

Mas voltemos aos De Marchi

O pai e tio de Paolo, advogados em Biella (cidade piemontesa), eram representantes e distribuidores dos relógios Omega para a região


Certo dia, alguns empreendedores da cidade nomearam, os De Marchi, administradores da massa falida de uma propriedade agrícola, na Toscana, da qual eram credores.

O pai de Paolo De Marchi se encantou com a propriedade, em San Donato del Poggio, vendeu sua parte na sociedade dos relógios Omega e comprou, por preço de banana, as terras localizadas na região do “Chianti Classico”.

Nascia, em 1956, a “Isole e Olena”.


Paolo De Marchi, que de bobo nada tem, já nos anos 1970, depois de ter alugado todas as canetas de vida fácil à disposição no mercado, despontava no cenário vinícola toscano como um dos mais famosos produtores de “Supertuscans” e seu “Cepparello”, um Chianti, milagrosamente, 100% Sangiovese, conquistava Parker, o mercado americano e até os paladares dos enófilos brasileiros.


A francesa EPI não sentirá saudades de casa: nas vinhas, de sua nova propriedade toscana, encontrará uvas Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah que, após vinificadas, custam tanto quanto, ou mais até, do que os primos franceses (Chardonnay 45/60 – Cabernet Sauvignon 70/85 – Syrah – 50/60 Euros)

Como todo bom negociante, De Marchi, recuperou, com folga, o investimento de 1956 (dizem, as longas línguas, que a transação girou em torno de 50 milhões de Euros), afivelou as malas e se mandou para a “Proprietà Sperino”, em Lessona onde o filho produz o vinho homônimo.



No “Alto Piemonte”, além de Lessona, se produz Bramaterra, Gattinara, Boca, Ghemme, Fara, Sizzano, Erbaluce, Colline Novaresi, Valli Ossolane, Coste della Sesia.

A região é pouco conhecida, não possui o charme” da Toscana e os vinhos, ali produzidos, raramente embarcam para o exterior, e não propiciam lucros astronômicos similares aos do “Cepparello”.


 Ótimas garrafas de Lessona, Gattinara, Boca, Ghemme, Bramaterra etc. são encontradas por 15/30 Euros e os De Marchi não conseguirão, mais uma vez, meter a mão no bolso dos consumidores nem comprando todas as canetas de vida fácil do planeta.

Os De Marchi, todavia, continuam tentando......

Na região, dominada pela grande uva “Nebbiolo”, plantaram a Cabernet Sauvignon e com ela produzem o “L Franc Rosso” que é vendido, pasmem, por insanos 90/130 Euros.


‘L Franc 2010 – Proprietà Sperino

128.00

Os De Marchi, por suas raras características predatórias, poderiam, tranquilamente e também, produzir vinhos no Brasil.

Bacco

   


segunda-feira, 8 de agosto de 2022

DIAS PIORES VIRÃO

 

O título da matéria não poderia ser mais apropriado e antecipa o que acontecerá quando atingir, em cheio, os bolsos quase vazios e os cartões já debilitados dos enófilos do mundo todo.



A “Coldiretti” (a maior associação de cultivadores da Itália) anuncia que a vindima, de 2022, já iniciou em algumas regiões da Itália.

O calor de 40º e a longa estiagem obrigaram os viticultores a antecipar, em 10 dias, a safra que, apesar de “ótima qualidade”, será de “apenas” 45,5 milhões de hectolitros (10% menor que a de 2021).


Acredito, sim, que a quantidade será menor, mas não a afirmação que exalta uma “ótima qualidade”: O vinho de 2022 será parecido com o de 2003: baixa acidez e alto teor alcoólico…. E tome osmose reversa.


Outra certeza: os preços aumentarão, mais uma vez, para desespero dos já desesperados enófilos brasileiros que lutarão contra duas frentes: Os preços absurdos dos quase-vinhos nacionais e os sempre mais salgados das garrafas europeias.

Se algum descendente de Pangloss acreditar que o câmbio favorável compensará a alta dos preços, provocada pela escassez, pode tirar o cavalo do sol: Nossos importadores são predadores tão famintos, ou mais, até, do que nossos produtores de quase-vinhos.


Se a situação é dramática nas vinhas italianas, as parreiras francesas não vivem melhores momentos, muito pelo contrário.

O drama francês nada deve ao peninsular e a estiagem (na França choveu 88% menos do que o normal) preocupa mais do que o calor africano.

Os dois fenômenos, negativos, provocaram uma antecipação da colheita jamais vista anteriormente (vários produtores do Aude já iniciaram a colheita em 25 de julho).



A videira é uma planta muito resistente, mas até sua proverbial adaptação tem limites.

 A uva é composta por 75% de água e quando a parreira entra em stress hídrico, para se proteger e sobreviver, deixa cair seus frutos: se não há água a planta sacrifica seus bagos para, assim, evitar a morte.

Deu para perceber o drama?



Para encerrar com chave de ouro, a matéria, tenho certeza que   os preços dos vinhos, franceses e italianos, que em 10 anos quase dobraram, continuarão sua inexorável ascensão, para desespero dos consumidores brasileiros e alegria dos importadores e produtores de quase-vinhos nacionais.



Relaxe, compre KY ou......beba menos.

Bacco

 

  

sábado, 6 de agosto de 2022

COMPOSTELA 2

 



Ainda “sobravam” algumas horas antes de deixar Santiago de Compostela e retornar ao Porto.

Sem ter muitas opções, procurei um bar de vinhos para matar o tempo...e a sede.

O mapa das imediações indicou que, na Rua do Vilar, a poucos metros de onde estava, havia a “Comovino”.


O espaço, de moderna decoração, é composto por um wine bar na parte anterior e um restaurante no salão mais ao fundo.

Acomodei-me a uma das mesas do wine bar e pedi ao atendente uma sugestão de branco.

 Ele me propôs o “Albariño Amodiño”, do produtor Eladio Piñeiro, afirmando tratar-se de um vinho atípico.

Até onde sei, a maior parte dos Albariño galegos, a exemplo dos Alvarinhos de Vinho Verde, é vinificada para resultar em vinhos leves, refrescantes, não exatamente complexos e que devem ser, quase sempre, consumidos em um ou dois anos.  

O rapaz da “Comovino” me garantiu, contudo, que a uva tem potencial para envelhecer bem e que aquele Amodiño 2016, de Eladio Piñeiro, era prova disso.

Ainda sem saber se era conversa de vendedor, peguei a taça e a levei ao nariz: aromas profundamente salinos e minerais me saudaram.

Na boca, essas impressões foram confirmadas, e vieram com um longo final.

Que beleza!

O “Amodiño” foi degustado praticamente sem comida – apenas o pequeno croquete servido como tapa o acompanhou – mas me pareceu um vinho perfeito para acompanhar frutos do mar.



Como eu havia acabado de comer meu segundo “polvo à feira” em menos de 24 horas, não fiz o teste, mas recomendo – e, quem sabe, encontremos a versão bem-sucedida do Muscadet de Sèvre et Maine (ainda não bebi um que me convencesse, mas pode ser que existam por aí).

A tarde era longa e a sede também......

 Pedi ao rapaz da “Comovino” mais uma sugestão para combater o calor.

 E ele colocou no balcão o “Quinta das Bágeiras Reserva”, um rosé... português.

Não faltam bons vinhos na Espanha.... a melhor explicação, para a inclusão de um lusitano na carta, devia ser, então, por sua qualidade.



Não sou grande conhecedor de rosés, mas quase todos os meus favoritos, até o momento, eram os de Bandol, na Provença – com a exceção do Costaripa, um ótimo lombardo.

O “Quinta das Bágeiras Reserva” tem cor forte, que em nada lembra aquelas águas de aquarela feitas para agradarem gente desagradável à beira da piscina.


Os aromas e sabores, igualmente mais intensos, evocam frutas vermelhas, e o final não é fugaz como em um rosé ordinário.

Curiosamente e em alguns anos, o “Quinta das Bágeiras Reserva” é vinificado com Baga e Touriga Nacional e outros apenas com a uva Baga – uva que tem grande potencial de envelhecimento, o que sugere que esse vinho, com uns cinco anos nas costas, possa estar ainda melhor.

Não posso esperar tanto assim.....com dois anos já está ótimo para o consumo.

Para encerrar a tarde, por conta própria, pedi um xerez Pedro Ximénez “Finest Old Harvest Medium”, das bodegas Ximénez Spínola.


 Um xerez fortificado singular: amadeirado, classudo, complexo, que desceu com facilidade –  um primo andaluz do sensacional vinho português de Carcavelos.


As duas primeiras taças saíram ao redor dos 4 euros cada e a do PX me exigiu 6,50 euros – valores mais que justificados.

A seleção dos vinhos e o ambiente agradável fazem da Comovino uma ótima opção em Santiago de Compostela –

 Não tive tempo suficiente para experimentar o restaurante da Comovino que, infelizmente, ficará para a próxima.

Comovino

Rua do Vilar, 47 – Santiago de Compostela

Aceita cartões, fecha às segundas e terças e no domingo à noite

terça-feira, 2 de agosto de 2022

COMPOSTELA

 


No final de junho, aproveitando um período de férias, fiz uma curta viagem à região espanhola da Galícia, ou Galiza. Espanhola, “ma non troppo”: a Galícia compartilha laços históricos, geográficos e linguísticos com Portugal e o galego é mais próximo do português do Brasil do que o português europeu.

No mundo dos vinhos, também: é evidente que o curso do rio Minho não faz, de imediato, com que as uvas plantadas no norte português sejam totalmente diferentes daquelas do território galego.


Então, tome mais Alvarinho, Trajadura, Loureiro, Mencía (Jaen), Sousão e Espadeiro – mas também Godello, Torrontés e Brancellao, que talvez existam em Portugal, mas em quantidades menores.

Sem que a logística me permitisse viajar a Tuí e a Finisterra, passei uma tarde em Vigo.


Para além da linda orla da baía (ría de Vigo), a cidade antiga é um passeio interessante e o centro tem belos prédios art déco.

Depois disso, peguei o trem para Santiago de Compostela – não, não fui caminhando.....

Em Santiago de Compostela, além da imponente catedral e do centro histórico, fui surpreendido por belos e tranquilos parques públicos, como o Parque de Vista Alegre (nos arredores de um dos campi da universidade local, mais longe do centro) e o Parque da Alameda, na região central – e que, em plena tarde de sexta-feira, não estava lotado de turistas.


Muito já se escreveu sobre as capelas e igrejas de Compostela, então não vou chover no molhado.

Apenas recomendo que conheça as que encontrar, pois são todas lindas.


Ao invés disso, vou recomendar alguns bons endereços para comer e beber na cidade.

*

Mesón do Pulpo

“Vai a Santiago de Compostela? Coma polvo sempre que possível. O Mesón do Pulpo é simples, mas curtimos”.

Com essas palavras, o amigo Leonardo me garantiu que no Mesón do Pulpo havia um polvo à feira (conhecido, fora da região, como polvo à galega) espetacular.


Ao fazer o check-in, na pousada PR Tambre, perguntei à Eva, recepcionista da casa, se poderia me indicar onde comer um bom polvo à feira.

E ela, de cara, endossou a sugestão do Leo – com a observação de que, perto da pousada e mais distante do centro, o Mesón do Pulpo oferecia porções maiores e preços menores do que os da zona turística de Santiago de Compostela.

Às oito e meia da tarde (naqueles dias, a claridade se mantinha até depois das 22h), adentrei o Mesón do Pulpo e pedi pão, meia porção de polvo à feira e um jarro pequeno do “Ribeiro da Casa”. E o que posso dizer?


 Perfeito!

Depois de aprovar, com louvor, o polvo à feira, ordenei uma porção de xurelos (carapaus).


E estavam igualmente deliciosos...

Ao final, a conta bateu em 19,85 euros, muito bem empregados – tão bem que fui até os fundos do restaurante, onde fica a cozinha, e parabenizei as senhoras que prepararam tão saborosos frutos do mar.

Mesón do Pulpo

Rua de Vista Alegre, 57 – Santiago de Compostela

Aceita cartões, fecha às segundas-feiras

(Essa é uma foto de Santiago de Compostela às 21h51 daquele dia, saindo da Mesón do Pulpo)

*

Vinoteca Cervantes


O anoitecer estava tão agradável que, depois de forrar o estômago, resolvi, sem rumo definido, dar mais uma volta no centro histórico de Santiago de Compostela.

Entre os pórticos da praça da Catedral, acompanhei alguns animados músicos, admirei a arquitetura, senti as boas vibrações da cidade e concluí que valia a pena beber mais uma taça antes de voltar à pensão.


Ao checar no celular as imediações de onde estava, vi que a poucos metros ficava a Vinoteca Cervantes, e resolvi visitá-la.

E foi uma boa ideia:  lá, me aguardava uma seleção de cerca de uma dúzia de vinhos em taça – quase todos locais, a menos de 3 euros e acompanhados das tradicionais tapas espanholas.


Depois de uma taça do branco do produtor Eduardo Bravo (corte de Albariño, Torrontés e Treixadura) e outra de ”Mara Martin Godello” da vinícola Martin Códax – ambos ótimos –, posso recomendar a Vinoteca Cervantes para um aperitivo ou, como no meu caso, uma saideira.

Vinoteca Cervantes

Rua da Acibechería, 13 – Santiago de Compostela

Aceita cartões, fecha às terças-feiras

*

Petiscos do Cardeal



No dia seguinte, antes de deixar Santiago de Compostela, resolvi seguir a dica do Leo de comer polvo “sempre que possível” e procurei outro lugar que o servisse.

Desta vez, minha escolha recaiu sobre a Petiscos do Cardeal, na Rua do Franco, um dos endereços mais movimentados da cidade. Longe de estar lotado, o restaurante me pareceu boa opção para um almoço de polvo e tapas – e foi mesmo.

 Lá, provei mais um branco que merece ser recomendado: o Godello da vinícola Celdina.


Apesar do bom vinho e a variedade de tapas, valerem a recomendação, da Petiscos do Cardeal, o da Mesón do Pulpo segue sendo minha referência em polvo – mais saboroso, mais barato e em porção ligeiramente maior.

Petiscos do Cardeal

Rua do Franco, 10 – Santiago de Compostela

Aceita cartões, fecha às quartas-feiras

http://petiscosdocardeal.com/

Já tendo passeado bastante, mas ainda com tempo, antes de pegar o Flixbus de retorno ao Porto, resolvi buscar mais um bar de vinhos, mas isso fica para a próxima parte da matéria.