Apesar de não ter nenhum apreço, pelo sistema de ponto$-parkeriano$,
devo reconhecer que Parker foi o mais inteligente e influente crítico, vinícola,
de sua geração.
Parker captou o momento exato para entrar no mundo do vinho, inventou
a pontuação e com seus pontos ditou modas, gostos, tendências, ganhou muita
grana, foi respeitado e idolatrado por muitíssimos palermas e por uma multidão
de não palermas.
Parker, com suas antenas sempre ligadas, percebeu, antes de
todos os outros colegas, que as tendências e os gostos estavam mudando, a
“ditadura” das garrafas e etiquetas, que ele havia imposto durante décadas,
estava com os dias contados e as novas gerações começavam a abandonar vinhos pesados,
impenetráveis, concentrados, com muito álcool e que custavam muitos $$$.
Os jovens já não bajulavam, nem veneravam, os enólogos
famosos, tão caros a Parker e já nem sabiam quem fora e o que fizera o “eno-andarilho”
Michel Rolland “Lero”.
As novas gerações queriam beber vinhos, leves, borbulhantes, alegres
e baratos.
Estourava a nova e irresistível moda dos espumantes.
Todos, e em todos os cantos do planeta, até na Bolívia, começaram
a produzir espumantes.
A proliferação desenfreada resultou em qualidade nem sempre recomendável,
mas se o preço fosse acessível até as bolhas do Prosecco desciam bem.
O sucesso do Prosecco (660 milhões de
garrafas em 2024), com suas bolhas, mais que banais, foi o grande
responsável pelo tsunami de espumantes medíocres que invadiu o planeta, desde
as montanhas, passando pelas planícies, até chegar no...... “Under the shit”.
Aliás, o que há de bolhas “tremendas bostas” é impressionante.
Todos os produtores têm como paradigma alcançar a qualidade do
Champagne, mas a continua e obsessiva busca termina, quase sempre, em
frustrante decepção.
Igualá-lo? Talvez.
Superá-lo? Nem pensar.....
Apenas um país, de ridícula e periférica
importância vinícola, teve a coragem de “inventar” um concurso, jamais realizado,
em que espumantes, lá produzidos, conseguiram o 2º lugar, quase superando os da
Champagne.
Se alguém pensou nos produtores-predadores-picaretas, de um
certo estado brasileiro, acertou no “Álvaro”.
Devo confessar que, apesar de morar na belíssima Santa
Margherita Ligure, quando quero beber, realmente bem, entro no carro, percorro
os 15 km, que me separam de Chiavari e..... Em Chiavari, nada mais sofisticado
e prazeroso do que libar no belíssimo e histórico “Gran
Caffè Defilla”.
Na lista dos espumante, em taça, do “Defilla”, notei, entre
outros, as presenças do “Ca’ del Bosco Prestige” e do “Bellavista Alma
Cuvèe”.
É preciso salientar que as duas etiquetas são caras, renomadas,
badaladas e frequentam taças abonadas, refinadas......”ma non troppo”.
Na segunda etapa do “desafio-das-bolhas”
escolhi, justamente, as duas garrafas mais famosas para enfrentar, o nada banal,
Champagne “Paul Bara”.
Um esclarecimento necessário: O “Bellavista Alma Cuvée”
e o “Ca’ del Bosco Prestige”, ambos
ostentando a DOCG “Franciacorta”, pertencem à elite dos espumante italianos e
ostentam preços, também, elitistas.
As duas garrafas somente entregam suas bolhas por nada míseros
32/38 Euros e não considerei justo “duelarem” com Champagne
“Gratiot-Pillière” de “míseros” 23 Euros.
“Antonio, você poderia abrir
uma garrafa de Paul Bara e me servir algumas taças? ”
O garçom, sem responder ou titubear, deu uma rápida olhada no
refrigerador, agarrou uma garrafa de Paul Bara, abriu e me serviu uma abundante
taça (se
pagando indulgências até as portas do paraíso se abrem .... não há garrafa de
Paul Bara que resista a 5 Euros de gorjeta....).
Garrafas com preços equivalentes, para uma degustação mais
justa e...... lá fui, eu, naquela quarta-feira, bebericar o Champagne Paul Bara
e o Franciacorta Ca’ del Bosco.
Já no primeiro gole percebi a inutilidade de ter optado pelo do
Paul Bara: o
Gratiot-Pellière, de 23 Euros, é superior ao badalado e glorificado Ca’ del
Bosco de 39 Euros.
No dia seguinte foi a vez do Paul Bara X Bellavista Alma Cuvée e mais uma vez o
Franciacorta foi ridicularizado sem dó nem piedade.
Enquanto o Paul Bara refletia, fielmente, o maravilhoso
território no qual nascera e esbanjava personalidade, classe, complexidade aromática,
um final longo e refrescante, seus dois oponentes indicavam um ótimo e bem
conduzido trabalho de adega.
Espumantes bem feitos e sem defeitos, mas elaborados para agradar,
de imediato e sem surpresas, paladares inocentes e menos experientes.
Os enólogos capricharam e conseguiram produzir espumantes fáceis de beber, agradáveis (as mulheres adoram o final quase adocicado do Ca’ del Bosco), mas nada além disso.
Some-se, ao bom
trabalho dos enólogos, a ajuda das costumeiras caneta$ de vida fácil e
........não deu outra: Ca’ del Bosco e Bellavista são considerados dois dos
melhores espumantes da Bota.
Pode até ser, mas, além de levarem uma verdadeira surra do Paul
Bara, em minha opinião, não são páreo nem para os “compatriotas “Camillucci
Ammonites”, “Barone Pizzini Animante”, “Mattia Vezzola”, “Haderburg Brut”
e muitos outros que ágora não recordo
“Desafio dos Espumantes”
realizado.
Voltei à velha rotina, sempre
no “Gran Caffè Defilla”, e....
“Cameriere.....Champagne”
Bacco
Não sei porque o pessoal insiste. Não há páreo para o Champagne. Mesmo os mais simples. No conjunto da obra, aí a coisa piora (para os concorrentes). É como o Chile querer competir com os EUA no basquete. Surra certa! Só por isso, vou abrir um Selosse hoje! Deu vontade!
ResponderExcluirConsegue ter uma boa rotina aí, parabéns Bacco, excelente série.
ResponderExcluirA confirmação da veracidade do início do artigo pra mim se confirmou ontem quando recebi uma oferta do Barolo Bussia do Aldo Conterno com preços bastante convidativos, digamos na média de outros Barolos menos badalados. Parece que a onda está virando mesmo...
ResponderExcluirNão confundir Aldo Conterno com Giacomo Conterno
ExcluirSim. Porém os Barolos do Aldo Conterno costumavam ser bem salgados...
ExcluirCostumavam, não. São caros. Tente comprar um Granbussia barato.
ExcluirBacco, uma pergunta: já deu pra perceber que você considera o Paul Bara superior ao Gratiot-Pillière, mas como fica a comparação entre os dois?
ResponderExcluirZé
O Gratiot é produzido com uma percentagem muito alta de Pinot Meunier enquanto o no Bara O Pinot Noir domina a cena. Para o meu gosto Paul Bara é superior, mais seco, frutado e elegante
ResponderExcluirNos EUA esses espumantes que você elencou custam o mesmo que os muitos Champagnes.
ResponderExcluirentre 35 e 50 dólares
ResponderExcluir"Sente as notas de machismo?
O que significa dizer que um vinho é feminino? Que o mundo do vinho é terrivelmente machista"
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/isabelle-moreira-lima/2025/03/nao-e-facil-ser-mulher-no-mundo-do-vinho.shtml
"Terivelmente machista"....Adoro o "politicamente correto" onde cego é deficiente visual, biscate é modelo, boiola é gay, preto é afro-descendente e eu...sou machista. Não consegiu abrir o link de Trolha de São Paulo, mas há um velho cliché o qual
Excluirafirma que as mulheres se sentem mais atraídas pelo doce do que os homens. Não consigo ver o "machimo' em minha afirmação, aliás desde quando gostar de doce é sinal de inferioridade? Quer ver de uma verdedeira afirmação machista ? Foda-se
Eu que não perco meu tempo com matéria de carente revoltadinha
ExcluirEssa matéria está demais. Ela conta que foi a uma aula de vinhos e o professor disse que se a rolha não tivesse subindo, era pra não parar de fazer força, ela considerou isso uma apologia ao estupro. Depois conta que em outra aula o professor recomendou um vinho mais sedoso para as mulheres e ela considerou machismo... disse que o excesso de complexidade no mundo do vinho trabalha para afastar as mulheres, no fim ela termina falando que algumas das maiores críticas de vinhos do mundo e enólogas Italianas são hoje mulheres.
ExcluirSeria legal ela elencar algumas moças da tão famosa lista dela que se envolveram com o sommerdier-escalador antes de despontarem (pelo menos 3)… sinal que dar pro chefe ainda vale a pena.
ExcluirPrecisavam tomar mais Cava. Ela consegue mais proximidade gustativa do incomparável Champagne do que o espumante italiano.
ResponderExcluirJá que saímos da Itália, recomendo um Sekt do Peter Jacob Kuhn.
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