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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

QUANDO OS PARALELOS SE ENCONTRAM

 


Por volta de 2010, enquanto iniciava o jejum de vitórias brasileiras na Fórmula 1 e a seleção brasileira sucumbia à esquadra holandesa, nas quartas-de-final da Copa do Mundo, da África do Sul, Galvão Bueno o rei, do ufanismo esportivo, em parceria com a gigante gaúcha, Miolo, iniciava a produção de um vinho com sua assinatura: Paralelo 31

 


A fórmula era simples: um nome remete ao Paralelo 31 Sul, linha de latitude que corta Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina, Chile, Austrália e África do Sul (ou seja, várias regiões que produzem vinhos ou quase-vinhos) e um preço, bem gordo, inchado, sinalizando que Galvão não tem dó nem de seus “bem amigos” na hora de vender sua zurrapa.

 


Na página da Bueno Wines, que comercializa os vinhos produzidos pelo locutor e mais alguns rótulos importados, o Paralelo 31 Gran Reserva 2022 custava, quando esta matéria foi redigida, R$ 415,33 (65 euros). 

É sempre bom lembrar que vivemos dias em que, a cada flato que o ministro da Fazenda solta, o real perde valor.

 


Mas aposto uma taça de Chalise que, Galvão Bueno, há quatorze anos, ao idealizar e lançar o Paralelo 31, não sonhava que sua fórmula de “linha de latitude mais preços escorchantes” seria copiada por picaretas, do outro lado do Atlântico – mais exatamente, no Reino Unido.

 


Ontem, navegando por uma página inglesa, deparei com um guia de compras para o final do ano. 

 Entre as muitas recomendações, da seção de bebidas, constavam três espumantes britânicos. 

 Um deles era o Fifty One Degrees North 2016, da vinícola Gusbourne.

 


Depois de um tinto, no paralelo 31 Sul gaudério, um espumante no paralelo 51 norte inglês?

 Pois é.

  Mas, paralela, também, é a picaretagem na hora de botar preço...

 

No Reino Unido, uma garrafa do desconhecido espumante  Fifty One Degrees North somente borbulhará em sua taça por nada econômicas 195 £ (câmbio de quando a matéria foi escrita = 235 euros ou 1500 reais)


Ou seja, os ingleses copiaram na íntegra a fórmula de Galvão Bueno!

 https://www.gusbourne.com/wines/fifty-one-degrees-north

Se eu fosse um pouco mais ufanista, poderia ir até a janela e gritar “É TETRAAAAAA” ou tocar, em alto e bom som, o tema da vitória dos brasileiros na Fórmula 1, mas não consigo disfarçar o mal-estar constatar que os picaretas britânicos, também já se assanham e tentam vender espumante pelo preço de Champagne Dom Pèrignon, Cristal, Grande Dame, Krug etc.

 


A Gusbourne espera seduzir 4 mil trouxas com a picaretagem paralela de seu Fifty One Degrees North e, com isso, amealhar 780 mil libras esterlinas (R$ 6 milhões).

 


Haja coração.....e KY

 

 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

PEQUENO GUIA ENO-GASTRONÔMICO 2

 


Na primeira parte, do pequeno guia húngaro, falei sobre os vinhos brancos secos, do país, que merecem a atenção de quem não quer deixar um salário mínimo em um premier cru da Borgonha.

Na segunda etapa trago recomendações de outros vinhos e de outras bebidas do país.

TINTOS

Há, sem dúvida, bons tintos na Hungria, mas os que provei não podem ser comparados aos melhores italianos e franceses.

Mesmo assim, para quando se acalmam as temperaturas infernais que “fritam” Budapeste, no verão (de meados de junho a meados de setembro), há algumas etiquetas que merecem atenção.

As minhas preferidas foram essas:

“Kadarka” da vinícola Pósta Borház.



Um vinho nada excepcional, confesso, mas que me impressionou.

A uva Kadarka me foi descrita como a “Pinot Noir” húngara”, mas algumas garrafas, que provei, me pareceram mais próximas à Cabernet Franc, casta muito popular na Hungria.

 Esse Kadarka, da Pósta Borház, da região de Pannon (lembrando que Panônia era o nome da província romana que compreendia parte do atual território húngaro), não lembrava a Cabernet Franc; apresentava corpo médio, sabor levemente frutado e até um leve defumado final.

 Para arrematar, custava em torno de 3 mil florins (menos de 8 euros).

Excelente!

“Turan”, da vinícola Nyolcas És Fia.



A uva Turan é fruto do cruzamento de diversas outras castas encontradas na Hungria.

A “Turan” tem cor forte, densa e que em nada lembra a do Nebbiolo, mas apesar das aparências, nada encorajadoras, os vinhos não são pesados nem difíceis de beber.

O exemplar que provei, proveniente da região de Eger, foi uma grande e bela surpresa: complexo, equilibrado e final bastante longo.

O preço: 4,5 mil florins (cerca de 12 euros)

- Egri Bikavér Superior “Aldás”, da vinícola St. Andrea.



 Em tradução literal, “egri bikavér” significa... “sangue de touro”.

Como a iniciação, de grande parte dos enófilos brasileiros se deu através do infame “Sangue de Boi”, a semelhança do nome chega a causar arrepios, medos, mas na Hungria, “egri bikavér” é uma denominação de origem da região de Eger, cuja casta principal é a Kékfrankos (conhecida por Blaufränkisch na Áustria) mas que pode ser assemblada à outras 12 uvas – um egri bikavér nunca é varietal.

O resultado: vinhos inexpressivos, leves, às vezes até aguados, mas, no caso dos Egri Bikavér Superior, o nível é outro.

Este, da vinícola St. Andrea, me surpreendeu.

 Muito mais refinado do que seus colegas, com final interessante e longo, pronto para ser bebido apesar de seus apenas dois aninhos.

 

TOKAJI ASZÚ

 


Evidentemente, não dá para falar da viticultura húngara sem falar do Tokaji Aszú.

A região de Tokaji, cujo território fica majoritariamente na Hungria (e um pouco na Eslováquia), se notabiliza, há séculos, por seu vinho doce botritizado.

A região também produz vinhos secos que, apesar de serem menos impressionantes e conhecidos que os outros brancos do país, não são banais.

 


A atual classificação, do Tokaji Aszú, os divide em 5 ou 6 puttonyos.

O 5 puttonyos têm entre 120 e 150 gramas de açúcar por litro e os 6 puttonyos se apresentam com mais de 150 gramas de açúcar por litro.

A classificação de 3 puttonyos (60 g/l), com vinhos menos doces, está sendo descontinuada, mas ainda há produtores que insistem em rotular suas garrafas assim.

 Há, também, o Szamorodni (30 g/l), um estilo ainda menos doce que não me agradou e outros vinhos de sobremesa rotulados como “late harvest”, denominação presente em vários outros países.

Sobre as cervejas grandes: Kőbányai e Sopron me pareceram melhores do que Dreher, Arany Ászok e Borsodi.

Evitei coquetéis e também não procurei cervejas artesanais, mas para os aficionados segue válida a pesquisa nos distritos turísticos de Budapeste.

Caso a cerveja húngara não agradar, não é difícil conseguir as ótimas Peroni e Pilsner Urquell na Hungria.



Na terceira parte, do guia, apresentarei alguns restaurantes de Budapeste e sugestões de lembranças gastronômicas da Hungria.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

O ALTO PIEMONTE

 


Demorou, mas até Carlo Petrini, fundador e presidente da “Slow Food”, percebeu que as colinas das “Langhe”, pátria, entre outros grandes vinhos, do Barolo e Barbaresco, um dos territórios vinícolas mais prestigiosos e importantes do planeta, foram de tal forma endeusadas e badaladas que o preço do hectare, de vinhas, Nebbiolo, ultrapassou a soleira do bom senso e se aproxima da loucura.



As terras dos Barbaresco e Barolo sofreram, nas últimas décadas, um agressivo assalto da especulação.

Investidores, que nunca tiveram algum contato com a viticultura, foram atraídos pelo glamour do vinho e das colinas das “Langhe”.

Dispostos a gastar “montanhas” de $$$$$, os novos “Gaja”, seduziram corações e carteiras, conseguindo, assim, comprar tradicionais vinícolas como a Vietti, Serafino, Coppo, Borgogno, Saffirio, Gagliardo etc.)



Resultado? O valor dos vinhedos alcançou a estratosfera

 A exagerada valorização, das terras, aumentou o prurido nas mãos e bolsos dos jovens viticultores que já não hesitam em vender suas ricas vinhas e dar um adeus (banana, seria mais apropriado....) à secular herança vinícola.



 Os novos empresários, do vinho, sem nenhum compromisso com a enologia local, tradições, cultura e costumes do território, querem apenas brilhar e faturar alto no charmoso mundo vinícola.

 As Langhe estão caminhando, a largos passos, para se transformarem em uma nova Bordeaux.



Para dar uma ideia, da incrível especulação, bastaria lembrar que, atualmente, um hectare de vinhas, “Nebbiolo da Barolo”, pode tranquilamente custar hiperbólicos e insanos quatro milhões de Euros.

 É bom lembrar que, nos anos 1970, o mesmíssimo hectare, poderia ser adquirido por 4/5 milhões das velhas Liras, valor que corresponde a atuais 2.000/2.500 Euros.



O mais incrível e que nas confinantes vinhas do “Monferrato” e “Roero” o preço do hectare vale dezenas de vezes menos.

Carlo Petrini, todavia, escondeu e camuflou, o quanto ele contribuiu, com seus eventos, feiras, propaganda, investimentos, lojas, etc. para a glamourizar Alba e arredores até transformá-la em uma das regiões vinícolas mais badaladas e caras do planeta.

Resultado?



Até eu, que visitava as Alba quatro, cinco, ou até mais vezes por ano, transferi minhas atenções para os vizinhos Monferrato e Alto Piemonte onde ainda é possível comer, beber e dormir, muito bem, por muito, mas muito menos.

Gosta de vinho produzido com uvas Nebbiolo?



No Alto Piemonte, ótimos vinhos como o Carema, Fara, Ghemme, Lessona, Gattinara, Boca, Bramaterra, sem a mesma complexidade e estrutura do Barolo, mas que possuem grande elegância, refinados, harmônicos, de acidez bem integrada e mais fáceis de beber, podem ser encontrados, ainda, por 12/30 Euros.



Em minha última passagem, pela região comprei algumas garrafas de Gattinara por 15 Euros e mais outras, de Ghemme, por 16 Euros.

Mas é bom se apressar...... Os predadores já descobriram o campo fértil (e barato) do Alto Piemonte e iniciaram a “inva$ão”.

Aldo Conterno comprou, em Gattinara, a tradicional vinícola Nervi.

 Paolo De Marchi (Isole Olena Cepparello) abriu as portas da “Proprietà Sperino” em Lessona.

Resultado?



Gattinara Docg 2019 - Nervi (Conterno)

59,00 €
Tasse incluse

O “Gattinara Nervi”, que custava 15/20 Euros, hoje ostentando, na etiqueta, o nome “Gattinara Nervi Conterno” só entrega sua rolha por salgados 50/160 Euros.




€ 140,00 € 126,00-10 %Prezzo minimo ultimi 30 giorni

O Lessona “Proprietà Sperino” é vendido por nada razoáveis 60/80 Euros, mas você pode alegrar suas papilas, com o ótimo e até melhor, Lessona da “Tenute Sella” por 22/26 Euros.

Para não corre o risco de ser sodomizado, brutalmente, o melhor KY ainda é o de encontrar novos caminhos e descobrir, por exemplo, o Carema da “Cantina Produttori di Nebbiolo di Carema” (15,90 Euros), ou o “Carema Riserva” (21,90 Euros).




15.90 

Beber bem é preciso, ser assaltado pelos predadores é idiotice.

Bacco