A tentativa do garçom, de me reservar as três garrafas de “L’Overtoure”,
como era mais que previsível, não vingou e em uma semana já não havia nem uma
gota do Champagne Savart no bar “Master”.
“ O L’Overtoure acabou, mas encontrei três deste”.
Umberto exibia nas mãos, como fosse um troféu, uma garrafa de
Champagne “Vazart-Coquart TC 2016”.
Sou um esforçado pesquisador de etiquetas de Champagne, mas
devo confessar ser impossível conhecer todas (há mais de 300) e a “Vazart-Coquart”
era uma das muitas que jamais vira nem provara.
Poderia ser, aquela, uma boa ou má surpresa e só havia uma
maneira de descobrir: “Abra a vamos provar…”
Em pouco mais de uma semana o garçom me surpreendeu duas vezes
e.....tome mais gorjetas
O “TC 2016 Vazart-Coquart” é totalmente diferente do “L’Overtoure”, mas, em
qualidade, nada deve ao irmão francês.
A diferença já inicia na escolha das uvas: Enquanto o L”Overtoure” é vinificado
com Pinot Noir, o “TC 2016” é um 100% Chardonnay.
O “TC 2016” consolida sua
diferença até na adega.
Ele e vinificado em ânforas de terracota (o TC significa Terre Cuite = Terracota), não desenvolve
a fermentação malolática, a produção é de apenas 947 garrafas e custa algo bem
próximos aos 100 Euros.
Complexo, muito mineral, mas ao mesmo tempo delicado, cremoso
e intrigante.
Um grande Grand Cru, elegante, refinado, difícil de encontrar
e que eu estava bebendo em um bar, na orla de Santa Margherita Lígure,
......A vida é bela.
Enquanto me deliciava, secando a taça do “TC
2016” da Vazart-Coquart, um alegre e barulhento grupo (dois
casais) se acomodou no “Ristorante Pizzeria Emilio” a menos de três
metros da minha mesa.
Percebi imediatamente que os dois casais eram brasileiros.
Jovens, bem vestidos, bolsas de griffe, relógios da moda.... Típicos
patrícios sem problemas financeiros e com Euros para gastar à vontade.
Após a costumeira sessão de “selfies”, onde não faltaram as
obrigatórias pernas cruzadas e “bocas de cu de galinha”, resolveram pedir o
jantar: Antepastos de frutos do mar,
anchovas marinadas e “Spaghetti all’Astice” (astice é uma espécie de lagosta).
Até aí, tudo bem, mas ..... “Garçom uma garrafa de Barolo Gaja”.
19 horas com o sol brilhante e impiedoso que obrigava o
termômetro a indicar 35º e, para completar, sensação térmica de 40º.
Os quatro patetas, suando abundantemente, escolheram um Barolo
para acompanhar lagostas, lulas, camarões, mariscos, anchovas etc.
Levantei e saí quase correndo tentando esquecer o que acabara
de presenciar.
Na tarde seguinte, todavia, não consegui, “fugir” do garçom que
servira os eno-tontos.
Conheço Aldo há muitos anos e sempre que nos encontramos
batemos bons papos, assim, quando no dia seguinte ele me viu, no “Master” bebericando meu “TC
2016, se aproximou e com um sorriso maroto comentou: “Você viu, ontem, seus patrícios bebendo o Barolo do Gaja e comendo
peixe debaixo de um sol de 40º?
Anuí e ele continuou: “O que você não viu
foi a garrafa de Brunello di Montalcino que pediram depois: …. Brasileiros sabem gastar, mas não sabem beber…”
Não pude deixar de lhe dar razão e envergonhado mudei de
assunto
Bacco
Brasileiro não sabe comprar, preparar e beber o próprio café! Sempre muito açúcar, muuuuito quente...pó amarga, o mesmo vale para o cacau chocolate. Que dira tomar vinho! Sem esperanças para um país onde o "Pergola Tremenda Bosta Suave" é líder de vendas...
ResponderExcluirJá faz um tempo, mas me diverti muito com um garçom, em Roma. Um grupo de americanos, após rápida consulta ao cardápio, pediu ossobuco, e para acompanhar, valpolicella ripasso, num almoço aos 40 graus. Ele olhava para mim, simulava com os dedos o suor escorrendo pelas faces rosadas cobertas pelos bonés de baseball, e quase caímos de rir. E vi algo exótico no início deste mês, novamente em Roma. Uma americana pediu um Bloody Mary e um capuccino no café da manhã, no hotel. Foi uma correria, mas não encontraram o barman acordado. Não é a toa que os ilustrados ricos brasileiros se identificam com Miami.
ResponderExcluirPérgola comemora 9 anos consecutivos como o vinho mais vendido no Brasil
ResponderExcluirhttps://superhiper.com.br/pergola-comemora-9-anos-consecutivos-como-o-vinho-mais-vendido-no-brasil/
E o tal Rosé Piscine somos o número 1 em consumo!!
ExcluirBrasileiro não sabe beber, isso deve ser consenso. O ponto é que a culpa é 50% do consumidor e 50% das nossas vinícolas. Sim, o vinho nacional é bem fraco frente ao velho mundo e até mesmo frente a maior parte do novo mundo. O ponto é que se tivéssemos vinícolas empenhadas em construir a cultura do vinho com preços justos, a coisa estaria melhor, mesmo com esses vinhos finos "meia bomba", mas recentemente só tenho visto notícias de nossas vinícolas por conta de medalhas ridículas, proprietários fanfarroes ou trabalho análogo ao escravo. Uma Vergonha. E tome R$300 em vinho meia boca.
ResponderExcluirConcordo. Se houvesse alguma inteligência, o foco seria educar e conquistar o mercado, substituindo os intragáveis vinhos de mesa pelos vinhos finos, com preços justos e compatíveis com a qualidade. Nesse ambiente a seletividade ocorreria naturalmente. As vinícolas brasileiras optaram por oferecer vinhos de qualidade baixa ou média, mas com preços elevados e muita presunção. Não é de se estranhar que brasileiros se portem como jecas.
ExcluirÉ a cultura de importadoras sobre falta de sistema geográficos de denominação. Sendo que os vinhos nacionais servem pra nivelar vinhos que são importado. Fine wine ou não tem ou o que é 245 euros lá fica quase 3.000 reais aqui.
ResponderExcluirOu a Superlua hahahahah
ResponderExcluirAcho que o Vitão andou tomando Pérgola. 🤣🤣🤣
ExcluirOutro dia vi uma cena num restaurante no Rio, onde moro, que corrobora o que o Bacco constatou. Um casal jovem pediu 2 linguados e para "desarmonizar", um xarope tinto de madeira e álcool portenho chamado Catena Zapata. Realmente, não há solução para os enotontos brasileiros.
ResponderExcluirO pior disso tudo é ainda ter um cara da mesa do lado que, em vez de comer o seu prato e tomar o seu vinho, fica xeretando e olhando o que eles fazem.
ExcluirCatena Zapata tá jogando com o nome há muito tempo. As linhas de alta gama tipo a Nicola parcela Bonarda ou o Malbec Argentino (o com desenho da caveira) são bons vinhos, mas o DV Catena normal e até o Angelica Zapata acho muito, mas muito super valorizados com péssimo custo beneficio, principalmente os malbec que estão cada vez mais ácidos e com taninos mal arredondados. Na própria Argentina tem coisa bem superior na faixa de preço.
ResponderExcluirParece e que o casal do linguado com catena também frequenta o blog. Eu não sou muito de reparar nas outras mesas, mas se alguém paga um bunda lelê no restaurante não tem como não observar. E beber peixe com Malbec é quase a mesma coisa.
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