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quinta-feira, 27 de abril de 2023

MAREMMA, BOLGHERI, ETC....



Um amigo, farto de tanto comer churrasco e beber cerveja, vendeu espetos, churrasqueira, barris de chope etc. e, com o dinheiro arrecadado, comprou uma pequena casa na Toscana, mais precisamente na Maremma.

Na Maremma, assim como em muitas outras regiões italianas, as prefeituras, de pequenas e semidesertas aldeias, tentam revitalizá-las vendendo casas abandonadas a preços baixíssimos, simbólicos.

Meu amigo, não exatamente milionário, com poucos trocados, comprou uma casa, a reformou e hoje vive, feliz da vida, em uma aldeia de 1.800 habitantes.



A Toscana sempre foi uma de minhas metas vinícolas preferidas e a Maremma, apesar de não me seduzir com seus vinhos afrancesados, parkerianos e caros, foi a que mais visitei, excluindo, é claro, a Val D’Orcia e suas maravilhosas Montalcino, Pienza, San Quirico, Montepulciano, Monticchiello, Castiglione D’Orcia, Bagno Vignoni, Castelnuovo dell’Abate etc.

Se os vinhos da Maremma nunca me seduziram, suas aldeias medievais, Massa Marittima, Pitigliano, Sovana, Sorano, Scansano, Bolgheri, Populonia, Castagneto Carducci, me “obrigaram” a retornar inúmeras vezes a seu território.



A cada viagem, uma nova aldeia e uma nova surpresa.

Não foi diferente, desta vez, quando, após a visita o amigo, resolvi retornar a San Vincenzo, Bolgheri e conhecer mais uma maravilhosa aldeia: Campiglia Marittima.

San Vincenzo, como sempre, foi escolhida como base para percorrer a região.



Apesar de poucas belezas naturais, San Vincenzo, com seus inúmeros hotéis, bares, restaurantes e ótima posição geográfica, satisfaz plenamente minhas exigências.

Bolgheri está a 20 km, Campiglia Marittima a 10, Populonia a 18 Castagneto Carducci a 15 .... San Vincenzo é a base mais racional e recomendável para percorrer a região.

Dicas de bares em San Vincenzo?



Não deixe de conhecer o “Zanzibar”, “Fronte del Porto” e “Molo 20” e fuja, como Lula das perguntas da jornalista portuguesa, do “Beppe Bistrot”: O “Beppe Bistrot”, além de ser um muquifo, é um antro de ladrões que cobram até o que você não consumiu.

San Vincenzo, apesar da Toscana nunca ter sido uma de minhas metas gastronômicas prediletas, abriga ótimos restaurantes.

 Para qualificar San Vincenzo, como importante meta gastronômica, bastaria lembrar que o mítico “Gambero Rosso”, do chef Fulvio Pietrangelini, foi considerado, por muitos anos, o melhor restaurante da Itália.



Problemas familiares obrigaram Pietrangelini a fechar o “Gambero Rosso”.

Fulvio, resolveu viajar pelo mundo e organizar cozinhas de inúmeros e estralados hotéis, mas seu filho, Fulvio Jr, parece ter herdado as qualidades paternas e continua, em San Vincenzo, seduzindo os refinados paladares em seu belíssimo restaurante “Il Bucaniere”.



O arquiteto, do “Il Bucaniere”, foi extremamente feliz em seu projeto.



Moderna, clara, sem espaços inúteis, a sala do “Il Bucaniere”, me deu impressão de estar navegando sobre as calmas águas do Mediterrâneo no luxuoso restaurante de um transatlântico. 



Um dos pratos mais famosos e icônicos do “Gambero Rosso”, “Vellutata di Ceci e Gamberi”, foi revisitada por Fulvio Jr e ganhou novo nome: “Passata di Ceci e Mezzancolle”.



Receita simples e extraordinária, que já publiquei e pode ser revista aqui:

https://baccoebocca-us.blogspot.com/2021/05/o-primeiro-ornellaia-ninguem-esquece.html

No “Il Bucaniere”, meu amigo e eu, pedimos “Passatina di Ceci e Mezzancolle”, “Ravioli di Pesce com Zucchine e Seppie” (Raviólis de Peixe com Abobrinhas e Lulas).



Para acompanhar bebemos um Soave da “Pieropan” que, devo confessar, ficou devendo....

A “Pieropan” sempre produziu bons vinhos, mas a garrafa, safra 2021, me decepcionou .....fuja



A conta?

Exatos 73 Euros

Na próxima matéria: Campiglia Marittima, Bolgheri, seus vinhos e decadência.

Bacco

  

  

terça-feira, 18 de abril de 2023

O CAMINHO DA SALVAÇÃO

 


Criticar, positiva ou negativamente, esta ou aquela garrafa sem as haver degustado algumas vezes, é o cúmulo da picaretagem, assim, antes que alguém pergunte, informo que provei muitíssimos vinhos “griffe” e que os considero dispensáveis.



Bebi vinhos de Conterno, Gaja, Mascarello, Roagna, Casanova di Neri, Dal Forno, Giacosa, Romanée-Conti (3 vezes e tenho certeza que 2 garrafas eram falsificadas), Coche-Dury, Château Grillet, Barca Velha, Vega Sicilia, Antinori (Solaia), Biondi Santi, Frescobaldi (Masseto) etc.




 O que nunca entendi é constatar que o enófilo, após haver degustado, várias vezes, os vinhos “griffe”, continue gastando os tubos para comprá-los.

Será pura ostentação, ou será mania de grandeza?

Será uma vã tentativa de parecer um grande e refinado “connoisseur”, ou será apenas uma ridícula esnobação?



Confesso não saber, mas sei que muitíssimas etiquetas “griffe” são até de qualidade inferior quando comparados a vinhos comuns e que podem ser adquiridos por 10%-5%-2% de seus astronômicos preços.

Alguns exemplos?

O Brunello di Montalcino “Cerretalto”, da Casanova di Neri, custa, em média, 350 Euros é não superior ao Brunello de Franco Pacenti que custa 40 Euros.

Chardonnay Gaia & Rey, de 300 Euros, perde em qualidade para o Chablis 1er Cru “Vaillons” de Raoul Gautherin de 30 Euros.



O Romanée-Conti de 25.000 Euros não é melhor do que Chambertin Clos De Bèze de Gerard Raphet de 350 Euros.



Impossível?

Então faça o seguinte: compre uma garrafa de Romanée-Conti, rezando, em todas as línguas e para todos os deuses, que não seja falsificada e uma de Chambertin-Clos-de-Bèze.

Peça para alguém servir os vinhos sem que você saiba qual a taça do Romanée-Conti e qual a do Chambertin-Clos-de-Bèze do Raphet.



Prove e deguste com calma e depois julgue, honestamente, qual dos dois é o melhor e finalmente, avalie se o Romanée-Conti vale 7.140% a mais do que o Chambertin Clos de Bèze.

Sempre é bom recordar que são produzidas, anualmente, apenas 5.500/6.000 garrafas de Romanée-Conti e que todas são reservadas e entregues aos clientes tradicionais e cadastrados.

 Informo, também, que o Romanèe-Conti continua sendo um dos vinhos mais falsificados do planeta e a chance de comprar uma garrafa, ostentando a etiqueta da famosa vinícola, mas contendo um Pinot Noir de 50 Euros, é real e não rara.



A falsificação chega a tal ponto que, em época não tão remota, incontáveis garrafas de Romanée-Conti lotavam e repousavam nas adegas de   inúmeros restaurantes da insignificante e periférica Brasília gastronômica.

 Os restaurantes “Francisco” (todos), Partenopea, Zuu,  Maestri, Piantella, Piantas, Capim Santo, Gero, Alice, Gazebo, O Convento e muitos outros, ostentavam, em suas cartas de vinho, o Romanée-Conti.

O mítico vinho, da Côte de Nuits, era obrigado a dividir o espaço com garrafas de Miolo Seleção......



Quando, finalmente, consegui me libertar das algemas, do ridículo conceito “se é caro é bom”, percebi que era chegado o momento de abandonar o eno-deslumbramento, Bíblia parkeriana, listas dos melhores, Wine Spectator etc. e percorrer meu próprio caminho vinícola.

Na nova caminhada descobri preciosidades em todos os cantos, mas vou recordar e enumerar apenas as de algumas regiões italianas.



Val D’Aosta: Malvasia de Nus, Blanc de Morgex, Petite Arvine, Donnas.

Piemonte: Pelaverga, Gamba di Pernice, Timorasso, Sizzano, Rossese Bianco, Freisa, Grignolino, Fara, Ghemme, Gattinara, Boca, Lessona, Bramaterra, Avanà, Carema, Doux D’Henry etc.

Lombardia: Moscato di Scanzo, Lugana, Sfursat, Inferno, Grumello.



Friuli: Picolit, Malvasia Istriana, Schioppettino.

Liguria: Rossese di Dolceacqua, Ormeasco, Pigato, Albarola.

Marche: Pecorino, Passerina, Rosso Conero, Verdicchio di Matelica, Verdicchio dei Castelli di Jesi.....



Verdicchio?

Grande e boas histórias que revelarei.

Sim, pois vinho não tem pontos, estrelas, bicchieri... vinho tem história.

Continua

Bacco

terça-feira, 11 de abril de 2023

A LONGA ESTRADA DO VINHO

 


Coincidência incrível!

“A Difícil Escalada”, de Dionísio, antecipou uma matéria similar que há algum tempo tenho em mente, a qual, sem nenhuma razão plausível, continuo a postergar.

Mas não foi apenas a matéria, escrita por Dionísio, que me fez voltar ao teclado e escrever sobre o mesmo assunto.... Uma taça de “Il Bacco”, um Verdicchio dei Castelli di Jesi, da vinícola “Coroncino”, que bebi durante um almoço no restaurante “Nanin”, de Chiavari, deu o empurrão final que precisava para revelar, pela enésima vez, minha opinião sobre o assunto.



A história do “Il Bacco”, “Verdicchio dei Castelli di Jesi”, começa nos anos 1990 quando resolvi aprofundar meus conhecimentos vinícolas.

Vários livros, muitas revistas e uma adega, com boa quantidade de garrafas, de origem europeia, não foram suficientes para saciar minha sede de saber.



Qual outro caminho poderia me levar ao reino dos brancos, tintos e espumantes?

A resposta mais lógica..... ABS!



 Pesquisei o telefone, endereço, consegui as informações necessárias, paguei a taxa de inscrição e aguardei, cheio de entusiasmo e ansiedade, o primeiro encontro com os mestres da famosa associação, mestres que me revelariam, finalmente, os mais misteriosos e recônditos conhecimentos vinícolas.

Já na aula inaugural meu entusiasmo arrefeceu um pouco, na segunda o entusiasmo deu espaço à desconfiança, na terceira broxei de vez e na quarta dei adeus para sempre à ABS.



O motivo?

Percebi que os “mestres” possuíam conhecimentos vinícolas comparáveis aos meus quando o assunto era mecânica quântica....

Soberbos, presunçosos e despreparados, aqueles “professores” da ABS, não seriam aceitos para trabalhar nem em um boteco das periferias de Lisboa, Paris, Milão, Barcelona, Beaune etc.

Voltei aos meus livros e revistas, mas já pensando e programando algumas viagens pela Europa vinícola dedicando especial atenção às regiões que sempre me fascinaram: Borgonha e Piemonte.

Em 1995 o dólar ainda “humano” e uma herança inesperada, deram o empurrão que precisava para começar aquela que seria uma longa série de viagens vinícolas pela Itália e França.





Nada do apressado turismo tipo “pit–stop” em que se visitam 20 cidades em 20 dias; minha intenção previa longas permanências nas capitais dos grandes vinhos da Côte D’Or e Langhe.



Se alguém, no Brasil, acredita que adquirir reais e profundos conhecimentos, sobre vinhos, é tarefa fácil e barata, pode tirar todos seus cavalos da chuva e voltar para os cursos picaretas que infestam todo o território nacional: Sem uma razoável soma no bolso, bons conhecimentos do francês, italiano, inglês, a missão é impossível.

Sem grana, sobra uma opção: trabalhar no setor vinícola, mas aí reaparece obstáculo da língua.

Não foi meu caso......Falo português, italiano, piemontês, espanhol e me comunico “macarronicamente”, mas sem vergonha ou complexos, em francês e inglês.

Não vou alongar a lengalenga, mas após uma década já havia visitado, várias vezes, a Borgonha, Champagne, Alsácia, Provença, Languedoc, Piemonte, Lombardia, Veneto, Ligúria, Friuli, Emilia Romagna, Val D’Aosta etc. (o “etc.” significa todas as outras regiões italianas).



Resultado?

Todos os vinhos que comentei e recomendei, no B&B, salvo raríssimas exceções (Viña Tondonia e Château Musar são duas delas) foram, rigorosamente, degustadas na origem.

 Uma das primeiras lições que aprendi é que há dois tipos de vinho e que visam diferentes perfis de consumidores.


  1º) Caríssimos Vinhos “griffe”, produzidos, visando aliviar bolsas e bolsos dos enófilos  “deslumbrados-abonados-abobados” os quais acreditam ,piamente, que , por exemplo ,um uma garrafa de Barolo  Monfortino (1.500 Euro) possua qualidades excelsas e celestiais que justifiquem  preços 3.000% , 4.000%  até 5.000%, a mais , do que o  ótimo Barolo menos badalados e pouco  conhecido “Gramolere” de Giovanni Mazzone, “Briccolina” de Tiziano Grasso, “Pernanno” de Sobrero, “San Lorenzo” de Fratelli Alessandria, “Marcenasco” de Renato Ratti, “Rocche” de Aurelio Settimo, “Bussia” de Franco Conterno, “Cannubi” de Giacomo Brezza, “Monvigliero” de Sordo....Poderia continuar escrevendo meia hora elencando mais e mais produtores de ótimos e acessíveis Barolo.



2º) Vinho normal, para simples mortais e conscientes enófilos



Resumindo: Nada justifica, a não ser a imbecilidade humana, que uma garrafa de vinho custe tanto quanto, ou mais, do que um carro.




Domaine de la Romanée Conti

Montrachet Grand Cru

75cl - 2006 - Blanc - Montrachet

15 531,48 € 


Continua

Bacco

 

domingo, 2 de abril de 2023

A DIFÍCIL ESCALADA

 


Quem, no Brasil, por profissão, paixão, ou simplesmente prazer, resolver aprofundar seus conhecimentos no mundo do vinho, deveria ser alertado, desde o início, que encontrará as mesmas enormes dificuldades de um islandês que decidir estudar flora equatorial no planalto de seu país.



No Brasil tudo e todos contribuem para dificultar o consumo, conhecimento e cultura do vinho.

Preços estrelares, qualidade medíocre, pouca ou nenhuma concorrência, inexistentes tradições e culturas vinícolas e consumo ridículo, são algum dos fatores que o profissional, ou enófilo, terá que enfrentar quando resolver se aventurar pelo mundo do vinho no Brasil.



O quase herói, que resolver se profissionalizar, desde o começo de sua carreira deverá superar, pelo menos, dois grandes obstáculos: baixa qualidade dos cursos disponíveis, incompetência e despreparo dos “professores”.



Sempre afirmei e repito, que qualquer garçom, de bons wine-bar ou restaurantes da Espanha, Portugal, França e Itália etc., possui maiores conhecimentos vinícolas do que a esmagadora maioria dos “professores” dos cursos existentes no Brasil.    

Outro fator negativo a enfrentar: A eterna e total dependência financeira de produtores e importadores.



Sem o suporte, dos setores acima, mencionados, AB$, $BAV, sommeliers, críticos, divulgadores etc. encontrariam enormes dificuldades para sobreviver.



A dependência é a mãe da subserviência, assim é ridículo verificar como alguns de nossos mais badalados e consagrados “profi$$ionai$”, do setor, se prostituem para poder ganhar algum.

Os mais patéticos?



1º) Nariz se palhaço, gravatinha borboleta, posar pelado, puxar o saco do Ciro Lilla para ganhar o papel de “Coroa-Propaganda” da Mistral e conseguir um emprego, na “Vinci”, para um filho desempregado.



2º) Bajular ricos paulistas para conseguir beber fundos de garrafas de etiquetas caras e famosas, escalar cruzeiros medievais e, em final de carreira, ser “obrigado” a classificar um vinho do cerrado goiano, “...uma aberração de tão bom”.



3º) Puxar o saco de importadores e produtores nacionais até, pasmem, ser obrigado a classificar o quase (arghhh) Barbera da Perini como: “…. ótimo suculento e equilibrado” e assim conseguir patrocínio para poder participar “sei-lá-quantas-vezes-e-perder outras-tantas”, de um dos “trocentos” e fajutos concursos de “Melhor Sommelier do Mundo”.



4º) Deixar de ser “sortudo”, despencar do “Olimpo Global”, dos vinhos da Borgonha, Itália, Portugal Espanha e, já na fase “azarado”, ser obrigado a publicar listas dos melhores brancos, tintos e espumante nacionais.

Se a vida de algumas de nossas “estrelas” vinícolas não e nada fácil, imagine a dos simples mortais.....




Resumindo: Caso você decida se aventurar, iniciar a percorrer o difícil caminho das “vinhas & vinhos”, para abraçar a profissão de sommelier, aqui vai a primeira dica:  aprenda inglês, economize o quanto puder, compre uma passagem para a Europa, arrume um trabalho de garçom (é fácil pois falta mão de obra) e, depois de estabilizado, matricule-se em um curso em um dos países escolhido.



Caso suas finanças não gozem de razoável saúde vá de Google.

O Google é grátis, melhor e mais confiável do que a imensa maioria dos cursos caça-níqueis que andam por aí. 

Dionísio