Facebook


Pesquisar no blog

terça-feira, 18 de abril de 2023

O CAMINHO DA SALVAÇÃO

 


Criticar, positiva ou negativamente, esta ou aquela garrafa sem as haver degustado algumas vezes, é o cúmulo da picaretagem, assim, antes que alguém pergunte, informo que provei muitíssimos vinhos “griffe” e que os considero dispensáveis.



Bebi vinhos de Conterno, Gaja, Mascarello, Roagna, Casanova di Neri, Dal Forno, Giacosa, Romanée-Conti (3 vezes e tenho certeza que 2 garrafas eram falsificadas), Coche-Dury, Château Grillet, Barca Velha, Vega Sicilia, Antinori (Solaia), Biondi Santi, Frescobaldi (Masseto) etc.




 O que nunca entendi é constatar que o enófilo, após haver degustado, várias vezes, os vinhos “griffe”, continue gastando os tubos para comprá-los.

Será pura ostentação, ou será mania de grandeza?

Será uma vã tentativa de parecer um grande e refinado “connoisseur”, ou será apenas uma ridícula esnobação?



Confesso não saber, mas sei que muitíssimas etiquetas “griffe” são até de qualidade inferior quando comparados a vinhos comuns e que podem ser adquiridos por 10%-5%-2% de seus astronômicos preços.

Alguns exemplos?

O Brunello di Montalcino “Cerretalto”, da Casanova di Neri, custa, em média, 350 Euros é não superior ao Brunello de Franco Pacenti que custa 40 Euros.

Chardonnay Gaia & Rey, de 300 Euros, perde em qualidade para o Chablis 1er Cru “Vaillons” de Raoul Gautherin de 30 Euros.



O Romanée-Conti de 25.000 Euros não é melhor do que Chambertin Clos De Bèze de Gerard Raphet de 350 Euros.



Impossível?

Então faça o seguinte: compre uma garrafa de Romanée-Conti, rezando, em todas as línguas e para todos os deuses, que não seja falsificada e uma de Chambertin-Clos-de-Bèze.

Peça para alguém servir os vinhos sem que você saiba qual a taça do Romanée-Conti e qual a do Chambertin-Clos-de-Bèze do Raphet.



Prove e deguste com calma e depois julgue, honestamente, qual dos dois é o melhor e finalmente, avalie se o Romanée-Conti vale 7.140% a mais do que o Chambertin Clos de Bèze.

Sempre é bom recordar que são produzidas, anualmente, apenas 5.500/6.000 garrafas de Romanée-Conti e que todas são reservadas e entregues aos clientes tradicionais e cadastrados.

 Informo, também, que o Romanèe-Conti continua sendo um dos vinhos mais falsificados do planeta e a chance de comprar uma garrafa, ostentando a etiqueta da famosa vinícola, mas contendo um Pinot Noir de 50 Euros, é real e não rara.



A falsificação chega a tal ponto que, em época não tão remota, incontáveis garrafas de Romanée-Conti lotavam e repousavam nas adegas de   inúmeros restaurantes da insignificante e periférica Brasília gastronômica.

 Os restaurantes “Francisco” (todos), Partenopea, Zuu,  Maestri, Piantella, Piantas, Capim Santo, Gero, Alice, Gazebo, O Convento e muitos outros, ostentavam, em suas cartas de vinho, o Romanée-Conti.

O mítico vinho, da Côte de Nuits, era obrigado a dividir o espaço com garrafas de Miolo Seleção......



Quando, finalmente, consegui me libertar das algemas, do ridículo conceito “se é caro é bom”, percebi que era chegado o momento de abandonar o eno-deslumbramento, Bíblia parkeriana, listas dos melhores, Wine Spectator etc. e percorrer meu próprio caminho vinícola.

Na nova caminhada descobri preciosidades em todos os cantos, mas vou recordar e enumerar apenas as de algumas regiões italianas.



Val D’Aosta: Malvasia de Nus, Blanc de Morgex, Petite Arvine, Donnas.

Piemonte: Pelaverga, Gamba di Pernice, Timorasso, Sizzano, Rossese Bianco, Freisa, Grignolino, Fara, Ghemme, Gattinara, Boca, Lessona, Bramaterra, Avanà, Carema, Doux D’Henry etc.

Lombardia: Moscato di Scanzo, Lugana, Sfursat, Inferno, Grumello.



Friuli: Picolit, Malvasia Istriana, Schioppettino.

Liguria: Rossese di Dolceacqua, Ormeasco, Pigato, Albarola.

Marche: Pecorino, Passerina, Rosso Conero, Verdicchio di Matelica, Verdicchio dei Castelli di Jesi.....



Verdicchio?

Grande e boas histórias que revelarei.

Sim, pois vinho não tem pontos, estrelas, bicchieri... vinho tem história.

Continua

Bacco

10 comentários:

  1. Ótimo artigo! Graças à você, conheço e já bebi alguns vinhos das denominações citadas. Salute!

    ResponderExcluir
  2. Excelente artigo. Passei pelas mesmas etapas e caros experimentos. Os preços acompanham a qualidade até determinado platô, no qual a qualidade permanece e os preços continuam a escalada, levando junto os incautos alpinistas sócio-etílicos (isto é um neologismo). A clarividência chega quando, numa tarde quente, se passa a preferir um vermute gelado a abrir a rolha de um branco, por hábito ou devoção enológica.

    ResponderExcluir
  3. Polêmica: entendendo o presente e o futuro dos vinhos brasileiros de baixa intervenção:

    https://winefun.com.br/polemica-entendendo-o-presente-e-o-futuro-dos-vinhos-brasileiros-de-baixa-intervencao/

    ResponderExcluir
  4. Patrício Tapia - "Eu separaria os vinhos tranquilos dos espumantes, que no Brasil tiveram uma evolução enorme nos últimos dez anos. A qualidade do que provamos hoje não se compara ao que era feito no passado. Já com o vinho tranquilo a melhora tem sido mais lenta. Mas ainda assim há coisas interessantíssimas e que me agradam bastante. O meu alerta é para aqueles que desejam produzir o que a natureza não permite. O clima aqui é terrível para vinhos orgânicos. Assim como não se pode fazer um Malbec de Agrello na Serra Gaúcha. Mas sim, é possível fazer um rico Cabernet Franc em Pinto Bandeira [cidade do Rio Grande do Sul que em 2022 recebeu o selo de Denominação de Origem para espumantes]. Creio que o processo de autodescobrimento é algo que falta a alguns produtores brasileiros. A crítica que eu fiz, e que pode ter sido mal compreendida, é que o produtor deveria prestar atenção ao que o seu terroir permite. Não se pode impor algo quando faltam as condições naturais para isso". https://www.istoedinheiro.com.br/10-perguntas-para-patricio-tapia-criador-do-guia-descorchados/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O problema é que o Brasil , apesar de ser um anão vinicola, se considera importante no setor. Quem produz 80% de suas garrafas com uvas americanas deveria ser mais modesto. Evolução enorme nos espumante? Concordo.....piorar seria impossível .

      Excluir
  5. Não sou fã de Prosecco, mas não duvido que cedo ou tarde vão brigar pelo uso do nome "Champagne", como vergonhosamente se usa aqui no Bananal.

    Austrália divulga relatório a favor do uso da palavra Prosecco

    https://www.google.com/amp/s/revistaadega.uol.com.br/amp/artigo/australia-divulga-relatorio-a-favor-do-uso-da-palavra-prosecco.html

    ResponderExcluir
  6. O que define o preço de um vinho é a oferta e procura. Enquanto houver enotários inflados de ego dispostos a pagar milhares de euros por uma garrafa de vinho (e como bem disse Bacco, muitas vezes falsificada), esses preços absurdos continuarão.

    ResponderExcluir
  7. A relação com a matéria é indireta, mas como aconteceu hoje e é um tema recorrente por aqui, resolvi postar. Na caminhada dominical pelo meu bairro, me deparei com uma loja nova da Evino, na Praça Vila Boim, em São Paulo. Entrei. Lá estava a atendente, gentil, mas completamente alheia ao mundo do vinho, dotada do conhecimento mais básico, porém eficiente para atrair milhares de tolos presunçosos. Perguntei de um rótulo italiano qualquer, falou que era “multinacional” porque não havia região de origem. Uma confusão tentando encontrar o nome das uvas dos franceses, italianos e portugueses (o que não perguntei, é claro). Os donos da empresa contrataram uma jovem moça, que devem remunerar muito mal e que largaram sozinha na semana de inauguração da loja, cujo conhecimento sobre os vinhos é superficial e cheio de lugares-comuns. Do lado tem um bistrô da franquia “Paris 6”, fake French. Daí a consternada conclusão. A grande maioria dos brasileiros não é subestimada. É tratada como merece, eis que arrogante e ignorante, a ponto de aceitar qualquer porcaria e lá deixar seu dinheiro. E isso não é apenas na gastronomia e na enologia, infelizmente.

    ResponderExcluir
  8. Hoje o Galvão Bueno anunciou que o vinho dele ganhou medalha de ouro em "renomado" concurso francês. Foi o mesmo concurso que deu o prêmio de melhor espumante do mundo pra casa Valduga. Fui consultar o site e são 14 páginas (isso mesmo, 14 longas páginas) de premiação com vinhos do Japão, Eslováquia, Bulgária... éeee amiiiigo. É teste pra cardiiiiaco!!!

    ResponderExcluir