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domingo, 13 de fevereiro de 2022

O AMERICANO "ILUMINADO"

 


Em uma de nossas viagens pela Borgonha, Bacco e eu, resolvemos explorar a região e os vinhos da “Mâconnaise”.

Para Bacco, Mâcon e redondezas já não eram novidades; ele conhecia todas as aldeias, um sem número de restaurante e bares, muitos produtores onde comprar, por preços convidativos, os grandes vinhos da região.


“Hoje vamos visitar Pierreclos e a vinícola Jambon. A Jambon produz, entre outros, um ótimo “Pouilly-Vinzelles”.

É sempre bom lembrar que na região, além do Pouilly-Vinzelles, há outras renomadas denominações: Pouilly-Fuissé, Pouilly-Loché, Viré-Clessé e Saint-Vèran.... Mas retornemos a Pierreclos para conhecer Marc Jambon e seu filho Pierre Antoine.


Bem recebidos pelos dois viticultores (Bacco parecia ser de casa), saudações de praxe, comentários jocosos, algumas perguntas sobre o Brasil vinícola .... Chegou a hora da compra.

 Optamos   por 2 caixas, de seu ótimo Pouilly-Vinzelles (10 Euros/garrafa) e mais 2 do sempre confiável Mâcon-Pierreclos (8 Euros/garrafa).

Pagamento efetuado, caixas no porta-malas …. Marc e Pierre Antoine resolveram nos oferecer uma degustação, de seus vinhos, na adega da vinícola.

Garrafa vai, garrafa vem …. Risadas aumentando de volume e intensidade.

Marc Jambon, aproveitou um raro momento de pausa nas libações para narrar algumas histórias sobre sua vinícola e seus vinhos.

A passagem, que até hoje lembro, foi em que Marc relatou a visita de um grupo de turistas norte-americanos.

Os americanos haviam agendado uma degustação e Jambon, cordial como de costume, discorria sobre seus vinhos, técnicas de plantio, vinificação, escolhas de terrenos, tradição etc.

Em determinado momento, um dos integrantes da comitiva, que se identificou como jornalista, crítico e especialista em vinhos, interrompeu Marc, tomou da palavra e fez um longo discurso comparando os Chardonnay da Borgonha e os californianos.

Em sua explanação, o jornalista, defendeu as técnicas mais modernas na produção, a qualidade, o sucesso nas vendas etc. dos vinhos californianos.

 Marc percebeu que o pavão pretendia   “aparecer” como        eno-sumidade perante seus companheiros.

Imagine o papel ridículo do um jornalista americano pretendendo dar uma aula ao vigneron de Pierreclos

É bom esclarecer que os Jambon são viticultores, em Pierreclos, desde 1752.

Marc Jambon ouviu pacientemente a apologia das vinhas e vinhos californianos, mas quando o jornalista deu uma chance, derramou com um pouco de seu Pouilly-Vinzelles em uma taça, bebeu, calmamente, um gole e disparou: 

“Na Borgonha plantamos e vinificamos Chardonnay há quase mil anos, mas estávamos esperando justamente a chegada de um americano para que nos iluminasse com algumas novidades e como melhorar nossos conhecimentos.”.

Não preciso dizer que o jornalista não mais abriu a matraca e a visita à vinícola foi radicalmente abreviada.

O que quero demonstrar com esta longa introdução?


Pretender produzir, na Espanha, Itália, Portugal etc., Chardonnay para concorrer com os Franceses é uma piada e os viticultores, dos países mencionados, sabem que é missão, senão impossível, inglória.

 Nada disso convence, todavia, os enófilos que continuam elogiando e comprando o caríssimo e dispensáveis vinhos do Gaja, Coppo, Antinori, Ca’ del Bosco, etc.

Só mais uma coisa: Comprar Chardonnay da Borgonha e colar nas garrafas etiquetas de vinícolas italianas não é tão difícil quanto parece.

Tomo emprestada a lapidar sentença de Bacco “Quando um qualquer Chardonnay é tão bom quanto um Puligny-Montrachet....é um Puligny-Montrachet”

Dionísio

3 comentários:

  1. Ótima postagem, como sempre. Na minha humilde opinião, qualquer Chardonnay genérico da Borgonha bate a maioria dos Chardonnay de outros locais. Como comentou um colega acima, isso não quer dizer que não haja bons Chardonnay produzidos fora da Borgonha. É igual o basquete nos EUA. Até existe quem jogue basquete fora de lá, but...

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  2. Concordo com quase tudo, mas.......existe quem jogue basquete até no Maranhão e a maioria dos Chardonnay italianos parecem jogadores de basquete de São Luiz

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  3. O Maconnais é historicamente tão ligado a Chardonnay que tem até uma vila lá com esse nome.. Esses americanos arrogantes são uns babacas...

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