Quando me “canso”, de Santa Margherita Ligure, pego um trem (há um a cada ½ hora) e em 15 minutos desço bem no centro de Chiavari.
Chiavari, compensa suas limitadas atrações turísticas
oferecendo um centro histórico muito interessante, comércio pujante, lojas
sofisticadas e uma impressionante quantidade de bares e restaurantes.
Beber e comer bem, em Chiavari, não é problema.... o problema
está na escolha.
Como todo “bom copo” e “bom garfo”, fiz minhas seleções
descartando bares e restaurantes que somente sabem cobrar (muito) sem oferecer
atendimento, qualidade e variedade à altura.
O resultado: após centenas de taças consumida privilegiei dois
endereços para beber meus aperitivos matinais: “Piccolo
Bar” e “Gran
Caffè Defilla”.
Não foi somente a gentileza das garçonetes e os bons preços
que determinaram a escolha do “Piccolo Bar”.
Devo admitir que, além
das boas opções de etiquetas de espumantes, o belo visual do mercado de frutas
e verduras, com suas barraquinhas coloridas que todos os dias “invadem” a
medieval praça Mazzini (linda), foi determinante para minha seleção.
As donas de casas italianas adoram ir ao mercado todos os
dias, faça sol, chuva, terremoto, covid etc.
Dois tomates, uma berinjela, três cenouras, duas alcachofras
uma maça.... As compras nunca são volumosas, pois se sobrar muita coisa não
haverá desculpa para voltar ao mercado no dia seguinte.
Beber, o primeiro Franciacorta do
dia, no “Piccolo Bar” da “Piazza Mazzini” enquanto se aprecia o vaivém das pessoas,
no colorido mercado de frutas e verduras de Chiavari, não tem preço, mas a taça
de Franciacorta, tem ... 6 Euros.
Bebo a segunda taça do dia sempre no soberbo e tradicional “Gran Caffè Defilla”.
O Defilla, bar, cafeteria,
enoteca, sala de chá, restaurante, é uma instituição quase sagrada, não somente
de Chiavari, mas de toda a Ligúria e também da Itália.
O mais que centenário “Defilla” é um verdadeiro paraíso para
os enófilos e apreciadores de destilados e licores.
Centenas de garrafas de Cognac, Whisky, Rum, Calvados, Armagnac, Grappa etc. disputam o espaço das prateleiras com mais de 1.000 etiquetas de vinho de todas as partes do mundo, Brasil excluso.
Aliás, antes que eu o “obrigasse” Sergio Rossi, sommelier da casa,
a beber uma garrafa de “Fúlvia”, ele nem sabia da existência do quase vinho
nacional.
Bebericando uma taça, do sempre ótimo Champagne (8 Euros) “Aubry 1er Cru,
” resolvi “passear” pelas salas do “Defilla” e alegrar os olhos com
as ofertas de final de ano.
“Todo Natal é a mesma coisa...Brigo com a Antinori, Frescobaldi,
Incisa della Rocchetta, mas seus super-tuscans chegam “pingados” e atrasados”.
Mauro Pietronave, proprietário do “Defilla”, não é exatamente um amigo e nosso relacionamento, apesar de respeitoso e de longa data, nunca foi além de algumas poucas frases e saudações de praxe.
Estranhei, a súbita intimidade, mas dei-lhe corda....
“Em uma população mundial de 8 bilhões não é difícil encontrar
500 mil, ou até um milhão de bebedores ricos, que não entendem nada, mas adoram
garrafas caras, premiadas, endeusadas. Tenho uma clientela de estrangeiros,
americanos, do leste europeu e chineses que, nos finais de ano, compram todas
os Sassicaia, Masseto, Ornellaia etc. que há no estoque”.
Com um sorriso irônico, Mauro continuou: “Os produtores toscanos sabem disso e
continuam alimentando o ego, dos consumidores de etiquetas caras, com novas
opções. O senhor conhece o Massetino?
Não pense que Pietronave encerrou o assunto....
Antes de retornar à suas tarefas pegou uma caixa de madeira e
sentenciou: “A
Antinori, também, não brica em serviço e contra-atacou com um Cabernet Franc de
350 Euros: Matarocchio”.
Se há, no mundo, alguns produtores vinícolas, mais vivos, mais
oportunistas e que sabem se vender melhor do que os “nobres” toscanos, por
favor, me apresentem.... Eu desconheço.
Conseguir, em menos de 40 anos, produzir e vender garrafa de
Merlot toscano, por mais de 1.000 Euros, não é tarefa para qualquer Zé Mané.
O grande mérito, dos “nobres” da Toscana, é ter consciência da
existência e alimentar a idiotice de Enos-Zé-Manés sempre prontos a abarrotar,
ainda mais, seus milionários cofres.
Continua.
Bacco
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