Tenho, confesso, alguma dificuldade para assimilar e digerir a
paixão que “obriga” colecionadores a gastar, muitas vezes, verdadeiras fortunas
para adquirir uma obra de arte (pintura, escultura etc.), um carro antigo, um
selo, uma moeda, ou qualquer outra antiguidade.
Dificuldade, sim, mas não sou contra.
Nunca colecionei nada e a única coisa antiga, pela qual tenho
algum interesse, sou eu.
Lendo e relendo a matéria de Dionísio, “ Caspa
e Bobos......”, tento
entender qual a “mola” que faz disparar o desejo de comprar uma garrafa de
vinho por 100.000 Euros
Tento entender, mas não consigo.......
Bilionário, já tem tudo, não sabe o que fazer com tanto
dinheiro, ostentação, enfado, novidade, modismo, exclusividade etc. etc. etc.
Pode ser uma ou todas as possibilidades, acima mencionadas, mas
acredito que o “colecionador” de vinhos, que paga 100.000 Euros (ou mais, até)
por uma garrafa de Romanèe-Conti, revela uma bela dose de imbecilidade que é a
marca registrada dos novos ricos e dos velhos-ricos-esclerosados.
Alguém poderá rebater, por exemplo, que há quem compre, em leilões,
quadros de Paul Gouguin por 15/30 milhões de Euros.
Concordo, mas desejo salientar que Gouguin foi um artista de
rara grandeza, um dos maiores expoentes do pos-impressionismo, deixou pouco
mais de 500 obras e, por ter morrido em 1903, já não pinta.
O Romanèe-Conti não é uma obra de arte é uma garrafa de vinho,
um ótimo vinho, mas sempre e apenas uma das 5.000 unidades que a vinícola da
Borgonha produz e vende a cada ano.
Aí começa a idiotice: Querer que uma garrafa de Pinot Noir seja
considerada uma obra de arte e custe tanto quanto.
Não é, nunca foi e nunca será.
Um Pinot Noir nunca será um quadro de Gouguin.
Uma garrafa de Pinot Noir, seja da Domaine de La Romanèe Conti,
Tortochot, Chantal Remy, Benjamin Leuroux, Jean Grivot, Jean Raphet etc. leva com
um pouco mais de 1kg de uva sendo que em cada hectare, de um Grand Cru, podem
ser produzidos, no máximo, 35 hectolitros de vinho ou se preferirem 4.500
garrafas.
O cuidado, técnica, experiência, são rigorosas e comuns em
todas as vinícolas que produzem um Grand Cru.
Todos os Grands Crus, da Côte-de-Nuits, são ótimos e
distinguir um Romanèe-Conti
de um Bonnes Mares, Chapelle-Chambertin, Clos de
Vougeot, Echézeaux, Griotte-Chambertin, Charmes-Chambertin, Clos de la Roche,
Clos de Tart etc. é tarefa
somente para grandes e raros conhecedores.
Não acredita?
Bastaria elencar quantos enoloides compram e bebem,
orgulhosos, Romanèe-Conti de fundo de quintal.
Se quisesse ganhar um dinheiro fácil apostaria contra 10-20-30
ou mais sommeliers desafiando-os a identificar, em uma degustação às cegas, um
Romanèe-Conti entre outro 9 Grands Crus.
99,9% dos participantes não conseguiria acertar e, como se diz
na Itália, precisaria de “uma botta-di-culo”
(muito rabo, muita sorte) para ganhar a aposta.
Para impressionar os amigos, ou os inimigos, recomendo, então,
comprar, nas feiras de ruas da Europa, garrafas vazias de Romanèe-Conti, enchê-las
com um Pinot Noir qualquer e oferecê-las ao grupo de “sortudos”.
Nada será mais ridículo e cômico do que ouvir os comentários entusiasmados
e de aprovação, os suspiros e todo o ridículo “mise-em scène” dos enoloides de plantão
ao degustar um insuperável Romanèe-Perini
Bacco
Continua....
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