Arneis é uma
casta piemontesa originária do “Roero”.
“Roero” é um território vinícola,
nas proximidades de Alba, situado à margem esquerda do rio Tanaro (se pronuncia Tánaro) e confina com as “Langhe”.
O Tanaro separa as colinas do primo rico, “Langhe” (colinas que
produzem os consagrados e caros Barolo e Barbaresco), daquelas do primo pobre
“Roero” onde nascem vinhos menos badalados, entre eles o “Arneis”.
A Arneis, em tempos remotos,
era pouco vinificada e mais apreciada como uva de mesa.
Em meados dos anos 1970 as vinícolas Bruno
Giacosa e Vietti resgataram
a Arneis, promoveram sua “ressureição” e iniciaram a vinificá-la seriamente.
A Arneis, assim, como outras castas regionais pouco conhecidas
e rentáveis (Pelaverga,
Timorasso, Gamba di Pernice, etc.),
perdia espaço para as mais rentáveis Nebbiolo, Barbera, Dolcetto, Moscato e caminhava
para o vale das “Castas Abandonadas
e Perdidas”.
A “salvação” veio através do prestígio e visão de Vietti
e Giacosa que perceberam o potencial
comercial de uma casta branca no reino das grandes tintas.
No final dos anos 1970 provei, pela primeira vez, os Arneis de
Vietti
e Giacosa.
O vinho me impressionou
positivamente.
Não um grande branco, mas um vinho interessante, fresco,
agradável, fácil de beber e ótimo como aperitivo.
Jamais imaginei, todavia,
que o Arneis, em menos de 20 anos, se transformasse em um sucesso comercial, que
seus 45 hectares de vinhas pulassem para os atuais 650 e alcançasse uma
produção de 7 milhões de garrafas.
Afinal qual o segredo de tão rápido e incrível sucesso se vinhos
muito mais importantes como o Calosso Gamba di Pernice, Verduno Pelaverga, Erbaluce
di Caluso, Rossese Bianco etc. continuam patinado em números modestíssimos
e mal ultrapassam as fronteiras da zona de produção?
Marketing!
Marketing, inteligente e de primeiríssima qualidade, da “Ceretto Aziende Vinicole”.
A Ceretto, tradicional
vinícola das Langhe, especializada na produção de Barolo, Barbaresco, Barbera,
Dolcetto, continuaria sua normal trajetória, sem grandes novidades ou mudanças,
trilhando o mesmo caminho e história dos outros viticultores locais.
Em um lance ousado e
fora das características dos piemonteses, sempre “amarrados” à tradição, em
1985, a Ceretto, resolve lançar um vinho branco: “Blangé”
O “Blangé”, um simples e normal Arneis, mas vitaminado por
canetas importantes e de vida fácil, usando os canais certos, revistas, jornais
etc., em poucos anos se tornou o principal e mais rentável produto da Ceretto.
A Ceretto, atualmente, em
seus 80 hectares de vinhas de Arneis, no Roero, produz, nada menos do que
600.000 garrafas de “Blangé”.
O sucesso comercial do “Blangé” motivou outros produtores que, ávidos por
dinheiro fácil e acreditando conseguir o mesmo sucesso da Ceretto, inundaram o
mercado com os atuais 7 milhões de garrafas.
A qualidade do Arneis, que nunca foi excelsa é, hoje, muito discutível.
Eu acredito, apesar de juras contrárias, que muito Chardonnay
do Piemonte, que ninguém quer nem de graça, é adicionado ao Arneis para
aumentar a litragem e o faturamento.
O resultado de todo este crescimento?
Quando Marco, chef do restaurante “Nanin”,
semana passada me ofereceu uma taça de Arneis
Vietti, agradeci e bebi esperando encontrar a qualidade dos anos
1970
Marco tentou completar a taça pela segunda
vez.
Não muito educadamente recusei
e exclamei “Questo
vino fa cagare” (esse vinho é uma bosta).
Resultado: O Arneis entra na extensa lista dos meus “imbebíveis”
onde já se encontra a “aberração de tão bom”, “Prosecco”.
Mais uma coisinha: O “Blangé”, que é direcionado à exportação e aos turistas incautos,
custa, nada econômicos, 14/20 Euros.
Um Arneis “normal”,
comum, pode ser encontrado facilmente por 4/8 Euros.
Para encher os bolsos de grana nada melhor e mais fácil do que
encontrar as caneta$ certa$.....
Bacco
quando vi que seria um texto sobre a Arneis, pensei "ih, será que o Bacco mudou de ideia, como aconteceu com o Gavi?". parece que nada mudou...
ResponderExcluirEstimado peste, tudo em paz? Olha so o que pintou na area...
ResponderExcluirhttps://www.angelonegro.it/wp-content/uploads/2020/06/Unfiltered-vino-bianco_Angelo-Negro.pdf
O que me deixou mais curioso he que o produtor diz para chacoalhar a garrafa antes de servir. Kct... na sala de aula o povo ficou babando pela novidade. Estou tomando alguns vinhos laranjas por aqui...se der vontade escrevo mais tarde.
Auguri. Abrazo.