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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

ARNEIS


 
 
Arneis é uma casta piemontesa originária do “Roero”.
 
“Roero” é um território vinícola, nas proximidades de Alba, situado à margem esquerda do rio Tanaro (se pronuncia Tánaro) e confina com as “Langhe”.

 
O Tanaro separa as colinas do primo rico, “Langhe” (colinas que produzem os consagrados e caros Barolo e Barbaresco), daquelas do primo pobre “Roero” onde nascem vinhos menos badalados, entre eles o “Arneis”.

 A Arneis, em tempos remotos, era pouco vinificada e mais apreciada como uva de mesa.
 

Em meados dos anos 1970 as vinícolas Bruno Giacosa e Vietti resgataram a Arneis, promoveram sua “ressureição” e iniciaram a vinificá-la seriamente.

A Arneis, assim, como outras castas regionais pouco conhecidas e rentáveis (Pelaverga, Timorasso, Gamba di Pernice, etc.), perdia espaço para as mais rentáveis Nebbiolo, Barbera, Dolcetto, Moscato e caminhava para o vale das “Castas Abandonadas e Perdidas”.

 
A “salvação” veio através do prestígio e visão de Vietti e Giacosa que perceberam o potencial comercial de uma casta branca no reino das grandes tintas.

No final dos anos 1970 provei, pela primeira vez, os Arneis de Vietti e Giacosa.

 O vinho me impressionou positivamente.

Não um grande branco, mas um vinho interessante, fresco, agradável, fácil de beber e ótimo como aperitivo.

Jamais imaginei, todavia, que o Arneis, em menos de 20 anos, se transformasse em um sucesso comercial, que seus 45 hectares de vinhas pulassem para os atuais 650 e alcançasse uma produção de 7 milhões de garrafas.
 

Afinal qual o segredo de tão rápido e incrível sucesso se vinhos muito mais importantes como o Calosso Gamba di Pernice, Verduno Pelaverga, Erbaluce di Caluso, Rossese Bianco etc. continuam patinado em números modestíssimos e mal ultrapassam as fronteiras da zona de produção?

Marketing!

Marketing, inteligente e de primeiríssima qualidade, da “Ceretto Aziende Vinicole”.

A Ceretto, tradicional vinícola das Langhe, especializada na produção de Barolo, Barbaresco, Barbera, Dolcetto, continuaria sua normal trajetória, sem grandes novidades ou mudanças, trilhando o mesmo caminho e história dos outros viticultores locais.

 Em um lance ousado e fora das características dos piemonteses, sempre “amarrados” à tradição, em 1985, a Ceretto, resolve lançar um vinho branco: “Blangé”
 

O “Blangé”, um simples e normal Arneis, mas vitaminado por canetas importantes e de vida fácil, usando os canais certos, revistas, jornais etc., em poucos anos se tornou o principal e mais rentável produto da Ceretto.

 A Ceretto, atualmente, em seus 80 hectares de vinhas de Arneis, no Roero, produz, nada menos do que 600.000 garrafas de “Blangé”.

O sucesso comercial do “Blangé” motivou outros produtores que, ávidos por dinheiro fácil e acreditando conseguir o mesmo sucesso da Ceretto, inundaram o mercado com os atuais 7 milhões de garrafas.

A qualidade do Arneis, que nunca foi excelsa é, hoje, muito discutível.

Eu acredito, apesar de juras contrárias, que muito Chardonnay do Piemonte, que ninguém quer nem de graça, é adicionado ao Arneis para aumentar a litragem e o faturamento.

O resultado de todo este crescimento?

Quando Marco, chef do restaurante “Nanin”, semana passada me ofereceu uma taça de Arneis Vietti, agradeci e bebi esperando encontrar a qualidade dos anos 1970

  Marco tentou completar a taça pela segunda vez.

 Não muito educadamente recusei e exclamei “Questo vino fa cagare” (esse vinho é uma bosta).

Resultado: O Arneis entra na extensa lista dos meus “imbebíveis” onde já se encontra a “aberração de tão bom”, “Prosecco”.

Mais uma coisinha: O “Blangé”, que é direcionado à exportação e aos turistas incautos, custa, nada econômicos, 14/20 Euros.

 Um Arneis “normal”, comum, pode ser encontrado facilmente por 4/8 Euros.

Para encher os bolsos de grana nada melhor e mais fácil do que encontrar as caneta$ certa$.....

Bacco

 

 

 

 

 

 

2 comentários:

  1. quando vi que seria um texto sobre a Arneis, pensei "ih, será que o Bacco mudou de ideia, como aconteceu com o Gavi?". parece que nada mudou...

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  2. Estimado peste, tudo em paz? Olha so o que pintou na area...
    https://www.angelonegro.it/wp-content/uploads/2020/06/Unfiltered-vino-bianco_Angelo-Negro.pdf

    O que me deixou mais curioso he que o produtor diz para chacoalhar a garrafa antes de servir. Kct... na sala de aula o povo ficou babando pela novidade. Estou tomando alguns vinhos laranjas por aqui...se der vontade escrevo mais tarde.

    Auguri. Abrazo.

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