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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

BRASILEIROS X RUSSOS



Há alguns anos observo e acompanho o comportamento gastador, ostensivo e irracional dos diferentes eno-turistas que frequentam bares, enotecas e restaurantes na Itália.

Os brasileiros, desde sempre, ocupam as primeiras posições, no quesito “se é caro é bom”, ao lado dos americanos, japoneses, russos, chineses.

Na disputa acirradas, pelos primeiros lugares na “Corrida dos Enoloides”, já não encontro, com a mesma frequência, americanos japoneses e chineses, abrindo garrafas de 4 ou 5 digitos.

Os cowboys e os orientais já entenderam que há muita mais malandragem do que qualidade nas exageradamente caras garrafas badaladas e deixaram para suas mulheres a tarefa de gastar os tubos com sapatos e bolsas de griffe, nem sempre de bom gosto, mas de bom gasto.

 Os brasileiros?

Os brasileiros perderam para os russos o 1º lugar de enófilos mais despreparados e gastadores do planeta, mas continuam, impávidos, disputando um lugar de destaque no pódio.

É fácil reconhecer russos e brasileiros nos bares e restaurantes: Os russos são gigantescos, bebem, se não tiver nada melhor, até água sanitária, e sempre acompanhados por mulheres bonitas.

Os brasileiros fazem questão de perpetuar o estereótipo que os obriga a serem, alegres, otimistas, risonhos (os italianos acham que somos o povo mais alegre do mundo.....Não conhecem o interior do Maranhão)


 Nossos patrícios, muitas vezes, extrapolam e acabam sendo apenas inoportunos, chatos e barulhentos: Juntou meia dúzia de “brazucas” é, quase sempre, zona total.

Ser brasileiro é preciso!

No dia 6 de outubro visitei Alba por ocasião da “89ª Fiera del Tatufo”.

Costumo realizar meus passeios e caça às trufas sempre na primeira semana do evento para evitar a impressionante aglomeração de turistas que literalmente toma de assalto Alba e território adjacente.


Hotéis, restaurantes e bares elevam os preços, o atendimento piora muito e encontrar uma mesa, para almoçar no domingo, é tarefa para o Tom Cruise em “Missão Impossível”.

A amizade, que ainda me une ao Maurilio, facilitou uma mesa no “La Ciau del Tornavento”.

Casa cheia, turistas de todos os cantos do globo.

 Maurilio sorridente, faturando e flutuando, de mesa em mesa..... Típico almoço no “La Ciau” nos dias da feira do tartufo.


Duas grandes mesas redondas e vazias, a poucos metros da minha, esperavam os clientes.

Já estava terminado o aperitivo, um belo espumante “Alta Langa” Ettore Germano, que recomendo, quando a primeira mesa foi invadida por 4 casais de russos.

De cara, 2 garrafas de Don Perignon que em menos de 5 minutos estavam mais secas do que o Atacama.

Em seguida os garçons deram início ao festival de “Tartufo Bianco”, que os russos, religiosamente, adicionam até ao sorvete.

 Para acompanhar os pratos, um tsunami de garrafas de Barolo Gaja invadiu a mesa.

Não pude contar quantas garrafas foram abertas, mas seguramente mais de 4.


Quando já pensava em deixar o convívio dos “Balalaikas”, seis brasileiros entraram triunfantes, risonhos e barulhentos no “La Ciau”.

 Rindo alto e gesticulando muito, era fácil perceber que algumas generosas libações já haviam molhado as poderosas gargantas.

 A mesa redonda, ao lado dos russos, esperava nossos patrícios que, sem muita cerimônia, se esparramaram por ela 

Enquanto os “Molotov” já haviam alcançado uma conta de 4 zeros, ralando trufas e mais trufas e abrindo Gaja e mais Gaja, os brasileiros consultavam a enorme carta de vinhos.

 Algumas dúvidas, uma rápida votação e a decisão.

 Chamaram Luca, o competente e paciente sommelier da casa, estufaram o peito e orgulhosamente ordenaram um...... Tignanello.

Os russos são ridículos, em sua ostentação, mas pedir em Treiso, no “La Ciau del Tornavento”, um Tignanello é o fim da picada.

Treiso é uma das quatro cidades que fazem parte da DOCG “Barbaresco”

As outras três são: Barbaresco e Neive e alguns poucos hectares em Alba.

Sentados em uma mesa do estrelado “La Ciau”, cercados por vinhas de uva Nebbiolo que doam um dos melhores vinhos do planeta, os 6 palermas pedem um toscano Tignanello.

Não esperei a conta e fui diretamente liquidar minha fatura na escrivaninha do Maurilio.

Enquanto dirigia meu carro, tentando alcançar   a vinícola de Giovanni Manzone e comprar algumas garrafas, fiquei imaginando a cara da sommelier, do estrelado “Le Montrachet”, em Puligny-Montrachet, caso 6 palermas brasileiros lhe ordenassem uma garrafa de Sancerre.

Eu os mandaria à merda!

Bacco.

2 comentários:

  1. Ótimo texto, Bacco!
    Quando estou em viagem e chegam nossos compatriotas, fico bem quietinho para não passar vergonha. Como você disse, o pessoal adora um barulho e confunde alegria com inconveniência. E pedir Tignanello no Piemonte é de matar, né? Não sei como não ficaram disputando com os russos quem bebia mais. Ia parecer aquela turminha de Jurerê Internacional, que fica disputando quem toma mais "champa" na praia, para fazer bonito para as loironas lindas de lá.
    Salu2

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  2. A palavra que tanto procurava , você escreveu: Inconveniência! Os patricios são os reis da inconveniência e acreditam que, por ordenarem garrafas caras, podem praticar as maiores merdas sem problema.....Patéticos.

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