Nunca fiz mistério que sou um “branquista” de..... taça cheia.
O clima tropical, como o do Brasil, pede brancos leves, poucos
alcoólicos, espumantes, rosés.
Quando constato, todavia, que os enófilos brasileiros
continuam impávidos, privilegiando os tintos e pasmem, tintos pesados,
encorpados e com excesso de madeira (como é possível beber Amarone com 30º, ou mais, à
sombra....) sinto um grande desânimo: Os Brasileiros bebem pouco,
caro e mal.
Sempre achei e continuo achando, que os Vinhos Verdes portugueses,
espumantes e brancos leves, são os mais indicados para o nosso clima e deveriam
frequentar, com muito mais frequência, nossas taças, mas os brasileiros
continuam bebendo Barolo, Brunello, Amarone etc. até à beira da piscina.
Nunca escondi, também, que se fosse obrigado a declarar meus
vinhos preferidos, mais da 70% seriam brancos.
Viña Tondonia, Montrachet, Criots-Bâtard-Montrachet, Corton
Charlemagne, Etna Bianco, Timorasso, Verdicchio di Matelica e di Jesi, Riesling
alsacianos, estão nas primeiras posições.
Há mais uma grande
garrafa que não pode ser esquecida e que reputo uma das melhores: Château Musar Branco.
O Château Musar, incrível perola da viticultura libanesa,
ocupa, sem sombra de dúvidas, um dos primeiros lugares no meu pódio.
Para dar uma ideia de minha fixação, pelo Château Musar, quando visito Alba, um dos meus endereços
obrigatórios da cidade é o restaurante “Eno Club”.
O motivo?
Além da boa cozinha, do ambiente agradável e refinado, o Château Musar está presente na carta de vinhos.
Em Alba, pátria de alguns dos melhores tintos do planeta, nos
meus almoços ou jantares no “Eno Club”, nunca dispenso algumas taças do grande
vinho libanês.
O Château Musar é produzido com uvas
Obaideh e Merwah, de vinhas cultivadas no vale do Bekaa acima dos 1.000 metros.
O vinho fermenta em barrique, onde permanece por 9 meses e
depois afina, por mais quatro anos, na garrafa.
Vinho de complexidade ímpar, harmônico, elegante, grande
estrutura, com um final longo e envolvente.
Fantástico!
Um dos melhores vinhos que conheço e um daqueles que parecem
não sentir o peso dos anos.
JÁ não mais....
Semana passada, um amigo, que conhece bem meus gostos e
querendo me agradar, abriu uma garrafa de Château Musar 2005.
Ao levantar a taça, para olhar e cheirar o vinho, já pude ouvir
todas notas da ”Marcha Fúnebre” de Chopin.
A garrafa, comprada no já tristemente famoso “Bota Fora” da
Mistral (deveria se chamar: Bota dentro.... nos clientes), apresentava insofismáveis
sinais de oxidação.
Meu amigo soltou uma série de impropérios contra a Mistral,
mas tive que frear sua indignação.
Argumentei que, assim como muitos outros, o Château Musar já não envelhece tão bem e algumas vezes tive que devolver
garrafas de 10-12-15 anos.
No “Eno Club”, onde o Château Musar custa, nada irrelevantes,
80 Euros, o proprietário e grande sommelier, sem torcer o nariz, já me abriu e
trocou uma meia dúzia de garrafas.
É provável que o grande vinho libanês seja mais uma “vitima”
das mudanças climáticas, mas uma dúvida continua rondando minha cabeça: A culpa é somente o clima? Não teriam mudado a vinificação?
Não tenho nenhum desejo de “desvendar” o mistério gastando os
meus, cada vez mais raros, Reais e já me basta a convicção de que 10-12 anos são
mais que suficientes para um vinho evoluir, atingir seu apogeu e ser apreciado
com segurança.
Se você é um dos eno-tontos que gosta de vinhos “naturais”,
adora mau cheiro, oxidação, cores carregadas e outros defeitos, pode continuar
bebendo garrafas do “quanto mais velho
melhor”
Eu lhe desejo boa sorte e.....não esqueça o papel higiênico.
Bacco
serie de artigos viajante da melhor qualidade. eu nao acho que os vinhos longevos vao desaparecer, mas serao mais e mais raros (ja sao minoria minuscula no mercado mesmo...). tenho esperancas que as pesquisas com genetica e novos tratos culturais possam criar novos clones capazes de produzir todos os componentes responsaveis pela lenta evolucao na garraca pos fermentacao. auguri, peste-mor.
ResponderExcluirVinhos libaneses são, realmente, uma boa alternativa. Chateau Ksara, também, possui boas opções de brancos. Veja mais sobre a história dos vinhos libaneses no post de 29 de maio da página do facebook: enogastro71. Sante com bons brancos!!!
ResponderExcluirA tendência mundial, não apenas em questão de vinhos, é o imediatismo. Assim, devemos ter cada vez menos vinhos longevos. Aliás, para que? A maioria que escreve aqui nesse blog está mais para lá que para cá. Tem que beber o que estiver disponível e pronto. Desde que seja coisa boa.
ResponderExcluirCompre vinho evoluido ja pronto. Esta cheio de 2005 no mercado prontinho. Ninguem precisa comprar 2018 e esperar 10 anos. Risos.
ExcluirVocê vende túmulos?
ResponderExcluirSim! Decorados e com fotos dos melhores sommelieres do Brasil. O mais caro tem uma pequena estátua do maior deles subindo em uma cruz. Pode pagar em espécie, com alguns vinhos de sua adega. Mas sem branco zoado, hein? Tem que ser aqueles da Borgonha bonitões que estão lá.
ExcluirTroque seu informante.....Os Borgonha bonitões evaporaram misteriosamente. Aproveito e reservo o túmulo com o escalador de cruzeiros . Vinhos disponíveis: Intrépido Aberração, Fúlvia Fuleira, Miolo Secreção.
ResponderExcluirBebeu os Borgonha com o escalador??? Aliás, sua reserva já foi feita. Tem um outro também com foto de outros famosos. Pode escolher. Quanto aos vinhos disponíveis, não vou te privar deles. :)
ExcluirO Miolo Secreção rosé foi considerado, pelo Marcelinho-pão-grana-vinho, o melhor do mundo e você o despreza?
ResponderExcluirAh, mas você não havia me dito que era esse. Quero um, pois esgotou no mercado.
Excluir"Esgotou", significa que foi para o esgoto?
ResponderExcluirJá gostei de vinho velho e também tinha a ideia equivocada de que quanto mais velho, melhor. Agora, não corro mais o risco. Sds,