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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

VINHOS DE COCALZINHO II


Carta para o finado Gurgel

Caro Gurgel, se você ainda estivesse vivo teria arrependimentos, mil, por não ter descoberto, no estado de Goiás, o novo "Eldorado" vinícola do mundo ocidental.

 Com um pouco mais de visão e muita esperteza, teria mandado às favas sua fábrica de automóveis, de Rio Claro, pego seu Xavante e, com um investimento mínimo, iniciaria o plantio de videiras Barbera, Syrah, Tempranillo e Sangiovese, em Cocalzinho.

Você, Gurgel, morreu sem indústria, sem Xavante e devendo 250 milhões.

 
 Um médico goiano, mais precisamente de Piracanjuba, terra de leite, queijo e manteiga, cujas qualidades na profissão não são conhecidas ou reconhecidas, largou gargantas, ouvidos e laticínios, investiu alguma grana, na também goiana Cocalzinho, e....... Em poucos anos, atingiu a fama.

 Hoje, nosso Gaja goiano, já é a mais nova e badalada estrela do picadeiro vinícola nacional e sua meteórica ascensão, no mundo dos vinhos, supera, até, a do Dani-dos-mil-nomes-Eller.
 

O Dani-Narciso-Eller precisou de dez anos, ou mais, para despontar como "enfant terrible" das vinhas nacionais.

Nosso Gaja goiano, em apenas seis anos, já conseguiu colocar Cocalzinho no cenário vinícola mundial.
 

As surpresas vão além: As primeiras garrafas de seus "Bandeiras" e "Intrépido" custavam R$ 65 e R$ 70 respectivamente.

Hoje, as famosas etiquetas, somente podem ser adquiridas, pelos afortunados (imbecis?) apreciadores, por R$ 150 e R$170

É sempre bom lembrar que um ótimo Barbera, custa, nas lojas da Itália, 4/10 Euros (R$ 14,40/R$ 36).
 

A pergunta que não quer calar: O que faz um Barbera, nascido em Cocalzinho, custar 7 vezes mais do que um produzido em Alba ou Asti?

As terras em Alba e região custam infinitamente mais do que as de Cocalzinho

A implantação das vinhas no Piemonte é muito mais dispendiosa do que em Goiás

É impossível comparar a qualidade de qualquer Barbera D'Alba ou D'Asti com a do "Bandeiras" do otorrino goiano.

Apesar de todos os argumentos elencados, caro Gurgel, o vinho goiano é mais caro do que os melhores Barbera do planeta.

Gurgel, já imaginou se você tivesse conseguido, em 1970, vender seus carros por um preço cinco vezes maior daquele cobrado por um Mercedes?
 

Não teria conseguido, nem em sonho, até porque seus carros pareciam com aquele usado pelos Flintstones.

Mas o "Bandeiras" , assim como seus carros, "fa cagare", mas é um sucesso, sucesso alimentado e inflado por revistas, blogueiros, sommeliers etc.

 Para terminar, gostaria de revelar mais um dado para confirmar que há um enorme exército de enófilos brasileiros com claros sintomas de eno-oligofrénia: O "Bricco dell'Uccellone", o mítico e mundialmente apreciado Barbera, de Giacomo Bologna (Braida), um dos mais caros da Itália, custa 35/40 Euros (R$ 125/145).
 

O "Bricco dell'Uccellone", apesar da fama, qualidade, história, etc., frequenta raramente as taças italianas: Pouquíssimos italianos são suficientemente eno-idiotas ao ponto de gastarem 40 Euros por um Barbera quando sabem que, pelo mesmo preço, podem beber um grande Barolo ou Barbaresco.

Caro Gurgel, você não deu a mínima para o potencial vinícola das terras encantadas de Cocalzinho e não percebeu, também, quão enorme é o número de eno-imbecis sempre prontos a pagar os tubos para exibir, em suas adegas, uma garrafa de Barbera "che fa cagare" goiana.
 

Gurgel, sua pouca visão e desconhecimento do mundo dos vinhos nacionais não permitiram que você percebesse que cada real gasto, nas terras de Cocalzinho, retornaria para seus bolsos multiplicado 10-20-100-200 vezes.

Gurgel, por sua ignorância você pagou um alto preço: morreu sem indústria, sem um puto no bolso e com 250 milhões de dividas.

Enquanto isso, nosso Gaja goiano e seus vinhos, as piadas que faltavam no cômico mundo vinícola nacional, fazem história e faturam alto 
 
Caro Gurgel, descanse em paz..... se puder.

Dionísio

 

3 comentários:

  1. As terras de Cocalzinho, em breve, serão tomadas de assalto pelos produtores europeus

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  2. Uma dúvida? Vocês chegaram a "degustar" essa maravilha? Eu nunca tive coragem nem interesse, mas adoraria ver uma degustação honesta desse vinho. Façam esse sacrifício, pelo bem dos leitores! Melhor ainda, em degustação cega com vinhos da Miolo e do Galvão...

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  3. Seria um desonesto se criticasse um vinho sem nunca o haver provado. Bebi um gole do Bandeiras: Uma bosta!
    Deixo o privilegio da degustação às cegas , surdas e mudas ,dos quase-vinhos da Miolo Galvão, para os que gostam de emoções fortes e inesquecíveis.

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