Refeito e descansado
abri a janela....Dia esplendoroso.
Uma rápida taça de café com leite, um suco, uma fruta e já
estava pronto para “caçar” meu “Dent de Chien”.
Algumas centenas de metros, apenas, separam o B&B de Maria
Adão dos Grands Crus.
Decidi esquecer o carro
e percorrer, caminhando, as estradas que atravessam os míticos vinhedos,
conhecer o “Dent
de Chien” e almoçar em Chassagne-Montrachet.
Saindo do B&B em menos
de 200 metros alcancei uma pequena praça.
Bem no meio da pracinha uma placa com desenhos de todos os
Premiers e Grands Crus de Puligny Montrachet, é a primeira etapa que merece uma
parada demorada.
Quem não domina bem a região deve obrigatoriamente parar no
local, consultar demoradamente os mapas para se familiarizar com o território
(algumas fotos serão uteis....).
Continuei meu passeio passando pelos premiers crus Les Perrières,
Clavaillon, Clos de La Garenne, Au Chaniot, Les Pucelles, Le Cailleret
e, diminuindo o ritmo das passadas, quase triunfante e finalmente, caminhar entre
os Grands Crus “Montrachet”
e “Bâtard-Montrachet”.
São apenas algumas centenas de metros de percurso, mas despertam
emoção e respeito.....
A divisa que separa Puligny de Chassagne não interrompe as
denominações “Montrachet” e
“Bâtard-Montrachet”.
A estrada continua percorrendo
os dois vinhedos até encontrar, pelo lado esquerdo, o soberbo Grand Cru “Criots-Bâtard-Montrachet”
e à direita o ótimo premier cru “Blanchot
Dessus”.
A estradinha que sobe pela colina margeando o “Blanchot
Dessus” deságua exatamente nos quase 7.000 m² de vinhas do “Dent
de Chien”.
Com todas as paradas para apreciar o panorama, bater fotos e descansar,
em menos de uma hora, finalmente, entrei no minúsculo “Dent
de Chien”.
Quando resolvo procurar denominações e garrafas raras devo confessar
que, com frequência, a busca se transforma quase em obsessão.
Foi assim com o “Gamba di Pernice”, “Loazzolo”, ”Carica L’Asino”,
“Timorasso”, Picolit etc. e não iria ser diferente com o “Dent de Chien” e “Montrachet”.
Sim caríssimos, o “Montrachet”.
Quem acredita ser fácil encontrar o “Montrachet”,
sem estuprar o cartão de crédito, está redondamente enganado.
Quando Remy Pillot, após o intervento de Massimo Martinelli, me
vendeu duas garrafas de Montrachet, por um preço razoável, lhe fiz uma pergunta:
“Senhor Pillot o Dent de Chien é um dos poucos premiers crus que confinam com o
Montrachet daí a qualidade de seus vinhos?”.
“O terreno do Dent de Chien é cheio de pedras que afloram e se
parecem com dentes de cachorro. Daí a origem do nome. A composição de solo
exige muitíssimo das vinhas que são obrigadas a buscar alimento lutando contra um
verdadeiro mar de pedras. A qualidade do vinho do Dent de Chien depende muito,
como em nenhum outro lugar, das condições climáticas. Muita ou pouca chuva,
muito calor ou muito frio na hora errada, são fatores que influem negativa e
decididamente no Dent de Chien. Quando, porém, as condições são normais, favoráveis,
os vinhos são soberbos, excelentes”.
Parado e olhando para o Dent de Chien
me lembrei das palavras do viticultor e tive que concordar: A vida das vinhas, naquele
morro, não é nada fácil.
Faltava, agora e apenas, encontrar algumas garrafas do raro
vinho.
Os produtores que vinificam as uvas, daqueles menos de 7.000
metros quadrados, são seis: Conffinet-Duvernay, Olivier Leflaive, Chateau de La
Maltroye, Thomas Morey, Morey Conffinet, Philippe Colin (pode haver outros,
mas, por causa da produção tão diminuta, nem se declaram produtores).
Deduzi, então, que nenhum deles poderia produzir mais do que
1.000 garrafas por ano e seria difícil encontrar quem tivesse algumas unidades
ainda no estoque.
Retomei a caminhada e em menos de meia hora já estava consultando
o espesso catálogo da “Caveau de Chassagne Montrachet”.
Centenas de vinhos, dezenas de safras, inúmeros produtores,
mas do “Dent de Chien”, nem sombra.
O solicito vendedor, que me conhece (já me vendeu várias
garrafas), ofereceu ajuda: “Algum vinho em especial?”.
“Dent de Chien”, respondi.
“O senhor não quer vinhos especiais... Quer vinhos raros”.
O vendedor continuou: “O Dent de Chien tem apreciadores fieis
e quando chega ao mercado se esgota rapidamente. Mas talvez hoje seja seu dia
de sorte. O Thomas Morey me ligou dizendo que um cliente habitual não apareceu
para retirar as seis garrafas que havia reservado e que mais tarde passaria
aqui para deixá-las. Até agora Thomas não apareceu. É provável, então, que
ainda estejam na vinícola”.
Pedi o endereço e sem demora me dirigi para a “Domaine Thomas
Morey”.
Demorei exatos três minutos para percorrer os poucos metros
que separam a adega da vinícola e ingressar na sala de degustação do casal
Sylvie e Thomas Morey.
Atenciosos, os jovens que começaram a carreira solo em 2006
(Thomas pertence a uma família de viticultores locais que operam na cidade
desde o século XVII), ficaram surpresos quando revelei o desejo de comprar
algumas garrafas de seu “Les Dents de Chien”.
Após a costumeira negociação e provar alguns vinhos da casa,
comprei 4 garrafas de "Les Dents de Chien”
2011 (Thomas não quis vender as 6 do estoque nem sob tortura....) e outras 6
de “Chassagne-Montrachet Les Embrazèes”, também, 2011.
No final da tarde voltei com o carro e retirei a preciosa
mercadoria não sem antes reservar mais 4 garrafas de “Les Dents
de Chien” para novembro.
Novembro é o mês em que o vinho de 2012 começará a ser
comercializado.
Aliás, em novembro já tenho reservadas 4 garrafas do incrível “Bâtard-Montrachet” e 4 de estupendo “Blanchot-Dessus”
de outro grande viticultor: Jean Claude Bachelet.
2011 não foi uma vindima excepcional para o “Dent de Chien”; boa,
mas não excepcional.
Mesmo assim o vinho não decepciona.
Quando se abre a garrafa a madeira ainda está muito presente, mas
em poucos minutos uma explosão de aromas prevalece e se sobrepõe.
Quanto mais complexo, o vinho, mais difícil descrevê-lo.
Os aromas mudam constantemente, novos aparecem, os anteriores retornam,
agora aparece um leve toque fumê..... Difícil!
Perceptíveis: Pera, avelãs tostadas, brioche e manteiga.
Na boca o “Le Dents de Chien” de Thomas Morey é quente, envolve
totalmente o paladar com um final interminável onde cítricos, pão torrado e
manteiga formam uma harmonia delicada.
Grande vinho!
Preço?
Você esta sentado, tranquilo, relaxado?
Você, ao ler quanto desembolsei por um vinho excepcional e
raro, não se sinta um grande idiota por ter pago R$ 750 por um Tannat 2002 do
Bettu; você não é grande idiota... Você é apenas um idiota.
valeu a espera. adoro essas histórias, Bacco, e você as conta como ninguém.
ResponderExcluire 50 euro por um vinho desses é fantástico...