O TÚNEL

 

 

 Para você, que gosta de caminhar ou correr e que acredita ter praticados estas modalidades em todos os lugares possíveis e imagináveis, aqui vai uma pergunta: Já praticou seus esportes favoritos por antigos túneis ferroviários?

 

Não? Chegou a hora, então, de conhecer e percorrer as galerias de uma antiga ferrovia construída no século XIX.

 

Essa velha estrada de ferro serpenteava por toda a costa da Ligúria e, com seus incontáveis túneis, atravessava as montanhas graníticas numa sequência impressionante.

 

A via férrea, que foi planejada e executada para as necessidades e trens daquela época, acompanhava a costa lígure para fugir das insuperáveis montanhas apenínicas, do interior da região, que exigiriam um trabalho muito mais complexo e custoso.  

 

 

Após

quase um século de uso , em 1970, a antiga ferrovia foi substituída por uma mais moderna, mais larga e mais distante do mar.

A velha e abandonada ferrovia, inaugurada em 1874, é uma obra gigantesca, colossal e admirável, especialmente quando lembramos os poucos recursos técnicos disponíveis n

o século XIX. 

 

Os túneis, escavados manualmente, com o auxílio de explosivos, mesmo após quase 150 anos, permanecem perfeitamente intactos e muito bem conservados.

 

Os trilhos foram retirados e substituídos por asfalto, a iluminação modernizada, faixas brancas foram pintadas, alguns trechos recuperados e, desde março de 2012, os antigos túneis são atração turística além de fazer a alegria de centenas de pedestres e ciclistas que, faça sol ou chuva, os utilizam com total segurança e tranquilidade.

 

Numa bela manhã de sábado embarquei num trem na estação de Chiavari (há um a cada 40 minutos), desci em Framura e resolvi me aventurar no primeiro trecho de três quilômetros que começa justamente em Framura e termina em Bonassola.

 

O pequeno e encantador porto de Framura, bem no começo do percurso, já deixa claro que o passeio não será somente através de longos túneis e que paisagens surpreendentes esperam os pedestres e ciclistas.

 

E assim é!

 

O tuneis se sucedem quase sem interrupção, mas quando se retorna ao ar livre a paisagem é de tirar o fôlego.

 

Pequenas enseadas com prainhas intocadas, mar límpido, montanhas cobertas por vegetação mediterrânea, flores, rochedos imponente que parecem brotar da água.... Um encanto.

 

 

É impossível percorrer os três quilômetros sem parar inúmeras vezes para admirar a paisagem.

 

A última galeria, mais longo e curva (1.600 metros), em determinado ponto da caminhada não deixa perceber nem a luz da entrada e nem da saída; não há luz no fim do túnel....

 

 

A sensação não é das mais agradáveis e tive que acelerar a marcha para deixar um pequeno desconforto claustrofóbico para trás...

 

A longa e tenebrosa galeria termina exatamente na entrada da encantadora Bonassola.

 

Bonassola é uma pequena pérola da costa lígure que foi injustamente ofuscada pelo brilho das vizinhas “Cinque Terre”

 

Em Bonassola , antes de enfrentar o outro trecho da ferrovia e os tuneis que nos levam até Levanto , é preciso admirar e curtir a pequena aldeia.

 

Calma, silêncio, beleza e cores típicas da região, acompanham os turistas pelas ruelas estreitas do lugarejo... Eu cheguei a pensar que Bonassola fazia parte de um conto de fadas.

 

 Praças floridas e bem cuidadas, bares com mesas nas calçadas, bons restaurantes, paz quase angustiante...

 

Uma bela taça de Vermentino ajuda a relaxar antes do almoço em um dos restaurantes da vila.

 

Bonassola conta com menos de mil habitantes, mas tem o orgulho de abrigar quase uma dúzia de bons restaurantes.

 

A escolha é difícil. Recomendo dois : “Degli Aranci” e “Da Malvina”.

 

Em minha última passagem por Bonassola almocei no “Da Malvina”.

 

Ambiente agradável, familiar, um pouco barulhento (muitas crianças, aliás, se eu fosse dono de restaurante proibiria a entrada de crianças...), adega limitada aos brancos locais (Vermentino, Pigato, Cinque Terre) e alguns tintos de outras regiões, mas os pratos típicos da Ligúria saem da cozinha magistralmente preparados.

 

Uma dica: Antes de deixar Bonassola visite o velho bunker alemão, monumento à imbecilidade humana, que, agora inutilmente, vigia o tranquilo Mar Tirreno.

 

Bacco