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sexta-feira, 20 de maio de 2016

O GRAN CASA VALDUGA




O aeroporto de Brasília inaugurou, na ala de embarque internacional, uma sala VIP

Antes, a administração do aeroporto, já autorizara o funcionamento de uma loja "Duty Free".

Comparar a sala VIP e a loja de importados com as de outras capitais do mundo é passar vergonha.

A "Duty Free" se espalha por pouco mais de 80 m² e a sala VIP seria ridícula, até, para o aeroporto de Teresina.

Não sou de gastar com perfumes ou camisas Lacoste, em aeroportos, mas frequento, com prazer, salas VIP e conheço inúmeras.

 
A de Brasília é a pior!

Meia dúzia de garrafas de água, um suco de fruta, um pequeno balcão, com três bandejas de sanduíches e uma garrafa de espumante Valduga.

Sim, a única garrafa de vinho é, horror dos horrores, de "Gran Casa Valduga"

Se os passageiros "vip" são obrigados a beber o "Gran Casa Valduga" fiquei imaginando o que deveriam engolir os "Não Vip"
 

CONFISSÕES:

Confesso que há anos deixei de acreditar nos critico$ especialmente quando enaltecem e sublimam o vinho nacional.

 Confesso que há anos deixei de comprar vinho nacional até para cozinhar.

 Confesso que criei, depois de levar inúmeras bordoadas, preconceito contra vinhos nacionais e fujo deles como os petistas "fogem" de Curitiba.

Mas a solitária garrafa estava me olhando.....

"Dionísio, é de graça!"

O diabinho, dos amantes do álcool, me tentando.......

 
Depois de uma cuidadosa checada, para ver se ninguém estava à espreita, me aventurei e enchi uma taça com o "Gran Casa Valduga".

Levei a taça ao nariz e tentei extrair do espumante algum aroma. Imediatamente pensei que o ar condicionado, muito frio, atacara meu sistema respiratório.

"Gran Casa Valduga" = Aromas Zero!

Na boca a tragédia foi maior: O "Gran Casa Valduga" atacou, sem piedade, o paladar, vingando, assim, todos os vinhos nacionais que critiquei

Bem feito!

Nada, de nada; apenas um líquido insosso e gelado.

Nem a sombra de algum prazer, de alguma satisfação, de algo para ser lembrado...  Aliás, ha algo ser lembrado, sim: Nunca mais beber (nem de graça) "Gran Casa Valduga" e, se possível, outros Valduga.

O anúncio do embarque veio em meu socorro.

 Deixei a taça de espumante, quase intacta, e corri para a porta do avião.

Já acomodado em minha poltrona, a sorridente aeromoça percebendo, talvez, um ar de angustia em meu rosto, me ofereceu um lenitivo: "Blanc de Blancs" da Luiz Pato.
 

Enquanto o espumante português reordenava meu paladar e outros sentidos, mentalmente, perguntava: "Quem foi o marqueteiro picareta que inventou aquela campanha que anunciava o espumante brasileiro como Segundo Melhor do Mundo"?

Teria sido o mesmo que sugerira ao nosso ex (ainda bem) presidente Lula que o SUS era um sistema de saúde quase perfeito?

O avião estava decolando deixando para trás marqueteiros mentirosos, SUS quase perfeito e o segundo melhor espumante do mundo.

 

Onze horas, apenas onze horas, me separavam dos terceiros, quartos ou quintos melhores espumantes do mundo.

Alguma dica?

Cabochon Monte Rossa (Franciacorta)
 

 Hausmannhof Riserva Haderburg (Alto Adige)
 

Pas Dosé Cavalleri (Franciacorta)

Brut Rosé Costaripa

Dionísio

PS Acabo de tomar conhecimento que o nosso ex (ainda bem) presidente foi internado, para exames, no......... Sírio Libanês

terça-feira, 17 de maio de 2016

BARBERA BERSANO




Mal cicatrizadas as feridas da guerra de 1915/1918, a Itália, dos anos 1950, começava a lamber aquelas deixadas pelo conflito de 1939/1945.
 
 
 

Destruição, pobreza, fome, desemprego, desânimo, medo......

Uma nação onde tudo precisava ser reconstruído e repensado.

A Itália parecia uma nação que havia sido governada pelo PT.

Acredito que alguns dos lugares mais tristes e sombrios, do pós-guerra, foram as aldeias da grande planície do rio Po.

Nas longas noites de outono a evaporação das águas, dos arrozais que dominavam a planície, provocava neblinas tão intensas e espessas que era impossível se enxergar alguma coisa três ou quatro metros adiante.

A neblina doava à paisagem, já naturalmente triste e monótona, ar de filme de terror.
 

 As aldeias, imersas no cinza e silêncio da noite, pareciam imensos cemitérios.

Os raros locais onde a havia vida, intensa e barulhenta, eram as "PIOLE".

A "Piola" (singular de Piole) era o antigo e simples bar piemontês onde os homens, para esquecer a monotonia das aldeias, se reuniam.

 Na tarde-noite, a Piola era o endereço obrigatório.

 Depois do escurecer todos se encontravam no bar para jogar "Scopa", fumar sem trégua, comer "Bagna Cauda", salame, Gorgonzola e..... beber rios de Barbera.
 

Nas "Piole" a fumaça dos cigarros era tão densa que ninguém sentia saudade da neblina das ruas.

Os calóricos salames, Gorgonzola, "Bagna Cauda" eram motivos e desculpas (frio era outra...) para se consumir litros e litros de Barbera.

Sim, a Barbera era a rainha dos antigos bares piemonteses.

"Nino, mesa bota!" (Nino, meia garrafa.)
 

Não era necessário identificar o vinho: Todos os donos de bar sabiam que, a meia garrafa pedida, era de Barbera.

Se alguém quisesse Dolcetto, Grignolino, Freisa ou outro vinho local, deveria especificar.

A cada partida de Scopa, mais Barbera.

Barbera para comemorar a vitoria, Barbera para esquecer a derrota.

 
Assim era a vida nas aldeias e assim se bebia vinho na Itália nos anos 1950-1960 e começo dos anos 1970.

Taças de cristal? Nem pensar!

Sommelier?

O que é isso?

Parker, Gambero Rosso, Decanter, Wine Spectator, Jancis Robinson etc. só apareceram quando as "piole" desapareceram e os italianos enriqueceram.

Nos anos 50/60 os italianos eram pobres, mas bebiam em paz.

Por que essa nostalgia repentina?

A primavera parece ter medo de aparecer e na Ligúria os dias ensolarados se alternam com os chuvosos, frios, tristes, melancólicos.

 Uma segunda feira ventosa, de fria garoa e sem perspectiva de melhora, despertou o desejo de beber uma Barbera à moda antiga.
 

Nada de Barbera premiada, badalada, pontuada, consagrada (nossa... quantos "ada"), apenas uma Barbera, uma simples e honesta Barbera.

Consultei, sem entusiasmo, minha pobre adega e resolvi enfrentar cem metros de chuva para comprar uma garrafa no supermercado da esquina.

Barbera de todo preço.

Barbera D'Alba, Barbera D'Asti, Barbera del Monferrato, Barbera Oltrepò Pavese.....

Escolhi duas garrafas, de "Barbera D'Asti 2013" da vinícola Bersano e corri de volta tentando escapar da chuva.
 

Em casa peguei uma das garrafas, abri e despejei um dedo de vinho na taça.

Que bela Barbera!

Que bela escolha e que bom preço (6,90 Euros cada).

A Barbera D'Asti,da Bersano me lembrou, imediatamente, aquelas antigas Barbera dos anos 50/60.

 Aquela Barbera deveria ser bebida à antiga!

Esqueci a taça de crista, despejei uma generosa quantidade de vinho em um copo de vidro espesso, cortei algumas fatias de salame, algumas de pão e...... foi a festa.
 

A Barbera de cor rubi brilhante, jovem, fresca, com seus perfumes característicos..... Uma festa para o paladar de quem aprecia um bom vinho.

 A Barbera D'Asti 2013 da Bersano, algumas fatias de salame, uma boa música, foram suficientes para espantar frio, chuva e melancolia.

Barbera D'Asti 2013 da Bersano, um pequeno-grande vinho

Bacco

PS. A matéria inaugura uma série intitulada: "Histórias de vinho que os Sommeliers não Conhecem"

segunda-feira, 16 de maio de 2016

MARINDA, O TOMATE




Nas frescas manhãs primaveris adoro passear pelas quotidianas feiras, das aldeias italianas e serpentear por entre os bancos de frutas e verduras.

Todos os dias há, pelo menos, uma feira tomando conta da praça principal das cidades italianas.
 

Verduras frescas, incontáveis variedades de legumes, frutas de todos os cantos do planeta, queijos, presuntos, salames, peixes, conservas ......Uma verdadeira festa para os olhos, nariz e paladar.

Difícil resistir!
 

Como escapar daqueles belos aspargos, das cerejas que apesar de caras começam a aparecer, dos damascos que já invadem todas as bancas, das berinjelas, alcachofras, cenouras, pimentões, salsões e, finalmente, como fugir da verdadeira tentação provocada por aqueles tomates que, com seu vermelho vivo, alegram a vista.

Não quero exagerar, mas nunca há menos de uma dúzia de variedades de tomates expostas nas bancas dos mercados.
 

O tomate foi trazido, do México para a Europa, pelos conquistadores espanhóis, no século XVI

Dizem que há 1.700 variedades espalhadas pelo mundo sendo que, somente na Itália, há catalogadas 300 e comercializadas 60 delas.
 

"Coração de Boi", "San Marzano", "Cereja", "Camone", "De Belmonte" (chega a pesar mais de1 kg), "Sardo", "Lucinda", "Fiorentino", "Marinda"......
 

"MARINDA"!

O "Marinda" é o tomate mais espetacular que já provei.
 

O "Marinda", de origem francesa, foi introduzido na Itália, mais precisamente em Pachino, na Sicilia, nos anos 1990.

 Esta variedade encontrou, no território de Pachino, seu perfeito habitat e com o passar dos anos, o "Marinda", se transformou em um tomate "cult".

O "Marinda" é achatado, redondo, nunca possui menos de 10 "gomos", na parte superior é esverdeado e pesa 100/150 gramas.

O sabor inconfundível, adocicado e salgado ao mesmo tempo, sua pele resistente, sua consistência crocante e compacta e sua incrível durabilidade o tornam único.
 

O "Marinda", todavia, apresenta alguns problemas: 1º) O preço.

O "Marinda" nunca custa menos de 4 Euros (16R$) o quilo.

(2º) O "Marinda" é um tomate invernal (europeu) colhido e comercializado somente de janeiro a maio.

(3º) Depois de provar o "Marinda" você olhará para outros tomates com total desprezo.

Em sua próxima viagem procure uma feira e se encontrar o "Marinda" não o deixe escapar.

Bacco

 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

PINOCCHIO




 


 
 
 
 
 
 
O Alto Piemonte vive momentos de visível abandono.

Quem não conhece o alto Piemonte, poderá, através do mapa anexo, tirar suas duvidas.
 
 

As aldeias, que emprestam seus nomes aos grandes vinhos regionais, parecem mais cemitérios do que cidades do vinho.

Em Boca, Cavallirio, Lessona, Fara, Sizzano etc. não há uma enoteca, sequer,  onde se possa beber uma taça dos ótimos vinhos locais.

Uma tristeza.....

 
 
 
 
 
 
 
Em compensação a região é "rica" de estrelas Michelin.

Em Soriso, Orta San Giulio, Ranco, Invorio, há seis estrelados de boa qualidade.

Em Borgomanero, "Pinocchio", o mais antigo "Michelin" da região perdeu, merecidamente e depois de 36 anos consecutivos, a prestigiosa estrela francesa.

Chateado por não encontrar um mísero local para beber um bom copo de vinho, resolvi acalmar a sede e apetite no meu restaurante preferido da região: "Ori Pari" em Boca.

Cheio de entusiasmo e alegria já pensava nos pratos originais do cardápio e qual vinho o experiente Francesco sugeriria.

Francesco, proprietário do "Ori Pari", em outras ocasiões me surpreendera com ótimas garrafas das vinícolas Monsecco, Ioppa, Le Piane.
 
 

Minha alegria durou até alcançar Boca e constatar que o único endereço, que ainda colocava a aldeia em meu "GPS", havia fechado as portas: O "Ori Pari" já não existe.

Quem permanece com as portas escancaradas, em Boca, é o descomunal santuário, mas igrejas não são minhas metas prediletas na hora do almoço....
 

Chateado, faminto e "sedento" percebi que se continuasse nas cercanias morreria de fome, sede, tristeza e solidão.

Sem mais delongas rumei rapidamente para Borgomanero e resolvido, decidi revisitar o tradicional "Pinocchio".

Deveria ter procurado uma pizzeria.......

O "Pinocchio" é um perfeito retrado da decadência.

O antigo esplendor do ambiente já não brilha, perdeu o charme e cheira a mofo.

 No exato momento que ingressei na sala me identifiquei com Joe Gills (William Holden) quando, já morto,  descrevia a casa de Norma Desmond (Gloria Swanson) em "Crepúscul o  dos Deuses".
 

Entrada mais parecida como a de um mausoléu, piso precisando de um trato, decoração antiga e cansada, taças de vidro espesso compradas em lojas de 1,99, toalhas tentando esconder  feridas de centenas lutas travadas na lavanderia, cardápio imutável, previsível e sem imaginação......Perfeito crepúsculo de um ex estrelado Michelin.

As únicas lembranças que restaram da estrela Michelin e do antigo brilho, são os preços.

Antepasto de salmão, defumado pelo chef (será?), que pode ser encontrado em centenas de restaurantes e custando a metade, as piores costeletas de carneiro dos últimos tempos e duas taças de um tinto, que nada devia aos nossos gaúchos, me aliviaram em 70 Euros.
 

Paguei e corri para a porta que nunca mais me verá nas cercanias.

Restaurante "Pinocchio" em Borgomanero: Fuja sem olhar pra trás!!!!

Bacco