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quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

AS ESPECIALISTAS

 


Pode parecer exagero, mas se já era difícil escrever seriamente sobre vinho, no Brasil, hoje é tarefa quase impossível.

Uma miríade de “wine connoisseurs” aporta, todos os dias, nas páginas das revistas, jornais, redes sociais, You Tube, Tick Tock e sei lá mais o que aparecerá na próxima semana.


Surgem do nada, sem nada saber, mal distinguem um tinto de um rosé, mas são endeusados e venerados, como verdadeiros oráculos do vinho, por um exército de seguidores abobados-deslumbrados ..... A vitória total e retumbante da mediocridade.


 Sempre há um parvo-picareta elogiando um picareta-parvo:  Caminha, assim, trôpega, cínica e venal, a crítica vinícola do Brasil.

Todas as manhãs, ligo o computador, percorro rapidamente as notícias, mais importantes, consulto alguns blogs europeus especializados em vinhos, leio os e-mails e no final, quase automática e masoquistamente, visito o site do bolorento: “Correio Brasiliense”.

O “automaticamente” fica por conta de um passado em que o “Correio” reinava, absoluto, na capital e sua leitura era quase obrigatória.

 O “masoquistamente” nasce de minha incompreensível insistência em acompanhar a inexorável decadência do periódico e suportar o forte cheiro de naftalina que exala das matérias escritas por alguns de seus mais antigos e ultrapassados colaboradores.

Uma das mais “naftalínicas” colaboradora, do “CB”, é a vetusta Liana Sabo.


Liana Sabo, com sua “Olivetti Lettera 22”, continua escrevendo, há mais de 55 anos, a coluna: “Favas Contadas”.

As “favas”, da Liana, já são mal contadas há décadas, mas nenhum diretor tem coragem de aposentá-las definitivamente.

Liana, não entende absolutamente nada de vinhos e nem de   gastronomia, mas continua, sua quixotesca caminhada, escrevendo patéticas e risíveis matérias (paga$?)

Leiam:https://blogs.correiobraziliense.com.br/lianasabo/vinhos-importados-chegam-a-brasilia-em-degustacoes-badaladas/

A Cristina Neves, “especialista em vinhos”, a mais nova descoberta da Sabo, promove, sem demostrar um leve rubor ou uma sombra de constrangimento, caríssimas garrafas das vinícolas Garzon e Concha Y Toro


As degustações, promovidas pela especial$ta em vinho$, “Cristina Garzon de La Concha Y Toro Neves”, são notórias e se caracterizam por induzir os eno-tontos a gastar os tubos em vinhos de preços superlativos e qualidade questionável.

Faturar é preciso, mas informar, honestamente, jamais.


Nossa Liana “naftalínica”, com seus (des)conhecimentos vinícolas, poderia descrever os vinhos lembrando o “Samba do Crioulo Doido”: “taninos furtados”, “sabor-mídia-azeda”, “furtas vermelhas”.

Vinhos para simples e comuns mortais?

Nem pensar!

Aa garrafas apresentadas, pela nossa “e$peciali$ta em Vinho$”, custam os olhos da cara...Todas bem acima de R$ 1.000

  Nossa veneranda-vetusta Liana Naftalina Sabo faz um dueto com “Cristina Garzon Concha Y Toro Neves” nos elogios aos vinhos chilenos e argentinos, como se obras primas fossem.


 Não são obras primas, nem primarias.... São apenas garrafas dispendiosas-dispensáveis.

Ao ler a matéria, rigorosamente paga, de nossa “naftalínica” jornalista, não pude deixar de recordar uma degustação da qual participei, em Alba, no mês de maio de 2023.


O evento me pareceu muito interessante e não hesitei em gastar 15 Euros para comprar, na internet, um ticket da manifestação.

No dia 21 de maio me apresentei, em uma das várias barraquinhas da “Go Wine”, espalhados pela cidade, apresentei o recibo do pagamento e recebi uma pequena sacola de pano contendo uma taça.


A sacola + taça era o passaporte para, a partir das 15 e até às 20 horas, frequentar e degustar os vinhos em todos os estandes espalhados pelo centro histórico de Alba.

Há centenas de manifestações similares, em todos os cantos da Itália, mas o meu interesse, naquele dia, era o de descobrir alguns vinhos piemonteses que ainda não conhecia.

O evento,I vitigni autoctoni del Piemonte”, propunha a degustação de nada menos do que 42 vinhos, muito dos quais raros e quase desconhecidos.

Impossível degustar todos, mas naquele dia tive a oportunidade de apreciar alguns que jamais bebera anteriormente.

Reproduzo, abaixo, a relação dos vinhos e dos produtores do evento do dia 21 de maio 2023.

 Albarossa – Colle Manora, La Tribuleira, Marenco
Arneis – Cascina del Pozzo, Raffaele Gili
Avanà – ‘L Garbin, Bosio Giuliano
Baratuciat – ‘L Garbin, Bosio Giuliano
Becuet – ‘L Garbin, Bosio Giuliano
Barbera – Cascina Paladin, Crota Cichin, Torchio 1953
Bian Ver – L’Autin
Bonarda – Cascina Gilli
Brachetto – Cascina Bertolotto
Bussanello – Crotin 1897
Cari – Terre dei Santi
Caricalasino – Marenco
Cortese Molinetto Carrea
Croatina – Tenuta La Pergola
Dolcetto – Ghera, Terrenostre, Luca Luigi Tosa
Erbaluce – Cieck, La Masera, L’Erm
Favorita – Cantina Oriolo, Raffaele Gili
Freisa – Cascina Gilli, Tenuta Terre dei Santi
Furmentin – Terrenostre
Gamba di Pernice – Cagnotto Marcello
Grignolino – Cantina Sociale di Castagnole Monferrato, Nazzari Simone, Tenuta La Tenaglia
Malvasia – Cantina di Casorzo
Malvasia di Schierano – Cascina Gilli, Terre dei Santi
Malvasia Moscata – Crotin 1897
Montanera – Roggero
Moretto (Lambrusca di Alessandria) – Quila
Moscato – Simone Cerruti, Marenco, Terrenostre
Nascetta – La Tribuleira
Nebbiolo – Cascina Munesteu, Cascina Paladin, Manzone Giovanni, Torraccia del Piantavigna
Nebbiolo di Dronero (Chatus) – Mauro Vini
Neretto di San Giorgio – Cieck
Nibiò – La Colombera
Pelaverga – Selezione dal Consorzio Colline Saluzzesi
Pelaverga piccolo – Associazione Verduno è uno
Quagliano – Selezione dal Cons. Colline Saluzzesi
Rossese bianco – Manzone Giovanni
Ruchè Cantina Sociale di Castagnole M.To
Slarina Cascina Val Liberata
Timorasso – Vigneti Repetto
Vespolina– Torraccia del Piantavigna,                                         Uva rara – Vigneti Valle Roncati
Uvalino – Cascina Castlet
VespolinaTorraccia del Piantavigna, Vigneti Valle Roncati



É fácil perceber que seria
impossível, mesmo para um inveterado frequentador de bocas-livres (Didu Bilu Teteia?), degustar todos os vinhos propostos naquele evento, mas o que chama mais a atenção é o preço: por 15 Euros, além da taça e da sacolinha, todas as etiquetas estavam à disposição dos enófilos.

Enquanto isso, no Planalto Central, sob o sol de um janeiro tórrido, a dupla “Naftalina-Garzonina” tenta convencer, os eno-tontos, que comprar garrafas, de vinho tinto chileno e argentino, por míseros 230 Euros é um ótimo negócio.



Resumindo: Na Itália o consumo de vinho é pouco mais de 30 litros per capita

No Brasil, da dupla Sabo & Neves, é de 2,5 litros per capita.

Dionísio

Se excluídos fossem, os quase-vinhos-tremendas-bostas, Pérgola, Mioranza, Cantina da Serra, Sangue de Boi, Dom Bosco e outros insultos à vinicultura, o consumo per capita não alcaçaria 1 litro.



sábado, 6 de janeiro de 2024

O ESTOURO

 


Finalmente e ainda bem, as festas de final de ano já são apenas lembranças.

 O último panettone, vinho, bacalhau, peru, chester, tender, farofa, pavê etc. já foram consumidos e digeridos, os quase sempre inúteis presentes já trocados nas lojas repletas de outros impacientes “trocadores”, a televisão já embalou com naftalina os manjados e piegas filmes bíblicos e natalinos, os “obrigatórios” sorrisos “monalisicos” e os olhares celestiais desapareceram das faces das pessoas .....  É o Brasil voltando à inexorável e nem sempre angelical normalidade.


As festividades são rapidamente esquecidas, mas ainda é preciso suportar o balanço, sempre otimista, de prefeitos, governadores e políticos que, invariavelmente, classificam os eventos como: “grande sucesso”.

Os fogos de Copacabana, a mais badalada festividade de final do ano, fizeram a felicidade de milhões de celulares cariocas, paulistas, mineiros, paranaenses, goianos etc. que, durante os longos 12 minutos de fogos de artifícios, eternizaram incontáveis bocas “cu de galinha”, bundas arrebitadas, peitos marmóreos, lábios carnudos, sorrisos branqueados..... todos rigorosamente “fakes”


Graças ao policiamento ostensivo (3.000 policiais kkkk), dois milhões de turistas, felizmente, não foram assaltados, roubados, estuprados, nas areias da mais famosa praia do Rio de Janeiro, mas a trégua “natalina” acabou e a bandidagem deverá voltar a operar normalmente já a partir desta semana.



Sempre tive a curiosidade, mas nunca descobri, onde milhões de pessoas, que se aglomeram no último dia do ano, na praia de Copacabana, fazem suas necessidades fisiológicas.

Se o banheiro for o mar, ao alvorecer do dia 1º de dezembro, Iemanjá, ao sair das águas, não ostentará o tradicional traje azul celeste, mas uma roupa cor “feijoada completa”.


Festas, promessas, quase nunca levadas a sério, almoços e jantares pantagruélicos, fogos de artifícios, excesso de álcool, brindes com borbulhantes garrafas de espumante etc., como em todos os anos, no dia 2 de janeiro já são o passado quase remoto: É o Brasil voltando gradativamente ao normal.

Falei em espumante?



Pois é, o espumante é o vinho que mais simboliza datas importantes e festivas, aniversários, casamentos, finais de ano etc. e nada mais alegre do que abrir a garrafa provocando o inconfundível “estouro”.

O estouro é entusiasmante, mas cuidado com a euforia e ….os olhos.


Sim, acredite se puder e quiser: 34 pessoas, na Itália, tiveram graves lesões na vista ao serem atingidas por uma rolha na hora de abrir uma garrafa de espumante.

Um estudo revelou que a pressão, de uma garrafa de espumante, pode ser até três vezes superior ao de um comum pneumático de carro (a pressão na garrafa pode alcançar 6 Bar = 87 Libras) e que a rolha sai da garrafa a uma velocidade de 80 km horários e pode percorrer uma distância de até 13 metros.

O estudo continua informando que a rolha pode atingir o olho em menos de 0,05 segundos o que inviabiliza até um simples piscar.



As consequências possíveis, de um trauma como este, podem chegar à cegueira permanente, descolamento da retina, do cristalino e outros danos importantes.

Para controlar os riscos são necessários alguns cuidados.

1º) Resfriar bem a garrafa (10º é o ideal). O resfriamento diminui a pressão e a rolha perde velocidade.

2º) Nunca agitar a garrafa.

3º) Desarrolhar a garrafa longe das pessoas e sempre em um ângulo de 45º.

4º) Se encontrar dificuldade em extrair a rolha, não se acanhe em segurá-la firmemente com um guardanapo de tecido, rodar delicadamente a garrafa até o afrouxamento da cortiça.


Mais um conselho: Evite definitivamente o “Sabrage”.

O “Sabrage” é espetáculo circense, de 5ª categoria, em que a garrafa de espumante e “degolada” com um golpe seco de sabre.

Conta a lenda que os soldados napoleônicos costumavam festejar as vitorias abrindo as garrafas de Champagne utilizando seus sabres (daí “sabrage”).



A mesma lenda revela que o mesmo acontecia antes das batalhas para doar mais coragem aos combatentes.

Hoje o “sabrage” é uma palhaçada que muitos sommeliers realizam para impressionar os enófilos principiantes e ignaros.

É uma tremenda bobagem que pode ser realizada até com uma tampa de panela ou escumadeira basta, para isso, ter o cuidado de resfriar bem a garrafa, segurá-la em inclinação de 45º e aplicar um golpe curto e seco.

Dois “sabrages” veja:

 https://www.youtube.com/watch?v=GJzfo1Y07QU&list=UUk-Tx8y5To6EFjtTpeayWeQ&index=5

https://www.youtube.com/watch?v=YWnm1Evrnus&list=UUk-Tx8y5To6EFjtTpeayWeQ&index=9

Esqueça a palhaçada e abra o espumante normalmente e ...Cin Cin

Dionísio

 

 

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

VIMBLANC - CELLER DE CAPÇANES

 


No Brasil comprar vinhos para consumo sem ser lesado demanda muita paciência e um pouco de sorte.

Para “ajudar” a sorte acesso as páginas dos principais vendedores, pelo menos uma vez por semana, para ver as novidades e as eventuais ofertas.

Em uma tarde de tédio, de um dia útil às portas do inútil Carnaval de 2020 (o da pandemia), entrei na página da Evino para verificar se haveria alguma promoção.



Não encontrei nada barato, mas o vinho “3/VB Blanc de Negres”, da vinícola catalã “Celler de Capçanes”, despertou minha atenção por três motivos.

1º: a vinícola declarava uma produção de, aproximadamente, duas mil garrafas, o que indicava se tratar de um vinho raro.

2º: Encontrei o mesmo vinho, em algumas enotecas estrangeiras por preço que rondava os 35 euros, assim, os R$ 250 da Evino pareceram razoáveis,

3º: As idiossincrasias: vinificado em branco com uva Grenache (Garnacha), proveniente de vinhas velhas e envelhecido em barrique por três anos.



Graças à vez em que provei um Viña Tondonia Reserva” 1999 na casa de Bacco, numa tarde de garrafas e pratos antológicos, fiquei fã de brancos espanhóis fora das normas habituais.

Desde então o “Tondonia Reserva” saltou de 30 para 60/70 euros (quando você consegue achá-lo), a Vega Sicilia começou a plantar uvas brancas, a moda de brancos barricados se alastrou pela Espanha e chegou até a Hungria, mas isso é assunto para outro texto.

Após quase quatro anos voltei ao Brasil para rever a familiares e amigos.



 Em uma das muitas manifestações de alegria pelo reencontro fui convidado, por um casal de amigos, para jantar

Mãos vazias? Nunca

 Procurei, na minha abandonada e poeirenta adega brasileira ,um vinho branco...  Só uma garrafa e justamente de “3/VB Blanc de Negres”.

Sem alternativa e ciente de que se tratava de um vinho incomum, liguei o modo “dane-se”, peguei a garrafa e fui para o jantar.

Lá chegando, abri a garrafa e os primeiros aromas já impressionaram: frutas secas, amêndoas, coco, baunilha.

Na taça uma cor âmbar que lembrava a de um Xerez Pedro Ximenez.



A ideia inicial previa deixar o vinho descansando na taça   pelo menos dez minutos antes de prová-lo, mas não resisti: que vinho interessante!

Complexo, estruturado e no ponto para beber (a garrafa era de 2013).

Consultando a página da vinícola “Celler de Capçanes”, constatei que o “3/VB” é chamado de Vimblanc (que imagino que seja “vinho branco” em catalão), produzido fora das regras de qualquer denominação de origem e que “3/VB” se refere ao fato ser o terceiro vinho vinificado nesse projeto experimental – já há um “4/VB” envelhecido em barriques por nada menos que OITO ANOS.



Em algumas enotecas europeias, como a Vinissimus, a Enterwine e a Kiedo, é possível encontrar o 3/VB, 4/VB e até do 2/VB, por preços que oscilam entre 35 e 40 euros.

No Brasil, nunca mais encontrei.



Tão saboroso, quanto inusitado, o “Vimblanc”, da Celler de Capçanes, é um vinho para raros e grandes momentos (não poderia ser diferente face a diminuta produção)

 Coisa de doido?

Sim!

 Mas são os loucos que movem o mundo...