Para “descobrir” o Verdicchio di Matelica é preciso deixar as
colinas dos “Castelli di Jesi”, que quase se banham no mar Adriático e escalar
os Apeninos.
Escrever para enófilos brasileiros, que recebem, daqueles que
se auto proclamam “especialistas”, informações quase sempre erradas e
incompletas, não é fácil.
É preciso aguçar a curiosidade do leitor com uma informação
nova que vá além dos Cabernet, Merlot, Syrah, Supertuscans etc.
O Verdicchio di Matelica “Mìrum” vai
aguçar a curiosidade e alegrar as taças daqueles que apreciam um grande vinho.
O Verdicchio, como já escrevi, foi vítima da inescrupulosa
ganancia que sempre e infelizmente norteia a esmagadora maioria dos industriais
do vinho.
A facilidade da venda, o lucro imediato e compensador, tapou
os olhos de muitíssimos produtores.
Alguns poucos, e somente nos anos 90, perceberam que Jesi era
um dos melhores territórios italianos com rara vocação para vinho branco.
Como se não bastasse, além da excelência encontrada nas
colinas de Jesi, o escondido, pequeno e quase
introvertido território de Matelica, foi “redescoberto”, também.
Jesi e Matelica fazem
parte da pequena lista (5/6 denominações) que revela os melhores territórios
italianos com vocação para grandes vinhos brancos.
Há diferenças: O Castelli di Jesi se apresenta, mais aromático,
mais encorpado, mais frutado, já o de Matelica revela uma acidez maior, mais selvático e com
o característico final de amêndoa amarga não tão acentuado.
A minha viagem, pelas terras que produzem o “Mìrum”, revela minha
paixão por este grande vinho.
A vinícola “Monacesca” (dos monges) nasce em 1966 por vontade de
Casimiro Cifola.
Em 1973 começa a produzir, com marca própria, o Verdicchio di Matelica.
Em 1982, Aldo, filho de Casimiro, se junta ao pai e suas novas
ideias se revelam de extrema importância para a melhoria do vinho.
Em 1988 nasce a perola
da Vinicola La Monacesca: “MÌRUS”
(maravilhoso em latim) que quase imediatamente passa a ser rebatizado “MÌRUM”.
Nas montanhas e longe da influência marina, a pequena denominação,
apenas 300 hectares e dez vezes menor que a denominação Castelli di Jesi, “Verdicchio di Matelica” encontra no “MÌRUM” sua melhor expressão.
Não sinto nenhum receio em classificar o “MÌRUM” como um dos melhores
brancos italianos e que pode, sem susto, rivalizar com os grandes franceses.
O clima continental reduz a produção de cachos, mas o vinho obtido
é recompensado com proverbial complexidade e capacidade de envelhecimento.
Quem degusta, às cegas, o “MÌRUM”
é levado a pensar (eu também pensei) que o vinho foi magistralmente vinificado
e afinado em barrique.
Ledo engano: O “MÌRUM”,
com sua “gordura”, complexidade, profundidade, equilíbrio, seus aromas
múltiplos e quase indecifráveis, é vinificado apenas em inox e repousa seis
meses em garrafa antes de ser comercializado.
Grande vinho que pode ser encontrado nas boas enotecas.
Antes de encerrar: Você está sentado, relaxado, já comprou seis
garrafas de Nº 1 da Perini por R$ 190, bebeu uma e não sabe o que fazer com as
outras cinco?
Bem, o “MÌRUM”, como estava dizendo, pode ser adquirido por 16/18
Euros.
Em sua próxima viagem, prove e comente.
Bacco.