Ninguém sabe, exatamente, quando o homem “descobriu” a vinha e
a oliveira.
Na China foram encontrados restos arqueológico indicando que
vinho já era produzido há, mais ou menos, 7.000 AC.
O azeite é mais “novo”, pois apareceu, na Palestina e regiões
vizinha, “apenas” 4.000 AC.
O percurso desses dois alimentos, então, é longo e não deveria
causar mais nenhuma surpresa, mas a história demonstra exatamente o contrário.
Deixemos as azeitonas descansando, tranquilamente, por
enquanto e vamos dirigir nossas atenções ao vinho e sua vitoriosa jornada das últimas
décadas.
Até os anos 1950, a não ser pouco mais de uma dúzias de
etiquetas provenientes da Champagne, Borgonha e Bordeaux, que já despontavam
como quase inalcançáveis estrelas para os comuns mortais, era o vinho comum,
anônimo, barato, a granel, que reinava absoluto nos copos dos bares,
restaurantes e durante as refeições das famílias espanholas, portuguesas,
francesas italianas etc.
O vinho não era moda, não doava status e não provocava incontroláveis
desejos consumistas em quer que seja.
Um bom copo de Barbera,
Dolcetto, Grignolino, Freisa etc.
durante o jogo de cartas, nos enfumaçados bares dos anos 1950/1960, era o que bastava
para satisfazer e alegrar os “enófilos” de então.
Algo começou a mudar, no mundo do vinho, quando, em 1951, os
viticultores do Beaujolais obtiveram
a permissão de vender suas garrafas de Gamay logo após a vinificação, mais
exatamente na terceira quinta-feira do mês de novembro.
Nascia, então, o
primeiro “vinho moda” e já em 1985, o Beaujolais
Nouveau era um incrível sucesso mundial.
O Beaujolais Nouveau
causava verdadeiras corridas às enotecas e provocava incontrolável
frisson nos modernos eno-tontos que, quase babando, faziam fila esperado sua
vez para levar para casa o tinto gaulês.
Hoje, como acontece
com todos os “vinho-moda”, ninguém lembra do Beaujolais Nouveau e o “fenômeno”,
dos anos 1980/2000, mofa, quase esquecido, nas prateleiras das lojas
especializadas e supermercados.
Pode ser que no
passado mais remoto existiu um vinho moda, mas o Beaujolais Nouveau foi
realmente um marco importante.
Mais vinhos moda
que “desapareceram”?
Matheus Rosé,
Lambrusco, Chianti (garrafa empalhada), Liebfraumilch garrafa azul etc.
Mas o grande
marco, o marco mais profissional, mais marcante e badalado, do mundo do vinho, se
deu com o “aparecimento” do advogado Rabert Parker.
Parker, conseguiu,
com seus pontos, impor, padronizar, ditar rumos e tendências, gostos e
desgostos nos enófilos, de todos os cantos do planeta, durante décadas.
Além de ganhar uma
tremenda grana, pontuando quem mais pagasse (até a Concha y Toro já pagou para ter 100 pontos em seu
Don Melchor....) Parker pariu um sem número de filhotes-picaretas
que transformaram o mundo do vinho em um verdadeiro circo dos horrores.
Sem que ninguém
soubesse de suas existências (se alguém mencionasse a palavra “sommelier” ou
“enólogo”, em um bar todos pensariam se tratar de um palavrão.....), surgiram as imprescindíveis
figuras do sommelier e do enólogo que, do alto de seus intocáveis pedestais,
nos “encinaram” a encontrar , em nossas plebeias e anônimas (até
então...) taças, aromas de flores brancas, flores vermelhas, tabaco, terra
molhada, pimenta, baunilha, alcaçuz, cravo, canela, limão, brioche, manteiga , pimentão
verde, etc. etc. etc.
Pobre enófilo, que nas fatídicas e ridículas
confrarias, que invadiram todos os cantos do planeta, não percebesse, no
paladar, a presença de mirtilo, framboesa, groselha, ameixa, frutos de bosque,
nozes, amêndoas, mineralidade, frescor, longo final, taninos, acidez, elegância,
estrutura etc. etc. etc.
Com o passar dos
anos e infelizmente, todos os eno-tontos parkerianos se transformaram em
experts.
Os mais incríveis exagerados
detalhamentos eram usadas para demonstrar profundos, mas falsos e inexistentes,
conhecimentos e parecia haver uma competição para saber quem conseguiria o mais
estapafúrdio e ridículo comentário ao descrever uma simples taça de vinho
Para mim o exemplo
mais ridículo da mais ridícula descrição de um vinho, é de lavra do
palhaço-sommelier Beato-Salu, aquele escalador de crucifixos medievais que
hoje, ainda bem, perambula sem rumo nas catacumbas das garrafas vazias.
.Leia: “.....gustativa e olfativamente sublime,
com aquele sabor de mel de estrebaria, ou seja, geléias e licores de
frutas em meio fumaça de charuto num fim de tarde ao lado de um estábulo”.
Nada a acrescentar......
Nesta “corrida”, na busca da sempre melhor e mais
cara etiqueta, os filhotes paridos por Parker sempre promoveram garrafas que
não valiam nem 10% do que custavam e sem o mínimo escrúpulo, nem conhecimento, mandaram
para o “cemitério” vinhos que durante séculos fizeram a alegria das taças e
carteiras, dos normais e verdadeiros apreciadores de vinho.
Os esquecidos?
Só para citar meia dúzia de italianos: Freisa, Grignolino, Bardolino, Carema, Incrocio Manzoni,
Dolcetto.
Falei
Dolcetto?
Na próxima matéria: Dolcetto “funeral e ressurreição”
Bacco

E qual o vinho moda de hoje? Os espumantes brut rosé?!?
ResponderExcluirEspumante sur lie e pet nat
Excluirprosecco
ResponderExcluirA moda agora é beber Brunello de Ituverava:
ResponderExcluirhttps://veja.abril.com.br/coluna/al-vino/o-milagre-caipira-do-vinho-feito-com-a-mesma-sangiovese-do-famoso-brunello/