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terça-feira, 28 de outubro de 2025

OS VINHOS-MODA

 


Ninguém sabe, exatamente, quando o homem “descobriu” a vinha e a oliveira.

Na China foram encontrados restos arqueológico indicando que vinho já era produzido há, mais ou menos, 7.000 AC.



O azeite é mais “novo”, pois apareceu, na Palestina e regiões vizinha, “apenas” 4.000 AC.

O percurso desses dois alimentos, então, é longo e não deveria causar mais nenhuma surpresa, mas a história demonstra exatamente o contrário.

Deixemos as azeitonas descansando, tranquilamente, por enquanto e vamos dirigir nossas atenções ao vinho e sua vitoriosa jornada das últimas décadas.



Até os anos 1950, a não ser pouco mais de uma dúzias de etiquetas provenientes da Champagne, Borgonha e Bordeaux, que já despontavam como quase inalcançáveis estrelas para os comuns mortais, era o vinho comum, anônimo, barato, a granel, que reinava absoluto nos copos dos bares, restaurantes e durante as refeições das famílias espanholas, portuguesas, francesas italianas etc.



O vinho não era moda, não doava status e não provocava incontroláveis desejos consumistas em quer que seja.

Um bom copo de Barbera, Dolcetto, Grignolino, Freisa etc. durante o jogo de cartas, nos enfumaçados bares dos anos 1950/1960, era o que bastava para satisfazer e alegrar os “enófilos” de então.

Algo começou a mudar, no mundo do vinho, quando, em 1951, os viticultores do Beaujolais obtiveram a permissão de vender suas garrafas de Gamay logo após a vinificação, mais exatamente na terceira quinta-feira do mês de novembro.

Nascia, então, o primeiro “vinho moda” e já em 1985, o Beaujolais Nouveau era um incrível sucesso mundial.



O Beaujolais Nouveau causava verdadeiras corridas às enotecas e provocava incontrolável frisson nos modernos eno-tontos que, quase babando, faziam fila esperado sua vez para levar para casa o tinto gaulês.

Hoje, como acontece com todos os “vinho-moda”, ninguém lembra do Beaujolais Nouveau e o “fenômeno”, dos anos 1980/2000, mofa, quase esquecido, nas prateleiras das lojas especializadas e supermercados.

Pode ser que no passado mais remoto existiu um vinho moda, mas o Beaujolais Nouveau foi realmente um marco importante.



Mais vinhos moda que “desapareceram”?
 Matheus Rosé, Lambrusco, Chianti (garrafa empalhada), Liebfraumilch garrafa azul etc.

Mas o grande marco, o marco mais profissional, mais marcante e badalado, do mundo do vinho, se deu com o “aparecimento” do advogado Rabert Parker.



Parker, conseguiu, com seus pontos, impor, padronizar, ditar rumos e tendências, gostos e desgostos nos enófilos, de todos os cantos do planeta, durante décadas.

Além de ganhar uma tremenda grana, pontuando quem mais pagasse (até a Concha y Toro já pagou para ter 100 pontos em seu Don Melchor....) Parker pariu um sem número de filhotes-picaretas que transformaram o mundo do vinho em um verdadeiro circo dos horrores.



Sem que ninguém soubesse de suas existências (se alguém mencionasse a palavra “sommelier” ou “enólogo”, em um bar todos pensariam se tratar de um palavrão.....), surgiram as imprescindíveis figuras do sommelier e do enólogo que, do alto de seus intocáveis pedestais, nos “encinaram” a encontrar , em nossas plebeias e anônimas (até então...) taças, aromas de flores brancas, flores vermelhas, tabaco, terra molhada, pimenta, baunilha, alcaçuz, cravo, canela, limão, brioche, manteiga , pimentão verde, etc. etc. etc.



 Pobre enófilo, que nas fatídicas e ridículas confrarias, que invadiram todos os cantos do planeta, não percebesse, no paladar, a presença de mirtilo, framboesa, groselha, ameixa, frutos de bosque, nozes, amêndoas, mineralidade, frescor, longo final, taninos, acidez, elegância, estrutura  etc. etc. etc.

Com o passar dos anos e infelizmente, todos os eno-tontos parkerianos se transformaram em experts.

Os mais incríveis exagerados detalhamentos eram usadas para demonstrar profundos, mas falsos e inexistentes, conhecimentos e parecia haver uma competição para saber quem conseguiria o mais estapafúrdio e ridículo comentário ao descrever uma simples taça de vinho



Para mim o exemplo mais ridículo da mais ridícula descrição de um vinho, é de lavra do palhaço-sommelier Beato-Salu, aquele escalador de crucifixos medievais que hoje, ainda bem, perambula sem rumo nas catacumbas das garrafas vazias.

.Leia:  “.....gustativa e olfativamente sublime, com aquele sabor de mel de estrebaria, ou seja, geléias e licores de frutas em meio fumaça de charuto num fim de tarde ao lado de um estábulo”.



Nada a acrescentar......

Nesta “corrida”, na busca da sempre melhor e mais cara etiqueta, os filhotes paridos por Parker sempre promoveram garrafas que não valiam nem 10% do que custavam e sem o mínimo escrúpulo, nem conhecimento, mandaram para o “cemitério” vinhos que durante séculos fizeram a alegria das taças e carteiras, dos normais e verdadeiros apreciadores de vinho.

Os esquecidos?



Só para citar meia dúzia de italianos: Freisa, Grignolino, Bardolino, Carema, Incrocio Manzoni, Dolcetto.

Falei Dolcetto?



Na próxima matéria: Dolcetto “funeral e ressurreição”

Bacco

 

4 comentários:

  1. E qual o vinho moda de hoje? Os espumantes brut rosé?!?

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  2. A moda agora é beber Brunello de Ituverava:
    https://veja.abril.com.br/coluna/al-vino/o-milagre-caipira-do-vinho-feito-com-a-mesma-sangiovese-do-famoso-brunello/

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