Há anos, ao chegar na Itália e ao partir, de volta para o Brasil,
minha primeira e última parada é a cidade lombarda de Sesto
Calende.
Antes, de Sesto Calende, Arona era minha meta predileta, mas o
cada vez maior número de turistas, atraídos pela beleza do Lago Maggiore, contribuiu para
que os preços dos hotéis bares e restaurantes da cidade alcançassem as estrelas,
assim, os $$$$ recomendaram uma mudança de endereço.
Sem a bela moldura do Lago Maggiore, mas banhada pelo belíssimo rio Ticino, que nasce (algumas centenas de metros) no lago mencionado, Sesto Calende oferece um pequeno, mas fascinante centro histórico onde praças aconchegantes e minúsculas vielas abrigam ótimos restaurantes, bares, enotecas, sempre próximos das calmas e límpidas aguas do Ticino
Em outras matérias já dediquei muitos elogios a Sesto Calende,
mas nunca serão suficientes e desinteressantes.
Em minha última passagem pela cidade, em meado de agosto, não
sendo, Sesto Calende, meta turística “obrigatória”, boa parte dos meus
endereços prediletos, Enoteca Holly, La Biscia, Naturalmente
Jhonny, aproveitando o pouco movimento (em agosto os italianos,
em massa, saem de férias.....) fecharam as portas.
Ainda bem que na Itália não se morre de sede ou fome e sempre
há onde beber uma boa taça de vinho e comer um bom prato, mesmo em agosto e em
Sesto Calende.
O eficiente Marco, proprietário do bar “Emiazico”,
percebendo minha necessidade de espumante, acalmou minha sede com uma bela taça
de “Altemasi” Trento DOC.
Relaxado e “giocondamente” sorridente, terminei de degustar,
com calma, meu bom e borbulhante ”Altemasi”, percorri pouco mais de cem metros
e alcancei a homônima pracinha que abriga o restaurante “Piazza
Abba La Reclame”.
No “Piazza Abba La Reclame”, ambiente aconchegante, tranquilo, refinado e onde
se come realmente bem, quem quase sempre me atende é Andrea o elétrico e
eficiente garçom.
Andrea, após os cumprimentos e apertos de mãos de praxe, me provocou
jocosamente e comunicou que não serviam pizza (ele sabe que detesto pizza...).
Algumas risadas e finalmente, quando a normalidade voltou, sugeriu
um atum em casca de gergelim acompanhado por uma taça de.....
Antes de continuar é preciso informar que o marido de Paola,
proprietária do “Piazza Abba”, grande pesquisador e conhecedor de vinhos, sempre
descobre novas e boas opções para a adega da restaurante.
Resultado?
Uma tremenda seleção de
boas (e baratas) garrafas.
“Gostaria de sugerir uma taça de “Lugana
Pietro Junior”
Olhei Andrea e intrigado perguntei: “Lugana Pietro Junior? Nunca ouvi
falar....Presta?
“Conhecendo seus gostos tenho certeza que aprovará”.
Bingo!
Belíssimo Lugana que nada deve aos primos mais caros e mais
badalados da denominação (denominação que a maioria dos “sommerdiers”
desconhece) que nasce nas províncias de Brescia e Verona à margem sul do Lago
di Garda.
Grandes vinhos são produzidos nas duas províncias....
Alguns?
VERONA: Valpolicella,
Amarone, Soave, Bardolino
BRESCIA: Franciacorta, Curtefranca,
Capriano del Colle
O Lugana “Pietro Junior”, da vinícola Pietro Zardini, agrada já
no primeiro gole e certamente encantará os paladares dos até os mais exigentes
enófilos.
Bela cor amarelo-esverdeado, aromas de flores e cítricos,
paladar refinado, fresco, bom corpo, mas que sugere sempre mais um gole.....
Obrigado, Andrea.
Inútil dizer que uma segunda taça se fez necessária...
Uma bela descoberta, um vinho genuíno, barato (10/12 Euros a
garrafa) que sugiro, com entusiasmo, aos enófilos que não mais suportam as
indicações picaretas dos novos influencers e das velhas raposas das garrafas
douradas.
Bacco
Muito bom. Só lamento o fato de que a dica de um belo vinho por 10-12 euros significa R$250-R$300 no Brasil.
ResponderExcluirPois é....o consumo continua em. 2,2 per capita
ResponderExcluirMais um excelente post, enriquecendo a nossa cultura vinícola. Obrigado. Quando aos enotolos, uma observação. Praticamente todas as publicações e críticas que tentam impor padrões e trazem notas e avaliações certeiras nasceram anglo-saxãs, inglesas ou mais comumente americanas. Quando surgiram não havia correlatos italianos ou franceses, que mesmo atualmente são poucos. Ando notando, por experiência própria, que determinados padrões não agradam a todos os paladares. Exemplo, vinhos envelhecidos. Sempre que abro uma garrafa de Bordeaux que guardei com
ResponderExcluirtodos os cuidados por mais de quinze anos, encontro aquele sabor delicado mas meio morto, quase sem aroma, e que não empolga. Tento fingir entusiasmo quando há amigos por perto, mas é puro autoengano. Acho que somos colonizados pelos amigos do Norte, também neste ponto. Parker foi o exemplo mais agudo deste colonialismo anglo-saxão. Se falo besteira, me alertem. Ainda há cura.
Bingo, acertou na mosca. Nada mais incorreto do que achar que o envelhecimento é benéfico ao vinho. Vinho nasce, emadurece e morre. Cada vinho deve ser consumido , possivelmente, no tempo certo. Um Grignolino vive menos do que um Barbaresco, um Lugana morre antes de um Verdicchio, mas acho tolice esperar até onde uma garrafa coseguirá aguentar.
ResponderExcluirBeber e preciso! Esperar? Nem sempre.
Última coisinha: Todos os críticos, de uma ou outra forma, levam algum $$. Como já disse centenas de vezes prefiro errar ou acertar sozinho
Concordo.. a maioria dos vinhos com mais de 15 anos que tomei, ficavam mais ou menos iguais, sem a energia e frescor que vc sente nos bons vinhos e às vezes com traços licorosos desagradáveis. E quando o vinho é bom, ele já é agradável jovem. Vamos meter o saca rolhas nos nossos vinhos "de guarda" sem pena.
ResponderExcluirTaga aqui. Essas pontuações se tornaram um problema, vários enólogos aqui do novo mundo não pensam no melhor vinho que eles podem fazer, mas sim em qual vai receber mais pontos. É quase uma engenharia reversa em busca dos critérios de pontuação. Uma bobagem, algo sem alma. Priorizam castas e estilos pelo potencial de pontos. Na outra ponta, deixando de lado os pontos, estão os enólogos das "inovações por inovações" onde o objetivo é criar um blend novo, uma narrativa, uma bobagem como meter vinhos no fundo do mar pra cobrar mais e chamar atenção de bobo. Por isso valorizo vinicolas tradicionais que fazem o mesmo vinho há 15 ou 20 anos sem palhaçadas, pontos ou medalinhas.
ResponderExcluir