Li, com interesse, as matérias "Sexta feira 13" e
"Sexta
feira 13 - Merdalhas" que Dionísio publicou no blog.
Dionísio não revela nenhuma surpresa, apenas as mesmas
meias-verdades e as grandes mentiras que, regularmente, aparecem no tragicômico
cenário do vinho nacional.
Clima, micro clima,
altitude (quanto mais elevada melhor), duas podas, duas colheitas, excursão térmica,
terroir único, medalhas, reconhecimento mundial, etc. são um rosário de informações
fajutas que visam despertar, nos consumidores, um patético orgulho nacionalista.
Há uma corrente
ufanista que acredita, piamente, na qualidade excelsa dos produtos nacionais e
que o consumo de vinho brasileiro não aumenta por puro preconceito.
O que alguns (vários?)
produtores, espertos e picaretas, fazem, sem nenhum pudor, é dourar a pílula
para justificar preços irreais.
Os picaretas das vinhas nacionais, que exaltam fabulosas
descobertas de magníficas e únicas terras vinícolas, fingem desconhecer que o
Brasil nunca foi e nem será, a curto e médio prazo, um produtor, importante e
decente, de vinhos.
Não há mínimo indício que indique grandes mudanças no cenário vinícola
nacional; a maior parte da produção (80%) continua sendo representada por
vinhos obtidos com "vitis labrusca".
Nenhum, o quase nenhum, controle, permite ao setor uma liberdade
rara (única?) e os produtores são livres para fazer o que, quando e onde quiserem:
Suas garrafas não serão fiscalizadas, monitoradas ou controladas com rigor.
É a zorra total!
O resultado: Para os produtores, o melhor dos mundos e para os
consumidores, vinhos deploráveis e caríssimos.
Pesquisado meus antigos arquivos, pesquei uma matéria, de 2009,
escrita por Renato Fenocchio, produtor de Barbaresco.
A matéria, que traduzi, ilustra, com bastante precisão, o que
é preciso para se implantar um vinhedo nas colinas das DOC e DOCG de Barolo e Barbaresco.
Leiam e comparem com as "descobertas" dos
"terroirs" tupiniquins.
A VINHA (parte I)
Todas as ações importantes, como
extirpar, enxertar, plantar, replantar, realizadas, em parte ou na totalidade, em
uma vinha, somente podem ser executadas após prévia autorização dos escritórios
fiscalizadores da província competente.
A não
observância, destes procedimentos, resulta em fortes sanções pecuniárias e
disciplinares à vinícola que efetuar operações não autorizadas.
Controles rotineiros são efetuados através de
fotos aéreas de todo o território, para fiscalizar os plantios não autorizados.
As fotos
são sobrepostas aos mapas dos arquivos possibilitando a fácil identificação de
plantios abusivos.
1. O TERRENO
O terreno deve possuir documentação que comprovem sua
existência, localização, extensão e o uso (qual tipo de cultivo). Para poder
operar, em um terreno, é necessário, então, documento de propriedade ou contrato
de arrendamento devidamente registrado.
2. DIREITO DE PLANTIO OU REPLANTIO
A documentação, acima, é justamente exigida
para facilitar o controle físico da área dos vinhedos que não pode ser
aumentada.
É permitida a implantação de um novo vinhedo
somente e quando o anterior foi extirpado, mas observando, rigorosamente, a
mesma metragem.
3. DOCUMENTAÇÃO PARA PERMISSÃO DE REPLANTIO
Os
documentos exigidos podem ser de um terreno no qual já existia uma vinha que
por diversos motivos foi extirpada (idade avançada das vinhas, trabalhos de
drenagem, doença
etc. ou outro no qual as vinhas foram
erradicadas e não mais replantadas (abandonado).
Quando de
posse da documentação, acima exigida, uma consulta é enviada aos escritórios agrícolas
competentes.
A
consulta, devidamente preenchida com todos os dados da vinícola que pretende
implantar o vinhedo, é encaminhada, pelo escritório agrícola, aos órgãos
superiores da província.
Depois de analisar a documentação um perito, do escritório provincial,
visita a vinícola para conhecer e verificar, em loco, a característica e
qualidade do terreno, julgando-o, apto ou não, para plantio das vinhas.
Desta fiscalização nasce a possibilidade, ou não, de se implantar um
vinhedo e quais castas podem ser utilizadas no plantio.
Se a exposição não é das melhores não são autorizadas castas de maior
prestigio e se vinhedo são orientados ao norte é autorizado o plantio de uva
Nebbiolo somente para produzir a DOC Langhe Nebbiolo, mas jamais as DOCG Barbaresco
ou Barolo.
Após a
autorização, da implantação das vinhas, os trabalhos de aração e drenagem podem
ser iniciados, mas sempre com a autorização e supervisão de um geólogo.
4. AS MUDAS
Devem ser
adquiridas em viveiros autorizados e portar um documento denominado “Passaporte
da Vinha” o qual certifica a casta, o produtor e a ausência de doenças
genéticas.
5. TEMPOS DE PRODUÇÃO
Após o plantio das mudas uma comunicação é enviada
aos escritórios competentes.
Esta comunicação gera uma visita de um técnico que
se desloca até ao terreno para fiscalizar a correta implantação do vinhedo.
Após a fiscalização o certificado definitivo é assinado.
O vinhedo e acompanhado, com muito cuidado, durante
os três primeiros anos.
A partir do terceiro ano o vinhedo pode produzir
até 70% do permitido pelo disciplinar.
No decorrer do terceiro ano há mais um controle por
parte dos técnicos dos escritórios competentes.
Após todos os controles, a colheita é, então,
autorizada dentro dos limites consentidos pela DOC o DOCG.
A partir do quarto ano de vida as vinhas entram em
produção plena, mas sempre dentro dos limites permitidos pela DOC ou DOCG.
Conclusão
É fácil perceber que não é possível implantar vinhedos a bel prazer.
Não é o pequeno, médio viticultor ou a vinícola de grande porte que
determinam quando, onde e com quais castas os vinhedos são implantados; há
normas rígidas que devem ser seguidas
Não é possível erradicar vinhas de Barbera, Dolcetto, Freisa etc. para
plantar Nebbiolo; a fiscalização provincial é quem determina se os terrenos são
os mais indicados, se a exposição solar é a mais adequada e até se a altitude
correta.
Não há "raios de luz" do além indicando bons terrenos, não há
improvisação...... Há seriedade, tradição,cultura, competência.
Mesmo com todos esses cuidados, normas, fiscalização e custos, um bom
Barolo ou Barbaresco custa menos do que o Syrah do Guaspari.
Deu para perceber quando teremos uma produção vinícola séria e
competente?
Bacco
Já temos um vinho de altitude biodinâmico:
ResponderExcluirhttps://www.vinhosevinhos.com/vinho-santa-augusta-imortali-750ml.html
viva o Brasil-zil-zil.
INACREDITÁVEL!!!!!! Mais uma picaretagem "terror" que custa R$ 458,70. O Brasil é único
ResponderExcluirTirando a parte absurda dos valores do vinho Brasileiro. A Itália parece ser tão burocrática quanto o Brasil.
ResponderExcluirDiscordo! No Brasil temos burrocracia. Lá, eles têm organização e métodos. Desta forma, eles mantêm a qualidade. Mesmo assim, ainda escapa uma "sacanagenzinha" de vez em quando. Imagina aqui, sem controle algum?
ExcluirSacanagezinha? Bota sacanagem nisso. Etanol,Cabernello do Montalcino,Amarone produzido no Piemonte, Chianti da Puglia etc mas pegou,ferrou
ExcluirErrado.No Brasil não há burocracia nem controle. Você pode plantar vinhas onde quiser.Na Itália, França etc. a burocracia evita desmandos e proliferação descontrolada. Resulta dos: melhor qualidade e melhores preços. As áreas de plantio são severamente controladas
ResponderExcluirImpressionante. 458 temerosos? Começo a achar que o Don Melchor está uma pechincha.
ResponderExcluirBrasil continua sendo um lugar sem nenhum projeto serio em qualquer campo. Acordei hoje pensando no capa do the economist dessa semana. Enquanto isso o bebado ladrao faz discurso dizendo que vai recuperar a petrobras e petralhinhas no feicebuque ou tuiter falam em recuperar o pre-sal roubado pelos americanos. Nao ha tecnologia, faltam fabricas, nao ha fomento para nada que seja importante hoje no mundo. Nem enfase em educacao de TI, robotica...(fazer mecatronica na unip nao vai dar nenhum premio nobel)
ResponderExcluirAssim como nao ha projeto serio a longo prazo para infra estrutura, politica, economia.
A entrevista do arminio fraga ontem ao estadao teve um ponto bem revelador, sugiro que a leiam. Preciso como um robo alemao com software indiano ele foi bem no ponto.
Nao ha nada no campo do vinho e nem deveria haver. Nao ha condicao para producao de vinho que preste em quantidade decente. O pais produz cana, cafe, milho e soja. Chile produz ou pode produzir bons vinhos. Onde se produz cana, cafe, milho e soja no chile? Qual area da NZ que produz isso?
Ainda me espanta a quantidade de trouxa nesse lugar.
Perfeito,como sempre
ResponderExcluirsocorro, B&B...
ResponderExcluirhttp://blogs.gazetaonline.com.br/vinhosemaisvinhos/2017/08/agenda-feira-naturebas-2017-acontece-dia-19-de-agosto-em-sao-paulo.html
Quem nao leu ainda, leia. Chega de unchecked ignorance.
Excluirhttp://fermentationwineblog.com/2017/07/demolishing-natural-wine/
Acho que falei vaga e brevemente sobre isso faz umas semanas, mas nao me lembro 100%. SDS.
Eu sempre disse que o "vinho natural" foi mais uma tentativa de emplacar uma moda que morreu antes de nascer
Excluirsocorro de novo, B&B...
ResponderExcluirhttp://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2017/08/14/internas_economia,617406/municipio-de-cocalzinho-no-entorno-do-df-faz-vinhos-com-excelencia.shtml
520 reais...
Eu me lembrei daquele sidney sei la das quantas que vende medicamento na tv. Baita culto a propria personalidade com umas doses de picaretagem. O interessante dessa reportagem sao os dados e numeros. A propria 'reportagem' ja da um puta cenario desanimador do vinho no pais. Detalhe que poderia ter sido escrita em 2017, 2000, 1990, 1750...que o conteudo seria o mesmo.
ExcluirRepito meu nobre pensamento: Qualquer um tem o direito que de plantar e vender o que quiser desde que seja legal ou ate mesmo respeitando leis ambientais, mas a promocao de algo de qualidade tao inferior como se fosse algo muito espetacular beira uma desonestidade aguda (ou algum desvio psiquiatrico, como no caso do trump que achava que o vinho, a carne e tudo que vendia era do melhor que havia). E azar dos trouxas que compram vinho feito no goias. Goias he terra do pitdog, do queijinho (balao em SP) e do goianinho. Nada mais presta la.
Pode parecer incrível, mas há uma verdadeira romaria de eno-idiotas que se desloca de Brasília até aquela bosta de Cocalzinho para degustar e comprar os vinhos do otorrino. As vezes acho que o Bacco tem razão em deixar de escrever
ExcluirDionísio
eu lembro das duas matérias que B&B "dedicou" ao otorrino, mas não sabia que ele teve a pachorra de lançar um rótulo a R$ 520. inacreditável.
Excluirmas o Bacco não tem razão em deixar de escrever, Dionísio. é preciso ridicularizar esses vivaldinos, e é bom lembrar do que nos faz bem: lugares bonitos, grandes vinhos (por ora e por um bom tempo, só estrangeiros), bons restaurantes. e você e Bacco fazem isso como poucos.
Quatro garrafas do Goianello de Cocalzinho correspondem a uma passagem para Veneza!
ResponderExcluirÉ o terror caro
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