Facebook


Pesquisar no blog

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

TERROIR OU TERROR?



Li, com interesse, as matérias "Sexta feira 13" e "Sexta feira 13 - Merdalhas" que Dionísio publicou no blog.

Dionísio não revela nenhuma surpresa, apenas as mesmas meias-verdades e as grandes mentiras que, regularmente, aparecem no tragicômico cenário do vinho nacional.

 Clima, micro clima, altitude (quanto mais elevada melhor), duas podas, duas colheitas, excursão térmica, terroir único, medalhas, reconhecimento mundial, etc. são um rosário de informações fajutas que visam despertar, nos consumidores, um patético orgulho nacionalista.
 

 Há uma corrente ufanista que acredita, piamente, na qualidade excelsa dos produtos nacionais e que o consumo de vinho brasileiro não aumenta por puro preconceito.

 O que alguns (vários?) produtores, espertos e picaretas, fazem, sem nenhum pudor, é dourar a pílula para justificar preços irreais.

Os picaretas das vinhas nacionais, que exaltam fabulosas descobertas de magníficas e únicas terras vinícolas, fingem desconhecer que o Brasil nunca foi e nem será, a curto e médio prazo, um produtor, importante e decente, de vinhos.
 

Não há mínimo indício que indique grandes mudanças no cenário vinícola nacional; a maior parte da produção (80%) continua sendo representada por vinhos obtidos com "vitis labrusca".

Nenhum, o quase nenhum, controle, permite ao setor uma liberdade rara (única?) e os produtores são livres para fazer o que, quando e onde quiserem: Suas garrafas não serão fiscalizadas, monitoradas ou controladas com rigor.

É a zorra total!

O resultado: Para os produtores, o melhor dos mundos e para os consumidores, vinhos deploráveis e caríssimos.

Pesquisado meus antigos arquivos, pesquei uma matéria, de 2009, escrita por Renato Fenocchio, produtor de Barbaresco.
 

A matéria, que traduzi, ilustra, com bastante precisão, o que é preciso para se implantar um vinhedo nas colinas das DOC e DOCG de Barolo e Barbaresco.

Leiam e comparem com as "descobertas" dos "terroirs" tupiniquins. 

 

A VINHA (parte I)

 Todas as ações importantes, como extirpar, enxertar, plantar, replantar, realizadas, em parte ou na totalidade, em uma vinha, somente podem ser executadas após prévia autorização dos escritórios fiscalizadores da província competente.

A não observância, destes procedimentos, resulta em fortes sanções pecuniárias e disciplinares à vinícola que efetuar operações não autorizadas.

 Controles rotineiros são efetuados através de fotos aéreas de todo o território, para fiscalizar os plantios não autorizados.

As fotos são sobrepostas aos mapas dos arquivos possibilitando a fácil identificação de plantios abusivos.

 


1.  O TERRENO

O terreno deve possuir documentação que comprovem sua existência, localização, extensão e o uso (qual tipo de cultivo). Para poder operar, em um terreno, é necessário, então, documento de propriedade ou contrato de arrendamento devidamente registrado.

 

2.  DIREITO DE PLANTIO OU REPLANTIO

A documentação, acima, é justamente  exigida para facilitar o controle físico da área dos vinhedos que não pode ser aumentada.

É permitida a implantação de um novo vinhedo somente e quando o anterior foi extirpado, mas observando, rigorosamente, a mesma metragem.

 


3. DOCUMENTAÇÃO PARA PERMISSÃO DE REPLANTIO

Os documentos exigidos podem ser de um terreno no qual já existia uma vinha que por diversos motivos foi extirpada (idade avançada das vinhas, trabalhos de drenagem, doença

 etc. ou outro no qual as vinhas foram erradicadas e não mais replantadas (abandonado).

Quando de posse da documentação, acima exigida, uma consulta é enviada aos escritórios agrícolas competentes.

A consulta, devidamente preenchida com todos os dados da vinícola que pretende implantar o vinhedo, é encaminhada, pelo escritório agrícola, aos órgãos superiores da província.

Depois de analisar a documentação um perito, do escritório provincial, visita a vinícola para conhecer e verificar, em loco, a característica e qualidade do terreno, julgando-o, apto ou não, para plantio das vinhas.

Desta fiscalização nasce a possibilidade, ou não, de se implantar um vinhedo e quais castas podem ser utilizadas no plantio.

Se a exposição não é das melhores não são autorizadas castas de maior prestigio e se vinhedo são orientados ao norte é autorizado o plantio de uva Nebbiolo somente para produzir a DOC Langhe Nebbiolo, mas jamais as DOCG Barbaresco ou Barolo.

Após a autorização, da implantação das vinhas, os trabalhos de aração e drenagem podem ser iniciados, mas sempre com a autorização e supervisão de um geólogo.


 

4. AS MUDAS

Devem ser adquiridas em viveiros autorizados e portar um documento denominado “Passaporte da Vinha” o qual certifica a casta, o produtor e a ausência de doenças genéticas.

 

5. TEMPOS DE PRODUÇÃO

Após o plantio das mudas uma comunicação é enviada aos escritórios competentes.

Esta comunicação gera uma visita de um técnico que se desloca até ao terreno para fiscalizar a correta implantação do vinhedo. Após a fiscalização o certificado definitivo é assinado.

O vinhedo e acompanhado, com muito cuidado, durante os três primeiros anos.

A partir do terceiro ano o vinhedo pode produzir até 70% do permitido pelo disciplinar.

No decorrer do terceiro ano há mais um controle por parte dos técnicos dos escritórios competentes.

Após todos os controles, a colheita é, então, autorizada dentro dos limites consentidos pela DOC o DOCG.

A partir do quarto ano de vida as vinhas entram em produção plena, mas sempre dentro dos limites permitidos pela DOC ou DOCG.

 

 

Conclusão

É fácil perceber que não é possível implantar vinhedos a bel prazer.

Não é o pequeno, médio viticultor ou a vinícola de grande porte que determinam quando, onde e com quais castas os vinhedos são implantados; há normas rígidas que devem ser seguidas

Não é possível erradicar vinhas de Barbera, Dolcetto, Freisa etc. para plantar Nebbiolo; a fiscalização provincial é quem determina se os terrenos são os mais indicados, se a exposição solar é a mais adequada e até se a altitude correta.
 

Não há "raios de luz" do além indicando bons terrenos, não há improvisação...... Há seriedade, tradição,cultura, competência.

Mesmo com todos esses cuidados, normas, fiscalização e custos, um bom Barolo ou Barbaresco custa menos do que o Syrah do Guaspari.

Deu para perceber quando teremos uma produção vinícola séria e competente?

Bacco

 

18 comentários:

  1. Já temos um vinho de altitude biodinâmico:
    https://www.vinhosevinhos.com/vinho-santa-augusta-imortali-750ml.html
    viva o Brasil-zil-zil.

    ResponderExcluir
  2. INACREDITÁVEL!!!!!! Mais uma picaretagem "terror" que custa R$ 458,70. O Brasil é único

    ResponderExcluir
  3. Tirando a parte absurda dos valores do vinho Brasileiro. A Itália parece ser tão burocrática quanto o Brasil.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Discordo! No Brasil temos burrocracia. Lá, eles têm organização e métodos. Desta forma, eles mantêm a qualidade. Mesmo assim, ainda escapa uma "sacanagenzinha" de vez em quando. Imagina aqui, sem controle algum?

      Excluir
    2. Sacanagezinha? Bota sacanagem nisso. Etanol,Cabernello do Montalcino,Amarone produzido no Piemonte, Chianti da Puglia etc mas pegou,ferrou

      Excluir
  4. Errado.No Brasil não há burocracia nem controle. Você pode plantar vinhas onde quiser.Na Itália, França etc. a burocracia evita desmandos e proliferação descontrolada. Resulta dos: melhor qualidade e melhores preços. As áreas de plantio são severamente controladas

    ResponderExcluir
  5. Impressionante. 458 temerosos? Começo a achar que o Don Melchor está uma pechincha.

    ResponderExcluir
  6. Brasil continua sendo um lugar sem nenhum projeto serio em qualquer campo. Acordei hoje pensando no capa do the economist dessa semana. Enquanto isso o bebado ladrao faz discurso dizendo que vai recuperar a petrobras e petralhinhas no feicebuque ou tuiter falam em recuperar o pre-sal roubado pelos americanos. Nao ha tecnologia, faltam fabricas, nao ha fomento para nada que seja importante hoje no mundo. Nem enfase em educacao de TI, robotica...(fazer mecatronica na unip nao vai dar nenhum premio nobel)

    Assim como nao ha projeto serio a longo prazo para infra estrutura, politica, economia.

    A entrevista do arminio fraga ontem ao estadao teve um ponto bem revelador, sugiro que a leiam. Preciso como um robo alemao com software indiano ele foi bem no ponto.

    Nao ha nada no campo do vinho e nem deveria haver. Nao ha condicao para producao de vinho que preste em quantidade decente. O pais produz cana, cafe, milho e soja. Chile produz ou pode produzir bons vinhos. Onde se produz cana, cafe, milho e soja no chile? Qual area da NZ que produz isso?

    Ainda me espanta a quantidade de trouxa nesse lugar.

    ResponderExcluir
  7. socorro, B&B...

    http://blogs.gazetaonline.com.br/vinhosemaisvinhos/2017/08/agenda-feira-naturebas-2017-acontece-dia-19-de-agosto-em-sao-paulo.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quem nao leu ainda, leia. Chega de unchecked ignorance.

      http://fermentationwineblog.com/2017/07/demolishing-natural-wine/

      Acho que falei vaga e brevemente sobre isso faz umas semanas, mas nao me lembro 100%. SDS.

      Excluir
    2. Eu sempre disse que o "vinho natural" foi mais uma tentativa de emplacar uma moda que morreu antes de nascer

      Excluir
  8. socorro de novo, B&B...

    http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2017/08/14/internas_economia,617406/municipio-de-cocalzinho-no-entorno-do-df-faz-vinhos-com-excelencia.shtml

    520 reais...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu me lembrei daquele sidney sei la das quantas que vende medicamento na tv. Baita culto a propria personalidade com umas doses de picaretagem. O interessante dessa reportagem sao os dados e numeros. A propria 'reportagem' ja da um puta cenario desanimador do vinho no pais. Detalhe que poderia ter sido escrita em 2017, 2000, 1990, 1750...que o conteudo seria o mesmo.

      Repito meu nobre pensamento: Qualquer um tem o direito que de plantar e vender o que quiser desde que seja legal ou ate mesmo respeitando leis ambientais, mas a promocao de algo de qualidade tao inferior como se fosse algo muito espetacular beira uma desonestidade aguda (ou algum desvio psiquiatrico, como no caso do trump que achava que o vinho, a carne e tudo que vendia era do melhor que havia). E azar dos trouxas que compram vinho feito no goias. Goias he terra do pitdog, do queijinho (balao em SP) e do goianinho. Nada mais presta la.

      Excluir
    2. Pode parecer incrível, mas há uma verdadeira romaria de eno-idiotas que se desloca de Brasília até aquela bosta de Cocalzinho para degustar e comprar os vinhos do otorrino. As vezes acho que o Bacco tem razão em deixar de escrever
      Dionísio

      Excluir
    3. eu lembro das duas matérias que B&B "dedicou" ao otorrino, mas não sabia que ele teve a pachorra de lançar um rótulo a R$ 520. inacreditável.

      mas o Bacco não tem razão em deixar de escrever, Dionísio. é preciso ridicularizar esses vivaldinos, e é bom lembrar do que nos faz bem: lugares bonitos, grandes vinhos (por ora e por um bom tempo, só estrangeiros), bons restaurantes. e você e Bacco fazem isso como poucos.

      Excluir
  9. Quatro garrafas do Goianello de Cocalzinho correspondem a uma passagem para Veneza!

    ResponderExcluir