Na matéria anterior questionei a importância do sommelier e o
porquê de tamanha badalação e reverência dedicadas ao profissional.
Vamos imaginar.
Imagine-se um produtor
de vinho..... Que tal de Barolo?
Você tem plena convicção que produz um ótimo Barolo, de
qualidade incontestável e que pode, tranquilamente, rivalizar com os grandes
nomes do mercado.
Por falta de promoção, marketing, reconhecimento da crítica, visibilidade
etc., você é obrigado, para poder esgotar a produção, a entregar suas garrafas
por 15/18 Euros.
Seus colegas,
concorrentes mais famosos e consagrados, conseguem vender seus Barolo por
40/60.
Os custos de produção, do seu vizinho renomado, são iguais aos
seus, mas o lucro........
Para galgar os degraus da fama, rapidamente, você poderia
comprar algumas canetas de vida fácil (há inúmeras), mas canetas importantes
custam caro.
Você pensa, procura, imagina um caminho mais fácil, mais
barato.
De repente..... Eureka!!!!
O mapa da mina está bem ali, a um palmo de seu nariz: Em seu território há meia dúzia de restaurantes estrelados.
Se você conseguir colocar seu Barolo nas adegas dos estrelados
Michelin em dois ou três anos poderá aumentar e muito, o preço de sua etiqueta.
A primeira providencia: Convencer o comprador (sommelier) a inserir seu Barolo na
carta.
Vamos queimar etapas e chegar ao ponto que nos interessa
Primeiro passo: Propor, ao sommelier, o vinho consignado (o pagamento
será efetuado após a venda do produto)
Segundo Passo e mais importante: Oferecer ao sommelier polpuda comissão
sobre as vendas de suas garrafas.
Sempre é bom lembrar que, na Europa, o sommelier ganha, em
média, 1.200 e 2.000 Euros.
Quanto mais participações e vitórias em concursos, mais alto é
o salário (e a comissão, também).
Ninguém é de ferro e uma grana, por fora, é sempre bem vinda e
raramente recusada.
O peixeiro, padeiro, verdureiro não precisam pagar comissão, pois
ninguém procura um restaurante estrelado para comer aquele pão, ou aquela verdura,
mas no caso do vinho.....
Vinho doa status, vinho é cultura, vinho é charme, vinho
famoso é muito lucrativo.
Quando o vinho é
sugerido por um sommelier premiado é a glória.
Há clientes que olham para o sommelier como se
fosse o Al Pacino do "Poderoso Chefão"
Qual "simples mortal" ousaria recusar uma sugestão
do sommelier do "La Ciau del Tornavento", "Piazza
Duomo", "Antica Corona Reale", "Le Grand Véfour",
"Lameloise", "Georges Blanc" etc.?
Guardadas as devidas (e bota "devidas", nisso....)
proporções o mesmo ocorre com freqüentadores dos restaurantes do grupo Fasano
quando reverenciam e endeusam o Manoel Beato "Salu"
Manoel Beato "Salu", para aqueles que não o
conhecem, é considerado o melhor sommelier do Brasil
Leia uma de suas mais belas descrições.
Há
15 horas
Porque
este 1982 não tem 100 pontos, indagou um amigo depois do primeiro gole. Um Haut
Brion gustativa e olfativamente sublime, com aquele sabor de mel de estrebaria, ou seja, geléias e licores de frutas em meio
fumaça de charuto num fim de tarde ao lado de um estábulo. Talvez por isso,
por já estar no seu apogeu, diferentemente dos outros 1º cru da mesma safra,
tais Mouton, Lafite, Latour, que precisam pelo menos 10 anos mais para seus
apogeus. Pois é, tão bom assim, estando tão jovem, talvez não mereça 100, mas,
quem sabe Parker ouça nossas impressões e o promova para 99,5. Rss Seguir
Grande sommelier!
O melhor do Brasil (imagine o segundo...)
O sommelier, mesmo "campeão do mundo", tem um nariz igual
ao seu, mais treinado é verdade, mas igual ao seu.
Encontrar aromas de flores
brancas, frutas vermelhas, groselha, mirtilos, alcaçuz, ameixa, grape fruit,
damasco, folhas de tomate, couro, tabaco, ou mel de
estrebaria, etc. muitas vezes é apenas um delírio ou fruto da imaginação fértil
(mentirosa?) do sommelier.
O sommelier usa a imaginação
para posar de semideus sobre um pedestal, em uma redoma e alardear superior conhecimento
e impressionar o enófilo principiante.
O sommelier não é um ser excepcional dotado de qualidades raras,
especiais, únicas.
O sommelier é um profissional que pode ser competente, ou não,
e apenas isso, nada mais que isso.
Voltando aos concursos.
Para que servem?
Para nada.
Interessam apenas aos profissionais da classe.
O sommelier não produz o vinho, ele abre a garrafa e a serve
adequadamente e você não notará diferença entre ser servido pelo primeiro ou décimo
colocado.
O sommelier não prepara um prato que lhe impressione ou seduza,
o sommelier abre a garrafa, serve o vinho com elegância, destreza e basta.
É sempre bom lembrar que para cada sommelier realmente
competente há centenas de picaretas, enganadores e bufões.
Mais uma coisa, Arrebola: O Brasil não foi representado no
concurso.
O Brasil não enviou ninguém
oficialmente.
Você foi à Argentina em
busca de holofotes e notoriedade.
Se conseguiu, parabéns.
Bacco
hahahahah.
ResponderExcluirEsse post é um chute na canela!
bela dupla de artigos, Bacco. apesar de todo esse comportamento ser deprimente, sabe qual é, pra mim, a pior parte? quando o Salu fala de "promover" o vinho para 99,5 pontos. o assunto já foi tratado à exaustão por aqui, como no texto "Meus pontos, minha vida", mas continua de lascar...
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