Houve um tempo ,quando comecei a escrever sobre vinhos, em que
acreditei poder elevar o nível da crítica brasileira relatando minhas
experiências.
Hoje me sinto um abobalhado e maltrapilho Don Quixote das
taças tupiniquins.
A crítica nacional continua amadora, ridícula e dominada por
um pequeno exército de aproveitadores e frequentadores de bocas-livres
patrocinadas por vinícolas e importadoras.
Não conheço críticos piores e despreparados do que os
brasileiros.
Exagero?
Imagine, por um segundo, o Edward "I Don't Speak English" Motta crítico de vinhos de uma das mais
importantes revistas européias.
Imagine, sem morrer de tanto rir, o bufão Didu Bilu Tetéia conseguir
patrocínio, de alguma vinícola européia, para comentar vinhos em seu "Blog-Blefe".
Impossível, inimaginável?
Não, não é!
Um, dos "expoentes"
de nossa critica vinícola, já navegou (ainda navega?) pelas paginas da "VEJA".
O outro ganha dezenas de gravatinhas borboleta
para elogiar qualquer vinho importado pela Expand.
Os patéticos personagens, mencionados, são apenas dois
palhaços do imenso circo da crítica vinícola brasileira.
Voltemos ao vinho e à seriedade.
Como disse, eu acreditava na necessidade de levar aos enófilos
brasileiros informações corretas, honestas e que somente visitando as regiões vinícolas
seria possível escrever e comentar, com segurança, os vinhos lá produzidos.
Piemonte,
Toscana, Veneto, Marche, Liguria, Emilia Romagna, Lombardia, Úmbria,
Friuli-Venezia Giulia, sem falar da Borgonha, Alsácia etc. foram,
várias vezes, minhas metas vinícolas preferidas.
Em minhas "vagabundagens etílicas" nunca pensara,
todavia, no Trentino-Alto Adige.
Comecei a me
interessar, por aquela região, quando os comentários elogiando os Pinot Noir produzidos
na província de Bolzano, se tornaram mais constantes, insistentes.
"Ótimos, Maravilhosos, Grandes"! Eram
alguns dos adjetivos mais comuns que chegavam aos meus ouvidos quando alguém
comentava os Pinot
Noir produzidos na belíssima região italiana.
Para me familiarizar e tirar dúvidas provei alguns.
Gostei, mas não me
entusiasmei e fui deixando para segundo plano o mais badalado Pinot Noir
italiano.
Um belo dia, visitando a linda Soave,
à procura de algumas boas garrafas de Garganega,
pensei: "Em uma hora e meia posso alcançar
Egna e experimentar, na fonte, os renomados Pinot Noir "altoatesini".
Sem mais delongas peguei a autoestrada e antes do jantar já
estava hospedado no bom "Hotel Andreas Hofer" em Egna.
Egna (Neumarkt em alemão, primeira língua local),
pouco mais de 5.000 habitantes, limpa, ordenada, charmosa, tranquila.
O que mais?
Ah, sim.... Fontes de água potável em todos os cantos e belos pórticos
medievais.
Os pórticos, naquela noite
de intensa neblina, luz difusa e de impressionante silêncio, pareciam cenário
perfeito para um filme de terror.
Ia esquecendo... Um frio paralisante.
Caminhando rapidamente, para não congelar, encontrei, bem no
centro da vila, um restaurante (já escrevi sobre o assunto) de se tirar o
chapéu: "Jonhson & Dipoli".
O local é tocado pelo incrível Enzo De Gasperi.
Imagine uma vila medieval,
você caminhando sob pórticos assimétricos e mal iluminados, uma assustadora e espessa
neblina, nem uma viva alma por perto e apenas o som de seus passos e de sua
respiração....
Se não fosse ateu, acreditasse mortos-vivos, fantasmas ou
vampiros, teria voltado apavorado para o hotel.
Quando já não esperava nada de especial, a não ser uma
prosaica pizzeria, bem no final dos pórticos um belo e acolhedor restaurante
parecia me convidar.
Entrei.
Belo bar, pequenas salas minuciosamente decoradas, ambiente
"vintage", muito calor, simpatia e uma carta de vinhos impressionante.
Grande variedade (Itália
e França em primeiro lugar), etiquetas prestigiosas, garrafas raras e caras,
safras antigas, que Enzo, o proprietário, sem cerimônia, abria e servia em
taças de finíssimo cristal.
Não pense no Real, esqueça o câmbio por uma noite e deixe Enzo
seduzir seu paladar e..... estuprar seu cartão.
Sim o Jonhson & Dipoli é caro , mas creia , vale a pena!
Antes do jantar resolvi beber um espumante.
Consultei a lista do quadro-negro e escolhi, sem muita
delonga, um "terceiro melhor espumante do mundo" (o segundo é o
gaucho) e pedi uma taça de "Haderburg Pas Dosè".
"Ótimo espumante! Um dos melhores da Itália".
Meu comentário provocou risos e Enzo replicou "Ainda bem
que você elogiou..... Olha o tamanho do produtor".
Olhei para o "alemão" que estava bebericando em uma
mesa próxima e tive que concordar: O homem, gigantesco, tinha mãos que pareciam
duas retro escavadeiras....
Cin-Cin, bom papo, algumas risadas, várias dicas e. perdi a
conta de quantas taças inclusive de Pinot Noir.
Depois do jantar, com todas as indicações, que necessitava
para o dia seguinte e "protegido" pelas generosas taças de vinho que
multiplicaram minha valentia, enfrentei, claudicante, mas valoroso, frio ,
neblina , fantasma, vampiros e outros perigos.
Em poucos minutos cheguei, são e salvo, ao Hotel.
Bacco
Próxima matéria: As colinas do Pinot Noir.
Já bebi bons Pinot Noir da Elena Walch. e Franz Haas. Estou curioso para saber o que você achou dos que bebeu da região.
ResponderExcluirSalu2