Nesses anos, em que a crise atinge grande parte da Europa,
parece um contrassenso quase implorar, reservar com muita antecedência, não discutir
preço e ficar feliz, quando, finalmente, se consegue comprar algumas garrafas de vinho
do Jean Claude Bachelet.
A crise que golpeou com força, restaurantes, bares, hotéis,
lojas de roupas, de sapatos, supermercados, montadoras e quase todos os
segmentos da economia, parece apenas arranhar o mundo dos grandes vinhos.
Não há crise que atinja bons produtores de Barolo, Barbaresco,
Brunello, Champagne e de outras grandes denominações,
Caso clássico: Os
viticultores da Borgonha continuam vendendo, sem problema, seus “Premiers
Crus” e “Grands Crus”.
Produtores de Barbera, Beaujolais, Bardolino, Hautes- Côte-de-Beaune,
Corbière etc. precisam matar um leão por dia para escoar suas garrafas que,
amontoadas e empoeiradas, esperam compradores
O reverso da medalha:
Os produtores de Montrachet, Bâtard-Montrachet, Criots-Bâtard-Montrachet,
Corton- Charlemagne, Bienvenues-Bâtard-Montrachet, Chevalier-Bâtard-Montrachet,
tiveram dois anos de escassa produção por problemas climáticos e, nossos amigos
da Côte D’Or, sem dar muita bola para a crise e a falta de dinheiro,
simplesmente, aumentaram os preços de seus vinhos em 10 ou 15%.
Não é de se estranhar, então, que precisei da ajuda de Massimo
Martinelli para conseguir comprar duas garrafas de Montrachet de seu amigo Renè
além de entrar na fila para poder levar para casa os extraordinários vinhos de Jean Claude Bachelet.
Os Bachelet possuem 10 hectares de vinhas e produzem 50/60 mil
garrafas por anos;60% são de vinho branco e 40% de tinto.
A “sorte” dos Bachelet consiste no fato de sua Domaine se “esparramar”
por extraordinários Premiers Crus e Grands Crus, nos territórios de
Puligny-Montrachet, Chassagne-Montrachet e Saint-Aubin.
Em Puligny-Montrachet, os Bachelet são proprietários de vinhas
no Grand
Cru Bienvenues-Bâtard-Montrachet no Premier Cru “Sous
le Puits”.
Em Chassagne-Montrachet
a família possui vinhas nos Premiers Crus "Les Macherelles" "La
Boudriotte" e "Blanchot Dessus”.
Saint-Aubin os Bachelet colhem uvas em seus Premiers Crus: "La Châtenière”,"Le
Charmois" "En Remilly”,"Les Murgers des Dents de Chien”,” Les
Frionnes”, “Les Champlots”.
A Domaine se estende por ótimos terrenos, porém os Bachelet
produzem pequenas quantidades de grandes brancos (Bienvenues-Bâtard-Montrachet apenas 600/700 garrafas).
A produção é quase toda
reservada para os clientes fiéis ou exportada (Os Bachelet exportam 60% de seus
vinhos)
Há mais um pormenor: Os vinhos dos Bachelet ostentam uma ótima
relação custo-qualidade.
Os Grands Crus não são fáceis de encontrar e, por isso mesmo, não
são baratos....
Quando afirmo “não são baratos” excluo da lista as deploráveis
garrafas gaúchas que, pasmem, custam mais do que os insuperáveis vinhos da Côte
D’Or.
Exemplo?
Aquele ridículo produtor que, apesar de sexagenário, ainda usa
um risível e unto rabo de cavalo nos cabelos.
O “guru”, dos e eno-patetas-tupiniquins, aumenta o preço de
suas garrafas na exata proporção em que seu estoque diminui.
Se os Bachelet usassem o mesmo ridículo expediente do Betu, uma
garrafa de Chassagne-Montrachet “La Buodriotte”, no final de abril, quando o
estoque está próximo do zero, custaria, não os normais 25, mas astronômicos 500
Euro.
Exemplo 2: O Villa Francioni, aquele intragável Chardonnay catarinense
(tente beber na temperatura ambiente...Pior do que Coca-Cola quente) custa R$ 90,
um Saint-Aubin Premier Cru Les Champlots, do Bachelet, 26,60 Euro.
Pensei em descrever os vinhos degustados do Jean Claude Bachelet,
mas tive receio de me transformar em um novo Gladson e seu salame.
Motivo? Há tantos aromas, emoções (Roberto Carlos?) para
descrever que um salame seria pouco......
Decidi, então, descrever, na próxima matéria, detalhes de
vinificação e terrenos onde foram produzidos
Até breve
Bacco.
OS. Vinho tem história e não pontos.