Em Stresa, além do comer bem, no "La Piemontese", é possível
encontrar alguns bares excepcionais para tomar algumas taças.
Há uma meia dúzia, mas gostaria de indicar apenas dois: "Al Buscion" e "Da Giannino"
A enoteca mais antiga, tradicional, com boa carta e bela
variedade de petisco, é "Al
Buscion"
"Al Buscion" é mais frequentada
pelos turistas, mas aposta, também, no publico local.
O "Da
Giannino", em sua estratégica posição (bem na encantadora
pracinha central), abusa na quantidade de sofisticadas opções..... É impossível
permanecer abstêmio!
Veja, na foto, a relação de vinhos servidos em taças no "Da Giannino".
É uma opção cultural.
No Brasil a cultura é cervejeira, na Itália, vinícola.
A adega, do "La Piemontese", já viveu anos melhores,
mas Emilio Belossi, proprietário e competente sommelier, soube, com maestria e inteligência,
compensar a menor quantidade de etiquetas com uma seleção de preciosidades.
Um dos meus vinhos prediletos, da região (Alto Piemonte), é o Lessona.
Lessona, pequena denominação da província
de Biella, é produzido por meia dúzia de viticultores que dividem os pouco mais
de 10 hectares da DOC.
O mais antigo produtor e meu preferido é Sella.
Sella produz vinhos desde o século XVII e seu Lessona é
espetacular.
"Que tal um Lessona Sella?"
Minha pergunta preocupou Emilio que enrugou a fronte e
respondeu: "O Sella acabou e somente me
restou o Lessona da Proprietà Sperino".
Uma pequena pausa informativa.
O Lessona, da vinícola "Proprietà Sperino", custa
quase o triplo daquele produzido pela Sella.
Os De Marchi, proprietários da "Isole e Olena", cansaram
de meter a mão no bolso dos que apreciam seu Cepparello e resolveram tentar
fazer o mesmo com os fãs do Lessona.
Não deu!
O Chianti é conhecido no mundo todo e até os diretores da AB$
e $BAV já beberam de graça, como sempre, em algum evento boca livre, mas o Lessona
é um vinho raro, pouco conhecido e não se presta às grandes jogadas
marqueteiras.
"Emilio, os De Marchi não verão, nunca,
meu dinheiro..... Outra sugestão?"
"Gosta do
Bramaterra? Se gostar tenho o da Colombera & Garella que é sensacional"
Bramaterra..... Ha quanto tempo não bebo um, pensei.
"Ok vamos de Bramaterra"
Emilio, sorridente, foi à adega e retornou com o vinho.
Grande vinho!
Grande escolha!
Algumas informações....
O Bramaterra é uma das grandes denominações do "Alto
Piemonte".
Definir o "Alto Piemonte" não é fácil.
Onde começa?
Onde termina?
É neste território, confinante com os Alpes, que nascem
Gattinara, Fara, Ghemme, Boca, Sizzano, Carema, Bramaterra, Erbaluce di Caluso
etc.
Os outrora 40.000 hectares de vinhas, do "Alto
Piemonte", encolheram e se resumem, hoje, a pouco mais de 1.000.
As indústrias de Romagnano Sesia (metal mecânicas), Biella
(têxteis), Ivrea (Olivetti) e Torino (Fiat), absorveram muita mão de obra e os
viticultores preferiram abandonar as vinhas para abraçar as novas oportunidades
nas cidades.
Resultado: A maior DOC, da região, é "Gattinara" com 102
hectares.
O Bramaterra pode ser produzido em sete municípios (Brusnengo, Curino, Lozzolo, Masserano, Roasio, Sostegno
e Villa del Bosco).
Tamanha extensão territorial
poderia abrigar bem mais que os atuais 32 hectares, mas os vinhos do "Alto
Piemonte" não alcançam a fama que merecem e são praticamente desconhecidos
do grande público, italiano incluso.
O que falar do "Bramaterra Cascina
Cattignano 2010" da vinícola
Colombera & Garelli?
Iniciaria dizendo que meu
queixo caiu já ao levar a taça ao nariz onde a pimenta, flores, frutas, faziam
a festa se alternado constantemente.
Nariz importante,complexo
Na boca é fácil perceber mineralidade
marcante, rara elegância, taninos perfeitos, taninos que são um quase
irresistível convite a beber mais; um vinho perigoso...
O Bramaterra Cascina Cattignano é vinificado com 70% de uvas Nebbiolo, 20% Vespolina e 10% Creatina.
O vinho passa 24 meses em
barriques e tonneaux usados e afina por 4 meses em tanques de cimento.
Mais uma bela surpresa: No Bramaterra Cascina Cattigliano não se percebe a insuportável presença
madeira.
Quando a barrique é mal usada, como na esmagadora
maioria dos vinhos vinificados com o mesmo sistema fora da França, a madeira
transmite, ao vinho, o insuportável sabor "parkeriano".
O "Cascina Cattigliano" é um raro exemplo, não francês, de que é possível
usar a barrique com cuidado e inteligência.
Carlo Colombera, tratorista
da vinícola Antoniolo de Gattinara, em 1992 adquire a quinta "Cascina Cattigliano" no município de Masserano, uma das cidades
em que a DOC Bramaterra é permitida.
O interesse pelas vinhas e
vinhos se torna mais evidente quando Carlo compra um hectare de vinhedos em
Lessona e aluga mais 5 em Roasio.
Em 2000 as primeiras garrafas
e o ingresso do filho na atividade.
O filho, Giacomo, convida o enólogo
da vinícola Sella, Cristiano Garella, para participar da sociedade.
Nasce a "Colombera & Garella".
Seria interessante conhecer a
região e a vinícola Colombera & Garella, para perceber por que a verdadeira
vinicultura, na Europa, jamais sucumbirá.
Poucos hectares de grande vocação
vinícola, muita paixão e seriedade... Um ótimo vinho : Bramaterra Cascina Cattigliano.
Vinho raro, mas não caro
(14/16 Euros), que merece, até, uma demorada busca.
Bacco
No Brasil a cultura é cervejeira, na Itália, vinícola.
ResponderExcluirBa, existe cultura no Brasil?
Segundo a WTO (2010) a italia consome 66% do alcool em vinho, 23% em cerveja e 11% em destilados.
No alvo. Bravo.
Auguri, bastardo.
http://enofinewine.com/products/antoniotti-bramaterra-2010
ResponderExcluirBelo artigo, Bacco. A Cellar importava os vinhos da Sella, incluindo um Bramaterra. Infelizmente, eles não mais figuram em seu portfólio. Espero que um dia voltem.
ResponderExcluirSalu2,
Jean
pois he, cada coisa que aparece. ou desaparece. ha varias importadoras que tem otimos vinhos no portifolio. coisas raras, bem feitas. mas nao vingam. pode ser incompetencia, azar, inferno astral, mas lamento que o bom gosto nao tenha vez. quando ha bom gosto, o preco he incompativel com sanidade.
Excluira tal da conta nao fecha, o cara liquida tudo e volta a fazer o que deveria ter feito antes; aplicar o dinheiro e mandar a vida empreendedora a pqp.
Acho que é mesmo um conjunto de fatores. Mas o principal é o mau gosto do público brasileiro, ou pelo menos, da maior parte dele. O pessoal consome rótulos e pontos. Assim, importadoras com bons vinhos, mas desconhecidos da maioria, acabam sofrendo. E como você bem disse, o cara acaba liquidando tudo e aplicando a grana. Mesmo porque, ser empreendedor no Brasil é um verdadeiro suplício.
ExcluirSalu2
Pois é.... Aposto que a Mistral continua importando o caro e redundante Cepparello. Brasileiro adora(va) Solaia,Sassicaia,Ornellaia e outra caríssimas garrafas. Brasileiro adora(va) etiquetas badaladas.
ResponderExcluirPega o catalogo mistral de 2013 e veja o novo. Encolheu mais que pinto de japones na agua fria.
ExcluirNao verei, mas aposto que a expo sei la o que vai ser uma quermesse esse ano.
Descubra vinhos do Sudao...
Essa tal expo não me pega. Em 2015 dizem que foi devagar o negócio. Imagine esse ano!
ExcluirVinhos de regiões menos conhecidas sofrem pela ausência de interesse do mercado local. Ora temos o bebedor de vinhos chilenos baratos, ora o comprador de trofeus, muitos deles bombas sul-americanas.
ResponderExcluirApesar disso, há importadoras que trabalham com ninhos, trazendo otimos vinhos europeus a preços interessantes. Dou exemplo da De La Croix, especializada em vinhos franceses, e a Piovino, em italianos.
Concordo com o colega. A De La Croix tem vinhos bem legais e pratica bons preços. Quanto à Piovino, não conheço. Mas passando rapidamente pelo seu site, vi que seus preços são um pouco altos, em comparação com os preços lá fora dos vinhos que importa. Eu incluira na lista a Cellar, que tem bons vinhos e pratica bons preços, e a Casa Martini, de BH, que também traz coisas boas e não esfola o consumidor (ainda que tenha aumentado os preços recentemente).
ExcluirSalu2
Recomendo leitura no valor de hoje com chef italiano dizendo que tem orgulho em ter oferecido a gastronomia brasileira mais que ossobuco com risotto. No fim do artigo o cara se diz resignado que o consumidor brasileiro quer mesmo o de sempre.
ExcluirO tre bicchieri continua caro e ruim. Eca.
Mau gosto tem carater epidemico, atavico, genetico, impregnado no homos bananicos.
Quanto as importadoras mencionadas, only time will tell.... mas sou bearish nesse modelo de negocios.
Auguri, bastardi.