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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

BRAMATERRA




Em Stresa, além do comer bem, no "La Piemontese", é possível encontrar alguns bares excepcionais para tomar algumas taças.

Há uma meia dúzia, mas gostaria de indicar apenas dois: "Al Buscion" e "Da Giannino"
 

A enoteca mais antiga, tradicional, com boa carta e bela variedade de petisco, é "Al Buscion"

"Al Buscion" é mais frequentada pelos turistas, mas aposta, também, no publico local.


 O "Da Giannino", em sua estratégica posição (bem na encantadora pracinha central), abusa na quantidade de sofisticadas opções..... É impossível permanecer abstêmio!

Veja, na foto, a relação de vinhos servidos em taças no "Da Giannino".

É uma opção cultural.

No Brasil a cultura é cervejeira, na Itália, vinícola.

A adega, do "La Piemontese", já viveu anos melhores, mas Emilio Belossi, proprietário e competente sommelier, soube, com maestria e inteligência, compensar a menor quantidade de etiquetas com uma seleção de preciosidades.

Um dos meus vinhos prediletos, da região (Alto Piemonte), é o Lessona.

 Lessona, pequena denominação da província de Biella, é produzido por meia dúzia de viticultores que dividem os pouco mais de 10 hectares da DOC.

O mais antigo produtor e meu preferido é Sella.

Sella produz vinhos desde o século XVII e seu Lessona é espetacular.

"Que tal um Lessona Sella?"

Minha pergunta preocupou Emilio que enrugou a fronte e respondeu: "O Sella acabou e somente me restou o Lessona da Proprietà Sperino".

Uma pequena pausa informativa.

O Lessona, da vinícola "Proprietà Sperino", custa quase o triplo daquele produzido pela Sella.

Os De Marchi, proprietários da "Isole e Olena", cansaram de meter a mão no bolso dos que apreciam seu Cepparello e resolveram tentar fazer o mesmo com os fãs do Lessona.

Não deu!

O Chianti é conhecido no mundo todo e até os diretores da AB$ e $BAV já beberam de graça, como sempre, em algum evento boca livre, mas o Lessona é um vinho raro, pouco conhecido e não se presta às grandes jogadas marqueteiras.

"Emilio, os De Marchi não verão, nunca, meu dinheiro..... Outra sugestão?"

"Gosta do Bramaterra? Se gostar tenho o da Colombera & Garella que é sensacional"

Bramaterra..... Ha quanto tempo não bebo um, pensei.

"Ok vamos de Bramaterra"

Emilio, sorridente, foi à adega e retornou com o vinho.

Grande vinho!

Grande escolha!

Algumas informações....

O Bramaterra é uma das grandes denominações do "Alto Piemonte".

Definir o "Alto Piemonte" não é fácil.

Onde começa?

Onde termina?

O melhor seria dizer: As DOC e DOCG das províncias de Vercelli, Novara, Biella e Torino.

 

É neste território, confinante com os Alpes, que nascem Gattinara, Fara, Ghemme, Boca, Sizzano, Carema, Bramaterra, Erbaluce di Caluso etc.

Os outrora 40.000 hectares de vinhas, do "Alto Piemonte", encolheram e se resumem, hoje, a pouco mais de 1.000.

As indústrias de Romagnano Sesia (metal mecânicas), Biella (têxteis), Ivrea (Olivetti) e Torino (Fiat), absorveram muita mão de obra e os viticultores preferiram abandonar as vinhas para abraçar as novas oportunidades nas cidades.

 

Resultado: A maior DOC, da região, é "Gattinara" com 102 hectares.

O Bramaterra pode ser produzido em sete municípios (Brusnengo, Curino, Lozzolo, Masserano, Roasio, Sostegno e Villa del Bosco).

Tamanha extensão territorial poderia abrigar bem mais que os atuais 32 hectares, mas os vinhos do "Alto Piemonte" não alcançam a fama que merecem e são praticamente desconhecidos do grande público, italiano incluso.

O que falar do "Bramaterra Cascina Cattignano 2010" da vinícola Colombera & Garelli?

Iniciaria dizendo que meu queixo caiu já ao levar a taça ao nariz onde a pimenta, flores, frutas, faziam a festa se alternado constantemente.

Nariz importante,complexo

Na boca é fácil perceber mineralidade marcante, rara elegância, taninos perfeitos, taninos que são um quase irresistível convite a beber mais; um vinho perigoso...

O Bramaterra Cascina Cattignano é vinificado com 70% de uvas Nebbiolo, 20% Vespolina e 10% Creatina.

O vinho passa 24 meses em barriques e tonneaux usados e afina por 4 meses em tanques de cimento.

Mais uma bela surpresa: No Bramaterra Cascina Cattigliano não se percebe a insuportável presença madeira.

 Quando a barrique é mal usada, como na esmagadora maioria dos vinhos vinificados com o mesmo sistema fora da França, a madeira transmite, ao vinho, o insuportável sabor "parkeriano".

 O "Cascina Cattigliano" é um raro exemplo, não francês, de que é possível usar a barrique com cuidado e inteligência.

Carlo Colombera, tratorista da vinícola Antoniolo de Gattinara, em 1992 adquire a quinta "Cascina Cattigliano" no município de Masserano, uma das cidades em que a DOC Bramaterra é permitida.

O interesse pelas vinhas e vinhos se torna mais evidente quando Carlo compra um hectare de vinhedos em Lessona e aluga mais 5 em Roasio.

Em 2000 as primeiras garrafas e o ingresso do filho na atividade.

O filho, Giacomo, convida o enólogo da vinícola Sella, Cristiano Garella, para participar da sociedade.

 Nasce a "Colombera & Garella".

Seria interessante conhecer a região e a vinícola Colombera & Garella, para perceber por que a verdadeira vinicultura, na Europa, jamais sucumbirá.

Poucos hectares de grande vocação vinícola, muita paixão e seriedade... Um ótimo vinho : Bramaterra Cascina Cattigliano.

Vinho raro, mas não caro (14/16 Euros), que merece, até, uma demorada busca.

Bacco

 

11 comentários:

  1. No Brasil a cultura é cervejeira, na Itália, vinícola.

    Ba, existe cultura no Brasil?

    Segundo a WTO (2010) a italia consome 66% do alcool em vinho, 23% em cerveja e 11% em destilados.

    No alvo. Bravo.

    Auguri, bastardo.

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  2. http://enofinewine.com/products/antoniotti-bramaterra-2010

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  3. Belo artigo, Bacco. A Cellar importava os vinhos da Sella, incluindo um Bramaterra. Infelizmente, eles não mais figuram em seu portfólio. Espero que um dia voltem.
    Salu2,
    Jean

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    1. pois he, cada coisa que aparece. ou desaparece. ha varias importadoras que tem otimos vinhos no portifolio. coisas raras, bem feitas. mas nao vingam. pode ser incompetencia, azar, inferno astral, mas lamento que o bom gosto nao tenha vez. quando ha bom gosto, o preco he incompativel com sanidade.

      a tal da conta nao fecha, o cara liquida tudo e volta a fazer o que deveria ter feito antes; aplicar o dinheiro e mandar a vida empreendedora a pqp.

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    2. Acho que é mesmo um conjunto de fatores. Mas o principal é o mau gosto do público brasileiro, ou pelo menos, da maior parte dele. O pessoal consome rótulos e pontos. Assim, importadoras com bons vinhos, mas desconhecidos da maioria, acabam sofrendo. E como você bem disse, o cara acaba liquidando tudo e aplicando a grana. Mesmo porque, ser empreendedor no Brasil é um verdadeiro suplício.
      Salu2

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  4. Pois é.... Aposto que a Mistral continua importando o caro e redundante Cepparello. Brasileiro adora(va) Solaia,Sassicaia,Ornellaia e outra caríssimas garrafas. Brasileiro adora(va) etiquetas badaladas.

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    1. Pega o catalogo mistral de 2013 e veja o novo. Encolheu mais que pinto de japones na agua fria.

      Nao verei, mas aposto que a expo sei la o que vai ser uma quermesse esse ano.

      Descubra vinhos do Sudao...

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    2. Essa tal expo não me pega. Em 2015 dizem que foi devagar o negócio. Imagine esse ano!

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  5. Vinhos de regiões menos conhecidas sofrem pela ausência de interesse do mercado local. Ora temos o bebedor de vinhos chilenos baratos, ora o comprador de trofeus, muitos deles bombas sul-americanas.
    Apesar disso, há importadoras que trabalham com ninhos, trazendo otimos vinhos europeus a preços interessantes. Dou exemplo da De La Croix, especializada em vinhos franceses, e a Piovino, em italianos.

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    1. Concordo com o colega. A De La Croix tem vinhos bem legais e pratica bons preços. Quanto à Piovino, não conheço. Mas passando rapidamente pelo seu site, vi que seus preços são um pouco altos, em comparação com os preços lá fora dos vinhos que importa. Eu incluira na lista a Cellar, que tem bons vinhos e pratica bons preços, e a Casa Martini, de BH, que também traz coisas boas e não esfola o consumidor (ainda que tenha aumentado os preços recentemente).
      Salu2

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    2. Recomendo leitura no valor de hoje com chef italiano dizendo que tem orgulho em ter oferecido a gastronomia brasileira mais que ossobuco com risotto. No fim do artigo o cara se diz resignado que o consumidor brasileiro quer mesmo o de sempre.

      O tre bicchieri continua caro e ruim. Eca.

      Mau gosto tem carater epidemico, atavico, genetico, impregnado no homos bananicos.

      Quanto as importadoras mencionadas, only time will tell.... mas sou bearish nesse modelo de negocios.

      Auguri, bastardi.

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