Escrever sobre vinho, turismo, gastronomia, no Brasil dos
nossos dias, soa quixotesco, constrangedor, inútil, razão pela qual ao iniciar
esta matéria, me vi como o sujeito entrando em um velório, rindo, bebendo
Champagne e cantando “Parabéns Pra
Você”.
Minhas matérias não podem interessar e muito menos “concorrer” com
prisões, tornozeleiras, brigas, perseguições, tarifaços, lei Magnitsky, e o
escambau, que todos os dias, como um tsunami, invadem canais de rádio,
televisão, revistas, jornais, redes sociais etc.
Apesar dos tempos recomendarem muita cautela e muito “patriotismo” (vinho incluso?), o “vício” venceu a razão e aqui vai mais uma matéria,
não sobre a Patagônia, como sugere o cabeçalho, mas algumas opiniões e
comparações entre os vinhos chilenos, nacionais e europeus (especialmente os
franceses).
A lembrança, da remota região
chilena, apareceu em um final da tarde, quando, um amigo e eu, secávamos uma
garrafa de vinho (a segunda)
Taça vai, taça vem....A língua ficou mais solta, as falas
aumentaram de volume, as risadas mais estridentes e alguns desejos, mesmo, os
mais improváveis e absurdos, vieram à tona.
Depois das abundantes
taças de vinho, nossa insatisfação, com o atual panorama mundial, aflorou e
explodiu em incontáveis imprecações contra metade da população mundial.
Neste momento, com a mão livre (a outra parecia colada à taça
com Super Bonder …) Segurei o braço do
companheiro de libações e com voz pastosa, grave, pomposa, exclamei: “Fosse, eu, algumas décadas mais jovem, não pensaria
nem mais um minuto para largar tudo, partir para a Patagônia e morar no Parque
Nacional Torres del Paine, sem televisão, telefone, computador, redes sociais e
o @a#*X¢, na companhia apenas de ovelhas, guanacos, condores, raposas, pumas
e.......100 caixas de vinho chileno”.
O amigo agarrou a garrafa quase vazia do
Grand Cru Cassè – Malartic Lagraviere, que estravamos bebendo, derramou
o que restava em sua taça e indagou: “Por que 600
garrafas de vinho chileno?
“O vinho chileno é bom, barato e não gastaria uma fortuna para enxugar 600 “patagônicas” garrafas.... Assim, sem estuprar meu cartão, acredito que, já na 564ª ampola, enxergaria um mundo melhor...... ou não enxergaria mais nada”
Uma oportuna pausa nas libações e alguns copos de água com gás, depois, me convenceram que o melhor seria esquecer, por enquanto, o Parque Nacional
Torres de Paine e planejar, urgentemente, meu regresso a Santa
Margherita Ligure.....
Mesmo quando me vi livrei dos vapores alcoólicos e da
Patagônia, minha opinião sobre a qualidade/preço dos vinhos chilenos não mudou
um milímetro e enquanto escrevo a presente matéria estou bebericando, prazerosamente,
um bom Chardonnay “Don Luis” 2023, da Cousiño Macul, pelo qual
paguei razoáveis R$56,60.
É sempre bom lembrar que o deplorável “Miolo Reserva Chardonnay” custa R$ 70 e
se comparado ao “Dom Luis” pode provocar uma terrível crise de riso.
A presente matéria continuará. Na segunda parte comentarei
alguns os vinhos chilenos, cujo custo/qualidade considero muito interessante e que podem competir, ou superiores, até, a muitos Chardonnay da Borgonha que
emporcalham as prateleiras dos supermercados, denegrindo a reputação da famosa
região vinícola francesa
Bacco