O Brasil, vinícola, parece ter tendências e desejos naturais, quase incontroláveis, que o obrigam a correr na contramão da história.
O tolo impulso, de andar na contramão, se revela mais uma vez, pois, enquanto o mundo do vinho passa por uma crise, quase tão grave quanto a da
filoxera, no Brasil a carnavalesca euforia vinícola parece não ter limite e
muito menos, fim.
Alimentadas, talvez, pelo sucesso financeiro obtido por
produtores nacionais, que conseguem cobrar preços “suíços’ por vinhos
“sergipanos” (sim,
acredite... até em Sergipe há produtor de quase vinhos), pipocam, em
quase todo território nacional, mais e mais vinícolas que, após uma ou duas
colheitas, já ostentam “merdalhas” obtidas nos incontáveis
concursos picaretas que emporcalham e avacalham o mundo do vinho.
O Brasil tropical, além de bonito por natureza e abençoado por
um Deus cristão, é hoje o favorito de uma divindade pagã: Baco.
Baco, para o desespero dos predadores gaúchos, desde sempre
maiores produtores de “tremendas-bostas”,
em um passe de mágica, resolveu realizar a multiplicação das
vinhas em todos os rincões do Brasil.
Baco, o deus pagão, embarcou em um pau de arara, deixou o “terroir-terror”, gaúcho para trás e começou sua romaria, sem fim,
pelo imenso Brasil.
Baco multiplicou vinhas nos lugares mais impensáveis e
improváveis, assim, hoje, seu “milagre-do-vinho” está presente, pasmem, no
cerrado de Goiás e do Distrito Federal, na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais,
Ceará, Sergipe, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e acredite, se quiser e puder,
até no Pantanal mato-grossense.
É o milagre da multiplicação das “Vinhas
da Ira”.
Não estou me referindo ao
livro de John Steinbeck e muito menos ao filme homônimo.
A ira, neste caso, é aquela
que atormenta, sem piedade, a vida dos enófilos brasileiros que pagam $$$$$$ por “eno-tremendas-bostas”
que não valem nem 10% do que custam.
O lucro fácil e exagerado,
que norteia e domina o setor vinícola nacional, incentivou muitos aposentados,
empresários, arrivistas, sonhadores, predadores, profissionais liberais e até
bombeiros, a investir no plantio de parreiras, em todos os cantos do Brasil, quase
sempre sem cuidado, preocupação, conhecimento ou mínimo de estudo.
Os novos Leroy, Guigal, Leflaive, Gaja,
Conterno, Hochar etc. do Brasil, imitando
seus colegas do Rio Grande do Sul, produzem apenas tremendas-bosta-caras e
apostam no sucesso de suas garrafas comprando estrelas, taças, pontos, medalhas
etc. das sempre disponíveis canetas de vida fácil que, mediante $$$$$, elogiam
qualquer zurrapa e até aquela obscenidade que atende pelo nome de “Pérgola”.
Enquanto assistimos à
incrível expansão das vinhas, no paraíso tropical, abençoado por Baco e
ridículo por natureza, no restante do mundo vinícola, como já mencionei, no
início da matéria, há uma crise que piora a cada dia, sem luz no final do túnel
e nenhum sinal de um final feliz.
Nas adegas italianas
mofam, por falta de compradores, mais de 44 milhões de hectolitros de vinho (quase
6 bilhões de garrafas).
Na França, nos últimos 12 meses, faliram 255 empresas vinícolas.
O governo francês financiará a erradicação de 30.000 hectares de
vinhedos e nos supermercados gauleses é fácil encontrar garrafas de Bordeaux
por 1,99 Euro (a segunda garrafa sai por 1,39 Euros)
Na Espanha, nos
últimos 10 anos, nada menos que 187.000 propriedades vinícolas deixaram de
existir e.....Por aí vai.
Entre os muitos problemas,
que atingem o mundo do vinho, há a mudança n o gosto e preferência dos jovens
que consomem sempre mais cerveja, coquetéis ou outras bebidas alcoólicas, deixando
o vinho como terceira ou quarta opção.
Outra, mas não menor
preocupação: os jovens preferem
beber vinhos brancos, rosés, espumantes ou tintos leves.
Tintos impenetráveis, pesados
e muito alcoólicos, enfrentam sempre mais dificuldades para encontrar
consumidores e acabam mofando nas adegas dos produtores.
Enquanto isso, no Brasil da
contramão, há quem continue bebendo Amarone com 16º.
Parabéns, produtores e fãs
dos vinhos nacionais….vocês se merecem.
Dionísio
Franceses tem que quebrar mesmo. Ficam atravancando o acordo com o Mercosul no qual poderiam vender esses vinhos no Brasil bem mais caro que 1,99...
ResponderExcluirSurgiu uma dúvida: o comentário é ridículo ou idiota?
ResponderExcluirAqui no Brasil, em sua maioria, não estão fazendo vinhos propriamente, mas enoturismo. O foco não é no produto (de qualidade patética e preço abusivo), mas na experiência de uma tarde na serra, um forno de pizza, uma decoração a la Toscana (com muitos graus de liberdade) e o vinho fica sendo apenas um pedaço da experiência vendida, a vinha é quase pra compor. Tudo caro e de gosto duvidoso, mas é isso.
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