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terça-feira, 15 de agosto de 2023

BRASILEIRO PODE BEBER? 2

 


A Miolo foi uma das primeiras, predadoras de vinho, a perceber que poderia relegar a um segundo plano a qualidade dos vinhos, mas mesmo assim lucrar muito com publicidade bem boladas.

Vinhos banais, altas pontuações (sempre pagas), canetas de vida fácil e sempre famintas, um famoso enólogo-viajante pronto a assinar até Lacto Purga, eram os caminhos a seguir para conseguir lucros fantásticos.



Não foi fazendo caridade que a Miolo, em pouco mais de três décadas, passou de 30 hectares de vinhedos e fornecedora de uvas às grandes engarrafadoras, para os atuais mais de 1.000 hectares e uma das maiores industrias vinícolas do país.

Voltemos às picaretagens......

O “Lote 43” animou a Miolo a contratar, mais uma vez, o enólogo viajante, Michel Rolland-Lero e surpreender, novamente, o mercado com uma etiqueta estupradora de cartões; “Sesmarias”.



Era uma fase em que bastava pronunciar o nome do Rollando-Lero para os diretores da ABS entrarem em espasmódicas excitações.

O nosso enólogo- viajante, que de bobo nada tem, prevendo o próximo fim de sua relação com a Miolo, entrou com tudo o que tinha e bolou sua última “obra prima”  vinificando Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Tannat, Tempranillo, Touriga Nacional…e só parou por não encontrar mais castas para esmagar



Nascia mais um vinho Miolo: “Suruba-Sesmarias”.

Não pense que beber a criação da Miolo é tarefa simples, fácil, barata; para tirar a rolha do “Suruba-Sesmarias” é preciso desembolsar hiperbólicos   R$ 800/1.000.  

O sucesso, dos assaltos da Miolo aos cartões dos enófilos brasileiros, animou muitos outros produtores nacionais.



 Os predadores perceberam que os eno-palermas acreditavam no falso lema do “se é caro é bom” e investiram muito para alimentar, mais e mais, a crença

 Pizzato, Don Giovanni, Luiz Argenta, Era dos Ventos, Perini, Guaspari, Maximo Boschi, Valduga, Maria Maria, Salton, Vallontano, Guatambu, Pericó, Peterlongo etc. se especializaram em meter mão no bolso dos consumidores brasileiros, produzindo vinhos nacionais, quando muito e apenas razoáveis, por preços de Grand Cru francês 



Há três predadores especiais que deixei, propositalmente, fora da lista: Vilmar Bettu, Lidio Carraro e Geisse.

Não vou dedicar muito tempo sobre o que penso dos vinhos do Vilmar, mas devo reconhecer que o Bettu é um gênio do marketing e um Mandrake na hora da venda.

Vilmar, imitando Mandrake, consegue hipnotizar os eno-tontos e convencê-los a comprar, por preços estratosféricos, seus quase-vinhos-artesanais de araque.



Bettu é um verdadeiro alquimista: Transforma tremendas-bostas em lingotes de ouro.

Lidio Carraro.....



O que dizer de um dos maiores predadores da Serra Gaúcha?

Uma vinícola brasileira que anuncia um Cabernet Sauvignon gaúcho por um preço maior do que um Pauillac.

Veja 1)


LIDIO CARRARO GRANDE VINDIMA CABERNET SAUVIGNON 2012 + ESTOJO GRANDE VINDIMA

•DESTAQUE••LANÇAMENTO•

Parte superior do formulário

POR:
R$ 724,00




 

Veja 2)

Parte inferior do formulário

 

 


Château Lynch-Bages 2021

5e cru classé - 

Bordeaux

 - 

Pauillac

 - Rosso - Dettagli

128,10 € / Unità (R$ 678)

 

A predadora dos Pampas não se satisfaz apenas em “morder” os fãs do Cabernet Sauvignon e ataca, com sua rara voracidade, também, os admiradores do Nebbiolo.

Quem já bebeu o “Singular Nebbiolo” da Carraro e um bom Barolo, não consegue acreditar que ambos sejam vinificados com a mesma casta.

Eu considero o vinho da Carraro um verdadeiro insulto ao Nebbiolo, mas há eno-tontos e canetas de aluguel, que elogiam o Nebbiolo gaúcho e sem pestanejar desembolsam, por ele, escorchantes R$ 726,30 (o triplo de um ótimo Barolo 2019 de “Fratelli Alessandria”)

Veja



Barolo del Comune di Verduno Fratelli Alessandria 2019

Fratelli Alessandria

Quello dei Fratelli Alessandria è un Barolo del Comune di Verduno corposo e intenso che viene lasciato invecchiare per 36 mesi in botti di rovere francese e di slavonia. Presenta un bouquet molto fine e delicato dove si alternano note di violetta e sensazioni balsamiche, con un finale che gioca su caffè e pepe

41,00€ (R$ 217)

o 3 rate da 13,67 € senza interessi.  

Quando acreditava que ao Lidio Carraro havia esgotado todos seus ardis e imaginação na tentativa de ludibriar os enófilos tupiniquins, eis que que a predadora “descobre”, em suas grutas gaúchas, ânforas pré-colombianas.

 


 Nasciam, ali e então, duas novas incríveis picaretagens vinícolas: “Vinum Amphorae Chardonnay” e “Vinum Amphorae III”.




VINUM AMPHORAE CHARDONNAY SAFRA 2019 - COTA LOTE III COM 1 GARRAFA DE 750ML

•DESTAQUE••LANÇAMENTO•

Parte superior do formulário

POR:
R$ 731,60

ou 3x de R$ 243,87 Sem juros Cartão MasterCard

Parte inferior do formulário

 

O departamento de marketing da predadora resolveu adotar, nas etiquetas, o latim, pois pouco se conhece da língua faladas pelos etruscos, mas é quase certo que as ânforas, utilizadas, na vinificação dos dois vinhos, pertenciam a uma família etrusca que emigrou para o Rio Grande do Sul em 8717 AC.


VINUM AMPHORAE III SAFRA 2020 - COTA LOTE II COM 2 GARRAFAS DE 750ML

Parte superior do formulário

POR:
R$ 1.315,80

ou 4x de R$ 328,95 Sem juros Cartão MasterCard

 

Falando sério...Um Chardonnay nacional custando tanto quanto um Chassagne-Montrachet 1er Cru e um tinto gaúcho mais caro do que um Beaune 1 er Cru…Piada






AOP Beaune 1er Cru "Cuvée Cyrot-Chaudron"

Prix : 88,00 €

 

Millésime : 2014



Appellation : AOP Beaune 1er Cru



Domaine : Hospices De Beaune



Cépage : Pinot Noir



Format : Bouteille (75 cl)



Couleur : Rouge

 

Voltemos à realidade…. A Lidio Carraro, em picaretagem marqueteira, somente é segunda quando comparada à próxima predadora vinícola e estrela de minha próxima matéria.

Dionísio

 

 

 

 

 

 

domingo, 6 de agosto de 2023

BRASILEIRO PODE BEBER ?

 


Sinto muito, mas não posso concordar com o título da matéria postada por Bacco: “Brasileiro Sabe Beber? ”

O correto seria “Brasileiro Pode Beber?

A resposta?

Não, impossível!

As razões são muitas, mas poderíamos, assim, resumi-las:          os vinhos nacionais são medíocres e caros.

Não atoa o Brasil é o 3º produtor mundial de cerveja (152 milhões de hectolitros) e o 14º de vinho (3,6 milhões de hectolitros).



Sempre é bom lembrar que, dos 3,6 milhões hectolitros mais de 80% são elaborados com uvas não viníferas (Vitis Labrusca) e recebem a denominação “Vinho de Mesa”

Além de intragáveis e prejudiciais à saúde (veja link abaixo), os “vinhos de mesa”, pela total falta de qualidade, não poderiam frequentar nenhuma mesa e deveriam ser classificados como “Vinho de Vaso Sanitário”.

https://baccoebocca-us.blogspot.com/2014/12/macho-man-aposentado.html



O restante da produção (20%), denominada “Vinho Fino”, está na mão de grandes indústrias e ricos investidores que sempre primaram por praticar marketing agressivo, preços abusivos e qualidade mais que discutível.

Os nossos industriais, do setor, sempre tiveram a preocupação, não de oferecer bons produtos com preços compatíveis com a realidade brasileira, mas inventar propagandas fantasiosas que justificassem os valores escorchantes cobrados por garrafas risíveis, banais, dispensáveis.



Marketing agressivo, caneta$ de aluguel, $sommelier$ na folha de pagamento, jornalista$, influenciadore$, medalhas e prêmios “comprados” em concursos caça-níqueis, etc., criaram milhares de eno-tontos que acreditam, piamente, na qualidade excelsa das garrafas nacionais e pagam, patrioticamente e orgulhosos, cifras astronômicas por vinhos de 3ª categoria.



Se os vinhos nacionais, por razões climáticas, solo, pouca tradição, nenhuma seriedade, não alcançam, nem convencem a maioria da população (até o consumo da cachaça é 300% superior ao do vinho), devemos, todavia, elogiar as eficazes e soberbas publicidades que o setor vinícola criou.

Apesar de totalmente falsas, picaretas e oportunistas, as propagandas do setor, conseguiram convencer, boa parte dos consumidores, que nossos medíocres vinhos são tão bons e até superiores aos renomados franceses, italianos, espanhóis, portugueses etc.



Há muitos anos (vinte?)  foi inventada e divulgada uma das primeiras e mais picaretas campanhas de propaganda do setor: “O espumante nacional é o segundo melhor do mundo”.

Pode parecer incrível, mas até hoje há quem acredite que nossos espumantes, por sua excelsa qualidade, fazem sucessos em todos os cantos do mundo (ninguém, na Europa, sabem que existem...)

O sucesso obtido pela campanha “segundo melhor do mundo” convenceu grande parcela de nossos produtores que com uma boa propaganda seria possível vender “vinhos-grandes-bostas” por preço superiores, até dos 1er Cru e Grand Cru franceses, 



 Oportunistas e vorazes, como poucos, nossos produtores perceberam que investir em picaretagens publicitaria era muito mais fácil e rentável do que produzir vinhos melhores e mais baratos.

Quase todos os produtores vinícolas já tentaram e continuam tentando ludibriar os consumidores com propagandas enganosas

Alguns exemplos:

A Miolo inventou um caríssimo: “Lote 43”

Lote 43, dizem os Miolo, foi a parcela de terra em que Giuseppe, patriarca da família, em 1897, iniciou sua aventura brasileira. 

Os Miolo demoraram 100 anos para descobrir que aquele pedaço de terra era “milagroso” e que poderia doar uvas incomparáveis, assim, em 1999, laçaram um vinho com etiqueta: “Lote 43”.



Se o vinho é vinificado com uvas provenientes da parcela “43”, que velho Giuseppe adubava, regularmente, todos os dias pela manhã, ninguém sabe e saberá jamais, pois não há nenhum controle de origem no Brasil.

O que sabemos, todavia, é que uma garrafa de Cabernet/Merlot “Lote 43” custa 200/220 R$ (38/42 Euros)



A Miolo soube valorizar os “esforços”, do velho Giuseppe na adubação do “Lote 43” e o Cabernet/Merlot gaúcho é oferecido, aos enófilos brasileiros, por um preço superior ao que os franceses pagam por um misero .......



Chateau Laroque Saint Emilion Grand Cru Classé 2016

Chateau Laroque

,  AOC Saint-Emilion Grand Cru, 1% Cabernet Franc, 99% Merlot

€ 36,43 IVA inc.

O exemplo acima é o primeiro de uma série

 

Continua

Dionísio

sábado, 29 de julho de 2023

BRASILEIRO SABE BEBER?

 




A tentativa do garçom, de me reservar as três garrafas de “L’Overtoure”, como era mais que previsível, não vingou e em uma semana já não havia nem uma gota do Champagne Savart no bar “Master”.

“ O L’Overtoure acabou, mas encontrei três deste”.

Umberto exibia nas mãos, como fosse um troféu, uma garrafa de Champagne “Vazart-Coquart TC 2016”.


Sou um esforçado pesquisador de etiquetas de Champagne, mas devo confessar ser impossível conhecer todas (há mais de 300) e a “Vazart-Coquart” era uma das muitas que jamais vira nem provara.

Poderia ser, aquela, uma boa ou má surpresa e só havia uma maneira de descobrir: “Abra a vamos provar…”



Em pouco mais de uma semana o garçom me surpreendeu duas vezes e.....tome mais gorjetas

O “TC 2016 Vazart-Coquart” é totalmente diferente do “L’Overtoure”, mas, em qualidade, nada deve ao irmão francês.

A diferença já inicia na escolha das uvas: Enquanto o L”Overtoure” é vinificado com Pinot Noir, o “TC 2016” é um 100% Chardonnay.





O “TC 2016” consolida sua diferença até na adega.

Ele e vinificado em ânforas de terracota (o TC significa Terre Cuite = Terracota), não desenvolve a fermentação malolática, a produção é de apenas 947 garrafas e custa algo bem próximos aos 100 Euros.

Complexo, muito mineral, mas ao mesmo tempo delicado, cremoso e intrigante.



Um grande Grand Cru, elegante, refinado, difícil de encontrar e que eu estava bebendo em um bar, na orla de Santa Margherita Lígure,

......A vida é bela.

Enquanto me deliciava, secando a taça do “TC 2016” da Vazart-Coquart, um alegre e barulhento grupo (dois casais) se acomodou no “Ristorante Pizzeria Emilio” a menos de três metros da minha mesa.



Percebi imediatamente que os dois casais eram brasileiros.

Jovens, bem vestidos, bolsas de griffe, relógios da moda.... Típicos patrícios sem problemas financeiros e com Euros para gastar à vontade.



Após a costumeira sessão de “selfies”, onde não faltaram as obrigatórias pernas cruzadas e “bocas de cu de galinha”, resolveram pedir o jantar:  Antepastos de frutos do mar, anchovas marinadas e “Spaghetti all’Astice” (astice é uma espécie de lagosta).

Até aí, tudo bem, mas ..... “Garçom uma garrafa de Barolo Gaja”.

19 horas com o sol brilhante e impiedoso que obrigava o termômetro a indicar 35º e, para completar, sensação térmica de 40º.



Os quatro patetas, suando abundantemente, escolheram um Barolo para acompanhar lagostas, lulas, camarões, mariscos, anchovas etc.

Levantei e saí quase correndo tentando esquecer o que acabara de presenciar.

Na tarde seguinte, todavia, não consegui, “fugir” do garçom   que servira os eno-tontos.

Conheço Aldo há muitos anos e sempre que nos encontramos batemos bons papos, assim, quando no dia seguinte ele me viu, no “Master” bebericando meu “TC 2016, se aproximou e com um sorriso maroto comentou: “Você viu, ontem, seus patrícios bebendo o Barolo do Gaja e comendo peixe debaixo de um sol de 40º?



Anuí e ele continuou: “O que você não viu foi a garrafa de Brunello di Montalcino que pediram depois:  …. Brasileiros sabem gastar, mas não sabem beber…”

Não pude deixar de lhe dar razão e envergonhado mudei de assunto

Bacco