No auge do culto a Bacco, romano deus do vinho e dos mistérios,
ocorreu, dos anos 1970 até os anos 2000, uma verdadeira corrida de milhões de enófilos,
que não satisfeitas em apenas beber e apreciar, sentiu a necessidade de
“entender” de vinho.
Resultado? O
surgimento, em todos os cantos do planeta, de incontáveis cursos especializado$
em “encinar” a desvendar os segredos do vinho.
O Brasil, das AB$ e $BAV da vida, talvez tenha sido o recordista
mundial na criação do maior número de sommeliers de araque.
Os Parkers da vida conseguiram convencer, grande parte dos
enófilos de todos os cantos do mundo, que, além do intrínseco prazer de beber
uma taça, era imperativo encontrar, naquela taça, mineralidade, acidez,
retrogosto, longos finais, groselha, mirtilos, cereja, framboesa, peixe de rio,
charuto, estrebaria, suor de cavalo, terra molhada e uma infinidade de gostos e
aroma que somente o olfato de um urso polar poderia perceber.
Em todos os cantos surgiram, como cogumelos em dias chuvosos,
associações e cursos que prometiam nos “encinar” e melhorar nossos parcos
conhecimentos vinícolas para, assim, poder apreciar, realmente, o vinho.
Eram os dias de gloria dos enólogos, sommeliers, críticos e um
sem número de picaretas que gravitavam ao redor do charmoso mundo das garrafas
de tinto, branco, rosé, espumante.......
Depois de duas ou três aulas, até mesmo na AB$ de Maceió, os
que haviam apenas bebido, até então, pinga e Sangue de Boi, com cara de enfado,
de quem guarda enorme sapiência e não percebendo o imenso ridículo, discorriam,
sobre mineralidade, untuosidade, aroma, sabor, retrogosto, estrutura,
equilíbrio etc. como se o assunto fizesse, desde sempre, parte da cultura
alagoana.
Demorou décadas, mas finalmente a pantomina chegou ao fim,
ninguém que eu conheço ainda frequenta cursos sobre vinho e a imensa maioria mandou
à merda mineralidade, untuosidade, estrutura, framboesa, mirtilos, frutos de
boque etc. e finalmente bebe..... Apenas bebe.
Os jovens enterraram todos os falsos e vetustos profetas das
barriques e toneis, mas, pasmem, caíram em um mar de estrume ainda maior: Os influencers do
Instagram.
Assim caminha a humanidade ......
O consumo, das grandes e famosas etiquetas, despenca sem
parar, o álcool é sempre mais demonizado, mas finamente, uma boa notícia:
aumentou sensivelmente a procura dos vinhos leves e de baixo teor alcoólico
sendo que o velho Lambrusco aparece nas primeiras posições.
Algumas informações e curiosidades sobre o Lambrusco,
curiosidade e informações, estas, que 99,73% de nossos “sommerdiers”, crítico$,
influencer$ etc. desconhecem solenemente.
O Lambrusco é um vinho antiquíssimo.
Há indícios que na
idade do ferro já havia presença de vinhas na atual província de Modena, mas
foi poeta Virgilio (Mantova 70-AC), em sua “ Quinta Bucolica”, o primeiro a
mencionar a “Lambrusca Vitis”.
A “Lambrusca Vitis” eram vinhas selváticas que nasciam, espontâneas,
na zona rural e produziam frutas de sabor azedo.
As videiras foram “domesticadas’ e hoje, as descendentes da
vetusta “Lambrusca Vitis”, dão vida ao Lambrusco
um dos vinhos italianos mais conhecido no mundo (Chianti em 1º, sempre).
São 6 as DOC: Lambrusco Grasparossa di Castelvetro, Lambrusco
di Sorbara, Lambrusco Salamino di Santa Croce, Modena, Reggiano e Colli di
Scandiano e di Canossa.
Nos 10.000
hectares, de vinhedos, 5.000 viticultores produziram, em 2023, 135 milhões de
garrafas de Lambrusco, sendo que 60% delas foram exportados para 90 países.
O Lambrusco é um
vinho fresco, de baixo teor alcoólico, média estrutura, fácil de beber, bem
equilibrado e.....barato!
Desembolsando
entre 4 e 10 Euros é fácil beber ótimos Lambrusco e aqui vão algumas dicas: “Otello Nero
di Lambrusco” (Ceci) - “Nivola” (Chiarli) – “Terre Verdiane” (Ceci) – “Rimosso”
(Cantina della Volta) – “Quaranta” (Venturini Baldini) – “Vigna del Cristo”
(Cavicchioli).
Creio seja difícil
encontrar as garrafas mencionadas no mercado Brasileiro, pois nossos
importadores privilegiam comercializar grandes etiquetas ou tremendas-bostas,
mas em sua próxima viagem, quando e se o Euro parar de subir, esqueça por
alguns instantes as “etiquetas-griffe” e beba um belo, bom e velho Lambrusco.
Bacco.
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