Se os Parker e Veronelli da vida (fácil?), fossem apenas
“culpados” de iludir, com seus pontos, medalhas, taças, estrelas e outras
picaretagens do gênero, os incontáveis eno-trouxas espalhados pelo mundo, não
haveria problema algum, mas com a ascensão, por eles promovida, dos vinho-moda,
muitas castas, tradicionais, populares, baratas, deixaram de ser vinificadas e
várias delas até erradicadas.
Os ricos e nobres toscanos, de Bolgheri, apesar do sucesso
comercial de seus vinhos “franceses”, não relegaram as castas locais ao
ostracismo, até porque possuíam propriedades em todo o território e não era
interessante, nem inteligente, deixar de produzir Brunello
di Montalcino, Chianti, Nobile di Montepulciano, Vernaccia di San Giminiano
etc.
A eno-picaretagem do Sassicaia já foi abordada várias vezes no
blog e quem desejar recordar basta acessar os links abaixo.
https://baccoebocca-us.blogspot.com/2014/03/bolgheri-vive-la-france.html
No Piemonte a história foi muito mais complexa e dolorosa
A irrefreável ascensão do Barolo e Barbaresco provocou uma
verdadeira revolução na viticultura piemontesa e, apesar das rígidas diretrizes
legais, impostas pelos consórcios das duas dominações (sempre há um jeitinho..),
viu aumentar, sendivelmente, o cultivo das uvas Nebbiolo e a consequente
diminuição da área das castas menos rentáveis e não adaptas à vinificação
parkeriana.
Alguns dados: em 1980, a área de
vinhedos, da DOCG Barolo, era pouco mais de1.200 hectares e atualmente ultrapassa
os 2.200 hectares.
Na contramão, do sucesso do Barolo e Barbaresco, o Barbera,
Dolcetto, Freisa, Grignolino, tradicionais vinhos que sempre alegraram as taças
piemontesas, sem esvaziar bolsos e carteiras dos enófilos, amargaram uma triste
e irrefreável decadência.
Pouquíssimos
saudosistas (eu sou um deles) ainda bebem Freisa e Grignolino e o capenga
Dolcetto luta, bravamente, para recuperar mercado (será?).
O Barbera, ainda bem, continua presente nas prateleiras dos
supermercados e enotecas, mas sem o vigor nem importâncias dos anos 1990.
Um conselho: quando passear pela bota não deixe de provar uma
ótima Freisa di Chieri e um sensacional Grignolino
d’Asti.
Tenho certeza que, já no primeiro ou segundo gole, mandará
Parker, Veronelli e Cia. à merda.....
Mas por que o Barbera e somente o Barbera, conseguiu escapar
da quase total decadência de seus primos pobres piemonteses?
Algumas razoes: Vinificação mais fácil, casta mais difusa na região (Barbera
cobre 30% do território vinícola do Piemonte) uma genial e muito bem bolada,
jogada de marketing da dupla Giacomo Bologna
e Luigi Veronelli que, nos anos 1980,
inventaram um fenômeno comercial que até hoje faz sucesso entre os eno-patetas-abonados:
“Bricco dell ’Ucellone”.
Continua....













