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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O ELECTRA DA VARIG

 


Longe de me considerar elitista, sofisticado, superior etc., tenho, todavia, profunda aversão à banalização.

É fácil perceber, então, que os dias que correm não me entusiasmam e não são exatamente meus preferidos.

Sem estar passando por uma crise de incontido saudosismo ou, pior ainda, querer sustentar uma tese, um tratado, uma crítica profunda, etc., quero, apenas, resumir o que penso da banalização generalizada que se alastrou e tomou conta de nossos costumes, cultura, educação, arte, estilo de vida, comportamento, o insuportável controle do “politicamente correto”.

 A propósito de arte, me ocorreu um exemplo convincente da tremenda banalização que hoje impera e domina: Compare, se conseguir, os atuais ídolos da música popular com o já falecido Bobby Darin interpretando, o clássico da música popular americana, “Mack The Knife”.

https://www.youtube.com/watch?v=4Qrjtr_uFac

Se não entendeu recomendo descontinuar a leitura e visitar a página da Deolane ou de algum dos milhares de “influencers” que emporcalham e banalizam a internet.

Neste ponto alguém perguntará: “Estará, Bacco, na iminência de tentar imitar o genial Woody Allen e realizar um novo “Meia Noite em Paris“?



Não, estou apenas tentando desabafar e comentar a banalização que tomou conta das companhias aérea que já foram Bobby Darin e hoje são Pabllo Vittar e descrever o purgatório pelo qual passei, em minha viagem para a Itália, nos aeroportos, salas VIP, aviões etc.

O PURGATÓRIO



Cansado de ser torturado pelos horários sádicos e desumanos, praticados pela Tap, que obrigam o passageiro, após martirizantes 9 horas de voo, entre Brasília e Lisboa, a mofar no aeroporto da capital portuguesa por mais 6 longas e insuportáveis horas, antes da conexão para Milão, optei voar pela Latam.



A Latam deixa o passageiro brasiliense “mofar” apenas 3 horas em Guarulhos, mas, preocupada com a boa forma atlética do viajante o obriga a realizar longa caminhada até alcançar o “paraíso” confuso, complicado e distante, conhecido, também, como “TERMINAL 3” (Nos vários deslocamentos meu pedômetro acusou nada menos do que 4.129 passos).



Ainda bem que eu, passageiro “business”, tive o privilégio, após perder 380 calorias, de desfrutar raros momentos de puro prazer e sofisticação eno-gastronômica na sala “VIP” da Latam.

Alguém já deve ter percebido meu sarcasmo e que toda a ladainha, acima, é apenas um prefácio para o que realmente interessa: A incrível e irrefreável ganância das companhias aéreas.



Alguém viajou na saleta no fundo do Electra da Varig que operava na ponte aérea nos anos 1980-1990?

Poucos, não é?

Pois bem, no voo, de pouco mais de uma hora, até Champagne era servido para o “pessoal da saleta”.



Bancos mais estreitos e que reclinam no máximo 5cm, pagamento extra para os assentos na parte dianteiras, nas saídas de emergência, por malas despachadas e ..... Apronte o cartão e não se espante se, em um futuro bem próximo, cobrarem até para ir ao banheiro: Mijadinha=R$5/Cocozinho=R$10.



Quem precisa tomar diurético, ou orlistate, está ferrado......

As famosas salas “VIP”, que eram símbolos de bom gosto, requinte, elegância, exclusividade, hoje parecem restaurantes por quilo.

Já não são exclusivas e qualquer viajante pode acessá-las mediante pagamento.



Resultado: sujeitos afobados, de calção e chinelos, atacando sem piedade as travessas de comida, devorando pratos pantagruélicos, bebendo tudo o que puder e encontrar pela frente, mulheres, querendo parecer sofisticadas, bebendo espumante nacional “tremenda-bosta”, tirando selfie ...um espetáculo imperdível!

É a banalização total, mas muito interessante, cômica.

Já não frequento com entusiasmo as salas “Vip”, mas movido pela curiosidade mórbida de conhecer e degustar o mais recente fenômeno da viticultura tupiniquim, o espumante “Viva la Vida”, entrei no restaurante por quilo, da Latam, do aeroporto de Guarulhos.

A mesma cafonice total, o mesmo empurra-empurra para alcançar os pratos de frios, a corrida quase ofegante para pegar mais uma garrafa de cerveja e a patética pantomima para escolher o melhor vinho.

Inútil...não há melhor taça de vinho. Há, apenas, o “menos-pior”.



O nosso “naftalínico” e decadente escalador de cruzeiros medievais e maior expert mundial em vinho de fundos de garrafas, também conhecido como Beato, não conseguiu ainda convencer, os sommelier-sadomasoquistas da Latam, que o “Viva la Vida” possui todos os predicados necessários para torturar os paladares tão eficazmente quanto o deplorável “Chandon Brut”.



 Falando sério.... Um sujeito que compra 1,3 hectares de vinhas, por R$ 96 milhões, não deveria permitir que uma de suas vinícolas produzisse tamanho insulto à enologia.



Não há, em meu repertório, nada melhor do que comparar o espumante Chandon à Coca Cola: Bem gelado, um gole é possível, mas quando se aproxima dos 12º/14º se torna verdadeiramente imbebível.



O Chandon (nosso ministro maior deveria proibir a venda do espumante que lembra, “sonoramente”, seu carinhoso apelido..) estava em boa companhia: “Estelado Rosé”

Tentei beber o espumante “Estelado Rosé” mas parei no primeiro e pequeníssimo gole....tremenda-bosta.



Talvez demasiadamente curioso quis conhecer mais e me “afundar” no purgatório vinícola da sala “VIP” da Latam.

Com coragem, que desconhecia possuir, derramei, na taça, um pouco do chileno “Toro de Piedra Sauvignon Blanc”.



Nem o grande toureiro Manolete conseguiria “vencer” este Toro de Piedra Sauvignon Blanc.

Aromas, todos quimicamente adicionados, lembravam os odores enjoativos de uma perfumaria suburbana, cor mais próxima do conhaque e nenhum resquício, lembrança da uva Sauvignon .... Um horror.



Saí correndo até alcançar o portão de embarque e.....

 Já acomodado na poltrona, tranquilo, relaxado... “Senhor aceita um Champagne?

Fabiana, a aeromoça, percebeu o brilho do meu olhar e derramou mais um pouco na taça.

Já no primeiro gole o Champagne me fez recordar os bons tempos da saleta no Electra da Varig.



Champagne faz milagres acontecerem

Bacco.


 

 

8 comentários:

  1. Hahaha ótimo post
    Tagarela aqui.

    Bem, viajo frequentemente a trabalho e sempre de business, por isso simpatizo com a passagem de vossa alma pelo purgatório not-so-VIP. Vou contar algumas coisas que vi e aprendi para tentar inutilmente contribuir para um post já tão completo e certeiro.

    Sobre os selfistas da sala vip: com a proliferação de bancos digitais (Nubank, C6, Inter e um longo etc) houve uma guerra para atrair correntista e uma das coisas que tais bancos utilizaram como chamaris foi o tal cartão black "facilitado". Reduziram exigências e deram o black pra "qualquer um", esses cartões são os que dão acesso a sala VIP, por isso o que antes era mais ou menos restrito se tornou uma geral do Maracanã. A situação chegou a tal ponto que o Itaú criou uma sala VIP do VIP em GRU chamada "the one", bem pequena, para não "misturar" os antigos VIPs insatisfeitos com a turma VIP na versão alargada.

    Sobre as conexões em GRU: grave problema. Esse aeroporto para mim é o pior do mundo, não pela infra ruim, localização ou constante lotação, mas pela total falta de segurança no manuseio das bagagens. Eu mesmo já tive um perfume caríssimo subtraído da minha mala despachada (motivo pelo qual agora só viajo com perfumes em frascos menores na mala de mão), é horrível a sensação de ser roubado, mas pelo histórico assombroso do aeroporto poderia ser coisa pior. Devo adicionar que GRU está ultra lotado pois canibalizou de forma cruel o GIG, que anda as moscas. Logisticamente o GIG faria mais sentido para um embarque a Europa que o GRU, mas não vou me aprofundar nesse tópico porque... melhor deixar pra lá.

    Sobre as cias aéreas: você fez brincadeira com cobrar para uma mijadinha, meu amigo, já peguei um voo de business da Avianca pra Bogotá em que cobravam a água. Sim, a água. E o pior, era um voo noturno num frio glacial, pedi uma manta para me cobrir e a aeromoça respondeu: São 9 dólares a manta.

    Quanto ao chandon brut: é ruim, mas poderia ser bem pior.

    Taga


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    1. Concordo que são salas not-so-VIP, mas cumprem a função de alguma forma possibilitar evitar os caríssimos lanches e restaurantes dos aeroportos. Deve ser um bom negócio, pois GRU já deve ter umas 20 salas no total, e em praticamente todos os aeroportos há pelo menos uma. Não sei como os bancos digitais conseguem pagar todos os acessos, mas enquanto for de graça...

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    2. De graça, na VIP da Latam? Só entra quem pagar U$ 40/60

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    3. A sala VIP da Latam tem convênio com Visa Airport/DragonPass, então a plebe tem chance de conseguir entrar de graça sim...

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  2. Artigo realista e triste. É um
    dos motivos que me levaram a perder o pique e entusiasmo com viagens. E costumo associar o que foi dito sobre as salas VIP e o estilo cafona dos novos comensais ao padrão de manutenção das aeronaves, o que me traz arrepios antes ausentes. Quando a saudade da Europa aperta, apenas voos diretos e no mínimo e quando muito pela econômica premium. Esfolado economicamente mas com danos psicológicos menores. Ocorrem, certamente, mas em dose menor.

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  3. Adoro o estilo conciso do Taguinha!

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  4. Sou um carioca que há 40 anos labuta no mercado financeiro e o Bacco me trouxe de volta uma lembrança maravilhosa. Eu ia praticamente toda a semana pra SP e procurava sempre ficar na saleta do Electra, normalmente com colegas de mercado. Era uma confraternização maravilhosa e naquela época pré-lacração, ninguém se incomodava em quem soltava baforadas de cigarro e tomando um uisquezinho maroto às 10 da manhã.

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    1. Baforadas de cigarro dentro de um avião... era uma época pré-câncer, isso sim...

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