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terça-feira, 19 de abril de 2022

JUIZ BEBUM

 

Segunda feira fria, chuvosa, triste….. clima quase invernal.

O abril, de Santa Margherita, não queria, teimosamente, abrir os braços à primavera.

Nenhuma notícia alvissareira, nenhum compromisso, nenhuma viagem programada, restaurantes quase todos fechados, nas ruas, semidesérticas, escassos e silenciosos turistas parecendo zumbis tentavam inutilmente encontrar uma “salvadora” pizzeria.......só me restava beber.

 Lentamente, mas decidido, percorri os 300 metros que separam minha casa da aconchegante “Vineria Macchiavello”.

A “Vineria Macchiavello” é dos raros bares da cidade que serve taças de bons Champagne e sem assaltar os bolsos dos enófilos.

Ao abrir a porta do bar, uma surpresa: “Telefonei algumas vezes, mas você não respondeu. Estamos degustando alguns Champagne e vamos escolher os que serviremos no próximo verão. Queríamos que você participasse”.

Enrico e Valeria da “Vineria Macchiavello”, Elisa e Matteo, do restaurante “Angolo 48”, Francesco, do restaurante “Beppe Achilli” e Andrea, sommelier da “Vineria”, estavam iniciando a degustação de Champagne e vinhos franceses importados pela “Passion France”.

Sem mais delongas, me aproximei do grupo, peguei a taça que fora oferecida e iniciei a maratona alcoólica.

Se alguém perguntar o porquê da “maratona” devo esclarecer que, naquela tarde-noite, degustamos nada menos do que 12 Champagne, 1 Saint-Vèran, 2 Santenay, 1 Chassagne-Montrachet, 1 Meursault, 1 Chablis e 1 Sancerre.

Uma pequena pausa para esclarecimentos....

Jamais entendi e sempre condenei uma das “manias” dos enófilos brasileiros: A confraria.

Acho que as confrarias são, na realidade, encontros semanais, quinzenais ou mensais, em que amigos se reúnem para encher a cara.

A quantidade de garrafas, consumidas nas “confrarias”, sempre é exagerada e nenhuma “sentença” de juiz-bebum é digna de respeito.

Depois do quarto ou quinto copo ninguém tem condições de degustar e opinar com seriedade.

Você perguntará: “Após 19 vinhos provado   em que estado estavam, então, os participantes da degustação promovida pela Passion France? ”

Apesar de todos beberem com muita moderação e jogarem no balde a maior parte dos vinhos servidos (um participante não desprezou nem uma gota sequer…), já na decima taça o volume das risadas atingiu níveis altíssimos, uma das “degustadoras” não conseguia falar sem balbuciar, o banheiro foi tomado de assalto e eu, ao retornar para casa, nem percebi que a abundante chuva me ensopava sem piedade.

Algum sóbrio?

Apenas os dois importadores e Enrico Valle, proprietário da “Vineria”, que fingiram beber.

Se eu comentasse os vinhos, degustados naquela ocasião, estaria cometendo uma desonestidade intelectual, igual o pior, do que aquelas que nossos profissionais, sommeliers, especialistas, críticos, influenciadores etc. praticam em suas maratonas etílicas.

Um dos mais renomados “degustadores-profissionais-picaretas” do Brasil é Marcelinho-Pão-e-Vinho-Copellinho.

Copellinho já se vangloriou de ter provado, em um ano, nada menos do que 5.000 etiquetas.



Uma rápida conta matemática nos leva a um impressionante resultado: Marcelinho teria mandado goela abaixo nada menos do que 13,65 vinhos por dia.

Imaginem a língua, paladar, nariz (fígado? Nem pensar...) do Copellinho no 35º dia......

Marcelinho, não possui, kriptoníticos poderes; Marcelinho é um simples mortal e, assim como eu e todos os outros integrantes da degustação na “Vineria Macchiavello”, depois de 40 minutos de libações não saberia distinguir um Chardonnay de um Aligoté.


Para poder entender melhor o que acontece com um “juiz-bebum” basta rever o vídeo onde, em um de seus melhores momentos, o Copellinho nos brida com mais um impagável vexame.

Nosso juiz-bebum transforma o Chardonnay “Sibaris’ no melhor tinto do novo mundo e muda a pronúncia do vinho “Lávico” que, em sua alcoolizada mente, se transforma em “Levico”.

https://www.youtube.com/watch?v=hZAXusWWmis

Na próxima matéria comentarei apenas os dois Champagne dos quais me recordo e informarei os preços dos vinhos degustados.

Inacreditáveis!

Bacco

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