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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

TOSCANA X PIEMONTE




Nos meses do inverno, Santa Margherita Lígure se transforma
radicalmente.

O frio e a chuva afugentam, da badalada cidade lígure, turistas, charme e glamour.


Santa Margherita, depois das festas de final do ano, em um passe de mágica, se transforma na bela adormecida que hiberna à espera do beijo despertador do “príncipe abril”.

Com o sumiço dos turistas, muitos bares, restaurantes, hotéis, lojas e outras atividades ligadas ao setor, preferem fechar as portas visando diminuir despesas e limitar prejuízos.

 Há um lado positivo: A beleza da cidade permanece intacta e sem as hordas chinesas, americanas, francesas, alemãs etc. pode ser apreciada plena e tranquilamente.


2020, todavia, reservou uma surpresa: Coronavírus.

O midiático vírus “chinês” apavorou todo mundo.

 Ninguém viaja e poucos se atrevem até sair de casa.... Paranoia total.

 Os poucos bares e restaurantes, que teimosamente ainda permanecem abertos, estão às moscas, os supermercados foram tomados de assalto pelas pessoas que estocam comida com medo do desabastecimento, as máscaras antivírus e álcool sumiram das farmácias e nem as igrejas, com altares repletos de Nossas Senhoras, santos e santas, escaparam da paranoia...... os fiéis acreditam mais no vírus do que em milagres

O coronavírus transformou Santa Margherita no deserto de Kalahari.

Aproveitando as rodovias tranquilas e livres dos turistas dos finais de semana, resolvi botar o carro na estrada e rever a Val D’Orcia, Montalcino e arredores.

Duas aldeias da Toscana, que não conhecia, entraram   no roteiro de viagem: Certaldo e Moteriggioni.

Um conselho: Não vá a Montalcino em janeiro e muito menos em fevereiro.

A famosa localidade vinícola, sem poder contar com a paisagem marítima de Santa Margherita, consegue ser mais triste e lúgubre do que a cidade lígure

Montalcino, nos primeiros meses do ano, parece aquelas cidades fantasmas dos filmes de faroeste.

Montalcino é famosa pelo vinho, mas não pela gastronomia e nunca revelou um grande restaurante (não há, na cidade, um único local estrelado Michelin).

Os hotéis da cidade são poucos, caros e apenas sofríveis.

A melhor opção, como de costume, é percorrer mais alguns quilômetros, encontrar os belos muros medievais que, ciumentos, circundam a milenar San Quirico D’Orcia e nela se hospedar.

Hotéis melhores e mais baratos (Hotel Villa del Capitano **** 50 Euros), bons bares e restaurantes (não deixe de conhecer “La Bottega di Ines”, Vald'O Art Book & Wine”, “Al Vecchio Forno”,  “Da Ciacco”), recomendam San Quirico como o mais interessante “pião ” para conhecer as lindas aldeias vizinhas: Pienza, Montichiello, Bagno Vignoni, Castiglione D’Orcia, Castell Nuovo Dell’Abate, Abazzia di Sant’Antimo, Buonconvento, Abazzia di Monte Oliveto Maggiore e muitas outras localidades imperdíveis.

Com pouca esperança de encontrar abertas as vinícolas, que normalmente me abastecem, seduzido pelos preços convidativos e a comodidade da loja do produtor, “Bartoli Giusti” (150 metros da monumental “Fortezza”), comprei 6 garrafas de Brunello 2013 por 20 Euros cada.

O Brunello da “Bartoli Giusti” é vinificado tradicionalmente em toneis de 80 hectolitros, se apresenta harmônico, com boa estrutura, aromas característicos e na boca surpreende com um belíssimo e longo final.

Vale cada um dos 20 Euros gastos na compra.  

É sempre bom lembrar que um bom Brunello, vinho cobiçado por todos os enófilos, mundialmente famoso e renomado, custa menos do que o Talento da (As) Salton.

A programação inicial previa quatro dias de “vagabundagem “ pela estupenda Val D’Orcia, mas a chuva, a monotonia e o tédio me convenceram que, na manhã do terceiro dia, o melhor seria retornar à estrada, conhecer Monteriggioni, Certaldo e....... cemitério por cemitério, voltar para Santa Margherita.  

Continua

Bacco

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

VINHO-MODA-VINHO III





Chamar de “moda” o espumante soa ridículo.

O espumante é o rei dos vinhos e há séculos percorre a via do sucesso atendendo pelo nome: “Champagne”.

O Champagne não precisa de apresentação, não conhece crise e reina absoluto, tranquilo, sobre todos os concorrentes.

O Champagne só tremeu quando meia dúzia de picaretas gaúchos resolveram autodeclarar os espumantes da Serra Gaúcha “segundos melhores do mundo”.

Os vignerons franceses voltaram a dormir tranquilos quando perceberam que o mundo, ao qual os gaúchos se referiam, era o mundo da lua.


Não estão tão tranquilos, os franceses, ao analisarem os números atuais da produção de espumantes que é aponta a Itália em 1º lugar com 695 milhões, 2º Alemanha 540 milhões, 3º França 470 milhões, 4º Rússia 270 milhões, 5º Espanha 250 milhões de garrafas produzidas em 2018.

O sono, normal, retorna quando outros dados apontam que a Champagne, com apenas 34.300 hectares, que correspondem à 0,4% do total da área do vinhedo mundial, representa, em valores, 40% do bolo do faturamento mundial dos espumantes.


Exemplo: Enquanto a Itália exporta seus espumantes, em média, por 2,8 Euros, a França não entregas suas garrafas por menos de 12, 6 Euros.

A Itália ganha no volume, a França na qualidade e valor.

Onde está, então, a moda?

Há um estudo que aponta para um crescimento no consumo de espumantes, para os próximos três anos, de nada menos do que     13- 15 %.

 Exatamente a informação que os picaretas de sempre precisavam para inundar o mercado com um tsunami de “tremendas bostas”.

Vamos aos fatos.


O maior fenômeno comercial, do mundo das “bolhas”, é o Prosecco.

O espumante saiu das colinas de Asolo, Conegliano e Valdobbiadene, chegou às planícies da província de Treviso, continuou sua caminhada até o Friuli de não dá sinais de cansaço (quem quiser acompanhar a insana caminhada do Prosecco consulte um mapa).

A área plantada do Prosecco, que aumentou 65% de 2010 a 2015, não para de crescer e já foram autorizados mais 3.000 hectares de vinhedos que se somarão   aos atuais 23.250.

A produção do Prosecco, em 2019, alcançou o impressionante número de 600 milhões de garrafas.

Resultado: o Prosecco que nunca foi um grande vinho é hoje uma “tremenda bosta”, mas uma tremenda bosta que aguçou o interesse de centenas e centenas de vinícolas.

O sucesso impressionante do Prosecco rapidamente se espalhou, contagiou milhares de vinícolas e o espumante virou moda na Itália.

 Resultado: Do Piemonte à Úmbria, do Veneto à Toscana, da Ligúria à Sicília, do Friuli à Calábria, em todas as regiões, enfim, é difícil encontrar vinícolas que não proponham, em sua gama de produtos, pelo menos um espumante.

Nebbiolo, Passerina, Asprino, Nerello Mascalese, Falanghina, Pecorino, Cortese, Barbera, Verdicchio, Ribolla Gialla, Bianchetta Genovese, Trebbiano......É difícil encontrar uma uva que não seja “espumantizada”, mais difícil, ainda, encontrar algo que não “fa cagare”.


Semana passada um amigo sommelier e proprietário de um wine bar, me “obrigou” a provar um espumante elaborado com Ribolla Gialla.

Pavoroso!

Até os espumantes da Valduga, creia, são melhores.


A sanha, das “bolhas-assassinas”, parece impossível de ser contida e já existem vinícolas especializadas em produzir para terceiros, qualquer tipo de espumante, com qualquer uva, por qualquer preço…basta encomendar.

Mais uma vez a “moda” nivela por baixo.

Se você acredita que a maioria dos enófilos sabe beber e tem bom gosto, pense nos 600 milhões de enoloides que consomem e adoram Prosecco......aposto que perdoará os fãs do Pablo Vittar.

Bacco

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

VINHO-MODA-VINHO II


O vinho “biológico” é a menos inverossímil, a menos picareta das três mais recentes eno-modas: biológico, biodinâmico, natural.

O vinho biológico, apesar do meu ceticismo, pode realmente ser produzido e vai de encontro ao desejo de muitos produtores que tentam diminuir, limitar e até dispensar o uso de produtos nocivos ao meio ambiente e à saúde.

Não acredito que todo vinho “biológico” mereça ser assim classificado, mas há, certamente, inúmeras exceções.

As grandes picaretagens são encontradas nas duas outras modas:  “biodinâmica” e “natural”.

Não vou escrever novamente sobre os “Vinhos Macumba” (biodinâmicos), pois tudo aquilo que penso, sobre estes vinhos circenses, pode ser lido acessando o link abaixo.

O vinho “natural” é mais um modismo que provocou enorme frisson no mundo do vinho e foi apoiado integralmente por aquele que acham que tudo no passado era melhor, mais saudável, mais puro e veem, nos progressos da enologia moderna, os demônios causadores de todos os males do vinho.

Os radicais defensores da uva virgem, imaculada e engarrafada sem sulfitos, esquecem que os vinhos de nossos avôs, muitas vezes, de tão ruins, nem para cozinhar, serviam.

Sob a égide da nova moda, “vinho natural”, foram cometidas algumas das maiores barbaridades enológicas de que se tem notícia.

Durante alguns anos, foram “divinizados” os vinhos turvos, malcheirosos, oxidados, refermentados nas garrafas, com “aroma” de bosta de cavalo (estábulo) e outras “delicias” naturais.


No Brasil, dos eno-oportunistas, o apologista mor, dos vinhos naturais, foi, como de costume, um dos mais ridículos personagens que já apareceu no eno-circo tupiniquim: Bilu Didu Teteia.

Bilu, para faturar alguns trocados, não mede esforços e nem o ridículo conseguiu frear sua patética tentativa de promover o vinho “natural”.

O Teteia teve a coragem de fotografar alguns familiares, todos nus e exibindo panças, pelancas e celulites, dando boas-vindas aos vinhos “naturebas”.


O vinho “natural” ganhou adeptos radicais, defensores agressivos que reagiam rudemente quando alguém, como eu, criticava e apontava defeitos.

Foi considerado, várias vezes, despreparado, bárbaro, ignorante e sem respeito pela natureza.

Só faltou a Gretina Raivosa me atacar.


Nem todos os vinhos naturais são “tremendas bostas”, mas aproveitando a onda “naturalista” um mar de porcarias inundou as prateleiras do mundo todo.

A moda do “natural” já está descendo, sem freios, a ladeira do esquecimento e brevemente será apenas lembrada por alguns consumidores que adotam dietas estranhas e com saudade, quem sabe, de Woodstock e do Gordini.

A nova e última moda?

Espumantes!

Aguardem.
Bacco

  
    

domingo, 16 de fevereiro de 2020

VINHO-MODA-VINHO


O ato de beber vinho, até os anos 1970, era banal, corriqueiro e simples.
Não era considerado glamoroso nem refinado: bebia-se e pronto. 
 

 Não havia modismos, não existiam indicações de sommeliers, críticos, experts, formadores de opinião etc. e não era “obrigatório” encontrar dúzias de recônditos aromas, inúmeros sabores e raras sensações.
 

 Pedia-se um vinho, quase sempre “da casa” e ninguém exigia taças Riedel, Zalto o outro precioso cristal.
 

 Na Itália, dos anos 70, bebia-se, basicamente, vinhos locais e os “importados” não tinham vez.

 É preciso esclarecer que os “importados” eram vinhos produzidos em outras regiões italianas.

 
Exemplo: O piemontês não conhecia e nunca provara um Nero D’Avola, o toscano nunca molhara a boca com um Taurasi, o sardo nunca ouvira falar do Sagrantino di Montefalco, o veneziano   nem desconfiava que existia o Primitivo di Manduria e....... por aí vai.

Havia poucas e raras exceções que “ousavam” ultrapassavam as fronteiras, entre elas e mais famosas, o Lambrusco e o Chianti.

Não posso afirmar exatamente quando tudo mudou e o vinho encontrou e resolveu enveredar o caminho da “moda”, mas arriscaria uma data provável:  início dos anos 1980.

Os responsáveis, pela mudança do comportamento, foram o boom econômico europeu e Robert Parker.

Parker, grande farejador e oportunista, percebeu que vinho era um campo quase virgem, emergente e promissor.

 Sem pensar muito, no final dos anos 1970, mandou sua carreira de advogado às favas e, já em meados dos anos 1980, com suas degustações pontuadas, norteava os gostos e preferencias de um sem número de seguidores.

Começava a “Moda Parker” dos vinhos alcoólicos, impenetráveis, amadeirados, superconcentrados (marmelada) etc. feitos sob medida para a alegria de milhões de enoloides.

Além da sedução, dos “pontos parkerianos”, era preciso promover e endeusar uma figura até então desconhecida: O enólogo!

Os enólogos, durante algumas décadas, foram endeusados e reverenciados como se fossem stars hollywoodianas.

 
O “enólogo-star” e símbolo máximo, da era “Parker, ” foi o Michel Rolland.

Rollando Lero, com seus vinhos todos estandardizado, excesso de madeira, bombas frutadas e uma boa dose de química, conseguiu, através de centenas de consultorias, espalhadas pelo mundo (até no Brasil), impor o modelo “Parker” como o padrão a ser seguido.

Nascia o vinho “internacional”

A importância e admiração dedicada ao “enólogo-pop-star”, no Brasil, chegou a ser ridícula: apertar a mão do Michel Rolland, ou outro winemaker qualquer, era a glória dos diretores da ABS e provocava orgasmos nos críticos, enófilos, sommeliers, formadores de opinião etc.


Cavalgando a onda parkeriana o vinho virou grife e a cada ponto (acima dos 90), concedido pelo ex advogado, provocava uma frenética busca das etiquetas incensadas e consequentemente uma verdadeira corrida para remarcar os preços.

 Chegamos, assim, à moda da imbecilidade total: Vinhos de grife, de alta moda, custando U$ 500-1.000-3.000 e se mais enoloide houvera, lá chegara......

Os pontos parkerianos, há alguns anos, já no fazem muito sucessos, os vinhos “internacionais” cansaram os consumidores, os enólogos já não são tão endeusados e o brilho de sua presença já não ofusca as mentes …perderam o charme inicial.

 
Estava aberto o caminho para o aparecimento de uma nova moda, a moda dos “Vinhos com grande identidade territorial”

Quem havia investido nos “internacionais” fez rapidamente o ”meia-volta-volver” e tudo voltou para os anos 1970.

Quem havia apostado em vender Barbera e Dolcetto com 15° de álcool e por preço de Barolo, perdeu a aposta e seus vinhos mofam nas prateleiras.

Exemplo: As Barbera “Pomorosso” da Coppo, “Spinetta” da vinícola homônima (Euros 45) e a magnum “Pozzo dell’Annunziata” de Roberto Voerzio (Euros 280) aguardam nas empoeiradas prateleiras os sempre mais raros e ralos turistas enoloides.


O mercado inquieto, como sempre, precisava encontrar uma nova motivação, uma nova moda para manter aceso desejo do novo, do consumo.

Não foi difícil e quase ao mesmo tempo surgiram os vinhos, biológicos, biodinâmicos e naturais.

Três novidades, três picaretagens.

Produzir vinhos biológicos na Europa é praticamente impossível.

Exemplo: Há, na Itália, 310.428 empresas vinícolas que dividem os atuais 652.000 hectares de vinhedos. Um pequeno exercício matemático nos leva à média de pouco mais 2 hectares para cada produtor.

Há alguns “grandes” proprietários com 20-50-150 hectares, mas a média continua sendo de 2 hectares.

Na França (media 6 hectares), Espanha (3 hectares) e em Portugal, o panorama pouco muda.

Aí faço uma pergunta: Como pode um viticultor produzir biologicamente se o vizinho, 3 metros além de sua “cerca”, usa e abusa do glifosato?

Como pode o José, etiquetar seu vinho como sendo “biológico” se seu vizinho, João, insiste em pulverizar suas vinhas, sei lá com qual produto químico e o vento leva a nuvem branca sobre seu vinhedo?

Veja as fotos que tirei em Puligny-Montrachet e tire suas conclusões.
 

A moda continua...

Bacco   
 

 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

MILANTINO "PILANTRINO"



Tenho postado, quase diariamente, fotos de vinhos italianos.

Nas fotos constam, também, os preços.

É impossível deixar de comparar quanto pagam os europeus por suas garrafas e quanto desembolsamos, no Brasil,  para beber nossos quase-vinhos.

 É inacreditável e escandalosa a diferença.

 As fotos servem para alertar os enófilos brasileiros e conscientizá-los que são constantemente assaltados pelos produtores nacionais.

É fácil verificar, pelas fotos, que se bebe bem, na Europa, gastando 4/5 Euros (R$ 20), muito bem, desembolsando 10/15 Euros (R$50/75), otimamente, com 20/30 Euros (R$ 100/150) e fantasticamente, com 50 Euros (R$200).


O europeu, que não é nem um pouco enoloide, bebe vinho e não etiqueta, assim, garrafas de 50 ou mais Euros, somente frequentam as taças dos espanhóis, franceses, italianos, portugueses etc. em ocasiões muito especiais.

Vinhos do dia-dia tem que ser bom e barato.

 A combinação dos dois fatores leva os portugueses, franceses e italianos para o 1º,2ºe 3º lugar, respectivamente, no pódio dos maiores consumidores de vinho.

O Brasil?

Bem, o Brasil do vinho não existe e não existirá enquanto o famigerado protecionismo continuar sendo o “leão de chácara” dos produtores nacionais.

O insano protecionismo, e um conivente exército de críticos, experts, divulgadores, sommeliers, revistas etc., devidamente lubrificado$ e que continuam ignorando solenemente os preços escandalosos e qualidade medíocre de nossos quase-vinhos, ergue um escudo protetor que favorece uma das maiores eno-picaretagem do planeta.


O submundo dos quase-vinhos, no Brasil, não para de surpreender e quando se acredita não haver novo espaço para novos predadores aparece mais um “Pilantrino” (pilantra italianizado).

Pensei que os Geisse, com seu “Geisse 2002 Brut” de hiperbólicos R$ 800, fossem os mais bem-sucedidos “estupra-cartões” dos enófilos brasileiros, deixando para trás outros predadores nacionais de grande calibre.

Miolo, Valduga, Carraro, Pizzato, Guaspari, Pireneus, Pericó, Galvão Bueno, Atelier Tormentas e outros, não são páreo para as insaciáveis mandíbulas dos Geisse.

O clube dos “Estupra-Cartões” parecia completo e não necessitar de novos sócios-pilantras.

Ledo engano!

Surge, no “Vale das Lagrimas & Vinhedos”, um novo e esfuziante predador: “Milantino Pilantrino”.

A vinícola “Milantino”, com pouco mais de 30 anos de existência, se revela uma prodigiosa e voraz predadora capaz de pulverizar todos seus concorrentes.

MERLOT RESERVA 2005
SAFRA HISTÓRICA


R$ 1900,00

Nossa “Romanèe-Conti” gaúcha não tem nenhum pudor e muito menos vergonha, em propor vinhos com preços que partem de modestos R$298,80, seguem caminhando até razoáveis R$428, alcançam poderosos R$980, e.…Aleluia, aleluia, aleluia, explodem, entre fogos de artifícios, em R$ 1.900.

Você não está lendo errado, nem eu estou sob efeitos de uma droga alucinógena: Os preços, acredite se quiser e puder, são esses

Algumas considerações técnicas antes de encerrar.

A uva Merlot, todos conhecem e também são conhecidas suas qualidades e limitações.

 A casta francesa pode ser encontrada em todos os cantos do planeta e revela vinhos para todos os gostos e desgostos.

A Tannat, casta francesa que não origina nenhum vinho excepcional em sua pátria, para ganhar notoriedade, entre nós, precisou fazer um estágio no Uruguai.

Os vinhos com a Tannat nunca foram e nem serão indispensáveis, inesquecíveis, importantes.


A Ancellotta, casta italiana de 4ª categoria, é vinificada com outras variedades e pode ser encontrada no Lambrusco onde doa cor ao vinho da Emilia-Romagna.

 De rica pigmentação e açucar é paupérrima em taninos e quase não é vinificada em pureza  (confesso que nunca vi um vinho “Ancellotta” nas pratileiras italianas)

Pois bem, estas três castas comuns, ordinárias e que não surpreendem ninguém, adquirem status de “Petrus” na desconhecida “Milantino”.

Se alguém pensa que as picaretagens da “Milantino Pilantrino” atingem o ápice com os preços absurdos praticados, está enganado.



Leia, tendo ao alcance uns comprimidos de Plasil, parte do diálogo entre um possível comprador do "Safra Histórica" de R$ 1.900 e um dos proprietários da “Milantino Pilantrino”.




  

Vomitou?

Dionísio


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

VIVA O PROTECIONISMO


 


Um comentário, na matéria “A Lista dos Piores”, chamou minha atenção.

Um leitor, Marcelo, se queixa que a “GV Grandi Vini”, em Alba, não está mais enviando os pedidos das costumeiras duas garrafas e limitou os despachos com uma unidade, apenas.

Veja

rapaz, e ainda o Enrico agora só me manda uma garrafa por vez, sabe de algum outro fornecedor do Piemonte que ainda envie 2 garrafas para o Rio de Janeiro? Ficar refém desses picaretas do BR ninguém merece...
Abs,
Marcelo

Respondi

Não conheço, mas quando passar por Alba vou conversar com o Enrico e Lorenzo para saber qual o problema. Abraço

Réplica

Sim, me disse que as garrafas começaram a voltar, algo relacionado ao peso eu acho...não me fez muito sentido.
Se conseguir mudar isso agradeço será uma caridade para os sedentos e estuprados consumidores brazucas!

Abs,
Marcelo.

É preciso voltar no tempo para entender o diálogo.

Há alguns anos, tentando ajudar os leitores, que desejavam “importar” algumas garrafas para consumo próprio, relatei o fato ao Enrico e Lorenzo, proprietários da GV.

A GV despachava garrafas para todos os cantos do mundo, mas não para o Brasil

Os dois comerciantes alegavam que provavelmente por causa do protecionismo nenhuma transportadora conseguia despachar vinhos para os consumidores brasileiros.

Lorenzo, algumas semanas depois, me confidenciou que havia conseguido, através dos correios, enviar pedidos para o Brasil.

O nosso correio aceitava apenas pacotes contendo duas unidades o que obrigava Lorenzo a desmembrar os pedidos de 6-12 ou mais garrafas e visitar “Poste Italiane” praticamente todos os dias.

Um saco!

Tempos depois Lorenzo me confidenciou que a ideia havia vingado e que estava enviando uma média de 100 garrafas por mês para o Brasil.

Dei-lhe os parabéns e morreu o assunto.

 Continuei frequentado a loja e conversando com Enrico e Lorenzo sobre vinho, tendências, preços etc., mas não mais perguntei sobre o envio de garrafas, via correio, para o Brasil.

Não mais perguntei até o aparecimento do “desesperado” Marcelo.

Aproveitei uma rápida passagem por Alba e resolvi visitar a GV para esclarecer o assunto.

“Não dá mais.... Já me devolveram mais de 50 encomendas alegando que o correio brasileiro não mais permite o envio de 2 garrafas. Alegam que é muito peso e aceitam apenas 1 garrafa. Há mais: Me cobram 45 Euro para cada encomenda”.

Não entendi a mudança e nem Lorenzo soube explicar.

Ambos questionamos a limitação e lembramos que durante anos duas garrafas foram normalmente aceitas.

Lorenzo revelou que já achava um saco ter que enviar 2 unidades de cada vez e agora, de uma em uma…. O saco estourou.

Ele vende e despacha para inúmeros países, caixas e mais caixas de vinho e não entende as restrições brasileiras.

Ele não entende, mas eu arrisco uma opinião: Mais uma vitória do eno-protecionismo Tupiniquim.

Já havia percebido, nas alfandegas dos Brasil, um endurecimento e uma verdadeira “caça às garrafas” nas malas dos turistas que retornavam à pátria amada.

Nos últimos meses, com controles mais rigorosos, a apreensão de garrafas de vinho aumentou significantemente.

Mais uma via alternativa, para poder beber algumas ampolas de prestígio sem penhorar as calças, vai para o brejo.

Para Marcelo e outros enófilos, que se encontram na mesma situação, recomendo uma ida aos correios e tentar obter uma explicação sobre o assunto.

Duvido que consigam alguma informação plausível, mas certamente o passeio servirá para deixá-los putos da vida com os produtores nacionais que continuam faturando alto com seus quase-vinhos e metendo a mão nos nossos bolsos.

Bacco

PS. Para o Marcelo, além de perder o fornecedor, sobrou uma pequena dívida.

Aqui vai a conta da minha viagem.
 

Santa Margherita Ligure- Alba (ida e volta)360km = 70 litros de gasolina X 1,6 Euros/litro = 119 Euros.

Hotel = 70 Euros.

Almoço=42 Euros

Jantar=38 Euros.

6 taças Champagne Drappier = 48 Euros

1 Bas Armagnac 20 anos= 10 Euros

Total: 327 Euros

Aceito pagamento em garrafas......basta telefonar para o Enrico ou Lorenzo e autorizar a retirada.