Nos anos 1980 a viticultura italiana deu uma guinada radical.
Mudou e modernizou a vinificação, especialmente, dos vinhos
mais importantes, entre eles o Barolo, adotou, em muitos casos, mal e porcamente, a barrique, se deixou seduzir pelo
"parkeriano" mercado americano e entrou de sola na corrida pela
conquista do mercado dos chamados "vinhos internacionais".
Os viticultores acreditaram, à época, que bastaria o "Made in Italy" para asfaltar a
estrada e conseguir o sucesso dos Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot
etc. produzidos na Bota.
Deu certo, durante duas ou mais décadas, mas os preços e concorrência
dos produtores do "Novo Mundo" sepultaram as pretensões
e sonhos italianos.
Sobrou a fortuna para meia dúzia de "AIAS"
(Solaia, Sassicaia, Ornellaia etc.) que continuam, até hoje, exportando tudo o
que produzem e o fracasso para milhares de viticultores que não sabem onde
enfiar suas garrafas "internacionais": O mercado se cansou dos vinhos
"Frankenstein".
Enquanto vários
produtores buscavam o caminho fácil e cômodo das uvas francesas, acreditando em um eterno
"Eldorado" , outros , com mais visão e percepção, voltaram os olhos às antigas castas
abandonadas.
Baixa produção, difícil manuseio, pouca resistência às
doenças, mercado limitado etc. sempre foram as desculpas mais comuns para justificar
o abandono de muitíssimas castas autóctones.
O mercado mudou radicalmente e, agora, o consumidor pede
vinhos com sotaque regional, que exprimam a cultura, a tradição e o
"terroir" de onde são produzidos.
O consumidor está com o
saco cheio e, nos bares de Alba, ninguém quer o Chardonnay de Serralunga, o
Merlot de Monforte, o Cabernet Sauvignon de Roddi, o Riesling de Roddino etc.
O turista enófilo, ao
visitar as "Langhe",
não quer nem ver vinhos "internacionais" e sempre pede o ótimo
autóctone "Verduno
Pelaverga", uma bela Barbera ou um insuperável Barolo.
Os produtores mais atentos mudaram o rumo, mandaram os vinhos
"internacionais" às favas, erradicaram castas francesas e apostaram
nas uvas locais
Reapareceram, além do "Verduno Pelaverga", e só para
lembrar alguns, o "Gamba di Pernice", "Pecorino",
"Carricante",
"Nerello Cappuccio", "Susumaniello",
"Tazzelenghe" e..... o Timorasso.
Nem todos os vinhos obtiveram, até agora, o sucesso do "Verduno
Pelaverga", "Pecorino"
e "Carricante" (Etna Bianco) e
"brigam" para buscar um lugar ao sol.
A briga, pelo reconhecimento e sucesso de um vinho, sempre
passa por uma forte união e determinação dos produtores ou pela presença de um
personagem carismático, liderando os companheiros, com tino comercial e profundo
conhecimento de marketing,
No "mundo" do Timorasso,
Walter Massa é a liderança carismática.
Foi o primeiro a perceber que o Timorasso poderia se
tornar a uva emblemática de sua região (Tortona e
arredores), região que nunca produziu vinhos que pudessem competir, em
fama e preço, com os primos das colinas de Asti e Alba.
Walter Massa é tão bom viticultor quanto
marqueteiro: Seu "Timorasso
Montecitorio" custa, no varejo, nada desprezíveis, 40 Euros.
Nada mau para um vinho que há 20 anos ninguém conhecia e que
ainda hoje poucos conhecem.
O sucesso de Walter Massa fez escola e hoje todos os outros produtores
(22), nos últimos anos, quase dobraram o preço de suas garrafas: Encontrar um Timorasso por menos de 15 Euros, atualmente, não é tarefa
fácil.
Se o território de Tortona se transformará,
ou não, na nova "Côte de Beaune", somente os
séculos poderão responder, mas tenho um palpite: se os produtores de Timorasso
não tomarem cuidado, não baixarem a bola e não diminuírem a ganância, o
fracasso é quase uma certeza.
Bacco
Bravo, Ba. Um dos melhores posts que me lembro ate hoje. Comeco, meio e fim impecaveis (exceto pelo uso nao perfeito de virgulas...mas va la).
ResponderExcluirDa para arriscar (ai, ui) e dizer que o vinho tambem caminha em paralelo com outros modismos no mundo como em filmes (todo mundo fazendo filme de superheroi, transformers), comida, livros, musica, tv? O tal caminho facil e comodo de retorno rapido com pouca substancia e tudo parecido, sem imaginacao, carater proprio?
Um vinho de 40.00 EUR tem que ser O VINHO para que nos nao tenhamos a sensacao de enganacao.
Auguri, bstd.
Meu ponto fraco sempre foi a vírgula..... O vinho , hoje, é modismo. Os produtores pariam os críticos , os críticos criaram os pontos (esqueceram as vírgulas...), os pontos criaram os eno-tontos e os eno-tontos.... Bem, os eno-tontos nunca tiveram vontade própria: consomem o trend do momento
ResponderExcluirSe for pensar so um pouco os primeiros criticos eram bem doidoes...acho que nem sabiam o que estavam fazendo pois nao havia muita recompensa pelo trabalho ("trabalho", deus) que faziam. De repente houve a tempestade perfeita para que fossem alcados as maiores glorias...consumidores descobriram o vinho na europa e nos USA principalmente...os caras comecaram a ter um monte de assinantes, e a coisa virou esse monstro de 30 cabecas, 400 bolsos e tanta opiniao falsa, mal formulada ate (me lembro do caso de um elogio aos vinhos da serra gaucha onde haveria passeio pela floresta da tijuca com pao de queijo).
ExcluirAmericano (enfase no nome Parker) faz algumas coisas muito bem...uma delas he a criacao de demanda. Algo ate cultural. Quem conhece bem o pais, entedera essa.
O trouxa que consome o trend da hora (pleonasmo?) merece o inferno do momento tambem. Como ja falado por aqui, o bom gosto em muitas coisas he simples, facil, acessivel economicamente em muitos casos. Nao precisa de esnobismo nem afetacao para ser atingido. Salute, bastardi.