“Por onde você anda?”
Massimo Martinelli, quase ao meio dia, telefonou para saber
meu paradeiro.
De regresso à Itália, após mais uma viagem pela Borgonha,
acabara de sair do túnel do Monte Branco e seguia para Santa Margherita.
Informei minha posição e Massimo continuou:” Venha até aqui, batemos um papo, bebemos um copo
e depois você continua”.
500 quilômetros percorridos, mais 200 me esperando......” Ta bom!
Chego em duas horas. Prepare as taças”.
Apesar do desvio adicionar outros 60 quilômetros ao meu já interminável
trajeto não se pode recusar convite de Martinelli.
Um pouco antes da hora prevista entrava no quintal da “Antica Meridiana Relais-Arts” de Angioetta e Massimo.
Uma surpresa me esperava: Jorge Lucki, amigo de longa data de
Martinelli, estava hospedado na Meridiana e bebericava um Barolo na companhia
de Massimo.
Apresentações feitas, copos tintilando, papo agradável,
queijos e salames abundantes......a tarde prometia.
Lucki, falando um italiano quase perfeito, não tinha nenhuma
dificuldade de comunicação assim a conversa fluía normalmente.
Não recordo qual assunto nos levou ao Angelo Gaja, mas lembro
perfeitamente as palavras de Martinelli.
“Semana passada um
casal de brasileiros, que estava hospedado aqui na Meridiana e que já havia
conhecido inúmeras vinícolas, não conseguiu visitar a do Gaja. Perguntado, se
eu poderia interceder e conseguir uma visita na adega do Angelo, acabei ligando
para o meu amigo.
O Gaja me atendeu e
respondeu que desde o começo do ano as visitas à adega estavam abertas ao público.
Era, no entanto, necessário acessar o
site da empresa, fazer a inscrição e pagar 300 Euros pelo tour e degustação.
Caso os interessados quisessem sua presença o preço subiria para 500 Euros.
Apesar do preço salgado o casal tentou se inscrever no site, mas a fila imensa
e as datas disponíveis muito distantes os fizeram desistir. O Gaja me garantiu
que todo o dinheiro, arrecadado com as degustações, é doado para instituições
de caridade e que somente este ano já foram entregues 200.000 Euros.”
Fiz cara de dúvida e perguntei: “Será?”
Massimo respondeu:” O Angelo é um
sujeito sério, se ele diz que doou, pode acreditar que é verdade”.
Lucki sorriu e disse que iria comentar o assunto na CNB.
Após mais uma garrafa retomei a estrada e rumei para Santa
Margherita.
Durante o restante de minha viagem fiquei tentando descobrir o
que levaria um enófilo a torrar 500 Euros para beber uma taça de vinho, tirar
algumas fotos, bater um papo e apertar a mão de Angelo Gaja.
Gaja, por outro lado e após exatos seis minutos, com os 500 Euros no bolso, não mais lembra o nome,
a fisionomia, a nacionalidade etc. do eno-tiete-deslumbrado.
Uma degustação na Renato Ratti, custava e creio ainda custe,
10 Euros.
Os vinhos se equivalem, Martinelli é uma enciclopédia ambulante,
espontâneo, culto, simpático e sua companhia valia, à época, apenas 10 Euros?
Ou a Renato Ratti aumenta sensivelmente o preço da degustação
ou Gaja reduz a facada.
Sempre é bom lembrar que com 500 Euros é possível comprar 5
garrafas de Barbaresco do multipremiado produtor.
Um único inconveniente: Não haverá foto com o Gaja para
pendurar na adega que, invariavelmente, provocaria a clássica pergunta “Zé, você
conhece o Gaja?”.
Você, sem comentar que a foto custou 500 Euros e com cara de
estudada “nonchalance”, aproveitaria a deixa e.....
“O Angelo? Sim, conheço. Aliás, todas as vezes que vou a Alba
ligo pra ele. A gente se encontra e bebe algumas taças. Boa praça o Angelo....”
500 Euros são uma
ninharia quando e se comparados aos 15.000 que os eno-deslumbrados desembolsam
por um Romanée-Conti falsificado.
Bacco
Na próxima matéria o papo com Jorge Lucki e
Martinelli.
Aguardem.
Já bebi alguns vinhos de Angelo Gaja. Alguns, excelentes; outros, não me fizeram suspirar mais que vinhos de outros produtores. Mas os preços sim, me fizeram soltar algumas lágrimas. A propósito, o Jorge Lucki é um cara gente boa. Não fica atrás de holofotes, como muita gente que conhece muito menos do que ele.
ResponderExcluirSalu2,
Jean
Vc é uma FIGURA, Bixa Véia!!! kkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirQue legal saber que o Jorge lucki foi para o Piemonte pagando do próprio bolso! Vejam que como as coisas estão evoluindo no mundo do vinho no Brasil. Certamente virá com comentários isentos para sua coluna. Abcos.
ResponderExcluirTempos atrás o Gaja foi a Espanha e fez uma declaração daquelas. Disse que os espanhóis têm que aprender a valorizar mais seus vinhos. No caso, valorizar, para ele, significa cobrar mais caro. Ele não fica feliz em apenas cobrar exorbitâncias pelos seus, quer que os outros façam o mesmo.
ResponderExcluirDar uma de consultor com o bolso alheio é fácil. Mercado de vinho na Espanha [também] está hoje com uma pá de gente com problemas para desovar produção. Seja vinho caro ou barato. China já não compra mais como antes... e aí aparece o mago dizendo para valorizar os produtos.
ExcluirTocha no rutbye de quem subir preço sem uma ótima justificativa.