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sábado, 27 de dezembro de 2014

ROSINHA




 
 
 
Nos anos 70, na chácara do deputado Breno da Silveira, todos os sábados, era realizada uma pelada entre amigos.

Cydno, filho de Breno, Birunga, Salviano Guimarães, Luiz Marcal, Paulo Soares, Pedro e Fernando Collor, Serginho Bandeira de Mello, Antônio Wright e eu éramos presenças constantes.

Luiz Marçal, arquiteto, boêmio, grande copo, cantor e compositor, no final das peladas nos alegrava com suas composições.

A mais famosa, gravada por Paulo Diniz, “Meu Amor Chorou” era obrigatória, mas a mais requisitada, quando o álcool já superava os limites recomendáveis, era “Rosinha”.
 

Luiz Marçal, em “Rosinha”, narrava a doce história de um casal que construía, no meio do nada, uma casinha de pau a pique, sem luz elétrica, com quadros presos por fita durex, tipo “Minha Casa Minha (quase) Vida”
 

  No final da tarde, os dois apaixonados, mesmo na crua penúria, contavam as estrelas , viviam abraçados e felizes para sempre.

Para sempre?

Aos leitores perguntarão: “Você está mudando o blog? Agora é sessão nostalgia?”

Nada disso!

Lendo uma descrição da “Domínio Vicari”, texto piegas, cheio de conotações edulcoradas visando sublimar a produção de um vinho artesanal, livre das “impurezas” do progresso, puro, ilibado e fazendo a apologia de um lugar bucólico, rustico, ingênuo (como se isso tudo pudesse contribuir para transformar um vinho produzido com uva Isabel em uma obra prima da enologia), eu, com os olhos marejados, busquei na memória a “Rosinha” do Luiz Marçal.

 Leiam o texto abaixo

 

 
 
 
…” Neste paraíso ecológico cheio de belezas naturais , num vilarejo bucólico , moram lizete Vicari e seu filho Augusto Vicari Fasolo . Lizete é ceramista de mão cheia e seu filho é enólogo . Um belo dia , numa destas conversas nostálgicas em família ,regadas a vinho e comidinhas , na varanda da casa , com o mar de Santa Catarina ao fundo , tomaram uma grande decisão: "Vamos fazer nosso próprio vinho
o"


.....Todas as etapas ocorrem de forma totalmente artesanal . As uvas riesling itálico são selecionadas manualmente e colocadas num recipiente onde são esmagadas com os pés , Só por mulheres . A maceração ocorre em um tanque de polipropileno , o processo de vinificação é feito de maneira completamente natural sem correções de qualquer tipo

 

.....Bem pertinho daqui , na praia do Ouvidor , em um sítio sem luz elétrica , num passado bem recente , foi produzido o lendário "Cave Ouvidor" , Feito com uva peverella trazida de vinhedos dos Caminhos de Pedra , numa belina velha por Alvaro Escher e seu irmão Vítor Escher . Vocês ainda tem dúvidas que este lugar é mágico ?!
 

 

Marçal antecipa, brilhantemente, o discurso meloso da Vicari.

Sua “Rosinha” começa doce, bucólica, piegas, mas, ainda bem, termina sarcástica, satírica, irreverente, sem “happy end” ....

 Perfeita!
 

O grande Marçal, sem saber, me alegrou, mais uma vez quando ouvi a bela interpretação do “Duka7” de sua canção: “Rosinha”

Bacco

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

MACHO MAN APOSENTADO


 


Os vinhos produzidos no Rio Grande Sul são fracos (qualidade), mas os produtores das zurrapas  gaúchas e agora , também, catarinenses, são “machíssimos”, valentes, especialmente, quando estão distantes  milhares de quilômetros .

Acho interessante o comportamento dos produtores nacionais: Tem orgasmos múltiplos quando os eno-oligofrênicos de plantão elogiam seus produtos e babam de raiva ao serem criticados.

O exército de eno-ologfrênicos é infinitamente mais numeroso do que  o dos críticos mais ácidos; somos quatro gatos pingados  que tentam botar um pouco de bom senso no ufanismo imbecilizante e sem sentido que assola o pequeno mundo dos quase-vinhos nacionais.
 

Por que insisto em chamar “quase vinho” as zurrapas nacionais?

Quem produz 75/80% de seus vinhos com uvas não viníferas não merece outro nome.

Nem tudo é porcaria ,mas não se pode esquecer que 75/80% são uma porcaria absoluta e 15/18% são produzido em escala industrial (porcaria relativa).

O restante da produção, artesanal, “biodinâmico” , “natural” , “garagem” etc. etc. etc. não é sinônimos de qualidade e muitíssimas vezes fruto, apenas, de marketing picareta.

Os vinhos “artesanais” ,”de garagem”, “naturais” etc. apresentam, apenas, um denominador comum : preços irreais.
 

Agora vamos responder ao “Macho Gaúcho” (catarinense?) que enviou o comentário abaixo.

Téo Pereira,
Vou fazer um serviço de utilidade pública para você, como químico não pude me furtar de dar o meu pitaco!
Apesar de aposentado ainda lembro de algumas coisas básicas de minha formação em química.
Primeiro, metanol é um álcool extraído da madeira, não tem como retirá-lo da uva.
Segundo o nome da uva é Isabel, a outra é uma santa.
Terceiro o nome do lugar é Praia do Rosa.
E, acho que você e o grupo que comenta são da confraria do Wikpédia, beberam lá o Vosne-Romanée e o Conti por lá! Se informar antes de sair falando bobagens também é bom, é elegante e conserva os dentes!
Aí vão uns links de utilidade para você e seus seguidores,
http://www.mundoeducacao.com/quimica/metanol.htm, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20612000000100022. Por gentileza, me mande os links dos países em que a Vitis Lambrusca foram proibidas de se vinificar. Feliz Natal

 Caro Téo, há quanto tempo você se aposentou? Há anos? É provável.
 

O metanol não é mais extraído da madeira e sim sinteticamente através de processo carboquímico ou petroquímico.

Feita a primeira correção, sigamos adiante.

Você precisa voltar aos bancos escolares e reaprender leitura.

Eu não escrevi que o metanol é retirado da uva.

Releia o texto:…mas sei que a uva Santa Isabel, quando vinificada, doa ao quase vinho, metanol em excesso e, como todos sabem, o metanol é altamente toxico.”

Não escrevi que o etanol é extraído da uva.

Viu a diferença?

Explicando: A Comunidade Europeia elabora normas rígidas que devem ser seguidas. O vinho produzido com a Santa Isabel ou Isabel, como você quis corrigir (no fundo é a mesma bosta de uva), contém uma quantidade de metanol muito maior do que a do primo produzido com vitis vinífera.

 O metanol, como bom químico que é , mesmo aposentado, você deve saber, é altamente toxico.
 

Não vou contar toda a lengalenga, mas vou lhe dar algumas dicas:

No final de 1800 a filoxera colocou de joelhos a viticultura europeia.

Os geneticistas não encontraram nada melhor do que produzir híbridos cruzando as videiras europeias (Vitis vinífera) e as americanas que eram resistentes à filoxera.

Acreditavam, os técnicos, haver encontrado a videira ideal. Videira   que reuniria as qualidades organolépticas das Vitis vinífera (Sangiovese, Merlot, Cabernet, Chardonnay etc.) e a resistência às doenças das vinhas americanas.

Os híbridos, derivados da experiência, mantiveram, todavia, os característicos e desagradáveis odor-sabor “Foxy” e nunca se conseguiu produzir vinhos de boa qualidade.
 

Aconteceu, porém, que os vinhas “híbridas”, por sua resistência e produtividade, estavam se alastrando rapidamente.

A propagação fez soar o sino de alarme: em 1931 medidas severas foram adotadas para proibir o cultivo. Em 1962 uma outra lei estabeleceu a proibição de comercializar vinhos não provenientes de Vitis vinífera.

 A lei foi além:  obrigou a erradicação dos vinhedos cultivados com vinhas provenientes de cruzamentos interespecíficos (híbridos)

A Santa Isabel ou Isabel (mesma bosta) faz parte destes híbridos.
 

Para você ter uma ideia, já que tem poucas, até os vinhos vinificados para uso familiar, com Santa Isabel ou Isabel, (a mesma bosta) não podem ser comercializados.

A Comunidade Europeia, em 17 de maio 1999, através da regulamentação nº 1493/1999, estabelece:  os estados membros da CE, para a produção de vinho, devem utilizar somente e apenas uva proveniente da espécie “Vitis Vinifera”.

As superfícies plantadas com videiras não viníferas devem ser extirpadas.

Resumindo: na Comunidade Europeia (França, Itália, Portugal, Espanha, Grécia, Alemanha, Áustria etc.) é proibido, por lei, vinificar com a Santa Isabel ou Isabel (que é a mesma bosta).

Se você desejar mais informações procure alguns links, que possam iluminar sua obscura e tosca cabeça,

Sua bravata “dentária” é típica atitude de jumentos pobres em argumentos.
 

Uma última coisa: Em Praia do Rosa (corrigi, viu?), que eu saiba, não tem nem um pé de uva.

Qual a proveniência da uva utilizada na nova Borgonha praiana recém descoberta pelo Motta e Bilu Didu Teteia?

Será aquela Santa Isabel ou Isabel (mesma bosta) que viaja sacolejando quase 500 quilômetros em estradas esburacadas entre Monte Belo do Sul e Praia do Rosa (corrigi novamente)?

Se assim for seria bom a Domínio Vicari recomendar o método ao Coche Dury.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

2015 SERÁ PIOR?


Feliz 2015 para todos!

Já temos prontas matérias que “abalarão” os eno-oligofrênicos de plantão.

 
 
 
 
 
 
Aguardem!

Um abraço  

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

TRIP OU TRICK-ADVISOR ?


Tenho ojeriza por guias que julgam, pontuam e aconselham vinhos.

Não confio e não acredito em nenhuma delas, faz tempo.

Todas visam lucrar e as indicações, quase sempre, seguem  os interesses das grandes engarrafadoras.

Quando as vinícolas, vitaminadas com altas pontuações, taças ou outra palhaçada qualquer, são menores, os preços de suas garrafas acabam alcançando valores irreais e estratosféricos.

Minha desconfiança, há algum tempo, vai se alastrando e já não acredito, também em site, blogs, revistas que indicam restaurantes, hotéis, B&B, agroturismo etc.

O site que evito sistematicamente é o “TripAdvisor”.
 

Nunca pude entender como milhões de panacas alimentaram, gratuitamente, o “TrickAdvisor” que fatura uma grana preta classificando hotéis, bares restaurantes, companhias de aviação etc.

A sinceridade, dos comentários e avaliações da “TrickAdvisor”, é mais suspeita do que depoimento de envolvidos em falcatruas.

Não é assim?

Então veja: A autoridade antitruste italiana aplicou uma multa de 500.000 Euros à “TrickAdvisor Italy” por considerar que “…as indicações nem sempre são verdadeiras e fruto de reais experiência turísticas”

Segundo dados, da própria “TrickAdvisor”, a empresa recebe, aproximadamente, 280 milhões de visitante por mês e 170 milhões de indicações por mês.
 

Tal volume, de informações e acessos, é quase impossível de ser monitorado corretamente, assim, a lei antitruste italiana concluiu que nem todos os comentários são autênticos (muitíssimos são falsos) e induzem ao erro uma enorme plateia de consumidores.

A “TrickAdvisor” já recebeu multa de 430 Euros na França e teve sérios problemas no Reino Unido.

Deu para perceber o porquê de minha ojeriza por guias que desviam?

 

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ENO OLIGOFRÊNICO 2014



Sempre achei que a eno-crítica nacional seguia duas corretes básicas: a cínica e a oligofrênica.

A “eno-crítica-cínica” é praticada por aqueles que entendem alguma coisa de vinho (menos, muito menos, do que alardeiam) e que usam esse suposto conhecimento para convencer enófilos, principiantes-claudicantes, que determinadas etiquetas são fantásticas, maravilhosas, imperdíveis.
 

O eno-cinismo já foi praticado inúmeras vezes, continua em e com sua canalhice, mas é facilmente identificável.

Exemplos:

 “O espumante nacional é o segundo melhor do mundo”

“Os vinhos Miolo são os mais vendidos em Paris”

“Os vinhos nacionais ganham medalhas em concursos internacionais”


Meias verdades e grandes mentiras que os críticos, “eno-cínicos-mediante” (mediante pagamento), divulgam em sites, revistas, blogs etc. tentando convencer os consumidores que os quase-vinhos nacionais, por apresentarem raras qualidades, valem os preços extorsivos praticados pelas indústrias vinícolas nacionais.

Não vou mencionar nenhum “eno-cínico-mediante”, pois todos são velhos conhecidos dos leitores de B&B.  
 

Há, também, os “eno-oligofrênicos”.

Os “eno-oligofrênicos” são aqueles que piamente acreditam, que após meia dúzia de aulas nas AB$, $BAV ou em outro curso picareta, já podem posar de “sumidade”.

Nascem, assim, os Gladstons-Salames da vida.

Ao ler um comentário de um anônimo, na matéria “Paixão”, que escrevi em setembro, quase tive um ataque.

Vejam!

 


Sem sombra de dúvida o prêmio de

 “ENO OLIGOFRÊNICO MASTER 2014” vai para o Ed Motta.

O Ed Motta que, há alguns anos, ninguém sabe o porquê, escrevia sobre vinhos na “Veja”, era reverenciado como profundo conhecedor e quase uma sumidade quando as garrafas provinham da Borgonha.

Os conhecimentos vinícolas do cantor já me provocaram seríssimas duvidas quando, nosso peso pesado da MPB, comparou os vinhos do Dani “Narciso” Elle aos grandes da Borgonha.

O que classifiquei como deslize, na ocasião, está se transformando em rotina.

Motta não se limita mais a elogiar os vinhos do Dani “Narciso” Elle.
 Ed está solidificado sua oligofrenia vinícola ao comparar vinhos produzidos com Santa Isabel aos vinificados com Pinot Noir em Vosne-Romanée.
 

Não conheço Praia Rosa, a nova Borgonha brasileira, nunca bebi (nem quero) vinho da Dominio Vicari, mas sei que a uva Santa Isabel, quando vinificada, doa ao quase vinho, metanol em excesso e, como todos sabem, o metanol é altamente toxico.

Fazer a apologia de um vinho, que nem vinho é, proibido em todos os países vinícolas sérios, envia Ed Motta diretamente para o trono de “ENO-OLIGOFÊNICO MASTER 2014.
 

O comentário vinícola do Ed só não é pior do que sua releitura musical da “Garota de Ipanema”.

Dionísio

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DEL BELBO DA BARDON


Há anos não visitava o ótimo restaurante “Del Belbo da Bardon” na pequena e quase desconhecida San Marzano Oliveto.

San Marzano Oliveto não faz parte do badalado e mundialmente reconhecido “clube” de aldeias que compõem o território das “Langhe” e sua capital, Alba.

San Marzano Oliveto não é lembrada, nem frequentada, pelos turistas.
 
O turista clássico prefere circular pelas aldeias do “albese”, onde há uma enorme quantidade de boas opções    gastronômicas.

Se deslocar até San Marzano apenas para provar os pratos de um único restaurante?

Impensável!

Peço perdão aos “sanmarzanesi”, mas quem visita San Marzano vai apenas para comer no “Da Bardon” e nem conhece o centro da cidade.
 

Qual o segredo, então, da longevidade do “Da Bardon”?

Para os que não sabem, gostaria de informar que o “Del Belbo da Bardon” é, atualmente, administrado pela 5ª geração da família.

Nenhum restaurante permanece aberto durante tanto tempo por acaso ou sorte.

Não há um segredo apenas, há vários ....

 Bom atendimento, cozinha com profundas raízes fincadas na gastronomia local, ambiente agradável e aconchegante e, o mais importante, uma adega de sonho.
 

A adega do “Del Belbo Da Bardon” não compete em números com a da “La Ciau del Tornavento”, mas leva vantagem na seleção das etiquetas.

Explicando: “La Ciau” é um bom restaurante, mas eminentemente turístico.

Sua fabulosa adega é filha da mesma filosofia: foi concebida para deslumbrar os turistas endinheirados que, mesmo estando no Piemonte, não resistem ao desejo de mergulhar nas caríssimas garrafas toscanas (Sassicaia, Solaia, Masseto, Ornellaia...), francesas (Romanée-Conti, La Tache, Cheval Blanc, Chateau d’Yquem...) para poder revelar todo o poderio de suas recheadas carteiras.

É uma adega que foi planejada, nos mínimos detalhes, para tomar dinheiro de russos, americanos, brasileiros, chineses etc. (russos e brasileiros, nos últimos meses, visivelmente em baixa).

A adega do “Del Belbo da Bardon”, menor (25.000 garrafas), mais discreta e nem um pouco faraônica, guarda, também, muitas etiquetas badalas, mas reserva suas maiores e reais atenções aos os vinhos regionais.
 

Se você é adepto do “Bom & Barato”, se quiser beber vinhos de castas raras, de pequenos e quase desconhecidos produtores, gosta de procurar safras antigas, gastar o justo, a adega do “Bardon” vence, com folga, a disputa com “La Ciau”.

A cozinha sincera, mas sofisticada em sua simplicidade e robustez camponesa, somente poderia ser perfeita quando e se apoiada   por uma adega, pensada por dois grandes sommeliers:  Gino e Andrea Bardone.
 

Você quer conhecer antigas safras do Fornaci di Tassarolo?

No “Bardon” há varias.

Você quer provar um Barolo do “Bartolo Mascarello de 1996?

No “Bardon” há até mais antigos.
 

Você quer conhecer Barbera, Freisa, Dolcetto, Grignolino, Pelaverga, Ruchè, Gamba di Pernice, Rosso di Cantavenna, mais e mais vinhos piemonteses?

Bardon não lhe decepcionará.

Para acompanhar nosso almoço, éramos três, escolhi um belíssimo Gavi “Fornaci di Tassarolo” 2007 e uma Freisa “La Selva di Moirano” 2006.
 

O “Fornaci di Tassarolo” dispensa maiores comentários, mas a Freisa, “La Selva di Moirano”, confirma todos os elogios que sempre fiz à esta casta.

 A Freisa, uma das castas piemontesas infelizmente relegada ao quase esquecimento, revela, através da “Selva di Moirano” 2006, todas as qualidades que um grande vinho precisa possuir.

Cor grená intenso, perfume característico de framboesa, framboesa que continua na boca onde é fácil perceber uma agradável e sutil tanicidade.
 

O “La Selva di Moirano” é uma grande Freisa que deve ser provada por todos aqueles que realmente gostam e entendem de vinho.

Esgotar o assunto, em se tratando de “Del Belbo da Bardon”, não é fácil, recomendo, então, uma visita (ou mais) ao ótimo restaurante.

Bacco

 

 

 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

500 EUROS POR UMA FOTO COM GAJA


 

“Por onde você anda?”

Massimo Martinelli, quase ao meio dia, telefonou para saber meu paradeiro.

De regresso à Itália, após mais uma viagem pela Borgonha, acabara de sair do túnel do Monte Branco e seguia para Santa Margherita.

 
 
 
Informei minha posição e Massimo continuou:” Venha até aqui, batemos um papo, bebemos um copo e depois você continua”.

500 quilômetros percorridos, mais 200 me esperando......” Ta bom! Chego em duas horas. Prepare as taças”.

Apesar do desvio adicionar outros 60 quilômetros ao meu já interminável trajeto não se pode recusar convite de Martinelli.

Um pouco antes da hora prevista entrava no quintal da “Antica Meridiana Relais-Arts” de Angioetta e Massimo.
Uma surpresa me esperava: Jorge Lucki, amigo de longa data de Martinelli, estava hospedado na Meridiana e bebericava um Barolo na companhia de Massimo. 

Apresentações feitas, copos tintilando, papo agradável, queijos e salames abundantes......a tarde prometia.
 

Lucki, falando um italiano quase perfeito, não tinha nenhuma dificuldade de comunicação assim a conversa fluía normalmente.

Não recordo qual assunto nos levou ao Angelo Gaja, mas lembro perfeitamente as palavras de Martinelli.

“Semana passada um casal de brasileiros, que estava hospedado aqui na Meridiana e que já havia conhecido inúmeras vinícolas, não conseguiu visitar a do Gaja. Perguntado, se eu poderia interceder e conseguir uma visita na adega do Angelo, acabei ligando para o meu amigo.

O Gaja me atendeu e respondeu que desde o começo do ano as visitas à adega estavam abertas ao público. Era, no entanto, necessário   acessar o site da empresa, fazer a inscrição e pagar 300 Euros pelo tour e degustação. Caso os interessados quisessem sua presença o preço subiria para 500 Euros. Apesar do preço salgado o casal tentou se inscrever no site, mas a fila imensa e as datas disponíveis muito distantes os fizeram desistir. O Gaja me garantiu que todo o dinheiro, arrecadado com as degustações, é doado para instituições de caridade e que somente este ano já foram entregues 200.000 Euros.”

Fiz cara de dúvida e perguntei: “Será?”

Massimo respondeu:” O Angelo é um sujeito sério, se ele diz que doou, pode acreditar que é verdade”.
 

Lucki sorriu e disse que iria comentar o assunto na CNB.

Após mais uma garrafa retomei a estrada e rumei para Santa Margherita.

Durante o restante de minha viagem fiquei tentando descobrir o que levaria um enófilo a torrar 500 Euros para beber uma taça de vinho, tirar algumas fotos, bater um papo e apertar a mão de Angelo Gaja.

Gaja, por outro lado e após exatos seis minutos, com   os 500 Euros no bolso, não mais lembra o nome, a fisionomia, a nacionalidade etc. do eno-tiete-deslumbrado.

Uma degustação na Renato Ratti, custava e creio ainda custe, 10 Euros.
 

Os vinhos se equivalem, Martinelli é uma enciclopédia ambulante, espontâneo, culto, simpático e sua companhia valia, à época, apenas 10 Euros?

Ou a Renato Ratti aumenta sensivelmente o preço da degustação ou Gaja reduz a facada.

Sempre é bom lembrar que com 500 Euros é possível comprar 5 garrafas de Barbaresco do multipremiado produtor.
 

Um único inconveniente: Não haverá foto com o Gaja para pendurar na adega que, invariavelmente, provocaria a clássica pergunta “Zé, você conhece o Gaja?”.

Você, sem comentar que a foto custou 500 Euros e com cara de estudada “nonchalance”, aproveitaria a deixa e.....

“O Angelo? Sim, conheço. Aliás, todas as vezes que vou a Alba ligo pra ele. A gente se encontra e bebe algumas taças. Boa praça o Angelo....”

  500 Euros são uma ninharia quando e se comparados aos 15.000 que os eno-deslumbrados desembolsam por um Romanée-Conti falsificado.
 

Bacco

Na próxima matéria o papo com Jorge Lucki e Martinelli.

Aguardem. 

domingo, 7 de dezembro de 2014

O VINHO DO CAPITÃO NEMO


 




 

A revista “ADEGA”, talvez, sondando e preparando o terreno para alguma importadora interessada em trazer e nos impingir mais um produto marqueteiro e caríssimo, escreve, ou melhor, transcreve a matéria abaixo.

 


O produtor italiano Pierluigi Lugano (65) ficou conhecido por armazenar seus vinhos debaixo d’água quando seu espaço na superfície se esgotou. O vinho armazenado é o Abissi, que em italiano significa “profundezas” ou “abismo”, e é produzido a partir das variedades italianas Vermentino e Bianchetta.  As garrafas são colocadas em “gaiolas”, e ficam dentro de garrafas maiores. A partir daí, são afundadas até o leito do mar, numa profundidade de 200 pés, na Riviera Italiana.

De acordo com o produtor, armazenar vinhos e espumantes abaixo da superfície pode ser até melhor que em uma adega subterrânea. “A temperatura é perfeita, não há luminosidade, a água previne que entre até a menor quantidade de ar, e a pressão constante mantém as bolhas em movimento, o que é ótimo para o vinho”. Além disso, o método é seguro e prático, as garrafas são colocadas em gaiolas de aço inoxidável, são completamente vedadas e afundadas na costa oeste de Liguria, no litoral Italiano.

A primeira leva foi colocada em 2009, quando passou por um período de testes, e o projeto tem sido levado adiante até hoje. O vinho de Lugano, o qual especialistas afirmaram possuir “um toque de maçã assada e ser um pouco temperado”, é guardado debaixo do mar

 


É impressionante como os leitores de B&B participam ativamente com o blog detectando e informando todas as eno-picaretagem que surgem em nosso risível e tragicômico mundo do vinho.

A revista vende uma imagem do Lugano que não corresponde à verdade e nem por um instante pesquisa o assunto mais profundamente.

Lugano, que mora em Chiavari, é proprietário da “fúnebre” (parece a adega da Família Adams) enoteca “Bisson” e desde a década de 80, quando abandonou a profissão de professor de história da arte, se dedica à produção de vinhos.

Os vinhos de Lugano, apenas sofríveis, são vinificados com castas autóctones e provenientes de vinhedos implantados nas cidades próximas.

Nunca um vinho de Lugano se destacou a não ser pelo peço que é sempre mais alto do que o dos concorrentes e suas garrafas jamais ganharam algum destaque.

 Lugano, todavia, é inteligente, esperto e obstinado.

  Uma genial jogada, a do espumante “Abissi”, lhe proporcionou uma exposição na mídia em todos os cantos do mundo.
 

 O nosso personagem não imaginava, nem previa, tanto sucesso e quando se recuperou da surpresa aproveitou a propaganda gratuita e faturou como nunca.

A jogada.

Os vinhos da “Bisson”, que nunca conseguiram impressionar pela qualidade, eram distribuídos, em sua quase totalidade, apenas no mercado regional e praticamente desconhecidos nacionalmente.

Uma coisa Lugano sempre soube fazer: valorizar suas etiquetas.

Os vinhos da Bisson são sempre mais caros do que o dos concorrentes.

Com o sucesso comercial do Prosecco, produzir espumante virou mania na Itália.

 Tentando repetir o sucesso das bolhas vénetas, um tsunami de espumante surgiu em todos os cantos da Itália utilizando as mais diversas uvas.
 

Lugano, sempre atento às tendências, resolveu “espumantizar” duas castas locais: Vermentino e Bianchetta.
 

Os vinhos produzidos com Vermentino e Bianchetta, não emocionam ninguém e podem ser encontrados nas prateleiras dos supermercados da Ligúria por 2/6 Euros.

Vinhos para o dia-dia, vinhos servidos em taças nos bares e trattorie baratas.

Um espumante de qualidade, produzido com Vermentino e Bianchetta é tão improvável quanto o Lula admitir, algum dia, que sabia de tudo.
 
 

Impossível!

Construir uma adega, para armazenar e envelhecer espumante, não é tarefa fácil e muito menos barata, ainda mais na Ligúria onde os espaços são poucos e caros.

Em compensação há mar de sobra e há Portofino.

A tentativa não é nova, (os croatas já experimentam o mesmo sistema desde 1990), mas Lugano foi o primeiro que a utilizou comercialmente.

Garrafas (6.500) prontas, barcaças contratadas, mergulhadores preparados, televisão e jornais locais contatados......Tchibummmm: o “Abissi” foi para o fundo do mar, nas aguas da belíssima e preservada “San Fruttuoso”.
 

San Fruttuoso, sua abadia e meia dúzia de casas, para quem não sabe, era uma antiga propriedade dos Doria e hoje pertence ao “Parco di Portofino”.

Lugano sabia que mergulhar garraras, no mar de Portofino, lhe renderia bons fruto$, mas nunca imaginou que a jogada de mestre teria repercussão mundial e que seu “Abissi” seria notícia até no “New York Times”.

O resultado é conhecido: extraordinário sucesso de vendas, incontáveis pedidos em carteira, (como há trouxas no mundo…), fantástica lucratividade.
 

No ano seguinte, Lugano, manda para o fundo do mar mais de 13.000 garrafas.

Um detalhe: O “Parco di Portofino” cobrou pelo “mergulho”, das primeiras 6.500 garrafas, 1 Euros por unidade.

 Lugano, com inúmeros pedidos em carteira, no ano seguinte   mandou para o fundo do mar de San Fruttuoso, mais ou menos, 13.000 unidades.

 Quando a administração do “Parco di Portofino” soube, que Lugano havia mergulhado 13.000 “Abissi”, exigiu a atualização e compensação financeira correspondente.

Lugano, cuja maior qualidade não é exatamente a de ser um mão aberta, não quis pagar.
 

A briga foi longa, desgastante e finalmente a administração do “Parco de Portofino, mandou Lugano e seu “Abissi” mergulharem em outras águas.

Hoje o espumante, de Vermentino e Bianchetta, dorme nos fundais de Sestri Levante e não mais poderá usar a DOC “Portofino”.

Sestri é bonita, mas não possui nem 5% da notoriedade e charme de Portofino.

Lugano perde o apelo de Portofino, o “Abissi” em poucos anos será esquecido, mas não antes de ter enchido os bolsos do marqueteiro com o dinheiro das trouxas que fizeram e fazem fila para pagar, por um “Prosecco” lígure (sim, a qualidade do Abissi pode ser comparada ao do Prosecco) mais do que eu pago por um fantástico Champagne “Le Mont Benoit” do Emmanuel Brochet.
 

Enquanto houver trouxa, haverá vivaldinos: Lugano é um deles (vivaldino).

Bocca